domingo, 18 de dezembro de 2011

O Movimento Espírita na Visão de Deolindo Amorim



Deolindo Amorim, um dos grandes espíritas do Brasil, no seu artigo “Problemas Inevitáveis” (1), é de opinião que:“Nem todos, porém, chegam ao Espiritismo pela Doutrina, através da reflexão e da análise.” Daí se pode detalhar didaticamente:a) Reflexão e Análise: Segundo a palavra abalizada de Deolindo Amorim:“Muitos fizeram leituras diversas, antes de conhecerem obras espíritas, procuram o Espiritismo ainda com dúvidas ou dificuldades decorrentes da falta de uma orientação segura”. Por conta dessa falta de elucidação doutrinária, muitos ainda não sabem conscientemente, se é espírita, pois guardam muitas lembranças de sua antiga crença. E essas lembranças dificultam a integração na Doutrina.

b) Idéias Religiosas:
Há pessoas que embora queiram integrar-se na doutrina com sinceridade, ainda sentem certa dificuldade porque não se desligaram de suas crenças recentes. O problema das idéias trazido de outras religiões é de raiz profundo e muito freqüente na Casa Espírita. Essas pessoas trazem um lastro de idéias oriundas da fé em que se educaram; cultivam atos uns tanto religiosos e, por isso mesmo, não absorvem logo o verdadeiro pensamento da Doutrina Espírita em sua simplicidade e sua racionalidade.
Deolindo esclarece que essas pessoas ainda não se desligaram de suas crenças, a não ser superficialmente, logo ainda:
Uns, esperam por “milagres”;
Outros, ainda pensam em termos de “graças dos anjos”;
Há também, aqueles que ainda tem medo de “castigo do céu”; e assim por diante.

São cristalizações de idéias, que se forma no Espírito por força da educação de origem e não se desfazem de uma hora para outra. Não é apenas um problema de tempo, conquanto o tempo seja um fator preponderante; mas é um problema de orientação, antes de tudo. Se essas pessoas não são bem encaminhadas nos seus primeiros contatos com o Espiritismo nos Centros Espíritas que freqüentam e onde deve aprender Espiritismo, continuam com as mesmas idéias pela vida afora. E provavelmente, vão continuar pela vida in-teira:

Pedindo favores a Deus;
Rezando por devoção;
E o que é mais grave, sem saber o que representa o esforço próprio como elemento de transformação da criatura humana;
E desconhecendo, principalmente, a Lei de Causa e Efeito, ensinado pelo Cristo.

Daí, ser uma necessidade premente que o Centro Espírita transmita as informações doutrinárias com a necessária clareza.

Acrescenta Deolindo Amorim:
“Há outra categoria, talvez mais exigente. É a daqueles que, tendo lido um pouco de tudo, ou de quase tudo, e não tendo encontrado um ponto de apoio nem um elemento de convicção, querem que a Doutrina Espírita dê, imediatamente, todas as respostas, já prontas e acabadas.”
Em um outro artigo – “A Doutrina Espírita e as mudanças históricas” (2), esclarece Deolindo que há os que aderem ao Movimento Espírita por:
Entusiasmo,
Simpatia,
Sentimento de gratidão.

Mas, isso logo se vê, que é muito pouco e daí nem to-dos por isso estão identificados com o verdadeiro pensamento espírita.
E afirma então Deolindo:
“Aderir ao movimento espírita não significa aderir à Doutrina em todos os casos.”
E Deolindo faz como uma classificação, explicando que:

Acomodação – são os que se acomodam ao movimento espírita, sem a mínima identificação com a Doutrina.

1. - Acomodação na conceituação do mestre Deolindo é uma forma habilidosa de conviver ou ajustar-se temporariamente à qualquer ambiente, embora sem aceitar as idéias do grupo. É o caso dos elementos que, por necessidade ou por certas conveniências, se acomodam entre nós, fazem que concor-dam com as nossas idéias, dão a impressão de que estão aceitando tudo, mas a verdade é que, no fundo, não aceitam nada do que dizemos. Estão em nosso meio enquanto preci-sam resolver determinado problema. Acomodação, portanto, não é integração.

2. – Adaptação – são as pessoas que se sentem bem no meio espírita, apreciam nossos modos de conviver, colaboram conosco, aceitam tarefas, fazem amizades, mas ainda não se sentem seguras intimamente. Estão apenas adaptadas ao ambiente espírita, mas não se integram ao espírito da Doutrina.

A bem da verdade, podemos dizer que a rubrica 1, também pode ser considerada como a que abrange os “espíritas de contrabando”, de que trata Allan Kardec em “Obras Póstu-mas”.

Na segunda rubrica, podemos também chamá-los de “principiantes espíritas”.
E a partir daí, podemos concluir que há muitas pessoas apenas fazendo número no Movimento Espírita, uma vez que o número dos que estão integrados à Doutrina Espírita é re-duzido.
E assim define Deolindo o processo da:


3. – Integração – que é o processo mais positivo, que só se dá quando a criatura humana, pelo estudo, pela observação, pela reflexão demorada, chega à conclusão de que as suas idéias e os seus valores de outrora já não lhe servem mais, pois agora já tem outra visão da vida e das coisas.


“Quando se sente, afinal, apoiada nos princípios espíritas, quando aceita conscientemente esses princípios, quando já está em condições de dispensar naturalmente a bagagem das crenças antigas, aí sim, está integrada ao Espiritismo. É pela integração na Doutrina que nos preparamos, em suma, para compreender as mudanças e assumir posições de equilíbrio” – encerra Deolindo Amorim.

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Referências:
(1) – publicado no jornal “Mundo Espírita”, de Curitiba(PR), março
de 1976.
(2) – publicado na revista “Aurora”, sem data de publicação, no
entanto ele fez um resumo que apresentou em 1979, no ICEB – Instituto de Cultura Espírita do Brasil.