domingo, 6 de janeiro de 2013

Conversando com Allan Kardec: Eu vos perguntaria, primeiro, que necessidade haveria de criar as palavras novas de espírita, Espiritismo para substituir as de Espiritualismo, espiritualista


Espiritismo e Espiritualismo

Eu vos perguntaria, primeiro, que necessidade haveria de criar as palavras novas de espírita, Espiritismo para substituir as de Espiritualismo, espiritualista, que estão na linguagem popular e compreendidas por todo o mundo? Já ouvi alguém tratar essas palavras de barbarismos.

A.K. . A palavra espiritualista, desde muito tempo, tem uma significação bem definida; é a Academia que no-la dá: ESPIRITUALISTA é aquele ou aquela cuja doutrina é oposta ao materialismo.

Todas as religiões, necessariamente, estão baseadas no Espiritualismo. Quem crê haver em nós outra coisa além da matéria, é espiritualista, o que não implica na crença nos Espíritos e nas suas manifestações. Como vós o distinguiríeis daquele que o crê? Precisar-se-ia, pois, empregar uma perífrase e dizer: é um espiritualista que crê, ou não crê, nos Espíritos. Para as coisas novas, é preciso palavras novas, se se quer evitar equívocos. Se eu tivesse dado à minha REVISTA a qualificação de Espiritualista, não lhe teria de, modo algum, especificado o objeto, porque, sem faltar ao meu título, poderia não dizer uma palavra sobre os Espíritos e mesmo combatê-los. Eu li, há algum tempo em um jornal, a propósito de uma obra filosófica, um artigo onde se dizia que o autor o havia escrito sob o ponto de vista espiritualista. Ora, os partidários dos Espíritos ficariam singularmente desapontados se, na confiança dessa indicação, tivessem acreditado nela encontrar a menor concordância com suas ideias.
Portanto, se adotei as palavras Espírita e Espiritualismo, é porque elas exprimem, sem equívoco, as ideias relativas aos Espíritos. Todo espírita é, necessariamente, espiritualista, sem que todos os espiritualistas sejam espíritas. Fossem os Espíritos uma quimera e seria ainda útil existirem termos especiais para aquilo que lhes concerne, porque são necessárias palavras para as ideias falsas como para as ideias verdadeiras.
Essas palavras não são, aliás, mais bárbaras que todas aquelas que as ciências, as artes e a indústria criam cada dia. Elas não o são, seguramente, mais que as que Gall imaginou para sua nomenclatura
das faculdades, tais como: secrétivité, amativité, combativité, alimentivité, affectionivité, etc. Há pessoas que, por espírito de contradição, criticam tudo que não provém delas e desejam aparentar oposição; aqueles que levantam tão miseráveis contestações capciosas, não provam senão uma coisa: a pequenez de suas ideias. Prender-se a semelhantes bagatelas é provar que se tem pouco de boas razões. Espiritualismo, espiritualista, são as palavras inglesas empregadas nos Estados Unidos desde o início das manifestações: delas se serviu, primeiro, por algum tempo, na França. Mas, desde que apareceram as palavras espírita e Espiritismo, compreendeu-se tão bem sua utilidade, que foram imediatamente aceitas pelo público. Hoje o uso delas é de tal modo consagrado, que os próprios adversários, os que primeiro as apregoaram de barbarismo, não empregam outras. Os sermões e as pastorais que fulminam contra o Espiritismo e os espíritas, não poderiam, sem confundir as ideias, lançar anátema sobre o Espiritualismo e os espiritualistas.

Bárbaras ou não, essas palavras doravante passaram para a linguagem popular e em todas as línguas da Europa. Só elas são empregadas em todas as publicações, pró ou contra, feitas em todos os países. Elas formaram o sustentáculo da nomenclatura da nova ciência; para exprimir os fenômenos especiais dessa ciência, foram precisos termos especiais. O Espiritismo tem, de hoje em diante, sua nomenclatura, como a química tem a sua (1).

(1) Essas palavras, aliás, hoje têm direito de burguesia, pois estão no
suplemento do Petit Dictionnaire des Dictionnaires Français, extraído de Napoleón Landais, obra que se tira em vinte mil exemplares.

Nela se encontra a definição e a etimologia das palavras:
erraticidade, medianímico, médium, mediunidade, perispírito, pneumatografia,pneumatofonia, psicográfico, psicografia, psicofonia, reencarnação, sematologia, espírita, Espiritismo, estereorito, tiptologia.

 Elas se encontram igualmente, com todo o desenvolvimento que comportam, na nova edição do Dictionnaire Universel de Maurice Lachâtre.
As palavras Espiritualismo e espiritualista, aplicadas às manifestações dos Espíritos, não são mais empregadas hoje, senão pelos adeptos da
escola dita americana.

O que é o Espiritismo?


Para responder, desde agora e sumariamente, à questão formulada no título deste opúsculo, nós diremos que:

O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.

Pode-se defini-lo assim:
O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e da destinação dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal.