O Espiritismo e a Mulher
Autor:
León Denis
Encontram-se,
em ambos os sexos, excelentes médiuns; é à mulher, entretanto, que parecem
outorgadas as mais belas faculdades psíquicas. Daí o eminente papel que lhe
está reservado na difusão do novo Espiritualismo.
(Maria de Moura Afonso) |
Mais
uma vez se revela a mulher em sua sublime função de mediadora que o é em toda a
Natureza. Dela provém a vida; e ela a própria fonte desta, a regeneradora da
raça humana, que não subsiste e se renova senão por seu amor e seus ternos
cuidados. E essa função preponderante que desempenha no domínio da vida, ainda
a vem preencher no domínio da morte. Mas nós sabemos que a morte e a vida são
uma, ou antes, são as duas formas alternadas, os dois aspectos contínuos da
existência.
Mediadora
também é a mulher no domínio das crenças. Sempre serviu de intermediária entre
a nova fé que surge e a fé antiga que definha e vai desaparecendo. Foi o seu
papel no passado, nos primeiros tempos do Cristianismo, e ainda o é na época
presente.
O
Catolicismo não compreendeu a mulher, a quem tanto devia. Seus monges e padres,
vivendo no celibato, longe da família, não poderiam apreciar o poder e o
encanto desse delicado ser, em quem enxergavam antes um perigo.
A
antiguidade pagã teve sobre nós a superioridade de conhecer e cultivar a alma
feminina. Suas faculdades se expandiam livremente nos mistérios. Sacerdotisa
nos tempos védicos, ao altar doméstico, intimamente associada, no Egito, na
Grécia, na Gália, às cerimônias do culto, por toda a parte era a mulher objeto
de uma iniciação, de um ensino especial, que dela faziam um ser quase divino, a
fada protetora, o gênio do lar, a custódia das fontes da vida. A essa
compreensão do papel que a mulher desempenha, nela personificando a Natureza,
com suas profundas intuições, suas percepções sutis, suas adivinhações misteriosas,
é que foi devida a beleza, a força, a grandeza épica das raças grega e céltica.
Porque,
tal seja a mulher, tal é o filho, tal será o homem. É a mulher que, desde o
berço, modela a alma das gerações. É ela que faz os heróis, os poetas, os
artistas, cujos feitos e obras fulguram através dos séculos. Até aos sete anos
o filho permanecia no gineceu sob a direção materna. E sabe-se o que foram as
mães gregas, romanas e gaulesas. Para desempenhar, porém, tão sagrada missão
educativa, era necessária a iniciação no grande mistério da vida e do destino,
o conhecimento da lei das preexistências e das reencarnações; porque só essa
lei dá à vida do ser, que vai desabrochar sob a égide materna, sua significação
tão bela e tão comovedora.
Essa
benéfica influência da mulher iniciada, que irradiava sobre o mundo antigo como
uma doce claridade, foi destruída pela lenda bíblica da queda original.
Segundo
as Escrituras, a mulher é responsável pela proscrição do homem; ela perde Adão
e, com ele, toda a Humanidade; atraiçoa Sansão. Uma passagem do Eclesiastes a
declara “uma coisa mais amarga que a morte”. O casamento mesmo parece um mal:
“Que os que têm esposas sejam como se não as tivessem” – exclama Paulo.
Nesse
ponto, como em tantos outros, a tradição e o espírito judaico prevaleceram, na
Igreja, sobre modo de entender do Cristo, que foi sempre benévolo, compassivo,
afetuoso para com a mulher. Em todas as circunstâncias a escuda ele com sua
proteção; dirige-lhe suas mais tocantes parábolas. Estende-lhe sempre a mão, mesmo
quando decaída. Por isso as mulheres reconhecidas lhe formam uma espécie de
cortejo; muitas o acompanharão até a morte.
A situação da mulher, na civilização contemporânea, é difícil, não raro dolorosa. Nem sempre a mulher tem para si os usos e as leis; mil perigos a cercam, se ela fraqueja, se sucumbe, raramente se lhe estende mão amiga. A corrupção dos costumes fez da mulher a vítima do século. A miséria, as lágrimas, a prostituição, o suicídio – tal é a sorte de grande número de pobres criaturas em nossas sociedades opulentas.
A situação da mulher, na civilização contemporânea, é difícil, não raro dolorosa. Nem sempre a mulher tem para si os usos e as leis; mil perigos a cercam, se ela fraqueja, se sucumbe, raramente se lhe estende mão amiga. A corrupção dos costumes fez da mulher a vítima do século. A miséria, as lágrimas, a prostituição, o suicídio – tal é a sorte de grande número de pobres criaturas em nossas sociedades opulentas.
Uma
reação, porém, já se vai operando. Sob a denominação de feminismo, um certo
movimento se acentua legítimo em seu princípio, exagerado, entretanto, em seus
intuitos; porque ao lado de justas reivindicações, enuncia propósitos que
fariam da mulher, não mais mulher, mas cópia, paródia do homem. O movimento
feminista desconhece o verdadeiro papel da mulher e tende a transviá-la do
destino que lhe está natural e normalmente traçado. O homem e a mulher nasceram
para funções diferentes, mas complementares. No ponto de vista da ação social,
são equivalentes e inseparáveis.
O
moderno Espiritualismo, graças às suas práticas e doutrinas, todas de ideal, de
amor, de equidade, encara a questão de modo diverso e resolve-a sem esforço e sem
estardalhaço. Restitui a mulher seu verdadeiro lugar na família e na obra
social, indicando-lhe a sublime função que lhe cabe desempenhar na educação e
no adiantamento da Humanidade. Faz mais, reintegra-a em sua missão de mediadora
predestinada, verdadeiro traço de união que liga as sociedades da Terra às do
Espaço.
A
grande sensibilidade da mulher a constitui o médium por excelência, capaz de
exprimir, de traduzir os pensamentos, as emoções, os sofrimentos das almas, os
altos ensinos dos Espíritos celestes. Na aplicação de suas faculdades encontra
ela profundas alegrias e uma fonte viva de consolações. A feição religiosa do
Espiritismo a atrai e lhe satisfaz as aspirações do coração, as necessidades de
ternura, que estendem, para além do túmulo, aos entes desaparecidos. O perigo
para ela, como para o homem, está no orgulho dos poderes adquiridos, na
suscetibilidade exagerada. O ciúme, suscitando rivalidades entre médiuns,
torna-se muitas vezes motivo de desagregação para os grupos.
Daí
a necessidade de desenvolver na mulher, ao mesmo tempo que os poderes
intuitivos, suas admiráveis qualidades morais, o esquecimento de si mesma, o
júbilo do sacrifício, numa palavra, o sentimento dos deveres e das
responsabilidades inerentes à sua missão mediatriz.
O Materialismo, não ponderando senão o nosso organismo físico, faz da mulher um ser inferior por sua fraqueza e a impele à sensualidade. Ao seu contato, essa flor de poesia verga ao peso das influências degradantes, se deprime e envilece. Privada de sua função mediadora, de sua imaculada auréola, tornada escrava dos sentidos, não é mais um ser instintivo, impulsivo, exposto às sugestões dos apetites mórbidos. O respeito mútuo, as sólidas virtudes domésticas desaparecem; a discórdia e o adultério se introduzem no lar; a família se dissolve, a felicidade se aniquila. Uma nova geração, desiludida e céptica, surge do seio de uma sociedade em decadência.
Com o Espiritualismo, porém, ergue de novo a mulher a inspirada fronte; vem associar-se intimamente à obra de harmonia social, ao movimento geral das idéias. O corpo não é mais que uma forma tomada por empréstimo; a essência da vida é o espírito, e nesse ponto de vista o homem e a mulher são favorecidos por igual. Assim, o moderno Espiritualismo restabelece o mesmo critério dos Celtas, nossos pais; firma a igualdade dos sexos sobre a identidade da natureza psíquica e o caráter imperecível do ser humano, e a ambos assegura posição idêntica nas agremiações de estudo.
O Materialismo, não ponderando senão o nosso organismo físico, faz da mulher um ser inferior por sua fraqueza e a impele à sensualidade. Ao seu contato, essa flor de poesia verga ao peso das influências degradantes, se deprime e envilece. Privada de sua função mediadora, de sua imaculada auréola, tornada escrava dos sentidos, não é mais um ser instintivo, impulsivo, exposto às sugestões dos apetites mórbidos. O respeito mútuo, as sólidas virtudes domésticas desaparecem; a discórdia e o adultério se introduzem no lar; a família se dissolve, a felicidade se aniquila. Uma nova geração, desiludida e céptica, surge do seio de uma sociedade em decadência.
Com o Espiritualismo, porém, ergue de novo a mulher a inspirada fronte; vem associar-se intimamente à obra de harmonia social, ao movimento geral das idéias. O corpo não é mais que uma forma tomada por empréstimo; a essência da vida é o espírito, e nesse ponto de vista o homem e a mulher são favorecidos por igual. Assim, o moderno Espiritualismo restabelece o mesmo critério dos Celtas, nossos pais; firma a igualdade dos sexos sobre a identidade da natureza psíquica e o caráter imperecível do ser humano, e a ambos assegura posição idêntica nas agremiações de estudo.
Pelo
Espiritismo se subtrai a mulher ao vértice dos sentidos e ascende à vida
superior. Sua alma se ilumina de clarão mais puro; seu coração se torna o foco
irradiador de ternos sentimentos e nobilíssimas paixões. Ela reassume no lar a
encantadora missão que lhe pertence, feita de dedicação e piedade, seu importante
e divino papel de mãe, de irmã e educadora, sua nobre e doce função persuasiva.
Cessa,
desde então, a luta entre os dois sexos. As duas metades da Humanidade se aliam
e equilibram no amor, para cooperarem juntas no plano providencial, nas obras
da Divina Inteligência.