SUMÁRIO: Fase de afinidade fluídica e espiritual. Fase de aproximação da entidade. Fase de aceitabilidade do Espírito comunicante. Fase de incorporação mediúnica. A manifestação mediúnica. Condicionamentos e viciações.
Em todo e qualquer fenômeno mediúnico de efeitos intelectuais ocorrem fases bem definidas, com certas particularidades que lhes são próprias:
1a. Fase de afinidade fluídica e espiritual.
2a. Fase de aproximação da entidade.
3a. Fase de aceitabilidade do Espírito comunicante pelo médium.
4a. Fase de incorporação mediúnica.
Fase de afinidade fluídica e espiritual
Antes da ocorrência do fenômeno, o médium é sondado psiquicamente para avaliação de sua capacidade vibratória. No caso em que a entidade passe a se comunicar com frequência, surge a afinidade espiritual, que depende da posição evolutiva do Espírito e do médium. Dependendo do tipo de atividade mediúnica, o médium, durante o sono, dias antes do trabalho mediúnico, é levado pelos mentores espirituais a tomar contato com o Espírito que ele deverá receber mediunicamente, para evitar choques inesperados durante a reunião, o que poderia ocasionar desequilíbrio vibratório momentâneo ou demorado, impedindo-o de alcançar os objetivos desejados. Esse fato ocorre com frequência com os médiuns que integram os grupos de desobsessão. (1)
1 "Missionários da Luz”, cap. 16, págs. 263 a 268.
Fase de aproximação da entidade
Sequência natural da fase anterior, esta fase se dá no recinto do trabalho mediúnico, como preparação do médium para a tarefa. Pode ocorrer que antes da sessão o médium sinta a influência espiritual, mas deve controlar-se para evitar o transe fora de ocasião. Geralmente sentirá os fluidos próprios da entidade, cabendo-lhe o trabalho de analisá-los e, conforme conhecimento anterior, absorvê-los ou rechaçá-los.
Fase de aceitabilidade do comunicante
Ativamente, o médium começa a vibrar, procurando afinizar-se melhor com a mente do Espírito. Manter-se-á calmo, confiante e seguro, certo de que nada de mau lhe acontecerá, porque o equilíbrio do grupo é uma segurança. Sentirá os seus pensamentos serem dirigidos por uma força estranha e aos poucos terá vontade de falar ou de escrever, ou apenas ficará na expectativa de novas associações mentais. Poderá então sentir-se diferente, como se fosse outra pessoa, ver mentalmente outros lugares, ter sensações diferentes, que viverá com maior ou menor intensidade.
Fase de incorporação mediúnica
O Espírito, para se comunicar, não entra no corpo do médium. O que ocorre são assimilações de correntes fluídicas e mentais numa associação perfeita denominada sintonia vibratória. Os centros cerebrais do perispírito e do corpo físico do médium são estimulados pelas forças fluídicas e mentais da entidade comunicante e, quando se dá a associação, ocorre a chamada incorporação mediúnica.
Os casos Otávia (2), Eugênia (3) e Celina (4), apresentados na obra de André Luiz, dão-nos uma ideia perfeita de como se processa o fenômeno. O médium incorpora as ideias, as vivências e os sentimentos do Espírito comunicante e os transmite conforme a faculdade que possua.
É, pois, natural que nessa fase o medianeiro se sinta diferente e apresente sensações anormais, suor, amortecimentos, respiração ofegante, tremores, nervosismo etc. O controle das reações orgânicas deverá surgir graças à confiança e à serenidade alcançadas com um bom treinamento mediúnico.
Condicionamentos e viciações
Ao se aproximar do médium, o Espírito combina seus fluidos perispirituais com os do médium, podendo este ter percepções diferentes das que estava tendo na ocasião – ele poderá sentir frio, calor, dor, bem-estar, ansiedade, medo, paz, ódio etc. Muitas vezes, por falta de educação mediúnica, o médium reage com espalhafato diante dessas sensações. Mas não há necessidade de tremores, pancadas, chiados, assobios, gagueira, voz entrecortada e soturna. O médium deve controlar-se para que a comunicação ocorra naturalmente, sem clichês ou prefixos que se repetem nas comunicações, como a frase seguinte e outras assemelhadas: "Vim das alturas trazendo a bandeira branca da paz...". Não há, igualmente, necessidade de fazer certos gestos e trejeitos para marcar a presença de Espíritos. Isso era compreensível antigamente, quando, por falta de orientação, os médiuns davam um sinal de que estavam sob influência espiritual, daí surgindo os chiados, os gemidos, as contrações bruscas etc., porque os novatos viam que os mais velhos assim procediam para chamar a atenção do dirigente.
"Missionários da Luz”, cap. 16, págs. 271 a 273. 64 “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 6, págs. 54 a 56. 65 Ibidem, cap. 8, págs. 72 a 74.
Deve-se também evitar transmitir mensagens na segunda pessoa do plural ("Vós sois meus bem-amados; eu vos queria dizer..."), para evitar erros de concordância que acabam por descolorir a comunicação. A ordem das comunicações deve processar-se naturalmente e compete apenas ao dirigente espiritual. Assim, o dirigente encarnado evitará o sistema de chamar por ordem os médiuns, deixando que as comunicações se façam de forma espontânea. O dirigente procurará estar atento, com os olhos abertos, para atender às ocorrências da reunião. Para evitar os condicionamentos e as viciações devemos guardar respeito íntimo, confiança, espírito de análise, serenidade e sinceridade em tudo aquilo que fizermos, acolhendo com simpatia as observações dos dirigentes que procuram evitar que o fenômeno mediúnico se banalize e se torne motivo de ridículo em nossas Casas espíritas.
A incorporação mediúnica
SUMÁRIO: Conceito de incorporação mediúnica. Envolvimento mediúnico. Fundamento de todo o fenômeno mediúnico. Importância da educação mediúnica. Necessidade de sintonia vibratória. Como os Espíritos superiores fazem para comunicar-se conosco.
Conceito de incorporação mediúnica
No fenômeno designado pelo nome de incorporação mediúnica, o que ocorre efetivamente é um envolvimento mediúnico, resultante do entrosamento das correntes vibratórias próprias do médium, emanadas de suas criações mentais e espirituais, com as do Espírito comunicante. Nossos órgãos sensoriais, como os olhos e os ouvidos, estão condicionados pela natureza para perceberem vibrações dentro de um certo limite: a) nosso ouvido é incapaz de perceber o som produzido por menos de 40 vibrações por segundo, e nada percebe quando elas ultrapassam o limite de 36.000; b) nossos olhos não registram a luz produzida por vibrações fora da frequência compreendida entre 458 milhões e 272 trilhões por segundo. (66) Na sessão mediúnica, o médium se coloca durante o transe em condições favoráveis de percepção mais nítida do mundo espiritual que nos circunda. Por haver uma exteriorização maior do perispírito, fundamento de todo o fenômeno mediúnico, este passa a vibrar em regime de maior liberdade, deixando-se influenciar pelo campo de entidades desencarnadas.
Os números mencionados, relativos às percepções sonoras e visuais do ser humano, foram extraídos do cap. X da obra “Estudando a Mediunidade”, de Martins Peralva, embora reconheçamos que não existe consenso entre os especialistas quanto à exatidão de ambas as escalas.
Os Espíritos, por sua vez, livres do corpo denso, situam-se em plano vibratório diferente do normalmente perceptível pelos encarnados, somente podendo fazer-se sentidos e comunicar-se conosco quando encontram médiuns que vibram dentro da mesma faixa em que se situam.
Importância da educação mediúnica
Ocorrendo, assim, uma perfeita correspondência entre o clima vibratório do Espírito e o do médium, estaremos diante do chamado envolvimento mediúnico, em que o encarnado passa a sentir a presença do Espírito desencarnado, podendo perceber-lhe as sensações, as emoções, os pensamentos e transmiti-los de acordo com sua livre vontade, deixando ou não envolver-se por essa nova personalidade. É aí que reside o ponto nevrálgico da questão: ou nos deixamos arrastar pura e simplesmente, ou reagimos tentando impor nossa vontade. Se agirmos como na primeira hipótese, corremos o risco de sermos obsidiados facilmente. Se agirmos como na segunda hipótese, podemos passar uma vida inteira sem desenvolvermos a faculdade. Como se vê, a educação mediúnica, por meio do conhecimento e das práticas ordenadas, exige um comportamento equidistante das duas situações e ensina o médium a manter-se em posição de equilíbrio e vigilância, sem que esta se transforme em refratariedade, passando a ter condições de controlar o fenômeno. O médium saberá então quando e como uma mensagem é conveniente ou causadora de confusão e mal-estar, e terá o bom senso de analisar o que vai filtrar ou está filtrando.
Necessidade de sintonia vibratória
Diz Martins Peralva, no estudo que fez sobre a obra "Nos Domínios da Mediunidade", de André Luiz: "Para que um Espírito se comunique é mister se estabeleça a sintonia da mente encarnada com a desencarnada. Essa realidade é pacífica. É necessário que ambos passem a emitir vibrações equivalentes; que o teor das circunvoluções seja idêntico; que o pensamento e a vontade de ambos se graduem na mesma faixa". () Martins Peralva reproduz em seguida, da obra de Léon Denis, a lição que se segue: "Admitamos, a exemplo de alguns sábios, que sejam de 1.000 por segundo as vibrações do cérebro humano. No estado de transe, ou de desprendimento, o invólucro fluídico do médium vibra com maior intensidade, e suas radiações atingem a cifra de 1.500 por segundo. Se o Espírito, livre no espaço, vibra à razão de 2.000 no mesmo lapso de tempo, ser-lhe-á possível, por uma materialização parcial, baixar esse número para 1.500. Os dois organismos vibram então simpaticamente; podem estabelecer-se relações, e o ditado do Espírito será percebido e transmitido pelo médium em transe sonambúlico". ()
Compreende-se então que os Espíritos superiores baixam o seu teor vibratório, aproximando-o do nosso, envolvendo-se com os fluidos grosseiros de nosso ambiente e tornando-se assim mais acessíveis. O médium em transe, por sua vez, se eleva mediante o preparo antecipado e o disciplinamento dos recursos mediúnicos, podendo dar-se, por conseguinte, a interação entre os dois psiquismos – o do desencarnado e o do médium – criando-se a condição essencial à comunicação, que é a sintonia. De igual modo, o contrário pode também acontecer. Médiuns com boa capacidade vibratória poderão baixar suas vibrações para servirem de instrumento a entidades inferiores, a fim de que estas sejam esclarecidas e orientadas.
Concluída a tarefa, o médium retornará ao seu padrão vibratório normal, não lhe ficando sensações desagradáveis próprias do Espírito comunicante, mas sim o bem-estar de ter cumprido o seu dever cristão.
“Estudando a Mediunidade”, de Martins Peralva, cap. X, p. 57. Ibidem, cap. X, p. 62.
Astolfo Olegário Oliveira Filho