segunda-feira, 19 de maio de 2014

Desconstruindo Preconceitos



Abaixo inserimos um artigo muito importante e do qual compartilhamos, uma vez que expressa uma visão atual sobre a necessidade das Instituições Espíritas (diretores) analisarem e realinharem seus programas e próprios pensamentos sobre a Importância do Jovem na Casa Espírita. 
Fonte do artigo: http://pensarespirita.wordpress.com/2012/03/17/importancia-da-mocidade-espirita/



Existem, atualmente, em alguns centros espíritas, uma reação entre os adultos para com os jovens que é a de que “eles não sabem das coisas”, “ é muito novo, não entende”, “ainda tem muito que aprender”.
Entendo isso como falta de respeito e passo a explicar meu ponto de vista.
O jovem é um ser pensante e tem direito a ter opiniões próprias mas, além disso, quando os adultos dizem tais coisas esquecem-se de um fator básico: a idade espiritual, pois, posto que somos espíritos temos a consciência de que dessa forma todos somos multimilenares.
Muitos dos que já passaram por esta fase, a meu ver, sentem emoções distorcidas, alguns não aceitam que a sua mocidade já passou, outros dizem que essa fase é apenas para curtir a vida explorando toda espécie de situações fúteis e prazeres sem nenhuma responsabilidade, outros ainda querem que sigamos o que eles faziam quando jovens em décadas tão diferentes da atual.
Dora Incontri, jornalista e escritora brasileira e um importante nome da Pedagogia Espírita, diz em sua obra “A Educação Segundo o Espiritismo”, livro que já se encontra em sua 8ª edição baseado em pesquisas, experiências pessoais e inspirações mediúnicas, que a grande maioria dos adultos ignora a real importância da fase juvenil para o Espírito.”
Quantos jovens demonstram muito mais sabedoria que aqueles que já se encontram na fase adulta?
Essa é uma fase onde eles buscam a autonomia, onde eles têm a necessidade de estabelecer seus próprios ideais. O pior que se pode fazer a um jovem é utilizar-se das frases que citamos no início do texto, pois, desta forma, estaremos afastando-o e lhe dando espaço para a rebeldia que, de certa forma, será justificada.
Mas para que isso não ocorra ou encontre dificuldades para ocorrer, temos que dar aos jovens o que cobramos. Temos que dar a eles o espaço para pensar, raciocinar e refletir sobre a vida nas suas mais diversas nuances, mas NUNCA tolhendo seu livre-arbítrio.

Cobramos responsabilidade, mas não damos espaço para que eles trabalhem, ou se damos espaço é o espaço que queremos, não perguntamos, na maioria das vezes, qual a área de interesse do jovem.
E aí criticamos, pois quando eles não se interessam eles simplesmente não fazem. Mas, um momento…
Nós, adultos, não somos assim? Se alguém tentar fazer você comer o que não gosta, você vai comer? Se alguém tentar fazer você vestir uma roupa que não gosta, você vai vestir? Não. Não faremos posto que somos “adultos” e podemos e sabemos escolher.
Os jovens também tem esse direito. A Casa espírita não deve ser um lugar de repressão. Existem sim normas e regras que devemos seguir pelo bem comum de todos os que lá frequentam e que são extremamente importantes para o bem do trabalho material e espiritual, mas como queremos que os jovens sejam o futuro da casa se não os ouvimos? Se não os observamos?
É imprescindível observar até que ponto alguns jovens se aproveitam dessa situação e, em percebendo isso, devemos intervir e incluir os pais e/ou os responsáveis pelos jovens, de forma firme e respeitosa sempre, lembrando que nossa posição não é de juízes mas de observadores.
Os encontros espíritas, as mocidades, tudo isso existe para e pelos jovens, mas o que vemos atualmente é que eles, nem sempre, são a prioridade.
Por exemplo, quando eu era jovem de mocidade, várias vezes ao fim do ano pediam para que a gente escrevesse sobre que assuntos gostaríamos de estudar. Tínhamos a expectativa de que no próximo ano esse assuntos fossem trabalhados sob a visão da Doutrina mas, o que acontecia não era isso. Trabalhávamos o mesmo de sempre.
Se pegarmos como exemplo o modelo de evangelização de Jesus, percebemos que os discípulos perguntavam sobre coisas do cotidiano e Jesus as respondia introduzindo o conceito cristão. Jesus as respondia sem ficar repetindo as mesmas coisas, era sobre aquela circunstância em questão.
Quantas vezes vemos as mocidades estudando as mesmas coisas anos a fio? Como fazer que o interesse se mantenha dessa forma? Dando sempre os mesmos exemplos? Falando sempre dos mesmos vultos que, quase sempre, são espíritas como se nenhuma outra pessoa de outra vertente religiosa ou até que não siga nenhuma vertente religiosa tivesse exemplos lindos a seguir?
E nisso cito Gandhi, Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá e tantos outros.
Deolindo Amorim, jornalista, escritor e conferecista espírita, nos dá no texto “Mocidades Espíritas e as Mudanças” publicado no Anuário Espírita de 1976informações extremamente importantes. Passo a citar alguns trechos:

Até 1940 a quarenta e tantos, por exemplo, era habitual, entre nós, a promoção de festas e programas artísticos para atrair os moços. Festas realmente sadias e programas inegavelmente bem inspirados. Dizia-se então que a Doutrina pura e simples era “muito seca” e, por isso mesmo, não seria possível trazer o moço para o meio espírita somente com ensino doutrinário. Dizia-se abertamente: ‘os moços querem alegria e movimento” “ainda é cedo para estudos sérios de Espiritismo’’. Programas artísticos por toda a parte, a bem dizer, números de poesia, às vezes violão, brincadeiras inofensivas, e assim passavam-se as “tardes fraternas’’ de mocidades e juventudes espíritas. Foi assim mesmo, por muito tempo. Mas as coisas mudaram, e temos que compreender a mudança.
Os jovens de 1975 têm outras motivações, outras experiências e, até certo ponto, têm outras necessidades. A mentalidade dos jovens de hoje não pode ser a mesma mentalidade da geração que participou do movimento espírita na década de quarenta. Houve grande transformação sócio-cultural de 1940 para cá. Não seria possível, hoje, atrair e segurar o elemento jovem no meio espírita somente com declamações, números de música, festinhas e por que não é possível? Exatamente porque o jovem quer o diálogo, o raciocínio mais objetivo. Convém notar, ainda mais, que há trinta anos, digamos assim, não havia tanto elemento universitário no meio espírita, como hoje. E a mentalidade universitária, por natureza, é diferente da mentalidade passiva. Havia, anteriormente, naqueles tempos, menos diálogo, porque a palavra do mentor captava muita confiança por si mesma. Quase não se falava em debate, a não ser em determinados movimentos, e pouco se discutia em ‘‘mesa-redonda’’.
Atualmente, como se vê, já é impressionante, nas fileiras espíritas, o contingente de jovens oriundos de Universidades, onde recebem informações de vários tipos e se defrontam com diversas direções de pensamento. Eles têm, por força do ambiente universitário, muito espírito de participação e crítica. Muitos deles levam o Espiritismo a sério e querem estudá-lo bem, muito mais do que se pensa, mas precisam encontrar condições adequadas. Esta situação está reclamando naturalmente novos hábitos no relacionamento com as alas jovens. Claro que ninguém iria admitir nem sequer imaginar que as organizações de juventudes e mocidades espíritas se transformassem em clubes de mera recreação ou em círculos de polemicas fora dos princípios espíritas. Não. Entretanto, não se pode deixar de considerar que cada época tem suas exigências, e o Espiritismo tem um corpo de doutrina capaz de nos dar a verdadeira dimensão deste fenômeno, desde que tenhamos a necessária cautela para evitar intromissões oportunistas, com segundas intenções, querendo forçar conexões que não existem. É outro problema. O estudo básico da Doutrina, porém, está necessitando de uma perspectiva nova, em certos aspectos, sem desmerecer a tradição e as grandes experiências do passado, que nunca deixará de ser uma lição para o presente.
Não há muito tempo, em artigo publicado no jornal Mundo Espírita, de 31.05.75, insistíamos nestes mesmos pontos e dizíamos, a certa altura: “A palavra de consolo e fé, nas horas mais criticas, é insubstituível, porque é a linguagem do sentimento, e não do raciocínio frio, que pode instruir, mas não alivia as dores da alma. Todavia, o Espiritismo precisa e deve acompanhar o espírito critico da época. Se quisermos fazer um tipo de espiritismo devocional ou conventual, ignorando os desafios da realidade presente, ficaremos à margem, não há dúvida Dentro deste novo quadro, finalmente, a cultura e a promoção de cursos são necessidades compatíveis com a posição do Espiritismo em face da crítica moderna”. Se pensamos assim, e já de algum tempo a esta parte, é porque a vivência no meio espírita, observando as reações dos elementos jovens, nos induz, cada vez mais, a compreender a necessidade de um sistema de comunicação doutrinária mais consentâneo com os problemas que estão surgindo.
Em lugar, finalmente, de querermos prender os jovens com recursos usados há mais de trinta anos, quando eram outras as condições ambientais, oferecendo-lhes apenas oportunidades festivas, devemos pensar, antes de tudo, que eles querem ir mais longe, porque estão vivendo uma época de desafios e, por mesmo, procuram no Espiritismo as respostas convincentes e as soluções compatíveis com o estado de espírito em que se encontram, justamente por causa das experiências de hoje. Devemos compreendê-los, com visão do momento. Indiscutivelmente os programas artísticos ou recreativos têm o seu lugar, a sua oportunidade, pois fazem parte das atividades espíritas e, portanto, são necessários; não devem, porém, ser a única razão de ser dos movimentos de juventudes e mocidades, como se fossem um chamariz, um ponto de atração, e nada mais. Não devemos continuar pensando como há trinta anos, pois o jovem espírita, vivendo o seu mundo de hoje, embora aprecie muito as artes e as expansões naturais, reclama outros instrumentos através do diálogos e da crítica. Mudança de mentalidade, mudança de hábitos, embora permaneçam inabaláveis os valores espirituais.”

É fato que queremos que os outros experimentem e gostem daquilo que gostamos e que sabemos ser bom mas será que acreditamos “convencer” os outros só pelas palavras?

Temos, sim, que orientá-los mediante à Doutrina mas nós não somos os pais. Somos os que facilitam o entendimento por estarmos, encarnados neste momento, há mais tempo ou até por estudarmos mais e há mais tempo mas é só. Regras, normas, conceitos e preceitos existem e sou totalmente a favor mas toda regra tem sua exceção, não esqueçamos que cada um caminha conforma sua possibilidade e que os jovens são sim o futuro do que está por vir e o que você, evangelizador, e o que você, jovem, está plantando hoje?