quarta-feira, 28 de março de 2012

MEDIUNIDADE E ORGANISMO






Por mais que um grande contingente de companheiros das lides mediúnicas continue a afirmar a sua estranheza ou incompreensão, ante os ensinamentos apresentados nas páginas lúcidas de O Livro dos Médiuns, o fato é que as expressões de Allan Kardec seguem eivadas de lógica e correção, que necessitam do devido entendimento.
O referido ensino é o que se reporta à mediunidade como uma faculdade radicada no organismo. A partir daí sobrevêm uma série de acaloradas discussões ou pertinazes processos de frieza à frente de tal pronunciamento do Codificador. O costume do indivíduo de não associar a experiência mediúnica ao organismo do médium, vendo-a somente como algo relativo ao Espírito, absolutizando indevidamente a situação, provoca-lhe dificuldades na compreensão da questão.
O que ocorre, porém, por outro lado, é que tudo está correto e nobremente situado pelo notável mestre de Lion. Sem qualquer dificuldade, compreender-se-á que toda percepção do Invisível, isto é, toda captação da presença dos Sempre Vivos, é detectada pelo Espírito. É a alma que possui os instrumentos para fazer os registros provenientes de outras almas. No entanto, parece-nos de fácil compreensão que a exteriorização dessa captação estará em função do corpo somático.
A sistematização neurológica deverá ser responsável por deixar jorrar para o exterior a luz da apreensão espiritual. Todo o material assimilado pela alma do médium escorrerá por meio dos canais nervosos, pelo organismo que ele enverga, a ponto de sentir que não haveria a corporificação do fenômeno sem a cooperação do corpo fisiológico. Utilizemo-nos de algum exemplo singelo, mas que tem tudo para ajudar na compreensão da questão.
Um exímio pianista, detentor de grandiosos talentos, de admirado virtuosismo, somente poderá exprimir a sua arte, com perfeição, no caso em que lhe seja oferecido um piano de excelentes qualidades. Caso não se dê tal oferecimento, deveremos admitir que, por mais notável seja o intérprete, não logrará dar provas da sua capacidade uma vez que se utiliza de um instrumento inferior, defeituoso, impróprio para o mister desejado. Cada corpo funciona como um instrumento e cada Espírito será o intérprete da mensagem captada.
Qualquer indivíduo que reencarne com projeto de atuar na esfera da mediunidade ostensiva, portando, então, o compromisso mediúnico em sua folha de deveres, necessitará de um corpo físico que lhe possibilite a exteriorização da faculdade psíquica.
O sistema nervoso do futuro médium, tanto o central quanto o periférico, e aqui não nos deteremos em minúcias que poderiam tornar mais complexa a compreensão do que desejamos aclarar, é ajustado de tal maneira que o mínimo contato fluídico ou envolvimento psíquico dos desencarnados sobre ele, imponha-lhe percepções automáticas do Invisível. Daí o encontrarmos portadores da faculdade mediúnica que exprimem seu descontentamento com a sua condição. Dizem, agora que estão na Terra esquecidos do seu pretérito de enormes carências, que desejariam sustar esses registros, pelos incômodos que lhes proporcionam, e desfilam um rosário de irrefletidas razões.
Outros, não obstante, vivem ansiando por semelhantes registros mediúnicos, sem que a sua organização neuro-psíquica lhes permita. Não sentem coisa alguma num nível que se possa considerar mediúnico. Tendo-se a mediunidade como passível de exteriorizar-se, graças ao perispírito, a túnica eletromagnética do Espírito, e sendo ele ligado ao corpo físico célula por célula, é compreensível que, quando um Espírito comunicante faz vibrar o perispírito, por meio das energias que consegue movimentar, as células orgânicas acompanhem-no num processo de ressonância perfeito.
É por causa dessa ressonância que as células liberam suas substâncias, desde os processos de sudorese abundante e fria até os componentes citoplásmicos, que formarão o ectoplasma, segundo a nomenclatura de Charles Richet, componentes esses que podem ser ricos em moléculas de A.D.P ou de A.T.P , que propiciarão as ocorrências de ectoplasmias luminosas, quando os médiuns sejam de efeitos físicos.
A intensidade de vibração do perispírito determinará a intensidade de ressonância celular que, por seu turno, expressará a intensidade da exteriorização do fenômeno. É essa interação perispírito-corpo físico que imporá o nível de aprofundamento do transe mediúnico, observando-se que se há maior liberação nervosa dos registros perispirituais, a mostragem do comunicante é mais nítida, mais comprobatória, enfim.
Se em todos os fenômenos mediúnicos é o organismo, representado pelo sistema nervoso, que dá o tom da ocorrência, sem qualquer hesitação, podemos crer que os ditos fenômenos dependem do corpo do médium para que se manifestem. É por isso que na formosura de O Livro dos Médiuns, no item 159, do capítulo XIV, o Codificador informa que "usualmente, só se qualificam como médiuns, aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva".
Uma vez que a maior ou menor interação perispírito-corpo físico está na dependência das conquistas gerais anteriores, das necessidades, méritos e deméritos de cada pessoa, teremos aí um maior ou menor grau de sensibilidade dos médiuns, chegando a compreender o porquê da variedade enorme de médiuns, tanto no tipo de manifestações que produzem quanto na intensidade em que as podem produzir.
Urge estudar mais detidamente a questão, para que o entendimento se faça e o brilho transcendente desse Tratado de Espiritismo Experimental seja percebido, definitivamente, como roteiro seguro para todos os que se lançam nesses labores felizes da mediunidade a serviço da implantação do Bem sobre o mundo.
j. Raul Teixeira – Espírito Camilo – livro Correnteza de Luz