sábado, 28 de agosto de 2010

Projeto 1868 - Obras Póstumas - Allan Kardec

Um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da Doutrina seria a falta de unidade. O único meio de evitá-la, senão quanto ao presente, pelo menos quanto ao futuro, é formulá-la em todas as suas partes e até nos mais mínimos detalhes, com tanta precisão e
clareza, que impossível se torne qualquer interpretação divergente.

Se a doutrina do Cristo deu lugar a tantas controvérsias, se ainda agora tão mal compreendida se acha e tão diversamente praticada, é isso devido a que o Cristo se limitou a um ensinamento oral e a que seus próprios apóstolos apenas transmitiram princípios gerais, que cada um interpretou de acordo com suas idéias ou interesses. Se ele houvesse formulado a organização da Igreja cristã com a precisão de uma lei ou de um regulamento, é incontestável que houvera evitado a maior parte dos cismas e das querelas religiosas, assim como a exploração que foi feita da religião, em proveito das ambições pessoais. Resultou que, se o Cristianismo constituiu, para alguns homens esclarecidos, uma causa de séria reforma moral, não foi e ainda não é para muitos senão objeto de uma crença cega e fanática, resultado que, em grande número de criaturas, gerou a dúvida e a incredulidade absoluta.

Somente o Espiritismo, bem entendido e bem compreendido, pode remediar esse estado de coisas e tornar-se, conforme disseram os Espíritos, a grande alavanca da transformação da Humanidade. A experiência deve esclarecer-nos sobre o caminho a seguir. Mostrando-nos os inconvenientes do passado, ela nos diz claramente que o único meio de serem evitados no futuro consiste em assentar o Espiritismo sobre as bases sólidas de uma doutrina positiva que nada deixe ao arbítrio das interpretações. As dissidências que possam surgir se fundirão por si mesmas na unidade principal que se estabeleceria sobre as bases mais racionais, desde que essas bases sejam claras e não vagamente definidas. Também ressalta destas considerações que essa marcha, dirigida com prudência, representa o mais poderoso meio de luta contra os antagonistas da Doutrina Espírita. Todos os sofismas quebrar-se-ão de encontro a princípios aos quais a sã razão nada acharia para opor.



Dois elementos hão de concorrer para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de a popularizar.

O desenvolvimento cada dia maior, que ela toma, multiplica as nossas relações, que somente tendem a ampliar-se, pelo impulso que lhe darão a nova edição de O Livro dos Espíritos e a publicidade que se fará a esse propósito.

Para utilizarmos de maneira proveitosa essas relações, se, depois de constituída a teoria, eu tivesse de concorrer para sua instalação, necessário seria que, além da publicação de minhas obras, dispusesse de meios para exercer uma ação mais direta. Ora, creio fora conveniente que aquele que fundou a teoria pudesse ao mesmo tempo impulsioná-la, porque então haveria mais unidade. Sob esse aspecto, a Sociedade tem necessariamente que exercer grande influência, conforme o disseram os próprios Espíritos; sua ação, porém, não será, em realidade, eficiente, senão quando ela servir de centro e de ponto de ligação donde parta um ensinamento preponderante sobre a opinião pública. Para isso, faz-se mister uma organização mais forte e elementos que ela não possui. No século em que estamos e tendo-se em vista o estado dos nossos costumes, os recursos financeiros são o grande motor de todas as coisas, quando empregados com discernimento. Na hipótese de que esses recursos, de um modo ou doutro, me viessem às mãos, eis o plano que eu seguiria e cuja execução seria proporcional à importância dos meios e subordinada aos conselhos dos Espíritos.

Mediunidade e Viciação


Muitos desequilíbrios da mente, no que diz respeito ao comando da organização celular , são conseqüências naturais do descaso que se dá ao aparelho psíquico. Acostumando-se à rebelião dos centros nervosos, o homem encarnado experimenta o impacto de distúrbios de variada classificação, recebendo, através do aparelho neuro-vegetativo, ação desequilibrante que o leva a processos de conduta anormal.

Assim como o corpo se amolenta e se desorganiza por falta de ação positiva, a mente se desarmoniza quando escasseiam os valores-estímulos para o seu desenvolvimento.
Jesus nos ensinou; desde há muito tempo , que, pensando, o ser elabora o domicílio de carne pelo qual jornadeia, e dirigindo o pensamento à Divindade torna-se templo onde a Divindade se acolhe .

Embora a ancianidade do ensinamento, os cristãos, fascinados pelo comando dos valores terrenos, esqueceram as disciplinas mentais, relegando a plano secundário o que, em verdade, representa condição essencial para uma vida sadia.

Como, o advento do Espiritismo, que elucida a razão das conseqüências dos desequilíbrios morais, o cristão novo descobre que o pensamento é o dínamo vitalizador do corpo, através do qual veiculam as energias oriundas do Mundo Espiritual... Nesse particular, a mediunidade, que facunda o intercâmbio entre encarnados e desencarnados, não pode continuar em volta dos mistérios “mistérios’’ clássicos das doutrinas esotéricas do passado nem tão pouco relegada ao descaso da indiferença dos estudiosos, utilizada pela ignorância de uns ou pela inépcia de outros, constituindo-se veículo perigoso ao alcance da irresponsabilidade...

Para que se coroem de êxito quaisquer esforços no exercício mediúnico, esses devem partir do próprio encarnado, que se deve submeter á disciplina austera, em continuados exercícios da dignificação moral.

Estudo sério, ação benfazeja, conduta firme e reta, renovação evangélica constante, aprimoramento infatigável são linhas de segurança para o sucesso no serviço mediúnico.

Nesse particular, que se evitem os hábitos da rotina mental, negativa e perniciosa, que se transformam em cacoetes psíquicos de difícil erradicação. Intercâmbio espiritual através da mediunidade significa permuta entre os dois planos . Por mais física , aparentemente, seja a comunicação, esta é sempre de espírito, utilizando-se o desencarnado das possibilidades do perispírito do médium . O médium é filtro por cuja mente transitam as notícias da vida além-da-vida . Nesse sentido, consideremos a concentração mental de modo diverso dos que a comparam a interruptor de fácil manejo que , acionado, oferece passagem à energia comunicante, sem mais cuidados... A concentração, por isso mesmo, deve ser um estado habitual da mente em Cristo e não uma situação passageira junto ao Cristo.

Graças à indisciplina da mente sacudida pelos ventos da polidéia nascem, durante o labor intercambial, os defeitos e irregularidade que tanto prejudicam o ministério espiritual. Aparecem em tais casos os pontos de fixação psíquica no subconsciente do médium prejudicando a assimilação da mensagem.

Ora, quando a mente desencarnada penetra os círculos vibratórios do médium, este, se desavisado, reflete as deficiências do companheiro que, acostumado à viciação psíquica, não registra as idéias que lhe não sejam habituais.

Quando tal fenômeno sucede, o médium no ato da psicofonia, por exemplo, deixa-se afligir por esgares, tosses, bocejos e, de fácil excitação transmite ao sistema nervoso síndromes do próprio desequilíbrio como se fossem parte integrante do intercâmbio mediúnico. Em enarmonia, produz gritos e ruídos facilmente dispensáveis, gerando um clima de balbúrdia incompatível, por viciação, com a necessária serenidade mental de que se deve revestir o estado de transe. Desse modo a seleção das imagens que transitam pela mente do intermediário sofrem as dificuldades que lhe são peculiares traduzindo ao paladar dos recursos defeituosos que lhe são próprios.

Quem se candidate, pois, ao serviço mediúnico não descure os impositivos da harmonia mental.

Os exercícios de desprendimento das idéias corriqueiras com objetivo de apurar a audição interior não podem ser relegados, transformando-se em meios de sintonização fácil com as mensagens oriundas dos Espíritos.

Jesus, enquanto esteve conosco, na Terra, não poucas vezes deixou o tumulto para ouvir o Pai, orando e comungando com Ele em busca de transcendência inexpressável pelo verbo comum.

Para tanto, porém, não é necessário que o homem moderno se afaste dos deveres a que está ligado, a fim de encontrar a paz interior.

Cultive o médium, todavia, o pensamento nobre, silenciando o tumulto da vozes internas da alma, procurando renovação em Jesus Cristo, cada dia e a toda hora, e, oferecendo o tesouro da boa vontade em favor da aflição alheia, encontrara, na própria libertação, pela MEDIUNIDADE SEM VICIAÇÃO, a sublime “ escada de Jacó” que o conduzira ao páramos da luz, consciente e lúcido como a verdade, descendo para ajudar, sem perigo de contágio de qualquer natureza...

( Livro Sementeira da Fraternidade/Divaldo/MP.Miranda)