domingo, 22 de agosto de 2010

Evolução: encanta-nos os sonetos abaixo transcritos

A evolução é tema complexo. A compreensão integral da marcha evolutiva do Espírito é coisa que nos escapa, na fase em que nos encontramos. Sabemos que ela se dá e é conquista de cada ser, mas nossa percepção dessa jornada é fragmentária.
Desconhecemos nosso início, desde a mônada fundamental, e os passos dados por esse princípio inteligente, na esteira dos séculos, até o estágio atual. É trajetória fascinante que um dia haveremos de compreender na sua plenitude.
Sobre o assunto, encanta-nos os sonetos abaixo transcritos, nos quais os poetas, realizando sínteses admiráveis, expressam com beleza e rara felicidade os passos dessa caminhada do Espírito.
---A síntese, em tema complexo e de forma tão abrangente, sobretudo vazada em soneto, é admirável. Partem do princípio ao puro Espírito!


Evolução (1) ADELINO da FONTOURA Chaves

Fui átomo, vibrando entre as forças do Espaço,
Devorando amplidões, em longa e ansiosa espera...
Partícula, pousei... Encarcerado, eu era
Infusório do mar em montões de sargaço.
Por séculos fui planta em movimento escasso,
Sofri no inverno rude e amei na primavera;
Depois, fui animal, e no instinto da fera
Achei a inteligência e avancei passo a passo...
Guardei por muito tempo a expressão dos gorilas,
Pondo mais fé nas mãos e mais luz nas pupilas,
A lutar e chorar para, então, compreendê-las!...
Agora, homem que sou, pelo Foro Divino,
Vivo de corpo em corpo a forjar o destino
Que me leve a transpor o clarão das estrelas!..."

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EVOLUÇÃO (2) Antero de Quental (1842-1891)

Fui rocha, em tempo, e fui, no mundo antigo,
Tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
Ou, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paul, glauco pascigo...
Hoje sou homem — e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, na imensidade...
Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas, estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade."
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"EVOLUÇÃO (3) Rubens C. Romanelli

De muito longe venho, em surtos milenários;
Vivi na luz dos sóis, vaguei por mil esferas
E, preso ao turbilhão dos motos planetários,
Fui lodo e fui cristal, no alvor de priscas eras.
Mil formas animei, nos reinos multifários:
Fui planta no verdor de frescas primaveras
E, após sombrio estágio entre os protozoários,
Galguei novos degraus: fui fera dentre as feras.
Depois que em mim brilhou o facho da razão,
Fui o íncola feroz das tribos primitivas
E como tal vivi, por vidas sucessivas.
E sempre na espiral da eterna evolução,
Um dia eu transporei os círculos do mal
E brilharei na luz da Essência Universal."
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ADELINO da FONTOURA Chaves nasceu em Axixá, Maranhão, em 30.03.1855 e desencarnou em Lisboa, Portugal, em 02.05.1884.

Foi, portanto, contemporâneo do poeta português, ANTERO Tarquínio de QUENTAL, que viveu de 1842 a 1891; contudo, o soneto de sua lavra foi psicografado neste século, pelo médium Francisco C. Xavier, e publicado em 1962.

Teria o Espírito conhecimento dos textos do vate lusitano e do Professor Romanelli? E este último conheceu os outros dois sonetos?

Quanto ao Professor Rubens Romanelli, a segunda edição de "O Primado do Espírito" não oferece seus dados biográficos. Indica apenas datas de publicações de livros e discursos de sua autoria, no período que vai de 1940 a 1960, em Belo Horizonte, MG.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. XAVIER, Francisco C. Antologia dos Imortais. 2 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1983. 345p. p. 33/4;
2. MESQUITA, Ary (org.). O Livro de Ouro da Poesia Universal. Rio de Janeiro: Ediouro, 1988. 533p. p. 490;
3. ROMANELLI, Rubens C. O Primado do Espírito. 2 ed. Belo Horizonte - 1960
Nota: O livro "O Primado do Espírito" foi reeditado pela "Publicações Lachâtre".
http://compreendereevoluir.blogspot.com/

A Evolução da Alma, por León Denis


A alma, dissemos, vem de Deus, é, em nós, o princípio da inteligência e da vida. Essência misteriosa, escapa à análise, como tudo quanto dimana do Absoluto. Criada por amor, criada para amar, tão mesquinha que pode ser encerrada numa forma acanhada e frágil, tão grande que, com um impulso do seu pensamento, abrange o Infinito, a alma é uma partícula da essência divina projetada no mundo material.

Desde a hora em que caiu na matéria, qual foi o caminho que seguiu para remontar até ao ponto atual da sua carreira? Precisou de passar vias escuras, revestir formas, animar organismos que deixava ao sair de cada existência, como se faz com um vestuário inútil. Todos estes corpos de carne pereceram, o sopro dos destinos dispersou-lhes as cinzas, mas a alma persiste e permanece na sua perpetuidade, prossegue sua marcha ascendente, percorre as inumeráveis estações da sua viagem e dirige-se para um fim grande e apetecível, um fim que é a perfeição.
A alma contém, no estado virtual, todos os gérmens dos seus desenvolvimentos futuros. É destinada a conhecer, adquirir e possuir tudo. Como, pois, poderia ela conseguir tudo isso numa única existência? A vida é curta, e longe está da perfeição! Poderia a alma, numa vida única, desenvolver o seu entendimento, esclarecer a razão, fortificar a consciência, assimilar todos os elementos da sabedoria, da santidade, do gênio? Para realizar os seus fins, tem de percorrer, no tempo e no espaço, um campo sem limites. É passando por inúmeras transformações, no fim de milhares de séculos, que o mineral grosseiro se converte em diamante puro, refratando mil cintilações. Sucede o mesmo com a alma humana.

O objetivo da evolução, a razão de ser da vida não é a felicidade terrestre, como muitos erradamente crêem, mas o aperfeiçoamento de cada um de nós, e esse aperfeiçoamento devemos realizar por meio do trabalho, do esforço, de todas as alternativas da alegria e da dor, até que nos tenhamos desenvolvido completamente e elevado ao estado celeste. Se há na Terra menos alegria que sofrimento, é que este é o instrumento por excelência da educação e do progresso, um estimulante para o ser, que, sem ele, ficaria retardado nas vias da sensualidade. A dor, física e moral, forma a nossa experiência. A sabedoria é o prêmio.

Pouco a pouco, a alma se eleva e, conforme vai subindo, nela se vai acumulando uma soma sempre crescente de saber e virtude; sente-se mais estreitamente ligada aos seus semelhantes; comunica mais intimamente com o seu meio social e planetário. Elevando-se cada vez mais, não tarda a ligar-se por laços pujantes às sociedades do Espaço e depois do Ser Universal.
Assim, a vida do ser consciente é uma vida de solidariedade e liberdade. Livre dentro dos limites que lhe assinalam as leis eternas, faz-se arquiteto do seu destino. O seu adiantamento é obra sua. Nenhuma fatalidade o oprime, salvo a dos próprios atos, cujas consequências nele recaem; mas não pode desenvolver-se e medrar senão na vida coletiva com o recurso de cada um e em proveito de todos. Quanto mais sobe, tanto mais se sente viver e sofrer em todos e por todos. Na necessidade de elevar a si mesmo, atrai a si, para fazê-los chegar ao estado espiritual, todos os seres humanos que povoam os mundos onde viveram. Quer fazer por eles o que por ele fizeram seus irmãos mais velhos, os grandes Espíritos que o guiaram na sua marcha.

A lei de justiça requer que, por sua vez, sejam emancipadas, libertadas da vida inferior todas as almas. Todo ser que chega à plenitude da consciência deve trabalhar para preparar aos seus irmãos uma vida suportável, um estado social que só comporte a soma de males inevitáveis. Esses males, necessários ao funcionamento da lei de educação geral, nunca deixaram de existir em nosso mundo, representam uma das condições da vida terrestre. A matéria é o obstáculo útil; provoca o esforço e desenvolve a vontade; contribui para a ascensão dos seres, impondo-lhes necessidades que os obrigam a trabalhar. Como, sem a dor, havíamos de conhecer a alegria; sem a sombra, apreciar a luz; sem a privação, saborear o bem adquirido, a satisfação alcançada? Eis aqui a razão por que encontramos dificuldades de toda sorte em nós e em volta de nós.

Extraído do livro "O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Parte 1, Cap. 9 – León Denis"

Alguns livros de Léon Denis:
• Cristianismo e Espiritismo (Ed. FEB)
• Depois da Morte (Ed. FEB)
• Espiritos e Médiuns (Ed. CELD)
• Joana D’Arc, Médium (Ed. FEB)
• O Além e a Sobrevivência do Ser (Ed. FEB)
• O Espiritismo na Arte (Ed. FEB)
• O Porquê da Vida (Ed. FEB)
• O Problema do Ser, do Destino e da Dor (Ed. FEB)
• Socialismo e Espiritismo (Ed. “O Clarim”)

Monte Castelo


Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua do anjos, sem amor eu nada seria.

É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer.
É solitário andar por entre a gente.
É um não contentar-se de contente.
É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos dormem.
Agora vejo em parte, mas então veremos face a face.

É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua do anjos, sem amor eu nada seria.

Composição: Renato Russo (O soneto 11 de Luiz Vaz de Camões, foi adaptado musicalmente pelo grupo Legião Urbana. Sua forma original é tirada do texto bíblico 1 Coríntios 13, de Paulo de Tarso).