sábado, 21 de agosto de 2010

Vozes de uma sombra

(Augusto dos Anjos - psicografia Chico Xavier)

Donde venho? Das eras remotíssimas,
Das substâncias elementaríssimas,
Emergindo das cósmicas matérias,
Venho dos invisíveis protozoários,
Da confusão dos seres embrionários,
Das células primevas, das bactérias.

Venho da fonte eterna das origens,
No turbilhão de todas as vertigens,
Em mil transmutações, fundas e enormes;
Do silêncio da mônada invisível,
Do tetro e fundo abismo, negro e horrível
Vitalizando corpos multifomes.
Sei que evolvi e sei que sou oriundo
Do trabalho telúrico do mundo,
Da terra no vultoso e imenso abdômem;
Sofri, desde as intensas torpitudes
Das lavras microscópicas e rudes,
E vejo os meus incógnitos problemas
Iguais a horrendos e fatais dilemas,
Enigmas insolúveis e profundos;
Sombra egressa de lousa dura e fria,
Grito ao mundo o meu grito que se alia
A todos os anseios gemebundos:-
“Homem! por mais que gaste teus fosfatos
Não saberás, analisando os fatos,
Inda que desintegres energias,
A razão do completo e do incompleto,
Como é que em homem se transforma um feto
Entre os duzentos e setenta dias.

A flor da laranjeira , a asa do inseto
Um estafermo e um Tales de Mileto,
Como existiram, não perceberás
E nem compreenderá como se opera
A mutação do inverno em primavera,
E a transubstanciação da guerra em paz;
Como vivem o novo e o obsoleto,
O ângulo obtuso e o ângulo reto
Dentro das linhas da geometria;
A luz de Miquelângelo nas artes,
E o espírito profundo de Descartes
No eterno estudo da filosofia.

Porque existem as crianças e os macróbios
Nas coletividades dos micróbios
Que fazem a vida enferma e a vida sã;
Os antigos remédios alopatas
E as modernas dosagens homeopatas,
Produto das experiências de Hahnemann.

A psíquico-análise freudiana
Tentando aprofundar a alma humana
Com a mais requintadíssima vaidade,
E as teorias do Espiritualismo
Enchendo os homens todos de otimismo,
Mostrando as luzes da imortalidade.
Como vive o canário junto ao corvo,
O céu iluminado, o inferno torvo
Nos absconsos refolhos da consciência;
O laconismo e a prolixidade,
A atividade e a inatividade,
A noite da ignorância e o sol da ciência.

As epidermes e as aponevroses,
As grandes atonias e as nevroses,
As atrações e as grandes repulsões,
Que reunindo os átomos no solo
Tecem a evolução de pólo a pólo,
Em prodigiosas manifestações.
Como os degenerados blastodermas
Criam a descendência dos palermas
No lupanar das pobres meretrizes.

Junto dos palacetes higiênicos,
Onde entre gozos fúlgidos e edênicos
Cresce a alegre progênie dos felizes.
Os lombricóides mínimos, os vermes,
Em contraposição com os paquidermes,
Assombrosas antíteses no mundo;
É o gigante e o germe originário,
Os milhões de corpúsculos do ovário,
Onde há somente um óvulo fecundo.
A alma pura do Cristo e a de Tibério,
Vaso de carne podre, o cemitério,
E o jardim rescendendo de perfumes;
O doloroso e tetro cataclismo.Da beleza louçã do organismo,
Repleto de dejetos e de estrumes.

As coisas substânciais e as coisas ocas,
As idéias conexas e as loucas,
A teoria Cristã e Augusto Comte;
E o desconhecido e o devassado,
E o que é o ilimitado e o limitado
Na ótica ilusória do horizonte
À infinita desgraça de ser homem.

Na terra, apenas fui terrível presa,
Simbiose da dor e da tristeza,
Durante penosíssimos minutos;
A dor, essa tirânica incendiária,
Abatia-me a vida solitária.

Como se eu fora bruto entre os mais brutos.
Depois voltei desse laboratório,
Como me revolvi como infusório
Como animálculo medonho, obscuro
Até atingir a evolução dos seres
Conscientes de todos os deveres,
Descortinando as luzes do futuro.
Os terrenos povoados e o deserto.

Aquilo que está longe e o que está perto;
O que não tem sinal e o que não tem marca;
A funda simpatia e a antipatia,
A atrofia e a hipertrofia,
Como as tuberculosos e a anasarca.
O fenômenos todos geológicos,
Psíquicos, científicos, sociológicos,
que inspiram pavor e inspiram medo;
Homem! por mais que a idéia tu gastes,
Na solução de todos os contrastes,
Não saberá o cósmico segredo.

E apesar da teoria mais abstrusa
Dessa ciência inicial, confusa,
A que se acolhem míseros ateus,
Caminharás lutando além da cova,
Para a vida que eterna se renova,
Buscando as perfeições do Amor em Deus.

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Sapé - Pb, 20 de abril de 1884 — Leopoldina, 12 de novembro de 1914)

O Espiritismo na Expressão mais simples

A Doutrina Espírita, espiritismo, segundo a definição do codificador, o pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail - que adotou o pseudônimo Allan Kardec - é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. O termo mais apropriado para designar esta doutrina é a denominação espiritismo, conforme orientação expressa no primeiro livro da codificação da doutrina, O Livro dos Espíritos.
É importante ressaltar ainda que, quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria é, por definição, espiritualista, independente de sua religião, sendo, portanto, o espiritualismo enquanto oposição ao materialismo, o pilar fundamental da maioria das doutrinas religiosas.

Nascido no século XIX, no dia 18 de Abril de 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos, o Espiritismo se estruturou a partir de diálogos estabelecidos por espíritos desencarnados que, se manifestando por meio de médiuns, discorreram sobre temas religiosos sob a ótica da Moral, ou seja, tendo por princípio o amor ao próximo, e também temas filosóficos e científicos. Desta forma foi estabelecido o preceito primário da Doutrina, de que só é possível buscar o aprimoramento espiritual através da caridade aos semelhantes (Lema: Não há salvação fora da caridade), além de trazer a luz novas perspectivas sobre diversos temas de grande relevância filosófica e teológica.

O Espiritismo se caracteriza pelo ideal de compreensão da realidade mediante a integração entre as três formas clássicas de conhecimento, que seriam a ciência, a filosofia e a moral. Segundo Kardec, cada uma delas, tomada isoladamente, tende a conduzir a excessos de ceticismo, negação ou fanatismo. A doutrina espírita se propõe, assim, a estabelecer um diálogo entre as três, visando à obtenção de uma forma original que, a um só tempo fosse mais abrangente e mais profunda, para desta forma melhor compreender a realidade. Kardec sintetiza o conceito com a célebre frase: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade”.

Princípios
Allan Kardec, em "Obras Póstumas", propõe que o espiritismo seja uma doutrina natural...
A doutrina espírita, de modo geral, fundamenta-se nos seguintes pontos:
• Na existência e unicidade de Deus;
• Na existência e imortalidade do espírito, compreendido como individualidade inteligente da Criação Divina;
• Na reencarnação como o mecanismo natural de aperfeiçoamento dos espíritos;
• No conceito de criação igualitária de todos os espíritos, "simples e ignorantes" em sua origem, e destinados invariavelmente à perfeição, com aptidões idênticas para o bem ou para o mal, dado o livre-arbítrio;
• Na possibilidade de comunicação entre os espíritos encarnados ("vivos") e os espíritos desencarnados ("mortos"), por meio da mediunidade;
• Na Lei de Causa e Efeito, compreendida como mecanismo de retribuição ética universal a todos os espíritos, segundo a qual nossa condição é resultado de nossos atos passados;
• Na pluralidade dos mundos habitados, a ideia de que a Terra não é o único planeta com vida inteligente no universo.
Além disso, podem-se citar como características secundárias:
• A noção de continuidade da responsabilidade individual por toda a existência do Espírito;
• Progressividade do Espírito dentro do processo evolutivo em todos os níveis da natureza;
• Volta do Espírito à matéria (reencarnação) tantas vezes quantas necessárias para alcançar a perfeição.
• Ausência total de hierarquia sacerdotal;
• Abnegação na prática do bem, ou seja, não se deve cobrar pela prática da caridade nem o fazer visando a segundas intenções;
• Uso de terminologia e conceitos próprios, como, por exemplo, espiritismo, espírita, perispírito, Total ausência de culto a imagens, altares, etc;
• Ausência de rituais institucionalizados, a exemplo de batismo, culto ou cerimônia para oficializar casamento;
Respeito para com todas as religiões e opiniões.