segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Kardec explicando sobre a Morte


Por que os espíritas não temem a morte

A Doutrina Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida futura deixa de ser uma hipótese para ser realidade. O estado das almas depois da morte não é mais um sistema, porém o resultado da observação. Ergueu-se o véu; o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática; não foram os homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são os próprios habitantes desse mundo que nos vêm descrever a sua situação; aí os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as fases da felicidade e da desgraça, assistindo, enfim, a todas as peripécias da vida de além-túmulo.

Eis aí por que os espíritas encaram a morte calmamente e se revestem de serenidade nos seus últimos momentos sobre a Terra. Já não é só a esperança, mas a certeza que os conforta; sabem que a vida futura é a continuação da vida terrena em melhores condições e aguardam-na com a mesma confiança com que aguardariam o despontar do Sol após uma noite de tempestade. Os motivos dessa confiança decorrem, outrossim, dos fatos testemunhados e da concordância desses fatos com a lógica, com a justiça e bondade de Deus, correspondendo às íntimas aspirações da Humanidade.

Para os espíritas, a alma não é uma abstração; ela tem um corpo etéreo que a define ao pensamento, o que muito é para fixar as idéias sobre a sua individualidade, aptidões e percepções. A lembrança dos que nos são caros repousa sobre alguma coisa de real. Não se nos apresentam mais como chamas fugitivas que nada falam ao pensamento, porém sob uma forma concreta que antes no-los mostra como seres viventes. Além disso, em vez de perdidos nas profundezas do Espaço, estão ao redor de nós; o mundo corporal e o mundo espiritual identificam-se em perpétuas relações, assistindo-se mutuamente.

Não mais permissível sendo a dúvida sobre o futuro, desaparece o temor da morte; encara-se a sua aproximação a sangue-frio, como quem aguarda a libertação pela porta da vida e não do nada.

(Fonte: O Céu e o Inferno - 1ª parte -DOUTRINA - Cap. II item 10)

Atualidade de Allan Kardec sobre os motivos das Contradições e das Mistificações


De que serve o ensino dos Espíritos, dirão alguns, se não nos oferece mais certeza do que o ensino humano?

Fácil é a resposta. Não aceitamos com igual confiança o ensino de todos os homens e, entre duas doutrinas, preferimos aquela cujo autor nos parece mais esclarecido, mais capaz, mais judicioso, menos acessível às paixões. Do mesmo modo se deve proceder com os Espíritos. Se entre eles há os que não estão acima da Humanidade, muitos há que a ultrapassaram e estes nos podem dar ensinamentos que em vão buscaríamos com os homens mais instruídos. De distingui-los é do que deve tratar com cuidado quem queira esclarecer-se e a fazer essa distinção é o a que conduz o Espiritismo. Porém, mesmo esses ensinamentos têm um limite e, se aos Espíritos não é dado saberem tudo, com mais forte razão isso se verifica relativamente aos homens.

Há coisas, portanto, sobre as quais será inútil interrogar os Espíritos, ou porque lhes seja defeso revelá-las, ou porque eles próprios as ignoram e a cujo respeito apenas podem expender suas opiniões pessoais. Ora, são essas opiniões pessoais que os Espíritos orgulhosos apresentam como verdades absolutas. Sobretudo, acerca do que deva permanecer oculto, como o futuro e o princípio das coisas, é que eles mais insistem, a fim de insinuarem que se acham de posse dos segredos de Deus. Por isso mesmo, sobre esses pontos é que mais contradições se observam. (Item 300 Livro dos Médiuns – Das contradições e das mistificações)

A Importância de O Livro dos Médiuns - Allan Kardec


O Livro dos Médiuns
Revista Espírita, janeiro de 1861

Esta obra, anunciada há muito tempo, mas cuja publicação foi retardada pela sua importância, aparecerá de 5 a 10 de janeiro, na cada dos Srs. Didier & Cia., livreiros editores, cais dos Augustins, no 35 (1-(1) Encontra-se igualmente no escritório da Revista Espírita, rua Sainte-Anne n' 59, passagem Sainte-Anne. Um volume grande in-18 de 500 páginas, Paris, 3 fr.50, franco para o correio. 4 fr.). Ela forma o complemento de O Livro dos Espíritos e encerra a parte experimental do Espiritismo, como o primeiro contém a sua parte filosófica. Procuramos, nesse trabalho, fruto de uma longa experiência e de laboriosos estudos, esclarecer todas as questões que se prendem à prática das manifestações; ele contém, segundo os Espíritos, a explicação teórica dos diversos fenômenos e das condições nas quais podem se produzir; mas a parte concernente ao desenvolvimento e ao exercício da mediunidade foi, sobretudo, de nossa parte, o objeto de uma atenção toda especial.

O Espiritismo experimental está cercado de muito mais dificuldades do que se crê geralmente, e os escolhos que aí se encontram são numerosos; é o que causa tantas decepções entre aqueles que dele se ocupam sem terem a experiência e os conhecimentos necessários. Nosso objetivo foi de premunir contra esses escolhos, que não são sempre sem inconvenientes para quem se aventure com imprudência sobre este terreno novo. Não poderíamos negligenciar um ponto tão capital, e o tratamos com um cuidado igual à sua importância.

Os inconvenientes nascem, quase sempre, da leviandade com que se trata uma questão tão séria. Os Espíritos, quaisquer que sejam, são as almas daqueles que viveram, e no meio dos quais estaremos, infalivelmente, de um instante para outro; todas as manifestações Espíritas, inteligentes ou outras, têm, pois, por objeto nos colocar em relação com essas mesmas almas; se respeitamos os seus restos mortais, com mais forte razão devemos respeitar o ser inteligente que sobreviveu, e que lhe é a verdadeira individualidade; se fazer um jogo das manifestações é faltar com esse respeito que reclamaremos, talvez, para nós mesmos amanhã, e que jamais se viola impunemente.

O primeiro momento da curiosidade causada por esses fenômenos estranhos passou; hoje que se lhe conhece a fonte, guardemo-nos de profaná-la com divertimentos inoportunos, e esforcemo-nos para neles haurir o ensinamento próprio para assegurar a nossa felicidade futura; o campo é bastante vasto, e o objetivo bastante importante, para cativar toda a nossa atenção. E para fazer o Espiritismo entrar neste caminho sério que todos os nossos esforços tenderam até este dia; se esta nova obra, em fazendo-o melhor compreendido ainda, pode contribuir para impedir de desviá-lo de sua destinação providencial, estaremos largamente pagos pelos nossos cuidados e nossas vigílias.

Este trabalho, não o dissimulamos, levantará mais de uma crítica de parte daqueles a quem constrange a severidade dos princípios, e daqueles que, vendo a coisa de um outro ponto de vista, já nos acusam de querer fazer escola no Espiritismo. Se fazer escola é procurar nesta ciência um objetivo útil e aproveitável para a Humanidade, teremos motivo para nos lisonjearmos com essa censura; mas uma tal escola não tem necessidade de outro chefe senão do bom senso das massas e da sabedoria dos bons Espíritos, que a criariam sem nós; por isso, declinamos a honra de tê-lo fundado, felizes, nós mesmos, em nos alinhar sob a sua bandeira, e não aspirando senão um a modesto título de propagador; se lhe fosse necessário um nome, escreveríamos em seu frontispício: Escola do Espiritismo moral e filosófico, e para ela convidaríamos todos aqueles que têm necessidade de esperanças e de consolações. ALLAN KARDEC.