sexta-feira, 2 de novembro de 2012

D. Yvonne Pereira e O Mistério de Edwin Drood



No mês de dezembro/12 O Caminho da Paz estará homenageando D. Yvonne Pereira. Lendo e estudando sobre nossa amiga, recorremos a um livro onde estão concentrados os artigos que a autora produziu e que foram divulgados em alguns jornais, mas que entre anos 1960 a 1980 foram publicados na revista O Reformador. O livro que referimos chama-se À Luz do Consolador, e, neste livro estudamos novamente o capítulo sobre "A verdade mediúnica"Y, destacando o texto que ora divulgamos para leitura e estudo por parte de todos que acessam o Blog.



O MISTÉRIO DE EDWIN DROOD

Pouco tempo antes de morrer, em 1870, o escritor inglês Charles Dickens deu início a uma novela policial, gênero então em seus começos, e a qual deu o nome de Mistério de Edwin Drood; pretendia fazê-lo em 12 fascículos, e os foi publicando à medida que os concluía; entretanto, precisamente  após a publicação do sexto fascículo faleceu, deixando incompleta  a história, para a tristesa de milhares de leitores.

Mas, dois anos após a morte  do escritor, um jovem tipógrafo chamado Thomas R. James declarou que estivera em contato com o espírito de Dickens e que  este o nomeara seu agente terrestre, com poderes de delegado, a fim de terminar o "Mistério de Edwin Dood". O jovem tipógrafo, que não era escritor e tinha cultura quase nula, lançou-se ao empreendimento. Segundo testemunhos da época, seu processo de trabalho consistia  em fechar-se num quarto e ali cair em transe; quando despertava, tinha escrito, automaticamente, páginas e páginas do Edwin Drood.

Após umas 100.000 palavras que a fantástica musa de James escrevera, a novela estava  completa. Publicada, foi um estouro; os críticos mais percucientes afirmavam ser impossível distinguir ambos os estilo porque, na verdade, havia um só estilo: ninguém sabia dizer onde terminava a narrativa de Dickens vivo e a continuação do seu fantasma. Ocupando-se do assunto sensacional, o conhecido novelista Sir Arthur Conan  Doyle alegou que James não possuia, como era notório, talento literário; que a sua educação terminara aos 13 anos e sabia-se que jamais publicara uma só palavra;  e concluiu que, de qualquer maneira, o jovem tinha adquirido o estilo de Dickens, a sua maneira peculiaríssima de pensar e de escrever o inglês, tarefa singular para um tipógrafo pobremente instruído. Houve outras e calorosas discussões; mas o livro, até hoje, justifica duplamente o seu título: "O Mistério de Edwin Drood" continua a ser um mistério.

No século XIX o espiritismo ainda era pouco conhecido. Em nossos dias, já com muitas informações de espíritas Psicografando pessoas em outras vidas, o assunto espiritismo passou a fazer parte do dia a dia das pessoas. A mídia, cinema e televisão sempre estão trazendo o tema ao conhecimento de todos. (Nicéas Romeo Zanchett)

Charles John Huffam Dickens (Portsmouth, 7 de Fevereiro de 1812  9 de Junho de 1870), que também adoptou o pseudónimo Boz no início da sua atividade literária, foi o mais popular dos romancistas ingleses da era vitoriana. A fama dos seus romances e contos, tanto durante a sua vida como depois, até aos dias de hoje, só aumentou. Apesar de os seus romances não serem considerados, pelos parâmetros atuais, muito realistas, Dickens contribuiu em grande parte para a introdução da crítica social na literatura de ficção inglesa.:

Pesquisando um pouco mais sobre o assunto vamos encontrar no livro Animismo e Espiritismo Alexandre Aksakof:

No item 4 do capítulo III citei um caso extraordinário dessa natureza no fato da conclusão do romance de Charles Dickens, deixado por acabar, e completado depois de sua morte pela mão de um jovem médium iletrado; o romance completo está impresso e quem quiser pode julgar se a segunda parte não é digna da primeira. Não só todo o enredo do romance é seguido e a ação é levada ao êxito com mão de mestre, de maneira tal que a crítica mais severa não poderia dizer onde termina o manuscrito original e onde começa a parte mediúnica, e, ainda mais, muitas particularidades de estilo e de ortografia dão testemunho da identidade do autor.

Do que se trata o item 4 do capítulo III:

Comunicações cuja natureza está acima do nível intelectual do médium


...eis outro exemplo de produção mediúnica cujo caráter individual impede a possibilidade de explicação pela clarividência: quero falar do romance de Carlos Dickens: Edwin Drood, deixado por terminar pelo ilustre autor e completado pelo médium James, um jovem sem instrução. Diversas testemunhas presenciaram o modo de produção da obra, e juízes competentes apreciaram-lhe o valor literário.
Passo a dar alguns pormenores acerca dessa produção única nos anais da literatura.
Quando se espalhou o boato de que o romance de Dickens ia ser terminado por tão extraordinário e insólito processo, o Springfield Daily Union expediu um de seus colaboradores a Brattleborough (Vermont), onde habitava o médium, para fazer uma investigação, no local, de todos os pormenores dessa estranha empresa literária. Eis alguns trechos do relatório em oito colunas publicado por esse jornal, a 26 de julho de 1873, reproduzido a princípio pelo Banner of Light e depois parcialmente pelo The Spiritualist de 1873, página 322, ao qual os tiramos:

“Ele (o médium) nasceu em Boston; aos catorze anos foi colocado como aprendiz em casa de um mecânico, ofício que até hoje exerce; de maneira que sua instrução escolar terminou na idade de treze anos. Se bem que não fosse nem destituído de inteligência, nem iletrado, não manifestava gosto algum pela literatura e nunca se tinha interessado por ela.
Até então, nunca tinha experimentado publicar, em qualquer jornal, o menor artigo. Tal é o homem de quem Carlos Dickens lançou mão da pena para continuar The Mistery of Edwin Drood e que chegou quase a terminar essa obra.
Fui bastante feliz por ser a primeira pessoa a quem ele próprio participou todos os pormenores, a primeira que examinou o manuscrito e fez extratos.
Eis como se passaram as coisas. Havia dez meses, um jovem, o médium que, para ser breve, designarei pela inicial A (pois que ele não quis ainda divulgar seu nome), tinha sido convidado por seus amigos a sentar-se perto de uma mesa para fazer parte de uma experiência espírita. Até aquele dia, sempre havia zombado dos “milagres espíritas”, considerando-os fraudes, sem suspeitar que ele próprio possuía dons mediúnicos. Apenas começou a sessão, ouviram-se pancadas rápidas e a mesa, depois de movimentos bruscos e desordenados, cai sobre os joelhos do Sr. A. para fazer-lhe ver que é ele o médium. No dia seguinte, à noite, convidaram-no para tomar parte em uma segunda sessão; as manifestações foram ainda mais acentuadas. O Sr. A. caiu subitamente em transe, tomou um lápis e escreveu uma comunicação assinada com o nome do filho de uma das pessoas presentes, de cuja existência o Sr. A. não suspeitava. Mas as particularidades dessas experiências não são de interesse particular neste lugar...
Em fins do mês de outubro de 1872, no decurso de uma sessão, o Sr. A. escreveu uma comunicação dirigida a si mesmo e assinada com o nome de Carlos Dickens, com o pedido de organizar para ele uma sessão especial, a 15 de novembro.

Entre outubro e o meado de novembro, novas comunicações lembraram-lhe aquele pedido por muitas vezes. A sessão de 15 de novembro, que, segundo as indicações recebidas, se realizou às escuras, em presença do Sr. A. somente, deu em resultado uma longa comunicação de Dickens, que externou o desejo de terminar, com o auxílio do médium, seu romance não acabado.

Essa comunicação informava que Dickens tinha procurado por longo tempo o meio de conseguir esse intento, mas que até aquele dia não tinha encontrado médium apto para realizar semelhante incumbência. Ele desejava que o primeiro ditado fosse feito na véspera do Natal, noite que prezava particularmente, e pedia encarecidamente ao médium que consagrasse àquela obra todo o tempo de que pudesse dispor, sem prejudicar as suas ocupações habituais... Em breve tornou-se evidente que era a mão do mestre que escrevia, e o Sr. A. aceitou com a melhor boa vontade essa estranha situação. Esses trabalhos, executados pelo médium, fora de suas ocupações profissionais, que lhe tomavam dez horas por dia, produziram, até julho de 1873, 200 folhas de manuscrito, o que representa um volume in-octavo de 400 páginas.”

Fazendo a crítica dessa nova parte do romance, o correspondente do Springfield Daily Union exprime-se assim:

Achamo-nos aqui em presença de um grupo inteiro de personagens, cada uma dos quais tem seus traços característicos, e os papéis de todas essas personagens devem ser sustentados até o fim, o que constitui um trabalho considerável para quem em sua vida não escreveu três páginas sobre um assunto qualquer; pelo que ficamos surpresos em verificar desde o primeiro capítulo uma semelhança completa com a parte desse romance que estava publicada. A narração é recomeçada no ponto preciso em que a morte do autor a tinha deixado interrompida, e isso com uma concordância tão perfeita que o mais consumado crítico, que não tivesse conhecimento do lugar da interrupção, não poderia dizer em que momento Dickens deixou de escrever o romance por sua própria mão. Cada uma das personagens do livro continua a ser tão viva, tão típica, tão bem caracterizada na segunda parte como na primeira. Não é tudo. Apresentam-se-nos novas personagens (Dickens tinha o hábito de introduzir atores novos até nas últimas cenas de suas obras) que não são absolutamente reproduções dos heróis da primeira parte; não são bonecos, porém caracteres tomados ao vivo, verdadeiras criações. Criadas por quem?...”

O correspondente prossegue:

“Eis uma multidão de pormenores de incontestável interesse. Examinando o manuscrito, notei que a palavra traveller (viajante) era escrita sempre com dois “l”, como é uso na Inglaterra, ao passo que entre nós, na América, não se usa mais de um “l”, em geral.

A palavra coal (carvão) é escrita invariavelmente coals, com um “s”, como se usa na Inglaterra. É interessante também notar no emprego das minúsculas as mesmas particularidades que se podem observar nos manuscritos de Dickens; por exemplo, quando ele designa o Sr. Grewgious, como an angular man (um homem anguloso). Também é digno de nota o conhecimento topográfico de Londres, de que dá prova o autor misterioso em muitas passagens do livro. Há também muitos torneios de linguagem usados na Inglaterra, porém desconhecidos na América. Mencionarei também a mudança súbita do tempo passado em tempo presente, principalmente em uma narração animada, transição mui frequente em Dickens, sobretudo em suas últimas obras. Essas particularidades, e outras ainda que poderiam ser citadas, são de importância secundária, porém é com semelhantes bagatelas que se teria feito malograr qualquer tentativa de fraude.”

E eis a conclusão do artigo citado:

“Cheguei a Brattleborough com a convicção de que essa obra póstuma não passaria de uma bolha de sabão, fácil de rebentar. Depois de dois dias de exame atento, parti de novo e, devo confessá-lo, estava indeciso. Neguei em primeiro lugar como coisa impossível – como qualquer um tê-lo-ia feito depois de um exame –, que esse manuscrito tivesse sido escrito pela mão do jovem médium Sr. A.; ele me disse que nunca tinha lido o primeiro volume; particularidade insignificante, a meu ver, pois que estou perfeitamente convencido de que ele não era capaz de escrever uma só página do segundo volume. Isso não é para ofender o médium, pois que não há muitas pessoas no caso de continuar uma obra não acabada de Dickens!

Vejo-me, por conseguinte, colocado nesta alternativa: ou um homem qualquer de gênio se utilizou do Sr. A. como instrumento para apresentar ao público uma obra extraordinária, de maneira igualmente extraordinária; ou, antes, esse livro, como o pretende seu autor invisível, foi escrito, efetivamente, sob o ditado de Dickens. A segunda suposição não é mais maravilhosa do que a primeira. Se existe em Vermont um homem, desconhecido até o presente, capaz de escrever como Dickens, certamente ele não tem motivo algum para ter recorrido a semelhante subterfúgio. Se, por outro lado, é o próprio Dickens “quem fala, se bem que tenha morrido”, para que surpresas não devemos preparar-nos? Atesto, sob palavra de honra, que, tendo tido tempo suficiente de examinar com liberdade todas as coisas, não pude descobrir o mínimo indício de embuste, e se eu tivesse a autorização de publicar o nome do médium-autor, era o suficiente para dissipar todas as suspeitas aos olhos das pessoas que o conhecem, por pouco que seja.” ().

Eis ainda algumas informações hauridas da mesma fonte:
“No começo, o médium só escrevia três vezes por semana, e nunca mais de três ou quatro páginas de cada vez; depois, porém, as sessões se tornaram bi-quotidianas e ele escrevia finalmente dez ou doze páginas, às vezes mesmo vinte. Não escrevia com a sua caligrafia normal e, feito o confronto, havia nela alguma semelhança com a de Dickens. No começo de cada sessão, a escrita era bela, elegante, quase feminina, mas, à proporção que o trabalho progredia, a escrita tornava-se cada vez mais grossa, e nas últimas páginas as letras eram cinco vezes maiores, pelo menos, do que no começo. Essas mesmas gradações se reproduziram em cada sessão, permitindo assim classificar por séries as 500 folhas do manuscrito. Algumas das páginas começam por sinais estenográficos, dos quais o médium não tinha o mínimo conhecimento. A escrita é tão rápida, às vezes, que se leva tempo para decifrá-la.

A maneira de proceder nas sessões é muito simples: preparam-se dois lápis bem aparados e grande quantidade de papel cortado em tiras; o Sr. A. retira-se só para seu aposento. A hora habitual era às seis horas da manhã ou às sete e meia da noite, horas em que ainda havia claridade durante aquela estação; entretanto, as sessões da noite prolongavam-se frequentemente além das oito horas e meia e mesmo mais tarde, e então a escrita continuava, apesar da escuridão, com a mesma nitidez. Durante o inverno todas as sessões se realizaram às escuras.

O “secretário” de Dickens coloca o papel e os lápis ao seu alcance, põe as mãos em cima da mesa, com a palma para baixo, e espera tranquilamente. Tranquilidade relativa, entretanto, pois que, não obstante os fenômenos terem perdido sua novidade, e ele já se ter habituado a eles, o médium confessa não poder eximir-se a um sentimento de terror durante essas sessões, no decurso das quais ele evoca, por assim dizer, um fantasma.

Ele espera assim – algumas vezes fumando seu cigarro – durante dois, três, cinco minutos, às vezes dez, mesmo durante uma meia hora; mas, de ordinário, se as “condições são favoráveis”, não mais de dois minutos. As condições dependem principalmente do estado do tempo. Se o dia é claro, sereno, ele trabalha sem interrupção; tal seria uma máquina elétrica que funcionasse melhor com um tempo favorável; um tempo tempestuoso produz perturbação, e quanto mais violenta é a tempestade, tanto mais se acentua a perturbação. Quando o tempo é inteiramente mau, a sessão fica adiada.

Depois de se ter conservado à mesa durante o tempo preciso, segundo as circunstâncias, o Sr. A. perde gradualmente os sentidos, e é nesse estado que escreve durante uma meia hora ou uma hora. Aconteceu-lhe certo dia escrever durante uma hora e meia. O fato único de que o médium se recorda, passado o estado de transe, é a visão de Dickens que volta de cada vez; o escritor – diz ele – está sentado a seu lado, com a cabeça apoiada nas mãos, imerso em profunda meditação, com expressão séria, um pouco melancólica, no rosto; não diz uma palavra, mas lança às vezes sobre o médium um olhar penetrante e sugestivo. “Oh! que olhar!”
Essas recordações ocorrem ao médium da mesma maneira que um sonho que se acaba de ter, como uma coisa real, mas ao mesmo tempo intangível. Para indicar que a sessão está terminada, Dickens pousa de cada vez sua mão fria e pesada sobre a do médium.

Nas primeiras sessões, esse contato provocava na parte do Sr. A. exclamações de terror e, ainda nesse momento, ele não pode falar nisso sem estremecer; esse contato fazia-o sair de seu estado de transe, porém de ordinário lhe era preciso o auxílio de uma terceira pessoa para levantar suas mãos da mesa, à qual elas estavam por assim dizer aderentes por uma força magnética. Readquirindo os sentidos, ele vê, esparsas pelo soalho, as tiras escritas durante essa sessão.

Essas tiras não são numeradas, de maneira que o Sr. A. é obrigado a classificá-las segundo o texto. Durante algum tempo, depois dessas sessões, o médium sentia uma dor mui intensa no peito, mas não era de longa duração, e são as únicas consequências desagradáveis que ficavam das sessões. O nervosismo extremo de que ele sofria, antes do desenvolvimento de suas faculdades mediúnicas, deixou-o completamente; jamais foi ele tão robusto.”



E o livro virou filme: