sábado, 23 de outubro de 2010

Doutrina Espírita, O Espírita e Política



Inciemos nosso estudo refletindo sobre o formato do comportamento humano. Temos a alegoria do “Mito da Caverna”, Platão não consegue fazer com que o filósofo mudasse o comportamento dos homens que ficaram dentro da caverna. Já na Doutrina Espírita, Kardec descortina vários horizontes para a mudança do nosso comportamento, pois os ensinamentos contidos em O Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo e associando ainda mais a reflexão no O Céu e Inferno, nos convida a uma constante melhoria de nossa conduta.
Vencer hábitos (esforçar para domar suas más tendências) calcados nos automatismos negativos são estimulados a se transformarem em atitudes centradas na moral evangélica.

Ampliando a reflexão analisemos sobre o Trabalho. Estudando a pergunta 685 de O Livro dos Espíritos: “Por isso não basta dar trabalho ao homem, sendo também necessário dar-lhe educação moral, ou seja, orientação espiritual para que ele possa tirar do trabalho todos os proventos que este lhe possa dar”.

Quanto ao Poder a maioria de nós gosta de possuir muitos bens e ter domínio sobre os demais homens. Mas de acordo com as instruções dos Espíritos “A autoridade, da mesma forma que a fortuna, é uma delegação da qual serão pedidas contas àquele que dela se acha investido; não creiais que lhe seja dada para lhe proporcionar o vão prazer de comandar, nem, assim como crêem falsamente a maioria dos poderosos da Terra, como um direito, uma propriedade”. Deus as dá como prova ou missão e as retira quando lhe apraz.

Resumindo Aristocracia Intelecto Moral, observamos que as sociedades em tempo algum prescindem de chefes para se organizarem. Daí a necessidade da autoridade. Esta autoridade vem se modificando ao longo do tempo. No início tínhamos a força bruta, depois a do exército. Na idade Média, a autoridade de Nascença. Segue-se-lhe a influência do dinheiro e da inteligência, na época atual. Será o fim? Não. Segundo Allan Kardec, em Obras Póstumas, há que se implantar a aristocracia intelecto-moral.

Reflexões oportunas e atuais:
"Para nós, a política é a ciência de criar o bem de todos e nesse princípio nos firmaremos". Deputado Dr. Adolfo Bezerra de Menezes.

As questões políticas decorrem dos próprios princípios do Espiritismo. A partir do momento em que se fala em reforma moral, em mudança de visão do mundo, em desapego dos bens materiais, prática da caridade, etc. fala-se sobre política. Principalmente, quando se fala em transformação da sociedade, como aparece a todo momento na Codificação (particularmente no capítulo final da Gênese), estamos falando de política. "Em que consiste a missão dos Espíritos Encarnados? - Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais". (Questão n º 573 de O Livro dos Espíritos).

O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens? - Esse direito é conseqüente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo". (Questão nº 711 de O Livro dos Espíritos).

"A vida social está em a Natureza? - Certamente, Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação". (Questão nº 766 de O Livro dos Espíritos).

As revoluções morais e sociais são condições para a realização do progresso. São idéias novas, conceitos novos que se chocam com os existentes, os quais já não mais satisfazem as necessidades e aspirações. (Veja questão nº 783 de O Livro dos Espíritos)

Encontramos no comentário de Allan Kardec à Questão nº 789 de O Livro dos Espíritos, esclarecimento de grande valia sociológica: "A humanidade progride, por meio dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e instruem. Quando estes preponderam pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempos a tempos, surgem no seio dela homens de gênio que lhe dão impulso; vêm depois, como instrumentos de Deus, os que têm autoridade e, nalguns anos, fazem-na adiantar-se de muitos séculos". Compreende-se, por tudo isso, a importância da participação dos espíritas na sociedade, de uma forma esclarecida e consciente. O espírita precisa conhecer os conceitos e fundamentos da Doutrina Espírita para, com os meios que lhe sejam possíveis, colocá-los na organização social em que vive.

Allan Kardec comenta: "A liberdade pressupõe confiança mútua. Ora, não pode haver confiança entre pessoas dominadas pelo sentimento exclusivista da personalidade. Não podendo cada uma satisfazer-se a si própria senão à custa de outrem, todas estarão constantemente em guarda umas com as outras. Sempre receosas de perderem o que chamam seus direitos, a dominação constitui a condição mesma da existência de todas pelo que armarão continuamente ciladas à liberdade e a coarctarão quanto puderem". (In Obras Póstumas, Capítulo Liberdade, Igualdade e Fraternidade).

Instrução dos Espíritos na Questão nº 930 O Livro dos Espíritos: "Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome". E acresce Allan Kardec: "Com uma organização social criteriosa e previdente, ao homem só por sua culpa pode faltar o necessário. Porém, suas próprias faltas são freqüentemente resultado do meio onde se acha colocado. Quando praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade e ele próprio também será melhor".

O Espírito Lázaro, no Capítulo IX, item 8, de O Evangelho Segundo o Espiritismo nos alerta que "Cada época é, assim, marcada pelo cunho da virtude ou do vício que a devem salvar ou perder. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual, seu vício é a indiferença moral". Assim, essa ação política deve objetivar o bem comum.

A Gênese - Kardec explicando sobre Os tempos são chegados


A Gênese – “Os tempos são chegados”:

Nº 14: A vida espiritual é a vida normal e eterna do Espírito, e a encarnação não é senão uma forma temporária de sua existên-cia. Exceto pela vestimenta exterior, há, pois, identidade entre os encarnados e os desencarnados; são as mesmas individualidades sob dois aspectos diferentes, pertencendo tanto ao mundo visível, quanto ao mundo invisível, se reencontrando seja num, seja no outro, convergindo num e no outro ao mesmo propósito, pelos meios apropriados à sua situação. Desta lei decorre aquela da perpetuidade da relação entre os seres; a morte não os separa e não dá término às suas relações simpáticas nem aos seus deveres recíprocos. Daí a SOLIDARIEDADE do todos por um, e de um por todos, daí também a FRATERNIDADE. Os homens não viverão felizes sobre a Terra senão quando esses dois sentimentos tiverem entrado em seus corações e nos seus costumes, porque então o conformarão a suas leis e suas instituições. Isto será um dos principais resultados da transformação que se opera.

Mas como conciliar os deveres de solidariedade e da fraternidade com a crença de que a morte tornaria todos os homens estranhos uns aos outros? Pela lei da perpetuidade das relações que une todos os seres, o Espiritismo funda este duplo princípio sobre as próprias leis da natureza. Ele fez disso não só um dever mas uma necessidade. Por aquela da pluralidade das existências, o homem se relaciona a tudo que fez e a tudo que fará, aos homens do passado e aos homens do porvir; não pode mais dizer que não tem nada em comum com aqueles que morreram, uma vez que uns e outros se reencontram sem cessar, neste mundo e no outro, para ascenderem juntos a escada do progresso e se prestarem um apoio mútuo. A fraternidade não é mais circunscrita a alguns indivíduos que o acaso reúne durante a duração efêmera da vida; ela é perpétua como a vida do Espírito, universal como a humanidade, que constitui uma grande família em que todos os membros são solidários uns aos outros, qual-quer que seja a época na qual morreram.

Tais são as idéias que ressaltam do Espiritismo, e que ele suscitará entre todos os homens quando estiver universalmente disseminado, compreendido, ensinado e praticado. Com o Espiritismo, a fraternidade, sinônima da caridade pregada pelo Cristo, não é mais uma palavra vã; ela tem sua razão de ser. Do sentimento da fraternidade nasce aquele da reciprocidade e dos deveres sociais, de homem a homem, de pessoa a pessoa, de raça a raça; estes dois sentimentos bem compreendidos forçosamente farão as instituições mais proveitosas ao bem estar de todos.”

Nº 15: A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, se não estiver assentada sobre uma base inabalável; essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que se apedrejam mutuamente, porque, em se anatematizando, alimentam o antagonismo; mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar: Deus, a alma, o porvir, O PROGRESSO INDIVIDUAL, INDEFINIDO, A PERPETUIDADE DAS RELAÇÕES ENTRE OS SERES. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos, de que esse Deus, soberanamente justo e bom, não pode querer nada de injusto, que o mal vem dos homens e não dele, se considerarão como os filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos. Essa a fé que o Espiritismo dá, e que será daqui por diante o eixo em torno do qual girará o gênero humano, quaisquer que sejam seus modos de adoração e suas crenças particulares, que o Espiritismo respeita, mas de que não se ocupa. Somente desta fé pode sair o verdadeiro progresso moral, porque somente ela oferece uma sanção lógica aos direitos legítimos e aos deveres; sem ela, o direito é determinado pela força; o dever, um código humano imposto pela pressão. Sem ela que é o homem? Um pouco de matéria que se dissolve, um ser efêmero que só passa; mesmo o gênio não é mais que uma chama que brilha um instante para se extinguir para sempre; não há, certamente, motivo para valorizá-lo a seus próprios olhos.

Com tal pensamento, onde estão realmente os direitos e os deveres? Qual é o objetivo do progresso? Somente essa fé fez o homem sentir sua dignidade pela perpetuidade da progressão de seu ser, não em um porvir mesquinho e circunscrito à persona-lidade, mas grandioso e esplêndido: esse pensamento o eleva acima da Terra; ele se sente crescer sonhando que possui sua parte no universo; que esse universo é seu domínio que ele poderá percorrer um dia, e que a morte não fará dele uma nulidade, ou um ser inútil a si mesmo e aos outros.

O progresso intelectual, realizado até este dia nas mais largas proporções, é um grande passo, e marca uma primeira fase da Humanidade; mas sozinho é impotente para regenerá-la; enquanto o homem estiver dominado pelo orgulho e o egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos para proveito de suas paixões e de seus interesses pessoais; por isso que os aplica no aperfeiçoamento de meios de prejudicar os outros e de se destruir entre si.

SOMENTE O PROGRESSO MORAL PODE ASSEGURAR AOS HOMENS A FELICIDADE NA TERRA, COLOCANDO UM FREIO ÀS PAIXÕES MÁS; SOMENTE ELE PODE FAZER REINAR ENTRE OS HOMENS A CONCÓRDIA, A PAZ, A FRATERNIDADE. É ele que derrubará as barreiras entre os povos, que fará cair os preconceitos de casta e calar os antagonismos de seitas, ensinando os homens a se considerarem irmãos chamados a se auxiliarem mutuamente e não a viver à custa uns dos outros. Será ainda o progresso moral, secundado aqui pelo progresso da inteligência, que reunirá os homens numa mesma crença estabelecida sobre as verdades eternas, não sujeitas a controvérsias e, por isso mesmo, aceita por todos.


A unidade de crença será o laço mais forte, o fundamento mais sólido da fraternidade universal, ferida desde todos os tempos pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem ver no próximo inimigos a serem evitados, combatidos, exterminados, em vez de irmãos a serem amados