Desafios:

“Viver num mundo de tantas desigualdades e que são rotineiras
nos faz as vezes questionar a justiça divina. Perguntamos onde está a bondade
ou a lógica de Deus ao permitir que uns nasçam num ambiente de tanta fartura
enquanto outros mantém-se em situações degradantes onde nem os direitos
fundamentais humanos são garantidos.
Mas afinal, Deus é injusto? Qual a razão para que hajam
tantas desigualdades se Ele é quem permite tudo?
Nosso estudo busca analisar esses fatos à luz da doutrina
espírita.
Allan Kardec, na questão 930 de O Livro dos Espíritos, esclarece
“que a culpa das desigualdades reside mesmo nas imperfeições humanas, os
grandes responsáveis por esta situação de degradação social de muitos irmãos na
sociedade contemporânea somos nós mesmos os seres humanos que residimos neste
mundo, marcados pelo orgulho e pela ganância.
Em O Livro dos Espíritos vamos observar numa leitura atenta
que:
“Com uma organização social criteriosa e previdente, ao homem
só por culpa sua pode faltar o necessário”. Na mesma obra, publicada em 1857,
Kardec ainda nos alerta: “Quando praticar a lei de Deus, terá uma ordem social
fundada na justiça e na solidariedade, e ele próprio também será melhor”.
Analisemos primeiro a origem das desigualdades sociais.
803. Perante Deus, são iguais todos os homens?
“Sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez suas leis para
todos. Dizeis frequentemente: ‘O Sol luz para todos’ e enunciais assim uma
verdade maior e mais geral do que pensais. ”
Todos os homens estão submetidos às mesmas leis da Natureza.
Todos nascem igualmente fracos, acham-se sujeitos às mesmas dores e o corpo do
rico se destrói como o do pobre. Deus a nenhum homem concedeu superioridade.
E no mesmo
capítulo a seguinte resposta:
806. É lei
da natureza a desigualdade das condições sociais?
“Não; É obra do homem e não de Deus. ”
Desta forma isso nos esclarece que a realidade acerca da
desigualdade é criada pelo próprio homem que em sua ganância de possuir bens materiais,
de acumular e de explorar o próximo com fins de lucrar e angariar através do sacrifício
de outrem, não se preocupando coma ética envolvida em se ter demais até do
supérfluo e deixar o próximo ao abandono de não possuir o mínimo necessário.
Nas questões seguintes Allan Kardec e Os Espíritos dão
sequência as questões e respostas – desigualdades sociais.
De acordo com o filósofo Rousseau, “a desigualdade tende a se acumular”. (Jean Jacques Rousseau,
filósofo suíço (1712-1778), em seu Discurso sobre a origem e os fundamentos da
desigualdade entre os homens, publicado em 1755, cita as bases sobre as quais
se firma o processo gerador das desigualdades sociais e morais entre os seres
humanos).
... Rousseau
iniciou um pensamento que o levaria a concluir que toda desigualdade se baseia
na noção de propriedade particular criado pelo homem e o sentimento de
insegurança com relação aos demais seres humanos.
A frase de abertura da segunda parte do Discurso diz, com
efeito, o seguinte:
O primeiro que, ao cercar um terreno, teve a audácia de dizer
isto é meu e encontrou gente bastante simples para acreditar nele foi o
verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras e assassinatos,
quantas misérias e horrores teria poupado ao gênero humano aquele que,
arrancando as estacas e cobrindo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes:
"Não escutem a esse impostor! Estarão perdidos se esquecerem que os frutos
são de todos e a terra é de ninguém"
.
Allan Kardec questiona novamente sobre o assunto:
808. A desigualdade das riquezas não tem sua origem na
desigualdade das faculdades, que dão a uns mais meios de adquirir do que a
outros?
-- Sim e não. Que
dizes da astúcia e do roubo?
808-a. A riqueza hereditária, entretanto, seria fruto das más
paixões?
-- Que sabes disso? Remonta à origem e verás se é sempre
pura. Sabes
se no princípio não foi o fruto de uma espoliação ou de uma injustiça?
Mas, sem falar da origem, que pode ser má, crês que a cobiça de bens, mesmo os
melhores adquiridos, e os desejos secretamente alimentados, de possuí-los o
mais cedo possível, sejam sentimentos louváveis? Isto é o que Deus julga, e te
asseguro que o seu julgamento é mais severo que o dos homens.
816. Se o rico sofre mais tentações, não dispõe também de
mais meios para fazer o bem?
-- É justamente o que
nem sempre faz; torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável; suas necessidades
aumentam com a fortuna e julga não ter o bastante para si mesmo.
“A posição elevada no mundo e a autoridade sobre os
semelhantes são provas tão grandes e arriscadas quanto a miséria; porque,
quanto mais o homem for rico e poderoso mais obrigações têm a cumprir, maiores
são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre
pela resignação e o rico pelo uso que faz de seus bens e do seu poder. A
riqueza e o poder despertam todas as paixões que nos prendem à matéria e nos
distanciam da perfeição espiritual. Foi por isso que Jesus disse: "Em
verdade vos digo, é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que
um rico entrar no reino dos céus.") AK
795. Qual a causa da instabilidade das leis humanas?
-- Nos tempos de barbárie são os mais fortes que fazem as
leis, e as fazem em seu favor. Há necessidade de modificá-las à medida que os
homens vão melhor compreendendo a justiça.
As leis humanas são mais estáveis à medida que se aproximam
da verdadeira justiça, quer dizer, à medida que são feitas para todos e se
identificam com a lei natural.
“A civilização criou novas necessidades para o homem e essas
necessidades são relativas à posição social de cada um. Foi necessário regular
os direitos e os deveres dessas posições através de leis humanas. Mas, sob a
influência das suas paixões, o homem criou, muitas vezes, direitos e deveres
imaginários, condenados pela lei natural e que os povos apagam dos seus códigos
à proporção que progridem. A lei natural é imutável e sempre a mesma para
todos; a lei humana é variável e progressiva: somente ela pode consagrar, na
infância da Humanidade, o direito do mais forte”. AK
Algumas
das causas da desigualdade social:
- · Má
distribuição de renda – e concentração do poder;
- · Má
administração de recursos – principalmente públicos;
- ·
Lógica
de mercado do sistema capitalista – quanto mais lucro para as empresas e os
donos de empresa, melhor;
- · Falta
de investimento nas áreas sociais, em cultura, em assistência a populações mais
carentes, em saúde, educação;
- · Falta
de oportunidades de trabalho.
- Pesquisa Desigualdade Mundial 2018 indica que o 1% mais rico da população brasileira concentra 27,8% de toda a renda do país. Isso faz do Brasil o país com a maior concentração de renda no grupo 1% mais rico, no mundo.
- Karl Marx entende que existem duas grandes classes: a trabalhadora (proletariado) e os capitalistas (burguesia). Enquanto os trabalhadores se preocupam em sobreviver, os capitalistas se preocupam com o lucro, criando as desigualdades e os conflitos sociais, como a opressão e a exploração.
880. Qual é o primeiro
de todos os direitos naturais do homem?
— O de viver. É por isso que ninguém tem
o direito de atentar contra a vida do semelhante ou fazer qualquer coisa que
possa comprometer a sua existência corpórea.