segunda-feira, 11 de julho de 2011

Uma reflexão sobre a pena de talião

A pena de talião.
Fonte :OQE- Kardec – preâmbulo


Para responder, desde agora e sumariamente, à questão formulada no título deste estudo, nós diremos que:
O Espiritismo é ao mesmo tempo uma
ciência de observação e uma doutrina filosófica.

 Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos;
 como filosofia, ele compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.

Pode-se defini-lo assim:
O Espiritismo é uma ciência que trata:
1. da natureza,
2. da origem
3. e da destinação dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal.

Analisando um caso real - (Sociedade, 9 de agosto de 1861. Médium Sr. d'Ambel.) RE 1861 - AK

Um correspondente da Sociedade lhe transmite a nota seguinte: O Sr. Antônio B..., um de meus parentes, escritor de mérito, estimado por seus concidadãos, tendo cumprido com distinção e integridade funções públicas na Lombardia, caiu, há mais ou menos dez anos, em conseqüência de um ataque de apoplexia, num estado de morte aparente que se toma, infelizmente, como isso ocorre algumas vezes, pela morte real. O erro era tanto mais fácil quanto se havia acreditado perceber sobre o corpo sinais de decomposição. Quinze dias depois do sepultamento, uma circunstância fortuita determinou a família a pedir a exumação; tratava-se de um medalhão esquecido por inadvertência no caixão; mas o estupor dos assistentes foi grande quando, na abertura, reconheceu-se que o corpo tinha mudado de posição, que estava virado e, coisa horrível! que uma das mãos estava em parte comida pelo defunto. Foi então manifestado que o infeliz Antônio B... havia sido enterrado vivo; devera sucumbir sob os apertos do desespero e da fome. Seja como for, desse triste acontecimento e de suas conseqüências morais, não seria interessante, do ponto de vista espírita e psicológico, fazer, a esse respeito, uma investigação no mundo dos Espíritos?"

1. Evocação de Antônjo B... - R. Que quereis de mim?

2. Um de vossos parentes nos pediu para vos evocar; fazemo-lo com prazer, e seremos felizes se quiserdes bem nos responder. - R. Sim, eu quero bem vos responder.

3. Lembrai-vos das circunstâncias de vossa morte? - R. Ah! certamente sim! Eu as lembro; por que despertar essa lembrança de castigo?

4. É certo que fostes enterrado vivo por engano? - R. Isso deveria ser assim, porque a morte aparente teve todos os caracteres de uma morte real; eu estava quase exangue. Não se deve imputar a ninguém um fato previsto desde de antes de meu nascimento.

5. Se estas perguntas são de natureza a vos causar pena, é preciso cessá-las? - R. Não, continuai.

6. Gostaríamos de vos saber feliz, porque deixastes a reputação de um homem honesto. - R. Eu vos agradeço muito, sei que orareis por mim. Vou tratar de responder, mas se eu fracassar um de vossos guias habituais isso suprirá.

7. Poderíeis descrever as sensações que experimentastes nesse terrível momento? - R. Oh! que dolorosa prova! Sentir-se encerrado entre quatro tábuas, de maneira a não poder mexer, nem mudar de lugar! Não poder chamar; a voz não ressoando mais num meio privado de ar.
Oh! que tortura senão a de um infeliz que se esforça em vão para respirar numa atmosfera insuficiente e desprovida da parte respirável! Ai de mim! Estava como um condenado na goela de um forno, salvo o calor. Oh! não desejo a ninguém semelhantes torturas! Não, não desejo a ninguém um fim como o meu! Ai! cruel punição de uma cruel e feroz existência! Não me pergunteis em que eu pensava, mas mergulhava no passado e entrevia vagamente o futuro.

7. Dissestes: cruel punição de uma feroz existência; mas vossa reputação, até este dia intacta, não fazia nada supor de semelhante. Podereis nos explicar isto? - R. O que é a duração de uma existência na eternidade! Certamente, tratei de agir bem em minha última encarnação; mas esse fim fora aceito por mim antes de reentrar na humanidade. Ah! por que me interrogar sobre esse passado doloroso que só eu conhecia, assim como os Espíritos, ministros do Todo-Poderoso? Sabei, pois, uma vez que falta vo-lo dizer, que numa existência anterior, eu emparedara uma mulher, a minha! Toda viva numa sepultura! Foi a pena de talião que devi me aplicar! Dente por dente, olho por olho.

8. Nós vos agradecemos por ter consentido em responder às nossas perguntas, e rogamos a Deus para vos perdoar o passado em favor do mérito de vossa última existência. - R. Retornarei mais tarde; de resto, o Espírito de Erasto quererá bem completar.

Reflexões de Lamennais sobre essa evocação.
Deus é bom! Mas o homem para chegar à perfeição, deve suportar provas mais cruéis. Esse infeliz viveu vários séculos durante a sua agonia desesperada, e embora sua vida tenha sido honrosa, essa prova deveria ocorrer, uma vez que a escolhera.
Reflexões de Erasto.

O que deveis tirar deste ensinamento é que todas as vossas existências se ligam, e que nenhuma é independente das outras; os cuidados, os aborrecimentos, como as grandes dores que magoam os homens, são sempre as conseqüências de uma vida anterior criminosa ou mal empregada. No entanto, devo dize-lo, os fins semelhantes ao de Antônio B... são raros, e se esse homem, cuja última existência foi isenta de censura, acabou desse modo, foi porque ele mesmo solicitou uma morte semelhante, a fim de abreviar o tempo de sua erraticidade e alcançar mais rapidamente as esferas elevadas. Com efeito, depois de um período de perturbação, para expiar ainda seu crime espantoso, ele será perdoado e se elevará para um mundo melhor, onde encontrará a sua vítima que o espera e que já há muito tempo o perdoou. Sabei, pois, tirar o vosso proveito desse exemplo cruel, para suportar com paciência, ó meus caros Espíritas, os sofrimentos corporais, os sofrimentos morais, e todas as pequenas misérias da vida.

Perg. Que proveito pode a Humanidade retirar de semelhantes punições? –
R. Os castigos(resgates) não são feitos para desenvolver a Humanidade, mas para o indivíduo culpado. Com efeito, a Humanidade não tem nenhum interesse em ver um dos seus sofrer. Aqui a punição (resgate) está apropriada à falta. Por que os loucos? Por que os cretinos? Por que as pessoas paralíticas? Por que aqueles que morrem no fogo? Por que aqueles que vivem anos nas torturas de uma longa agonia, não podendo nem viver, nem morrer? Ah! Crede-me, respeitai a vontade soberana e não procureis sondar as razões dos decretos providenciais; sabei-o! Deus é justo e faz bem o que faz. (ERASTO).

Nota. Não há neste fato um grande e terrível ensinamento? Assim a justiça de Deus alcança sempre o culpado, e por ser algumas vezes tardia, não segue menos o seu curso. Não é eminentemente moral saber que, se grandes culpados terminam a sua existência pacificamente e, freqüentemente, na abundância de bens terrestres, a hora da expiação soará cedo ou tarde? Penas dessa natureza se compreendem, não somente porque, de alguma sorte, estão sob os nossos olhos, mas porque são lógicas; crê-se nelas porque a razão as admite; ora, perguntamos se esse quadro que o Espiritismo faz desenrolar, a cada instante, diante de nós, não é mais próprio para impressionar e deter sobre a borda do abismo, do que o medo das chamas eternas, nas quais não se crê. Que se releiam somente as evocações que publicamos nesta Revista, e ali ver-se-á que não há um vício que não tenha o seu castigo, e não há uma virtude que não tenha a sua recompensa proporcionada ao mérito ou ao grau de culpabilidade, porque Deus leva em conta todas as circunstâncias que podem atenuar o mal ou aumentar o prêmio do bem.


Também poderemos encontrar este caso no O Céu e o Inferno – Expiações Terrestres.


Penas tais são compreensíveis, não só por estarem mais ou menos ao alcance das nossas vistas, como por serem lógicas. Cremos, porque a razão admite. Uma existência honrosa não exclui, portanto, as provações da vida, que são escolhidas e aceitas como complemento de expiação — o restante do pagamento de uma dívida saldada antes de receber o preço do progresso realizado.
Considerando quanto nos séculos passados eram freqüentes, mesmo nas classes mais elevadas e esclarecidas, os atos de barbaria que hoje repugnam; quantos assassínios cometidos nesses tempos de menosprezo pela vida de outrem, esmagado o fraco pelos poderosos sem escrúpulo; então compreenderemos que muitos dos nossos contemporâneos têm de expungir máculas passadas, e tampouco nos admiraremos do número considerável de pessoas que sucumbem vitimadas por acidentes isolados ou por catástrofes coletivas. O despotismo, o fanatismo, a ignorância e os prejuízos da Idade Média e dos séculos que se seguiram, legaram às gerações futuras uma dívida enorme, que ainda não está saldada. Muitas desgraças nos parecem imerecidas, somente porque apenas vemos o presente.

764. Disse Jesus: Quem matou com a espada, pela espada perecerá. Estas palavras não consagram a pena de talião e, assim, a morte dada ao assassino não constitui uma aplicação dessa pena?

“Tomai cuidado! Muito vos tendes enganado a respeito dessas palavras, como acerca de outras. A pena de talião é a justiça de Deus. É Deus quem a aplica. Todos vós sofreis essa pena a cada instante, pois que sois punidos naquilo em que haveis pecado, nesta existência ou em outra. Aquele que foi causa do sofrimento para seus semelhantes virá a achar-se numa condição em que sofrerá o que tenha feito sofrer. Este o sentido das palavras de Jesus. Mas, não vos disse ele também: Perdoai aos vossos inimigos? E não vos ensinou a pedir a Deus que vos perdoe as ofensas como houverdes vós mesmos perdoado, isto é, na mesma proporção em que houverdes perdoado, compreendei-o bem?”

Mais informações: Quais os ensinamentos que o fato acima faz-nos refletir um pouco mais:

Sobre a Justiça Divina e como o Espírito em contraste com a Lei deve agir para o seu realinhamento:
Fonte: CI – AK - Enfoques da pena
VII -
6º — O bem e o mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não fazer o bem quando podemos é, portanto, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer na vida terrestre.

16º — O arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação.
Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas conseqüências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação.

7º — O Espírito sofre pelo mal que fez, de maneira que,sendo a sua atenção constantemente dirigida para as conseqüências desse mal, melhor compreende os seus inconvenientes e trata de corrigir-se.

132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?
“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão.
Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.”


ESCOLHA DAS PROVAS
258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena?
“Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre-arbítrio.”

264. Que é o que dirige o Espírito na escolha das provas que queira sofrer?
“Ele escolhe, de acordo com a natureza de suas faltas, as que o levem à expiação destas e a progredir mais depressa.
 Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem;
 outros preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar, pelas paixões inferiores que uma e outros desenvolvem;
 muitos, finalmente, se decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de sustentar em contacto com o vício.”

266. Não parece natural que se escolham as provas menosdolorosas?
“Pode parecer-vos a vós; ao Espírito, não. Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar.”

269. Pode o Espírito enganar-se quanto à eficiência da prova que escolheu?
“Pode escolher uma que esteja acima de suas forças e sucumbir. Pode também escolher alguma que nada lhe aproveite,
como sucederá se buscar vida ociosa e inútil. Mas, então,voltando ao mundo dos Espíritos, verifica que nada ganhou e pede outra que lhe faculte recuperar o tempo perdido.”

998. A expiação se cumpre espiritual?
“A expiação se cumpre durante a existência corporal, mediante as provas a que o Espírito se acha submetido e, na vida espiritual, pelos sofrimentos morais, inerentes ao estado de inferioridade do Espírito.”

999. Basta o arrependimento durante a vida para que as faltas do Espírito se apaguem e ele ache graça diante de Deus?
“O arrependimento concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.”

a) — Se, diante disto, um criminoso dissesse que, cumprindo-lhe, em todo caso, expiar o seu passado, nenhuma necessidade tem de se arrepender, que é o que daí lhe resultaria?
“Tornar-se mais longa e mais penosa a sua expiação, desde que ele se torne obstinado no mal.”