Fonte: O que é o Espiritismo - Capítulo I - Pequena Conferência Espírita
Os médiuns e os feiticeiros
Visitante. Desde o instante em que a mediunidade consiste
em se colocar em comunicação com as forças ocultas, parece-me que médiuns e
feiticeiros são mais ou menos sinônimos.
A.K. . Houve em todas as épocas médiuns naturais e
inconscientes que, só porque produziam fenômenos insólitos e incompreendidos,
foram qualificados de feiticeiros e acusados de pactuarem com o diabo.
Ocorreu o mesmo com a maioria dos sábios que possuíam conhecimentos
acima do vulgar. A ignorância exagerou seu poder e, eles mesmos, frequentemente,
abusaram da credulidade pública, explorando-a; daí a justa reprovação de que
foram objeto. Basta comparar o poder atribuído aos feiticeiros e a faculdade
dos verdadeiros médiuns, para estabelecer-lhes a diferença, mas a maioria dos
críticos não se dão a esse trabalho. O Espiritismo, longe de ressuscitar a feitiçaria,
a destruiu para sempre, despojando-a do seu pretenso poder sobrenatural, de
suas fórmulas, de seus livros de magia, amuletos e talismãs, reduzindo os
fenômenos possíveis ao seu justo valor, sem sair das leis naturais.
A semelhança que certas pessoas pretendem estabelecer,
provém do erro em que se encontram, de que os Espíritos estão às ordens dos médiuns; repugna à sua razão crer que possa depender de alguém, fazer
vir à sua vontade e chamado, o Espírito de tal ou tal personagem mais ou menos
ilustre; nisso estão perfeitamente com a verdade, e se, antes de atirar pedra
ao Espiritismo, tivessem se dado ao trabalho de dele se inteirar, saberiam que
ele diz positivamente que os
Espíritos não estão ao capricho de ninguém, e que ninguém pode, à vontade,
fazê-los vir a contragosto; do
que se segue que os médiuns não são feiticeiros.
Visitante . Desse modo, todos os efeitos que certos
médiuns acreditados obtêm, à vontade e em público, não seriam, segundo vós, senão
hipocrisia?
A.K. . Eu não o digo de um modo absoluto. Tais fenômenos
não são impossíveis porque há Espíritos inferiores que podem se prestar a essas
espécies de coisas, e que nelas se divertem, talvez tendo já feito, em suas
vidas, o trabalho dos prestidigitadores, e também médiuns especialmente
propensos a esse gênero de manifestações. Mas, o mais vulgar bom senso repele a
idéia de que os Espíritos, embora pouco elevados, venham fazer exibições para
divertir os curiosos.
A obtenção desses fenômenos à vontade e, sobretudo, em
público, é sempre suspeita; nesse caso, a mediunidade e a prestidigitação se tocam
tão de perto que, frequentemente, é bem difícil distingui-las.
Antes de ver nisso a ação dos Espíritos, é preciso
minuciosas observações, e levar em conta seja o caráter e os antecedentes do médium,
seja de uma multidão de circunstâncias, que só um estudo aprofundado da teoria
dos fenômenos espíritas pode levar a apreciar.
Anote-se que esse gênero de mediunidade, quando
mediunidade há, é limitado à produção do mesmo fenômeno, com algumas variantes,
o que não é de natureza a dissipar as dúvidas. Um desinteresse absoluto seria aí
a melhor garantia de sinceridade.
Qualquer que seja a realidade desses fenômenos, como
efeitos medianímicos, eles têm como bom resultado dar notoriedade à ideia espírita.
A controvérsia que se estabelece a esse propósito provoca, em muitas, pessoas,
um estudo mais aprofundado. Não é certo que é necessário ir buscar aí
instruções sérias de Espiritismo, nem a filosofia da doutrina, mas é um meio de
forçar a atenção dos indiferentes e obrigar os mais recalcitrantes a falarem
deles.