segunda-feira, 22 de junho de 2015

As Vidas Sucessivas. Provas Experimentais Renovação da Memória

14. As Vidas Sucessivas. Provas Experimentais Renovação da Memória.
(fonte: livro de Leon Denis – O problema do ser, do destino e da dor)
 Nas páginas precedentes, expusemos as razões lógicas que militam em favor da doutrina das vidas sucessivas. Consagramos este capítulo e os demais a refutar as objeções de seus contraditores, e abordaremos o conjunto das provas científicas que, a cada dia, vêm consolidá-la. A objeção mais comum é esta: se o homem já viveu, perguntam, por que não se recorda de suas existências passadas? Já apontamos sumariamente a causa fisiológica deste esquecimento. Esta causa é o próprio renascimento, isto é, a ação de portar um novo organismo, um invólucro material que, superpondo-se ao envoltório fluídico, representa, com relação a ele, o papel de um abafador. Consequentemente à diminuição de seu estado vibratório, cada vez que o espírito se instala em um corpo novo, com um cérebro virgem de qualquer imagem, ele se encontra impossibilitado de exprimir as recordações acumuladas de suas vidas anteriores. É verdade que seus antecedentes revelar-se-ão, ainda, em suas aptidões, em sua facilidade de assimilação, em suas qualidades e seus defeitos. Mas, todo o detalhe dos fatos, dos acontecimentos que constituem seu passado, reintegrado às profundezas da consciência, ficará velado durante a vida terrestre. O espírito, no estado de vigília, apenas poderá expressar, através da linguagem, as impressões registradas por seu cérebro material.

A memória é o encadeamento, a associação das ideias, dos fatos, dos conhecimentos. Quando esta associação desaparece, quando se rompe o fio das lembranças, o passado parece apagar-se para nós. Mas, isto é só aparentemente. Em um discurso pronunciado em 6 de fevereiro de 1905, o professor Charles Richet, da Academia de Medicina, dizia: “A memória é uma faculdade implacável de nossa inteligência, pois, nenhuma de nossas percepções jamais é esquecida. Desde que um fato marque nossos sentidos, então, de maneira irremediável, ele se fixa na memória. Pouco importa que tenhamos guardado a consciência daquela recordação; ela existe, torna-se indelével”.

Acrescentemos que ela pode renascer. O despertar da memória é apenas um efeito de vibração, produzido pela ação da vontade nas células do cérebro. Para fazer reviver as lembranças anteriores ao nascimento, é necessário recolocar-se em harmonia de vibrações com o estado dinâmico em que nos encontrávamos, na época em que se estabeleceu a percepção. Não existindo mais os cérebros que registraram aquelas percepções, é preciso procurar estas últimas na consciência profunda. Esta, no entanto, mantém-se muda durante tanto tempo quanto o espírito fique aprisionado na carne. Ele deve sair, libertar-se do corpo, para recuperar a plenitude de suas vibrações e retomar a trama das recordações ocultas em si. Percebe, então, seu passado e pode reconstituí-lo em seus menores fatos. É o que ocorre nos fenômenos do sonambulismo e do transe.

Sabemos que existem em nós profundezas misteriosas, em que se depositaram lentamente, através dos tempos, os sedimentos de nossas vidas de lutas, de estudo e de trabalho; ali estão gravados todos os incidentes, todas as vicissitudes do obscuro passado. É como um oceano de coisas adormecidas que as ondas do destino balançam.

Um apelo poderoso da vontade pode fazê-las reviver. Para elas, o espírito dirige seu olhar, nas horas de clarividência, assim como as radiações das estrelas deslizam, nas profundezas esverdeadas, até as abóbadas e os arcos dos recônditos sombrios do mar.

Lembremos, aqui, os pontos essenciais da teoria do eu, à qual se reportam todos os problemas da memória e da consciência.

A identidade do eu, a personalidade, só persiste e se mantém pela lembrança e a consciência. As reminiscências, as intuições, as aptidões determinam a sensação de ter vivido. Há, na inteligência, uma continuidade, uma sucessão de causas e efeitos que é preciso reconstituir em seu conjunto para possuir o conhecimento integral do eu. Isto, nós o vimos impossível na vida material, já que o fato de estar no corpo provoca um apagar temporário dos estados de consciência que formam este conjunto contínuo. Assim como a vida física está submetida às alternâncias da noite e do dia, produz-se um fenômeno análogo na vida do espírito. Nossa memória, nossa consciência atravessam alternadamente períodos de eclipse ou de fulgor, de sombra ou de luz, no estado celeste ou terrestre, e mesmo neste último plano, durante a vigília ou os diferentes estados do sono. E, como há gradações no eclipse, também há graus na luz.
Muitos sonhos não deixam traço algum, ao despertar, assim como as impressões recolhidas durante o sono sonambúlico. Todos os magnetizadores o sabem: o esquecimento, ao despertar, é um fenômeno constante nos sonâmbulos. Mas desde que o espírito do sujet, mergulhado em novo sono, se ache nas condições dinâmicas que permitam a renovação das lembranças, estas despertam. O sujet recorda o que fez, o que disse, o que viu e exprimiu, em todas as épocas de sua existência.

Desta forma, compreendemos facilmente o esquecimento momentâneo das vidas anteriores. O movimento vibratório do invólucro perispiritual, amortecido pela matéria no curso da vida atual, é muito fraco para que o grau de intensidade e a duração necessários à renovação destas lembranças possam ser atingidos, durante a vigília.

Em realidade, a memória é apenas um modo da consciência. A lembrança está, com frequência, no estado subconsciente. No círculo restrito da vida atual, nem mesmo conservamos a recordação de nossos primeiros anos que, entretanto, permanece gravada em nós, como todos os estados atravessados, no curso de nossa história. Acontece o mesmo com um grande número de atos e de fatos pertencentes a outros períodos da vida. Dizem que Gassendi recordava-se da idade de 18 meses; mas isto é uma exceção. O esforço mental é necessário para acordar essas lembranças da vida normal, esta que nos é mais familiar; necessário, repitamo-lo, para retomar mil coisas estudadas, aprendidas, esquecidas, pois desceram às camadas profundas da memória. A cada instante, a inteligência tem de procurar, no subconsciente, os conhecimentos, as lembranças que ela quer fazer reviver; esforça-se para fazê-los passar à consciência física, no cérebro concreto, depois de provê-los com os elementos vitais fornecidos pelos neurônios ou células nervosas. Segundo a riqueza ou a pobreza destes elementos, a lembrança surgirá clara ou difusa; às vezes, ela se esconde; a comunicação não pode estabelecer-se, ou, então, a projeção só ocorre mais tarde, quando menos se espera.

Portanto, a primeira condição para recordar-se é querer. Isto explica por que muitos espíritos, mesmo na vida do Espaço, sob o domínio de certos preconceitos dogmáticos, negam-se a qualquer busca e permanecem ignorantes a respeito do passado que neles dorme. Naquele meio, como entre nós, no curso da experimentação, uma sugestão é necessária. Esta lei da sugestão, vemo-la manifestar-se em toda parte, sob mil formas, nós próprios a vivenciamos a todo momento. Por exemplo, perto de nós, um canto se eleva, uma palavra, um nome ecoa, uma imagem impressiona nosso olhar e eis que, de repente, graças à associação das ideias, todo um encadeamento de lembranças confusas, quase esquecidas, dissimuladas nos baixios de nossa consciência, desenrola-se a nosso espírito. Períodos inteiros de nossa vida presente podem apagar-se da memória. Em seu livro: Les Phénomènes Psychiques, p.170, o Dr. J. Maxwell, procurador geral, assim se expressa, a respeito dos chamados casos de amésia:
Algumas vezes mesmo, a noção da personalidade desaparece. Conhecemos doentes que, subitamente, esquecem até o próprio nome. Toda a vida se lhes apaga e eles parecem voltar ao estado em que se achavam, no momento de seu nascimento. Eles mesmos têm de reaprender a falar, a vestirse, a comer. Algumas vezes, a amnésia não é tão completa. Tive a ocasião de observar um doente que esquecera tudo o que tinha qualquer ligação com sua personalidade. Ignorava completamente tudo o que fizera, não sabia mais onde tinha nascido, quem eram seus pais. Tinha uns trinta anos. A memória orgânica e as memórias organizadas fora da personalidade subsistiam. Lia, escrevia, desenhava um pouco, arranhava um instrumento musical. Nele, a amnésia limitava-se a todos os fatos que tinham ligação com sua personalidade anterior.

A guerra multiplicou esses casos e todos pudemos ler nos jornais a constatação disso.

O doutor Pitre, decano da Faculdade de Medicina de Bordeaux, em seu livro: L’Hystérie et l’Hypnotisme, cita um caso no qual demonstra que todos os fatos e conhecimentos registrados em nós desde a infância podem renascer; é o que ele chama de fenômeno da ecmnésia. Seu sujet, uma jovem de 17 anos, só falava francês e esquecera o dialeto gascão, idioma de seus primeiros anos. Adormecida e levada pela sugestão à idade de cinco anos, não entendia mais o francês e só falava aquele dialeto. Contava todos os pequenos detalhes de sua vida infantil, que se desenhavam para ela com perfeita nitidez; mas se mantinha surda às perguntas que lhe faziam, por não compreender mais a língua através da qual lhe falavam. Ela esquecera todos os fatos de sua vida ocorridos entre as idades de cinco e 17 anos.

O doutor Burot fez experiências idênticas. Seu sujet, Jeanne, foi levada por ele, mentalmente, a diversas épocas de sua juventude e, em cada período, os incidentes de sua existência desenham-se com precisão em sua memória, mas qualquer fato ulterior se apaga. Os progressos de sua inteligência podiam ser acompanhados detrás para a frente. Com a idade de cinco anos, constata-se que ela mal sabe ler; escreve, como o fazia com aquela idade, desajeitadamente, com os erros de ortografia que habitualmente cometia, naquela época.


Todos estes relatos foram verificados. Os estudiosos que citamos dedicaram-se a investigações minuciosas; puderam constatar a exatidão dos fatos narrados pelos sujets, fatos que permaneciam apagados da memória deles, no estado normal.