domingo, 24 de abril de 2011

Kardec nos fala de três fases do Espiritismo



O Espiritismo surgiu entre nós num momento psicológico de maturidade espiritual; estávamos já preparados para receber ensinamentos claros acerca da vida, de modo que o nosso entendimento assim esclarecido pudesse apoiar, embasado na razão e na lógica, a nossa ação rumo ao crescimento indispensável.

O Espiritismo não é obra de um homem. Ele nada traz de novo, a não ser uma nova ordem das idéias já disseminadas pela Terra, nos mais diversos locais, nas mais diferentes épocas, desde a Antigüidade. Recolhendo e ordenando essas idéias antes esparsas, numa linguagem despida de qualquer alegoria e simbolismo, permite o entendimento claro e profundo da Verdade, conforme a nossa capacidade de assimilação.
Kardec nos lembra a importância da observação e da reflexão constantes. Quando a gente amplia o entendimento, através do estudo e da reflexão, é que a gente percebe que a Verdade esteve ao nosso alcance todo o tempo. Faltava apenas a maturidade para a percepção correta, como no exemplo que ele nos trás do patinho na bacia que fala do Magnetismo, assim como no das mesas girantes que desvelaram a ciência espírita. Sim, ciência espírita, porque o Espiritismo é todo baseado no método positivista da observação metódica, repetida inúmeras vezes, nas mais diversas circunstâncias. E se, para conhecer uma ciência que trata apenas da vida material, precisamos de alguns bons anos de estudo aprofundado, que dirá para a ciência espírita, que é ciência síntese de todas as outras, uma vez que ela abarca os mais diversos assuntos que interessam à nossa vida, inclusive e principalmente no seu aspecto espiritual.
Recomecemos, portanto, a estudar novamente "O Livro dos Espíritos", a nossa base, aprofundando-nos com o auxílio das outras obras básicas, que são desenvolvimentos dos quatro livros que formam "O Livro dos Espíritos"; senão vejamos:
"A Gênese" é um aprofundamento do Livro I - "As Causas Primeiras"; "O Livro dos Médiuns" é o desenvolvimento do Livro II - "Mundo Espírita ou dos Espíritos"; "O Evangelho Segundo o Espiritismo" aprofunda as questões do Livro III - "Leis Morais"; e "O Céu e o Inferno" desenvolve o Livro IV - Penas e Gozos Futuros. Temos, portanto, toda uma base para conhecer e aprofundar. Além disso, podemos contar com os livros complementares da Doutrina, tanto de autores encarnados como de desencarnados, que nos oferecem um enriquecimento enorme em todas as questões tratadas no Pentateuco. E não nos esqueçamos de que podemos, sim, estudar em todas as fontes do conhecimento humano, tanto no campo da Ciência, quanto no da Filosofia e no da Religião.

Estudemos, para que possamos agir com consciência. Sim, porque, todo aquele que se esclarece nessas verdades consoladoras que a Doutrina nos traz, inevitavelmente, como nos diz Kardec, sente a necessidade de se conhecer, de se julgar e de se corrigir. E sentirá, também, com certeza, a necessidade de ir ao encontro do próximo para a vivência do "Amai-vos uns aos outros" a que nos convidou Jesus, vivenciando ou buscando vivenciar sinceramente a fraternidade, o amor, a caridade e a justiça, com a beleza e a profundidade com que elas nos são apresentadas pela Doutrina.

Kardec nos fala de três fases do Espiritismo: a primeira, a da curiosidade, que seria suscitada as mais das vezes pelo aspecto das manifestações; a segunda, a do raciocínio e da filosofia, que toca no significado mais profundo dessas manifestações, trazendo os princípios e a moral que delas decorrem; e a terceira, a da aplicação e conseqüências desses princípios, que permite, mesmo neste mundo, a vivência da felicidade.Em decorrência, apresenta três graus de adeptos, quais sejam:
1 - Os que crêem nas manifestações e se limitam em constatá-las; enfatizam o aspecto da ciência experimental;
2 - Os que lhe compreendem as conseqüências morais, buscando aprofundar o entendimento de seus princípios;
3 - Os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral.

Já foi colocado outras vezes que, a gente passa por três fases na Doutrina Espirita: na primeira, a gente entra no Espiritismo, na segunda, o Espiritismo entra na gente, e na terceira, o Espiritismo sai da gente. ou seja, começamos a vivê-lo.

Da mesma forma, aprendemos que O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios e da filosofia que delas decorrem e o da aplicação desses princípios.
Quanto aos adversários, também podemos classificá-los em três categorias.



1 - A dos que negam sistematicamente tudo o que é novo, ou deles não venha, e que falam sem conhecimento de causa. A esta classe pertencem todos os que não admitem senão o que possa ter o testemunho dos sentidos. Nada viram, nada querem ver e ainda menos aprofundar. Ficariam mesmo aborrecidos se vissem as coisas muito claramente, porque forçoso lhes seria convir em que não têm razão. Para eles, o Espiritismo é uma quimera, uma loucura, uma utopia, não existe: está dito tudo. São os incrédulos de caso pensado. Ao lado desses, podem colocar-se os que não se dignam de dar aos fatos a mínima atenção, sequer por desencargo de consciência, a fim de poderem dizer: Quis ver e nada vi. Não compreendem que seja preciso mais de meia hora para alguém se inteirar de uma ciência.
2 - A dos que, sabendo muito bem o que pensar da realidade dos fatos, os combatem, todavia, por motivos de interesse pessoal. Para estes, o Espiritismo existe, mas lhe receiam as conseqüências. Atacam-no como a um inimigo.


3 - A dos que acham na moral espírita uma censura por demais severa aos seus atos ou às suas tendências. Tomado ao sério, o Espiritismo os embaraçaria; não o rejeitam, nem o aprovam: preferem fechar os olhos.
Os primeiros são movidos pelo orgulho e pela presunção; os segundos, pela ambição; os terceiros, pelo egoísmo. Concebe-se que, nenhuma solidez tendo, essas causas de oposição venham a desaparecer com o tempo, pois em vão procuraríamos uma quarta classe de antagonistas, a dos que em patentes provas contrárias se apoiassem demonstrando estudo laborioso e porfiado da questão. Todos apenas opõem a negação, nenhum aduz demonstração séria e irrefutável.
Concluindo com Kardec:
Fora presumir demais da natureza humana supor que ela possa transformar-se de súbito, por efeito das idéias espíritas. A ação que estas exercem não é certamente idêntica, nem do mesmo grau, em todos os que as professam.
Mas, o resultado dessa ação, qualquer que seja, ainda que extremamente fraco, representa sempre uma melhora. Será, quando menos, o de dar a prova da existência de um mundo extracorpóreo, o que implica a negação das doutrinas materialistas. Isto deriva da só observação dos fatos, porém, para os que compreendem o Espiritismo filosófico e nele vêem outra coisa, que não somente fenômenos mais ou menos curiosos, diversos são os seus efeitos.
• O primeiro e mais geral consiste em desenvolver o sentimento religioso até naquele que, sem ser materialista, olha com absoluta indiferença para as questões espirituais. Daí lhe advém o desprezo pela morte. Não dizemos o desejo de morrer; longe disso, porquanto o espírita defenderá sua vida como qualquer outro, mas uma indiferença que o leva a aceitar, sem queixa, nem pesar, uma morte inevitável, como coisa mais de alegrar do que de temer, pela certeza que tem do estado que se lhe segue.
• O segundo efeito, quase tão geral quanto o primeiro, é a resignação nas vicissitudes da vida. O Espiritismo dá a ver as coisas de tão alto, que, perdendo a vida terrena três quartas partes da sua importância, o homem não se aflige tanto com as tribulações que a acompanham. Daí, mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos. Daí, também, o banimento da idéia de abreviar os dias da existência, por isso que a ciência espírita ensina que, pelo suicídio, sempre se perde o que se queria ganhar. A certeza de um futuro, que temos a faculdade de tornar feliz, a possibilidade de estabelecermos relações com os entes que nos são caros, oferecem ao espírita suprema consolação. O horizonte se lhe dilata ao infinito, graças ao espetáculo, a que assiste incessantemente, da vida de além-túmulo, cujas misteriosas profundezas lhe é facultado sondar.
• O terceiro efeito é o de estimular no homem a indulgência para com os defeitos alheios. Todavia, cumpre dizê-lo, o princípio egoísta e tudo que dele decorre são o que há de mais tenaz no homem e, por conseguinte, de mais difícil de desarraigar. Toda gente faz voluntariamente sacrifícios, contanto que nada custem e de nada privem. Para a maioria dos homens, o dinheiro tem ainda irresistível atrativo e bem poucos compreendem a palavra supérfluo, quando de suas pessoas se trata. Por isso mesmo, a abnegação da personalidade constitui sinal de grandíssimo progresso.