domingo, 19 de dezembro de 2010

O COMPLEXO OBSESSÃO – fonte: Recordações da Mediunidade



“Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é, introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado nesse corpo?”
“O Espírito não entra em um corpo como entras numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material.”
(“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, pergunta 473.)

Um dos mais belos estudos que o Espiritismo faculta aos seus adeptos é, certamente, aquele a que os casos de obsessão nos arrastam. Temos para nós que esse difícil aprendizado, essa importante ciência de averiguar obsessões, obsessores e obsidiados deveria constituir especialidade entre os praticantes do Espiritismo, isto é, médiuns, presidentes de mesa, médiuns denominados passistas, etc. Assim como existem médicos pediatras, oculistas, neurologistas, etc., etc., também deveriam existir espiritas especializados nos casos de tratamento de obsessões, visto que a estes será necessária uma dedicação absoluta a tal particularidade da Doutrina, para levar a bom termo o mandato. Tal ciência, porém, não se poderá limitar à teoria, requerendo antes paciente e acurada observação em torno dos casos de obsessão que se apresentem no limite da ação de cada um, pois é sabido que a observação pessoal, a prática no exercício do sublime mandato espírita enriquece de tal forma os nossos conhecimentos em torno de cada caso com que nos defrontamos que, cada um deles, ou seja, cada obsidiado que se nos depare em nossa jornada de espíritas constituirá um tratado de ricas possibili-dades de instrução e aprendizado, visando à cura, quando a cura seja possível. Tantas são as modalidades, as espécies de obsessão que se nos têm deparado durante o nosso longo tirocínio de espírita e médium que, certamente, para examiná-las todas, na complexidade das suas manifestações e origens, precisaríamos organizar um compêndio. Nesta ligeira anotação, portanto, preferiremos tratar de alguns casos da nossa observação pessoal, nos quais agimos como médium, às vezes, ou como conselheira de ambos os implicados no fenômeno, isto é, o obsessor e o obsidiado. Mas antes que entremos diretamente na exposição que pretendemos tentar, preferimos reportar-nos ao mestre por excelência do Espiritismo, Allan Kardec, cujas sensatas advertências não foram jamais desmentidas pela observação dos seus seguidores, até o presente momento. Em «O Livro dos Espíritos» vemos ainda os seguintes ligeiros esclarecimentos, que pedimos vênia ao leitor para transcrever, visto que nunca serão demasiados o estudo e a meditação em torno de qualquer ponto importante da Doutrina Espírita, se é que nela existem pontos menos importantes uns do que outros. Assim relembremos, além da questão 473, acima citada, também as de número 474 e seguintes. Pergunta Allan Kardec aos instrutores espirituais que ditaram aquele código de ouro:
— «Desde que não há possessão prõpriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada ?»
E o instrutor espiritual respondeu:
— «Sem dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas é preciso saibas que essa dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos.»
— «Pode alguém por si mesmo afastar os maus Espíritos e libertar-se da dominação deles?»
— «Sempre é possível, a quem quer que seja, subtrair-se a um jugo, desde que com vontade firme o queira.”
— «Mas não pode acontecer que a fascinação exercida pelo mau Espírito seja de tal ordem que o subjugado não a perceba? Sendo assim, poderá uma terceira pessoa fazer que cesse a sujeição da outra? E, nesse caso, qual deve ser a condição dessa terceira pessoa? — indaga ainda, inteligentemente, Allan Kardec, ao que o instrutor espiritual advém com a seguinte preciosa lição:
— Sendo ela (a terceira pessoa) um homem de bem, a sua vontade poderá ter eficácia, desde que apele para o concurso dos bons Espíritos, porque, quanto mais digna for a pessoa, tanto maior poder terá sobre os Espíritos imperfeitos, para afastá-los, e sobre os bons, para os atrair. Todavia, nada poderá, se o que estiver subjugado não lhe prestar o seu concurso. Há pessoas a quem agrada uma dependência que lhes lisonjeia os gostos e os desejos. Qualquer, porém, que seja o caso, aquele que não tiver puro o coração nenhuma influência exercerá, Os bons Espíritos não lhe atendem ao cha¬mado e os maus não o temem.”

Destaque sobre os membros das equipes da mediunidade:

De tudo quanto aqui registramos, deduziremos, portanto, a grande responsabilidade que pesa sobre os ombros do espírita, pois, se tais deveres nos são confiados pelo Consolador é porque temos possibilidade de cumpri-los, desde que fielmente nos dediquemos aos me¬lindrosos certames do setor transcendental, pois que ele, o Consolador, nos fornece as credenciais para tanto. Muitas das curas obtidas através da mediunidade surpreendem até os que para elas concorreram: chegam a ignorar quando e como a cura foi realizada, fato significativo, indicando que somos todos meros instru¬mentos dos Guias Espirituais, sem razões, portanto, para a vanglória de nos considerarmos autores das mesmas. De qualquer forma, não será meditação ociosa lembrar ainda uma vez as condições mais urgentes para prevenir o flagelo da obsessão ou para remediâ-lo, em nós próprios ou no próximo, porqüanto o trabalho é espinhoso, requerendo a máxima atenção nos seus pormenores, por parte daquele que em inspirada hora se dedica à edificante especialidade:
1 — Ascendência de médiuns e doutrinadores (diretores de sessões práticas) sobre o obsessor e o obsidiado, o que implica estado de superioridade moral dos mesmos operadores, atraindo a benemérita assistência da Espiritualidade Superior.
2 — Conhecimento pleno, senão profundo, da causa que defendem, com observação atenta das diferentes obsessões, visto que a obsessão é, por vezes, desorientador complexo, é absoluta certeza da assistência de Guias Espirituais autênticos durante o certame.
3 — Absoluta coragem — a coragem da fé —para enfrentar o obsessor e também o obsidiado, que poderá ser tão rebelde e endurecido quanto o primeiro, e vencê-los com as armas da fraternidade e do amor, sem se acovardar ante suas investidas, usando energia quando necessário, energia que o amor inspira e não a violência ou o orgulho.
4 — Humildade perante si próprio e as leis divinas, certificando-se de que as vitórias conseguidas no importante setor pertencem a Jesus, Mestre e reeducador dos homens e dos Espíritos, e não a nós, que nada representamos senão antigos obsessores e delinquentes, que agora resgatam vergonhoso passado através do amor e do trabalho; oração, vigilância, dedicação ilimitada ao compromisso firmado, esforçando-se por manter equilibrada a harmonização vibratória com os Espíritos protetores que acionam os trabalhos, jamais esquecendo que, se assim não for, o obsessor poderá tentar investir contra eles mesmos, durante o sono de cada noite, e será necessário conservar defesas que o desarmem. E lembrar, outrossim, que a mediunidade é dom sagrado, posto de abnegação e sacrifício a serviço dos desígnios de Deus para com a Humanidade.
5 — O ambiente da agremiação onde tais trabalhos forem realizados deverá ser resguardado de tumultos de qualquer natureza ou de outras tantas operosidades que não sejam os serviços doutrinários, visto que a transcendência, o imperativo dos trabalhos para curas de obsessão requerem pureza de vibrações e harmonias fluídicas que reajam favoràvelmente sobre os figurantes do certame, inclusive os próprios Guias Espirituais, que se afastam dos meios que se desviem das normas estatuidas pela Doutrina. Semelhantes operosidades são próprias de templos de ciência e de fé e não poderão ser bem sucedidas se as levarmos a efeito indiferentes à grande responsabilidade assumida.
6 — Não convirá ao obsidiado assistir às sessões realizadas a seu beneficio durante o estado agudo do mal, nem o obsessor deverá ser doutrinado por seu intermédio. Outro médium, assaz desenvolvido e bem assistido espiritualmente, intervirá com a boa vontade de servir, recebendo mediunicamente o obsessor a fim de que seja aconselhado. O obsidiado, afeito às vibra¬ções dominantes do seu opositor, não estará em condições de se prestar à comunicação normal necessária, é antes um enfermo necessitado de tratamento e não um médium, prôpriamente. O fenômeno da passagem do malfeitor desencarnado para outro médium poderá ser provocado, caso não se revele espontâneo, seja por uma ordem dos tutelares espirituais que orientam os trabalhos, seja pela atração magnética do diretor dos mesmos, o qual aporá as mãos sobre o obsidiado e o médium disponível, simultaneamente, não sendo, contudo, indispensável tal atitude.
7 — Será necessário que os responsáveis pelos citados trabalhos orem e vigiem a cada passo, procedendo no lar e na sociedade como procedem no seu núcleo espírita, ou seja, de acordo com os quesitos que a Doutrina Espírita estabelece como norma moral para seus adeptos, visto que passarão a servir de padrão e exemplo para a emenda dos obsessores; estes prestarão atenção em suas normas de vida diária e somente os respeitarão se neles encontrarem superioridade moral.
8 — O obsidiado, se não procurar renovar-se diàriamente, num trabalho perseverante de auto-domínio ou auto-educação, progredindo em moral e edificação espiritual, jamais deixará de se sentir obsidiado, ainda que o seu primitivo obsessor se regenere. Sua renovação moral, portanto, será a principal terapêutica, nos casos em que ele possa agir.
9 — Se um médium não se conduzir convenientemente perante a Doutrina, ou por qualquer outra circunstância demonstrar sinais de domínio de um obsessor, será indispensável que suspenda qualquer labor mediúnico, visto que já não poderá inspirar confiança as comunicações que receber e se poderá também prejudicar grandemente, dando ensejos à solidificação da obsessão. Nesse caso, deverá ser rigorosamente tratado pelos companheiros e por um médico, porqüanto poderá encontrar-se esgotado nas suas forças vitais e nervosas, estado favorável ao prosseguimento do mal, que se alastrará também pelo aspecto físico e mental.
10 — A mesma recomendação acima (9) se aplicará aos médiuns mistificados, pois que a mistificação persistente é o primeiro grau da obsessão. Nos casos do chamado animismo (automatismo. mental), será conveniente que se afaste das sessões práticas e se dedique a estágios em setores diferentes, onde poderá ser aproveitável.


A Seara Divina é extensa e fecunda e em qualquer situação serviremos ao Bem e à Verdade, se realmente houver o desejo de servir, e não sômente no campo mediúnico. Muitos supostos médiuns, emaranhados nos complexos do animismo, uma vez afastados ou corrigidos das pretensões mediúnicas, têm conseguido equilibrar-se em outros setores, então realmente servindo à Doutrina Espírita e ao próximo. O automatismo mental, ou seja, o animismo, é a obsessão da própria mente e poderá ocasionar consequências desagradáveis para quem a cultiva.
Lembremo-nos de que o grande Paulo de Tarso, um dos maiores médiuns que o Cristianismo produziu, antes de se tornar o esteio do Cristianismo nascente recolheu-se ao deserto a fim de fazer a sua iniciação, num espaço de três longos anos. E o mesmo fizeram os demais médiuns do passado, isto é, os profetas e os grandes iniciados.


Tenhamos, portanto, idênticas atitudes se nos desejarmos transformar em obreiros seguros e fiéis da Doutrina dos Espíritos, capazes de vencer os terríveis complexos geradores da obsessão.

Sobre Amigo Ignorado - (Recordações da Mediunidade)


Amigo Ignorado

“Além do anjo guardião (1), que é sempre um Espírito superior, temos Espíritos protetores que, embora menos elevados, não são menos bons e magnânimos. Contamo-los entre amigos, ou parentes, ou, até, entre pessoas que não conhecemos na existência atual. Eles nos assistem com seus conselhos e, não raro, intervindo nos atos da nossa vida.”
(“O Evangelho segundo o Espiritismo”, Allan Kardec, capítulo 28, item 11.)

Nenhum espírita, atento aos deveres do estudo doutrinário e da observação daí conseqüente, desconhece que a sociedade do Além-Túmulo e a sociedade da Terra são uma e a mesma coisa, continuação uma da outra, em fase diferente, apenas com a só dificuldade de ser a primeira invisível e, por vezes, até ignorada pela segunda. Os espíritas, não desconhecemos também o quanto os homens em geral são assistidos e grandemente influenciados pelos habitantes do mundo espiritual, pois possuímos amigos e inimigos, simpatizantes e adversários desencarnados, e que a influência de todos eles em nossa vida cotidiana depende absolutamente de nós mesmos, do estado sadio ou precário da nossa mente, dos atos diários que praticamos.

Tal seja o nosso proceder, mesmo durante a infância — pois também a criança poderá ser bem ou mal assistida espiritualmente — poderemos até impor respeito àqueles desencarnados de ordem medíocre ou inferior e deles fazermos amigos leais e prestativos para todo o sempre, ou também obsessores, pois sabemos que não só os amigos altamente colocados, na Terra como no Espaço, nos poderão valer em horas difíceis. Nutrimos, entretanto, a pretensão de vaidosamente julgar que os nossos amigos espirituais serão somente os instrutores e guardiães de elevada hierarquia, aqueles altamente colocados na Espiritualidade por suas virtudes, méritos e sabedoria.

Desejamos mesmo, para nossos guardadores diários, Espíritos cujos nomes foram venerados na Terra pela Humanidade, e infantilmente acreditamos que esta ou aquela individualidade brilhante do’ mundo dos Espíritos vive às nossas ordens, submissa aos caprichos da nossa curiosidade ou da nossa insensatez, sem querermos atender à necessidade do esforço para o próprio progresso, a fim de conseguirmos aquelas tão desejadas companhias espirituais. Mas a verdade é que possuímos, além dessas, outros amigos devotados que muito e muito nos servem, desenvolvendo atividades de legítima fraternidade cristã em torno das nossas necessidades de pecadores em serviços de resgates através das provações e lutas próprias da evolução, amigos pertencentes aos planos modestos da sociedade espiritual, que, humildemente, amorosamente, discretamente, nos socorrem em horas adversas, sem que, as mais das vezes, os suspeitemos, embora agindo, certamente, sob direção de entidades mais elevadas.

Como as demais pessoas, também possuímos amigos dessa categoria espiritual, e estas páginas serão a homenagem do nosso reconhecimento à dedicação humilde e perseverante com que nos têm eles amado e servido durante toda a nossa vida.

Bezerra de Menezes
Yvonne Pereira
Recordações da Mediunidade