
Estamos divulgando o texto na íntegra, extraído da Revista Espírita. Boa leitura e bons estudos sobre a temática:
CONVERSAS FAMILIARES DE ALÉM-TÚMULO.
PIERRELEGAY,
DITO GRAND-PIERROT.
(Paris,
16 de agosto de 1864. - Médium, senhora Delanne).
Pierre
Legay era um rico cultivador um pouco interessado, morto há dois anos e parente
da senhora Delanne. Ele era conhecido na região sob a alcunha de Grand-Pierrot.
A
entrevista seguinte nos mostra um dos lados mais interessantes do mundo
invisível, o dos Espíritos que se crêem ainda vivos. Ela foi obtida pela
senhora Delanne, que a comunicou à Sociedade de Paris. O Espírito se exprime
exatamente como o fazia quando vivo; a própria trivialidade de sua linguagem é
uma prova de identidade. Tivemos que suprimir algumas expressões que lhe eram
familiares, por causa de sua crueza.
"Há
algum tempo, diz a senhora Delanne, ouvíamos pancadas ao nosso redor;
presumindo que isso poderia ser um Espírito, pedimos-Ihe para se dar a
conhecer. Ele escreveu logo: Pierre Legay, dito Grand-Pierrot.
P.
Eis-vos, pois, em Paris, Grand-Pierrot, vós que
tínheis tanto desejo de aqui vir? -
R.
Estou aí, meu caro amigo; vim inteiramente só, uma
vez que ela veio sem mim; no entanto, eu lhe tinha tanto dito para me
prevenir; mas, enfim, aqui estou... Estava aborrecido por não me ser dada
atenção.
Nota.
- O Espírito faz alusão à mãe da senhora Delanne,
que, há algum tempo, viera morar em Paris, em casa de sua filha. Ele a designa
por um epíteto que lhe era habitual, e que substituímos por ela.
P.
Era vós que batíeis à noite? - R. Onde
queríeis que fosse? Não posso deitar diante da porta.
P.
Deitastes, pois, em nossa casa? - R Mas certamente.
Ontem, fui passear convosco (ver as iluminações). Vi tudo. Oh! mas aquilo lá é
bonito! Finalmente! pode-se dizer que fazem belas coisas. Eu vos asseguro que
estou muito contente; não lamento o meu dinheiro.
P.
Porque caminho viestes a Paris? Pudestes, pois,
abandonar vosso lado? - R. Mas, diabo! não posso cavar e depois estar
aqui. Estou muito contente de ter vindo. Vós me perguntais como vim, mas vim
pela estrada de ferro.
P.
Com quem estáveis? - R Oh bem! na verdade, eu não
os conhecia.
P.
Quem vos deu o meu endereço? Dizei-me também de onde vinha a simpatia que tínheis
por mim? -R Mas quando fui a casa dela (a mãe da senhora Delanne), e que
não a encontrei, perguntei àquele que guarda sua casa onde ela estava. Ele me
disse que ela estava aqui; então, eu vim. E depois vede, meu amigo, eu gosto de
vós porque sois um bom jovem; vós me provestes, sois franco, e depois gosto
muito de todas essas crianças.
Vede,
quando se gosta muito dos pais, gosta-se dos filhos.
P.
Dizei-nos o nome da pessoa que guarda a casa de
minha sogra, uma vez que ela guarda as chaves em seu bolso? - R Quem encontrei
ali? Mas encontrei o pai Colbert, que me disse que ela lhe havia dito para
dar-me atenção.
P.
Vedes aqui meu sogro, papai Didelot? - R. Como
quereis que eu o veja uma vez que não está aqui? Sabeis bem que ele morreu.
(2-
entrevista, 18 de agosto de 1864.)
O
senhor e senhora Delanne tendo ido passar o dia em Châtillon, ali fizeram a
evocação de Pierre Legay.
P.
Viestes, pois, a Châtillon? - R. Mas vos segui por
toda a parte. P. Como viestes aqui? - R Sois engraçados! Vim na viatura.
P.
Eu não vi pagardes vosso lugar? - R Subi com
Marianne e depois vossa mulher; acreditei que tínheis pago.
Eu
estava sobre o teto; não se me pediu nada. É que não pagastes? Por que não o reclamou
aquele que conduz?
P.
Quanto pagastes na estrada de ferro de Ligny a
Paris? - R Na estrada de ferro foi tudo a mesma coisa. Fui de Tréveray a Ligny
a pé, e depois tomei o ônibus que paguei ao condutor.
P.
Foi bem ao condutor que pagastes? - R A quem
queríeis que eu pagasse? Mas, meu primo, credes, pois, que não tenho dinheiro?
Há muito tempo que tinha colocado meu dinheiro de lado para vir. Não é porque
não paguei meu lugar aqui que é preciso crer que não tenho dinheiro. Eu não
teria vindo sem isso.
P.
Mas não me respondestes quanto destes de dinheiro
por vosso percurso na estrada de ferro de Nançois-le-Petit a Paris? - R Mas
b... paguei como os outros. Dei 20 fr. E me devolveram 3 fr. 60 c. Vede quanto
isso dá.
Nota.
- A soma de 16 fr. 40 c. é, com efeito, a que está
marcada no Indicador, o que o Sr. e senhora Delanne ignoravam.
P.
Quanto tempo ficastes na estrada de ferro de Nançois a Paris?
-
R Fiquei tanto tempo quanto os outros. Não fiz a máquina se apressar mais
rápida para mim do que para os outros. De resto, não podia achar o tempo longo;
jamais tinha viajado em estrada de ferro, e acreditava Paris mais longe do que
isso. Aqui vem tão freqüentemente. É bom, com efeito, e estou contente de poder
vadiar convosco. Somente não me respondeis freqüentemente. Eu compreendo;
vossos negócios vos ocupam muito.
Ontem,
não ousei entrar convosco de manhã (a casa de comércio onde está empregado o Sr.
D...), e voltei a visitar o cemitério Montmartre, creio; não é, é assim que vós
o chamais? É preciso muito dizer-me os nomes para que possa contá-los quando
vou aqui retornar. (O Sr. e a senhora Delanne, com efeito, tinham ido de manhã
ao cemitério Montmartre.)
P.
Uma vez que nada vos apressa na região, pensais partir logo?
-
R. Quando tiver tudo visto, uma vez que para isto estou aqui. Depois, com
efeito, os outros podem bem se mexer um pouco (seus filhos); farão como
quiserem. Quando eu aqui não estiver mais, será preciso que se abstenham de
mim; que me dizeis disto, primo?
P.
Que achais do vinho de Paris, e da alimentação? - R. Mas não vale mais do que aquele
que vos dei a beber (o Espírito faz alusão a uma circunstância em que fez o Sr.
D... beber do vinho de vinte e cinco anos de garrafa); no entanto, não é mau. A
alimentação me é muito igual; freqüentemente pego pão e como convosco. Não
gosto de sujar um prato; isso não é o trabalho quando não se está disso
habituado. Por que fazer cerimônias?
P.
Onde dormistes, pois? não distingui vosso leito. - R. Chegando, Marianne foi a
um quarto escuro; acreditei que era para mim; e ali dormi. Eu vos falei várias
vezes de tudo.
P.
É que não temeis, em vossa idade, de vos deixar esmagar nas ruas de Paris? - R.
Mas, meu primo, é isso que me aborrece mais, esses diabos de viaturas; não
deixo as calçadas também.
P.
Há quanto tempo estais em Paris? - R. Oh bem! por exemplo sabeis bem que vim na
última quinta-feira; isso faz oito dias, creio.
P.
Como não vos vi de mala, se tendes necessidade de roupa branca, não vos
incomoda. - R. Peguei duas camisas, e isso é bastante; quando estiverem sujas,
retornarei; não quero mais vos incomodar.
P.
Quereis nos dizer o que o pai Colbert vos disse antes que partísseis para
Paris? -
R.
Ele está lá na casa de Marianne; está ali há muito tempo. Vendendo-a, quis ali
ficar ainda. Ele disse que não incomoda, uma vez que guarda.
P.
Dissestes ontem que não víeis meu sogro Didelot, porque está morto; como ocorre
que vedes tão bem o pai Colbert, uma vez que está morto, ele também, há pelo
menos trinta anos? - R. Oh bem! com efeito, me perguntais o que não sei; eu não
tinha refletido nisso. O que há de certo, é que ele está bem tranqüilo; dele
não vos posso dizer mais.
Nota.
- O pai Colbert é o antigo proprietário da casa da mãe da senhora Delanne. Parece
que, depois de sua morte, ficou na casa da qual se fez o guardião, e que, ele
também, se crê ainda vivo. Assim esses dois Espíritos, Colbert e Pierre Legay,
se vêem e se falam como se estivessem ainda neste mundo, nem um nem o outro se
dando conta de sua situação.
(entrevista,
19 de agosto de 1864.)
P.
(ao guia espiritual do médium). Quereis nos dar algumas instruções a respeito
do Espírito Legay, e nos dizer se é tempo de fazê-lo compreender a sua
verdadeira posição!
-R.
Sim, meus filhos, ele perturbou-se desde vossas perguntas de ontem; ele não
sabe o que é; tudo para ele é confuso quando quer procurar, porque náo reclama
ainda a proteção de seu anjo guardião.
P.
(a Legay). Estais lá? - R. Sim, meu primo, mas não estou muito alegre; não sei
o que isso quer dizer. Nem te vás para lá sem mim, Marianne.
P.
Refletistes no que vos pedimos ontem de nos dizer a respeito do pai Colbert,
que vistes vivo ao passo que está morto? - R. Mas náo posso vos dizer como isso
se fez; somente ouvi dizer nos tempos que ali havia fantasmas; com efeito,
acreditei que ele era um deles. Dir-se-á o que se quiser, eu o vi bem. Mas
estou cansado, vos asseguro; tenho necessidade de ficar um pouco tranqüilo.
P.
Credes em Deus, e fazeis vossas preces cada dia? - R. Mas, com efeito; se isso não
faz bem, isso não pode fazer mal.
P.
Credes na imortalidade da alma? - R. Oh! isso é diferente; não posso me
pronunciar; eu duvido.
P.
Se vos der uma prova da imortalidade da alma, nela creríeis? - R. Oh! mas, os Parisienses
conhecem tudo. Eu não peço melhor. Como fareis?
P.
(ao guia do médium). Podemos fazer a evocação do pai Colbert, para provar-lhe que
está morto? - R. Não é preciso ir muito depressa; conduzi tudo docemente. E,
depois, esse outro Espírito vos cansaria toda esta noite.
P.
(a Legay). Onde estais colocado, que não vos vejo? - R. Não me vedes? Ah! Por exemplo,
é muito forte. Portanto, vos tornastes cego?
P.
Dai-nos conta da maneira pela qual nos falais, porque fazeis escrever a uma
mulher.
-
R. Eu? mas, com efeito, não.
(Várias
perguntas novas são dirigidas ao Espírito, e permanecem sem resposta. Evoca-se
seu anjo guardião, e um dos guias do médium responde o que segue:)
"Meus
amigos, sou eu que venho responder, porque o anjo guardião desse pobre Espírito
não está com ele; e aqui não virá senão quando ele mesmo chamá-lo, e que
pedir ao Senhor conceder-lhe a luz. Ele está ainda sob o império da matéria, e
não quis escutar a voz de seu anjo guardião que se afastou dele, uma vez que se
obstinava em permanecer estacionário. Não era ele, com efeito, que te fazia
escrever; ele falava como se disso tivesse o hábito, persuadido de que o
ouvias; mas era seu Espírito familiar que conduzia tua mão; para ele,
conversava com teu marido; tu, tu escrevias, e tudo isso lhe parecia natural.
Mas vossas últimas perguntas e vosso pensamento o transportaram para Tréveray; ele
está perturbado, orai por ele, o chamareis mais tarde; retornará depressa. Orai
por ele, nós oraremos convosco."
Já
vimos mais de um exemplo de Espíritos se crendo ainda vivos. Pierre Legay nos mostra
essa fase da vida dos Espíritos de maneira mais caracterizada. Aqueles que se acham
neste caso parecem ser mais numerosos do que não se pensa; em lugar de fazer exceção,
de oferecer uma variedade no castigo, isso seria quase uma regra, um estado normal
para os Espíritos de uma certa categoria. Teríamos, assim, ao nosso redor, não
só os Espíritos que têm consciência da vida espiritual, mas uma multidão de
outros que vivem, por assim dizer, de uma vida semi-material, se crendo ainda
deste mundo, e continuando a vagar, ou crendo vagar em suas ocupações terrestres.
Estar-se-ia em erro, no entanto, assimilá-los em tudo aos encarnados, porque se
nota em suas maneiras e em suas idéias alguma coisa de vaga e de incerta que
não é própria da vida corpórea; é um estado intermediário que nos dá a
explicação de certos efeitos nas manifestações espontâneas, e de certas crenças
antigas e modernas.
Um
fenômeno que pode parecer mais bizarro, e não pode deixar de fazer sorrir os incrédulos,
é o dos objetos materiais que o Espírito crê possuir. Compreende-se que Pierre Legay
se imagine subir em estrada de ferro, porque a estrada de ferro é uma coisa
real, que existe; mas se compreende menos que ele creia ter o dinheiro e pagar
o seu lugar.
Esse
fenômeno encontra sua solução nas propriedades do fluido perispiritual, e na teoria
das criações fluídicas, princípio importante que dá a chave de muitos mistérios
do mundo invisível.
O
Espírito, pela vontade ou unicamente pelo pensamento, opera no fluido
perispiritual, que não é, ele mesmo, senão uma concentração do fluido cósmico
ou elemento universal, uma transformação parcial que produz o objeto que
deseja. Esse objeto não é para nós senão uma aparência, para o Espírito é uma
realidade. Foi assim que um Espírito morto há pouco, se apresentou um dia numa
reunião espírita, a um médium vidente, com um cachimbo à boca e fumando. Sobre
a observação que lhe foi feita de que isso não era conveniente, ele respondeu:
"Que quereis! tenho de tal modo o hábito de fumar que não posso passar sem
meu cachimbo." O que era mais singular é que o cachimbo soltava fumaça; para
o médium vidente, bem entendido, e não para os assistentes.
Tudo
deve estar em harmonia, no mundo espiritual, como no mundo material; aos homens
corpóreos, são necessários objetos materiais; aos Espíritos, cujo corpo é
fluídico, são necessários objetos fluídicos, os objetos materiais não lhes serviriam,
não mais do que os objetos fluídicos não serviriam aos homens corpóreos. O
Espírito fumante, querendo fumar, cria um cachimbo, que, para ele, tinha a
realidade de um cachimbo de terra; Legay, querendo ter dinheiro para pagar seu
lugar, seu pensamento criou-lhe a soma necessária.
Para
ele há realmente dinheiro, mas os homens não poderiam se contentar com a moeda
dos Espíritos. Assim se explicam as vestes dos quais estes se revestem à
vontade, as insígnias que carregam, as diferentes aparências que podem tomar,
etc.
As
propriedades curativas dadas ao fluido pela vontade se explicam também por esta
transformação. O fluido modificado age sobre o perispírito que lhe é similar, e
este perispírito, intermediário entre o princípio material e o princípio espiritual,
reage sobre a economia, na qual desempenha um papel importante, embora
desconhecido ainda pela ciência.
Há,
pois, o mundo corpóreo visível com os objetos materiais, e o mundo fluídico,
invisível para nós, com os objetos fluídicos. Há a se notar que os Espíritos,
de uma ordem inferior e pouco esclarecidos, operam essas criações sem se darem
conta da maneira pela qual se produz neles esse efeito; não podem mais se
explicar do que um ignorante da Terra não pode explicar o mecanismo da visão,
nem um camponês dizer como produz o trigo.
As
formações fluídicas se prendem a um princípio geral que será ulteriormente o
objeto de um desenvolvimento completo, quando tiver sido suficientemente
elaborado.
O
estado dos Espíritos na situação de Pierre Legay levanta várias questões.
1) A
que categoria pertencem precisamente os Espíritos que se crêem ainda vivos?
2) A
que se prende essa particularidade?
3) Prende-se
ela a uma falta de desenvolvimento intelectual e moral?
Vemos
deles muito inferiores se darem conta perfeitamente de seu estado, e a maioria daqueles
que vimos nessa situação não são os mais atrasados. É isso uma punição?
Sem
dúvida o é para alguns, como para Simon Louvet, do Havre, o suicida da torre de
François 1-, que, durante cinco anos, estava na apreensão de sua queda (Revista
Espírita, do mês de março de 1863, página 87); mas muitos outros não são
infelizes e não sofrem, como testemunha Pierre Legay. (Ver, para a resposta, a
dissertação adiante.)
SOBRE
OS ESPÍRITOS QUE SE CRÊEM AINDA VIVOS. (assunto
obtido anteriormente ao fato narrado aqui sobre PIERRE LEGAY)
(Sociedade
de Paris, 21 de julho de 1864. - Médium, Sr. Vézy.)
Já
falamos, muito freqüentemente, das diversas provas e expiações, mas cada dia delas
descobris novas? Elas são infinitas, como os vícios da Humanidade e como vos estabelecer
delas a nomenclatura? Todavia, vindes de nos reclamar por um fato, e vou tentar
vos instruir.
Nem
tudo é prova na existência; a vida do Espírito continua, como já vos foi dito, desde
seu nascimento até o infinito; para uns a morte não é senão um simples acidente
que não influi em nada sobre o destino daquele que morre. Uma telha caída, um
ataque de apoplexia, uma morte violenta, muito freqüentemente, não fazem senão
separar o Espírito de seu envoltório material; mas o envoltório perispiritual
conserva, pelo menos em parte, as propriedades do corpo que acaba de sucumbir.
Num dia de batalha, se eu pudesse vos abrir os olhos que possuis, mas dos quais
não podeis fazer uso, veríeis muitas lutas continuarem, muitos soldados subir
ainda ao assalto, defender e atacar os redutos; vós os ouviríeis mesmo produzir
seus hurras! e seus gritos de guerra, no meio do silêncio e sob o véu lúgubre
que segue um dia de carnagem; o combate acabou, eles retornam aos seus lares
para abraçar seus velhos pais, suas velhas mães que os esperam. Algumas vezes,
esse estado dura muito tempo para alguns; é uma continuação da vida terrestre, um
estado misto entre a vida corpórea e a vida espiritual. Por que, se foram
simples e sábios, sentiriam o frio do túmulo? Por que passariam bruscamente da
vida para a morte, da claridade do dia à noite? Deus não é injusto, e deixa aos
pobres de Espírito esse gozo,
esperando
que vejam seu estado pelo desenvolvimento de suas próprias faculdades, e que
possam passar com calma da vida material à vida real do Espírito.
Consolai-vos,
pois, que tendes pais, mães, irmãos ou filhos que se extinguiram sem luta;
talvez lhes seja permitido crer ainda que seus lábios se aproximaram de vossas
frontes.
Secai
vossas lágrimas: os prantos são dolorosos para vós, e eles se admiram de vos ver
derramá-los; envolvem vossos colos com seus braços, e vos pedem para sorrir.
Sorri, pois, a esses invisíveis, e orai para que mudem o papel de companheiros
no de guias; para que desdobrem suas asas espirituais que lhes permitirão
planar no infinito e de vos trazer dali as doces emanações.
Não
vos digo, notai-o bem, que todos os mortos logo caem nesse estado; não, mas não
há um único cuja matéria não tenha que lutar com o Espírito que se reencontra.
O duelo teve lugar, a carne foi dilacerada, o Espírito obscureceu-se no
instante da separação, e na erraticidade o Espírito reconheceu a verdadeira
vida. Agora vou dizer-vos algumas palavras daqueles para os quais esse estado é
uma prova. Oh! quanto ela é penosa! eles se crêem vivos e bem vivos, possuindo
um corpo capaz de sentir e de saborear os gozos da Terra, e quando suas mãos
vão tocar, suas mãos se apagam; quando querem aproximar seus lábios de uma taça
ou de uma fruta, seus lábios se aniquilam; eles vêem, querem tocar, e não podem
nem sentir nem tocar. Quanto o paganismo oferece uma bela imagem desse
suplício, apresentando Tântalo tendo fome e sede e não podendo jamais tocar os
lábios na fonte d'água que murmura ao seu ouvido, ou o fruto que parece
amadurecer para ele. Há maldições e anátemas nos gritos desses infelizes! Que
fizeram para suportar esses sofrimentos? Perguntai-o a Deus: é a lei; ela está
escrita por ele. Aquele que fere com espada perecerá pela espada; aquele que
profanou seu próximo será profanado por sua vez. A grande lei de talião está inscrita
no livro de Moisés, ela o está ainda
no
grande livro da expiação.
Orai,
pois, sem cessar por aqueles na hora de seu fim; seus lábios se fecharão,
eles dormirão no espaço, como se tivessem dormido sobre a Terra, e reencontrarão,
no seu despertar, não mais um juiz severo, mas um pai compassivo lhes
destinando novas obras e novos destinos. SANTO AGOSTINHO
CONVERSAS
FAMILIARES DE ALÉM-TÚMULO. PIERRE
LEGAY DITO GRANDE-PIERROT.
(Continuação.
- Ver a Revista de novembro de 1864.)
Pierre
Legay, parente da senhora Delanne, nos ofereceu o singular espetáculo de um
Espírito que, dois anos depois de sua morte, se acreditava ainda vivo, vagava
por seus negócios, viajava em viatura, pagava seu lugar na estrada de ferro,
visitou Paris pela primeira vez, etc. Damos hoje a conclusão desse estado, que
seria difícil de compreender se não se reportasse aos detalhes dados na Revista
de novembro de 1864.
O
Sr. e a Sra. Delanne tinham inutilmente procurado tirar seu parente do seu
erro; seu guia espiritual lhe dissera para esperar, não tendo ainda chegado o
momento. Nos primeiros dias do mês de março último, eles dirigiram a pergunta
seguinte ao seu guia:
Depois
da última visita de Pierre Legay, mencionada na Revista Espírita, não pudemos
obter dele nenhuma resposta. Vós me dissestes a esse respeito que, quando o
momento tivesse chegado, ele mesmo nos daria suas impressões. Pensais que o
possa agora? - R. Sim, meus filhos; a hora chegou. Ele poderá vos
responder e vos fornecerá diversos assuntos de estudos e de ensinamentos. Deus
tem seus objetivos.
P.
(A Pierre Legay) .Caro amigo, estais aqui? - R. Sim,
meu amigo.
P.
Vedes meu objetivo vos evocando hoje? - R. Sim,
porque tenho junto a mim amigos que me instruíram sobre tudo o que se passa de
surpreendente neste momento sobre a Terra. Meu Deus, que coisa estranha tudo
isto!
P.
Dissestes que tendes amigos que vos cercam e que
vos instruem; podeis nos dizer quem são? - R. Sim, são amigos, mas não
os conheci senão depois que despertei; sabeis que dormi? Chamo
dormir o que chamais morrer.
P.
Podeis dizer-nos o nome da alguns destes amigos? - R.
Tenho constantemente ao meu lado um homem, que deveria antes chamar um
anjo, porque é tão doce, tão bom, tão belo que creio que os anjos devem ser
todos como aqui e ali. E depois tem Didelot (o pai da senhora Delanne)
que está aqui também; depois vossos pais, meu amigo. Oh! como são bons! Há
também: ah! é engraçado, como se encontra, nossa irmã superior. Por exemplo,
ela é sempre a mesma; ela não mudou. Mas o que é, pois, curioso em tudo isto!
Nota.
A irmã que o Espírito designa habitava a comuna de
Treveray e havia dado as primeiras instruções à senhora Delanne. Ela não havia
se manifestado senão uma vez, três anos antes.
Toma!
vós também, jardineiro! (nome familiar dado a um tio da senhora Delanne,
e que jamais se manifestou). Mas, quanto sou besta! É em vosso quarto que
estamos. Pois bem, estou contente de vos ver; aqui me coloco à vontade; porque,
minha palavra de honra, fui transportado não sei de onde faz algum tempo; vou
mais depressa do que a estrada de ferro, e percorro o espaço sem poder me dar
conta como. Sois como eu, Didelot? Ele tem o ar de achar tudo natural; parece
que já está habituado. De resto, faz mais tempo do que eu que ele o fez (morreu
há seis anos), e compreendo que com isto esteja menos espantado. Mas quanto é,
pois, engraçado! ah! é muito engraçado! Dizei-me, sabeis, convosco, meu primo,
estou à vontade. Pois bem, francamente, dizei-me,
pois,
o que se chama morrer?
SR.
DELANNE: Chama-se morrer, meu amigo, deixar seu corpo grosseiro à terra para
dar à alma a liberdade da qual tem necessidade para reentrar na vida real, a
grande vida do Espírito. Sim, aí estais, caro amigo, nesse mundo ainda
desconhecido para muitos homens da Terra. Eis-vos saído da letargia ou
entorpecimento que segue a separação do corpo e da alma. Vedes vosso anjo
guardião, os amigos que vos cercam; foram eles que vos conduziram entre nós,
para vos provar a imortalidade e a individualidade de vossa alma. Sede disso
orgulhoso e feliz, porque, o vedes agora, a morte é a vida. Eis porque também
atravessais o espaço com a rapidez do relâmpago, e podeis conversar conosco em
Paris, como se tivésseis um corpo material como o nosso.
O
corpo, não o tendes mais; não tendes agora senão um envoltório fluídico e leve
que não vos retém mais na Terra.
P.
LEGAY: Singular expressão: morrer: Mas,
dai, pois, um outro nome ao momento em que a alma deixa seu corpo à terra,
porque esse instante não é o da morte.....Eu me lembro.....Estava apenas
desembaraçado dos laços que me retinham ao meu corpo, que meu sofrimento, em
lugar de diminuírem, não fizeram senão crescer. Via meus filhos que se
disputavam para ter cada um a parte daquilo que lhes chegava. Eu os via não
darem atenção às terras que lhes deixei, e então me pus a trabalhar com mais
força ainda do que nunca. Eu estava ali, lamentando ver que não se me
compreendia; pois, eu não estava morto. Asseguro-vos que senti os mesmos
medos e as mesmas fadigas quando com meu corpo, e, no entanto, eu não o tinha
mais. Explicai-me isto; se é como aqui que se morre, é uma engraçada maneira de
morrer. Dizei-me vossa idéia acima, e depois eu direi a minha, porque agora,
esses bons amigos têm a bondade de ma dizer. Vamos, meu primo, dizei-me vossa
idéia.
SR.
DELANNE: Meu amigo, quando os Espíritos deixam seu corpo, eles são envolvidos
de um segundo corpo, como eu vos disse; este é fluídico; não o deixam jamais.
Pois bem, era com esse corpo que acreditáveis trabalhar, como em vida com o outro.
Podeis depurar este corpo semi-material por vosso adiantamento moral; e se a palavra
morte não vos convém para precisar esse momento, chamai-o transformação,
se quiseres. Se tivestes que sofrer coisas que vos foram penosas, é que vós
mesmo, em vossa vida, talvez fostes muito apegado às coisas materiais,
negligenciando as coisas espirituais, que interessam ao vosso futuro. (Ele
estava muito interessado.) Foi um pequeno castigo que Deus vos impôs para
resgatar vossas faltas, dando-vos o meio de vos instruir e de abrir vossos
olhos à luz.
P.
LEGAY: Pois bem! Meu caro, não é a este momento que é preciso dar o nome de transformação,
porque o Espírito não se transforma tão rápido se não for imediatamente ajudado
a se reconhecer pela prece, e não se esclarece sobre sua verdadeira posição, seja,
como acabo de dizer, orando por ele, seja evocando-o. É porque há tantos
Espíritos, como o meu, que ficam estacionados. Há, para o Espírito da minha
categoria, transição,
mas
não transformação; ele não sabe se dar conta do que lhe chega. Eu
arrastei, ou antes acreditei arrastar meu corpo com a mesma dificuldade e os
mesmos males do que sobre a Terra. Quando fui libertado de meu corpo, sabeis o
que senti? Pois bem! o que se sente depois de uma queda que vos atordoou um
momento, ou antes depois de uma fraqueza, e que vos faz retornar com vinagre.
Eu despertei sem me aperceber que meu
corpo
me havia deixado. Vim a Paris onde estou, pensando aqui estar bem e estar em carne
e osso, e não teríeis podido me convencer do contrário se depois não
estivesse morto.
Sim,
morre-se, mas não é no momento em que se deixa seu corpo; é no momento em que o
Espírito, percebendo sua verdadeira posição, toma-lhe uma vertigem, não
sabe mais compreender o que se lhe diz, nem vê mais as coisas que se lhe
explica do mesmo modo; então ele se perturba; vendo que não é mais
compreendido, procura, e, como o cego que é atingido subitamente, pede um
condutor que não vem em seguida, não dá; é preciso que fique algum tempo
nas trevas onde tudo é confuso para ele; está perturbado, e é preciso que o
desejo o leve com ardor a pedir a luz, que não lhe é concedida senão depois que
a agonia esteja terminada e que a hora da libertação chegou. Pois bem, meu primo,
é quando o Espírito se encontra nesse momento, que é o momento da morte, porque
não sabe mais reconhecer-se. É preciso, eu o repito, que se seja ajudado pela prece
para sair desse estado, e é também quando a hora da libertação estiver chegada que
é preciso empregar a palavra transformação para os Espíritos de minha
ordem.
Oh!
Obrigado pelas vossas boas preces, obrigado, meu amigo; sabeis o quanto eu vos
amo, e vos amarei bem mais ainda agora. Continuai-me vossas boas preces pelo meu
adiantamento. Obrigado ao homem que revelou essas grandes verdades santas das quais
tantos outros, antes dele, tinham desdenhado de se ocupar. Sim, obrigado por
ter associado meu nome a tantos outros. Orou-se por mim lendo algumas linhas
que tinha
vindo
vos dar. Obrigado, pois, também a todos aqueles que oraram por mim, que hoje, graças
à prece, cheguei a compreender-lhe a importância. A meu turno, tratarei de ser
útil a todos.
Eis
o que tinha a vos dizer, e estejais tranqüilos; hoje, não tenho mais dinheiro a
lamentar, mas, ao contrário, tenho todo o meu tempo para vos dar.
Não
é que essa mudança deve vos espantar muito? Pois bem, doravante, como no presente,
isto será como isto, porque vejo bem claro agora, aqui, e de muito longe. PIERRE
LEGAY.
Nota.
- O novo estado em que se encontra Pierre Legay, deixando de se crer deste mundo,
pode ser considerado como um segundo despertar do Espírito. Esta situação se liga
à grande questão da morte espiritual que foi estudada neste momento.
Agradecemos aos Espíritas que, ao nosso relato, oraram por esse Espírito. Podem
ver que se apercebeu disto e que com isto se achou bem.
"Há
algum tempo, diz a senhora Delanne, ouvíamos pancadas ao nosso redor;
presumindo que isso poderia ser um Espírito, pedimos-Ihe para se dar a
conhecer. Ele escreveu logo: Pierre Legay, dito Grand-Pierrot.
P.
Deitastes, pois, em nossa casa? - R Mas certamente.
Ontem, fui passear convosco (ver as iluminações). Vi tudo. Oh! mas aquilo lá é
bonito! Finalmente! pode-se dizer que fazem belas coisas. Eu vos asseguro que
estou muito contente; não lamento o meu dinheiro.
P.
Porque caminho viestes a Paris? Pudestes, pois,
abandonar vosso lado? - R. Mas, diabo! não posso cavar e depois estar
aqui. Estou muito contente de ter vindo. Vós me perguntais como vim, mas vim
pela estrada de ferro.
P.
Com quem estáveis? - R Oh bem! na verdade, eu não
os conhecia.
P.
Quem vos deu o meu endereço? Dizei-me também de onde vinha a simpatia que tínheis
por mim? -R Mas quando fui a casa dela (a mãe da senhora Delanne), e que
não a encontrei, perguntei àquele que guarda sua casa onde ela estava. Ele me
disse que ela estava aqui; então, eu vim. E depois vede, meu amigo, eu gosto de
vós porque sois um bom jovem; vós me provestes, sois franco, e depois gosto
muito de todas essas crianças.
P.
Vedes aqui meu sogro, papai Didelot? - R. Como
quereis que eu o veja uma vez que não está aqui? Sabeis bem que ele morreu.
(2-
entrevista, 18 de agosto de 1864.)
P.
Eu não vi pagardes vosso lugar? - R Subi com
Marianne e depois vossa mulher; acreditei que tínheis pago.
P.
Foi bem ao condutor que pagastes? - R A quem
queríeis que eu pagasse? Mas, meu primo, credes, pois, que não tenho dinheiro?
Há muito tempo que tinha colocado meu dinheiro de lado para vir. Não é porque
não paguei meu lugar aqui que é preciso crer que não tenho dinheiro. Eu não
teria vindo sem isso.
P.
Mas não me respondestes quanto destes de dinheiro
por vosso percurso na estrada de ferro de Nançois-le-Petit a Paris? - R Mas
b... paguei como os outros. Dei 20 fr. E me devolveram 3 fr. 60 c. Vede quanto
isso dá.
Nota.
- A soma de 16 fr. 40 c. é, com efeito, a que está
marcada no Indicador, o que o Sr. e senhora Delanne ignoravam.
P.
Quanto tempo ficastes na estrada de ferro de Nançois a Paris?
3) Prende-se
ela a uma falta de desenvolvimento intelectual e moral?
P.
Vedes meu objetivo vos evocando hoje? - R. Sim,
porque tenho junto a mim amigos que me instruíram sobre tudo o que se passa de
surpreendente neste momento sobre a Terra. Meu Deus, que coisa estranha tudo
isto!
P.
Dissestes que tendes amigos que vos cercam e que
vos instruem; podeis nos dizer quem são? - R. Sim, são amigos, mas não
os conheci senão depois que despertei; sabeis que dormi? Chamo
dormir o que chamais morrer.
P.
Podeis dizer-nos o nome da alguns destes amigos? - R.
Tenho constantemente ao meu lado um homem, que deveria antes chamar um
anjo, porque é tão doce, tão bom, tão belo que creio que os anjos devem ser
todos como aqui e ali. E depois tem Didelot (o pai da senhora Delanne)
que está aqui também; depois vossos pais, meu amigo. Oh! como são bons! Há
também: ah! é engraçado, como se encontra, nossa irmã superior. Por exemplo,
ela é sempre a mesma; ela não mudou. Mas o que é, pois, curioso em tudo isto!
Nota.
A irmã que o Espírito designa habitava a comuna de
Treveray e havia dado as primeiras instruções à senhora Delanne. Ela não havia
se manifestado senão uma vez, três anos antes.
Toma!
vós também, jardineiro! (nome familiar dado a um tio da senhora Delanne,
e que jamais se manifestou). Mas, quanto sou besta! É em vosso quarto que
estamos. Pois bem, estou contente de vos ver; aqui me coloco à vontade; porque,
minha palavra de honra, fui transportado não sei de onde faz algum tempo; vou
mais depressa do que a estrada de ferro, e percorro o espaço sem poder me dar
conta como. Sois como eu, Didelot? Ele tem o ar de achar tudo natural; parece
que já está habituado. De resto, faz mais tempo do que eu que ele o fez (morreu
há seis anos), e compreendo que com isto esteja menos espantado. Mas quanto é,
pois, engraçado! ah! é muito engraçado! Dizei-me, sabeis, convosco, meu primo,
estou à vontade. Pois bem, francamente, dizei-me,
SR.
DELANNE: Chama-se morrer, meu amigo, deixar seu corpo grosseiro à terra para
dar à alma a liberdade da qual tem necessidade para reentrar na vida real, a
grande vida do Espírito. Sim, aí estais, caro amigo, nesse mundo ainda
desconhecido para muitos homens da Terra. Eis-vos saído da letargia ou
entorpecimento que segue a separação do corpo e da alma. Vedes vosso anjo
guardião, os amigos que vos cercam; foram eles que vos conduziram entre nós,
para vos provar a imortalidade e a individualidade de vossa alma. Sede disso
orgulhoso e feliz, porque, o vedes agora, a morte é a vida. Eis porque também
atravessais o espaço com a rapidez do relâmpago, e podeis conversar conosco em
Paris, como se tivésseis um corpo material como o nosso.
corpo
me havia deixado. Vim a Paris onde estou, pensando aqui estar bem e estar em carne
e osso, e não teríeis podido me convencer do contrário se depois não
estivesse morto.