domingo, 18 de dezembro de 2011

O Movimento Espírita na Visão de Deolindo Amorim



Deolindo Amorim, um dos grandes espíritas do Brasil, no seu artigo “Problemas Inevitáveis” (1), é de opinião que:“Nem todos, porém, chegam ao Espiritismo pela Doutrina, através da reflexão e da análise.” Daí se pode detalhar didaticamente:a) Reflexão e Análise: Segundo a palavra abalizada de Deolindo Amorim:“Muitos fizeram leituras diversas, antes de conhecerem obras espíritas, procuram o Espiritismo ainda com dúvidas ou dificuldades decorrentes da falta de uma orientação segura”. Por conta dessa falta de elucidação doutrinária, muitos ainda não sabem conscientemente, se é espírita, pois guardam muitas lembranças de sua antiga crença. E essas lembranças dificultam a integração na Doutrina.

b) Idéias Religiosas:
Há pessoas que embora queiram integrar-se na doutrina com sinceridade, ainda sentem certa dificuldade porque não se desligaram de suas crenças recentes. O problema das idéias trazido de outras religiões é de raiz profundo e muito freqüente na Casa Espírita. Essas pessoas trazem um lastro de idéias oriundas da fé em que se educaram; cultivam atos uns tanto religiosos e, por isso mesmo, não absorvem logo o verdadeiro pensamento da Doutrina Espírita em sua simplicidade e sua racionalidade.
Deolindo esclarece que essas pessoas ainda não se desligaram de suas crenças, a não ser superficialmente, logo ainda:
Uns, esperam por “milagres”;
Outros, ainda pensam em termos de “graças dos anjos”;
Há também, aqueles que ainda tem medo de “castigo do céu”; e assim por diante.

São cristalizações de idéias, que se forma no Espírito por força da educação de origem e não se desfazem de uma hora para outra. Não é apenas um problema de tempo, conquanto o tempo seja um fator preponderante; mas é um problema de orientação, antes de tudo. Se essas pessoas não são bem encaminhadas nos seus primeiros contatos com o Espiritismo nos Centros Espíritas que freqüentam e onde deve aprender Espiritismo, continuam com as mesmas idéias pela vida afora. E provavelmente, vão continuar pela vida in-teira:

Pedindo favores a Deus;
Rezando por devoção;
E o que é mais grave, sem saber o que representa o esforço próprio como elemento de transformação da criatura humana;
E desconhecendo, principalmente, a Lei de Causa e Efeito, ensinado pelo Cristo.

Daí, ser uma necessidade premente que o Centro Espírita transmita as informações doutrinárias com a necessária clareza.

Acrescenta Deolindo Amorim:
“Há outra categoria, talvez mais exigente. É a daqueles que, tendo lido um pouco de tudo, ou de quase tudo, e não tendo encontrado um ponto de apoio nem um elemento de convicção, querem que a Doutrina Espírita dê, imediatamente, todas as respostas, já prontas e acabadas.”
Em um outro artigo – “A Doutrina Espírita e as mudanças históricas” (2), esclarece Deolindo que há os que aderem ao Movimento Espírita por:
Entusiasmo,
Simpatia,
Sentimento de gratidão.

Mas, isso logo se vê, que é muito pouco e daí nem to-dos por isso estão identificados com o verdadeiro pensamento espírita.
E afirma então Deolindo:
“Aderir ao movimento espírita não significa aderir à Doutrina em todos os casos.”
E Deolindo faz como uma classificação, explicando que:

Acomodação – são os que se acomodam ao movimento espírita, sem a mínima identificação com a Doutrina.

1. - Acomodação na conceituação do mestre Deolindo é uma forma habilidosa de conviver ou ajustar-se temporariamente à qualquer ambiente, embora sem aceitar as idéias do grupo. É o caso dos elementos que, por necessidade ou por certas conveniências, se acomodam entre nós, fazem que concor-dam com as nossas idéias, dão a impressão de que estão aceitando tudo, mas a verdade é que, no fundo, não aceitam nada do que dizemos. Estão em nosso meio enquanto preci-sam resolver determinado problema. Acomodação, portanto, não é integração.

2. – Adaptação – são as pessoas que se sentem bem no meio espírita, apreciam nossos modos de conviver, colaboram conosco, aceitam tarefas, fazem amizades, mas ainda não se sentem seguras intimamente. Estão apenas adaptadas ao ambiente espírita, mas não se integram ao espírito da Doutrina.

A bem da verdade, podemos dizer que a rubrica 1, também pode ser considerada como a que abrange os “espíritas de contrabando”, de que trata Allan Kardec em “Obras Póstu-mas”.

Na segunda rubrica, podemos também chamá-los de “principiantes espíritas”.
E a partir daí, podemos concluir que há muitas pessoas apenas fazendo número no Movimento Espírita, uma vez que o número dos que estão integrados à Doutrina Espírita é re-duzido.
E assim define Deolindo o processo da:


3. – Integração – que é o processo mais positivo, que só se dá quando a criatura humana, pelo estudo, pela observação, pela reflexão demorada, chega à conclusão de que as suas idéias e os seus valores de outrora já não lhe servem mais, pois agora já tem outra visão da vida e das coisas.


“Quando se sente, afinal, apoiada nos princípios espíritas, quando aceita conscientemente esses princípios, quando já está em condições de dispensar naturalmente a bagagem das crenças antigas, aí sim, está integrada ao Espiritismo. É pela integração na Doutrina que nos preparamos, em suma, para compreender as mudanças e assumir posições de equilíbrio” – encerra Deolindo Amorim.

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Referências:
(1) – publicado no jornal “Mundo Espírita”, de Curitiba(PR), março
de 1976.
(2) – publicado na revista “Aurora”, sem data de publicação, no
entanto ele fez um resumo que apresentou em 1979, no ICEB – Instituto de Cultura Espírita do Brasil.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Bullying - Diferentes faces de um mesmo problema


Bullying diferentes faces de um mesmo problema
Marta Antunes Moura (Reformador - FEB - nov/11)
Estudiosos destacam a importância de aprender a diferenciar as manifestações do bullying dos comportamentos desrespeitosos e das disputas por liderança e poder, usuais nas relações interpessoais. O desrespeito sistemático, contudo, tem raízes culturais (forma de agir de um povo) e familiares (tipo educação doméstica). Já as disputas, entendidas como confrontos entre duas partes, podem apresentar resultados positivos ou negativos. O primeiro evidencia o comportamento das pessoas de bem, assinalado por autoridade moral e/ou intelectual.

Integra as lideranças benéficas impulsionadoras do progresso que ao ampliarem o seu raio de ação se revelam aptas para conquistar o “poder soberano”, que é uma atribuição concedida pelo Criador aos que “conseguirão governar o reino dos corações, o território vivo do espírito, onde se exerce o poder verdadeiro”,1 relata Irmão X em singular história denominada A Lenda do Poder.

O bullying faz parte das ações exacerbadas do outro grupo, pois “o poder almejado e estabelecido pelos bullies [agressores] nunca tem propósitos altruístas. Eles visam ao poder sempre em benefício próprio, seja para divertir ou simplesmente para maltratar outras pessoas que, de maneira covarde, são transformadas em ‘presas’”,2 analisa a conhecida psiquiatra e escritora brasileira Ana Beatriz Barbosa Silva.

Em termos topográficos, o bullying pode ocorrer em qualquer ambiente social: escola, trabalho, internet (cyberbullying), meio militar, penitenciárias etc. São espaços que servem de palco para a demonstração, entre outros, do violento preconceito homofóbico, religioso, racial e socioeconômico dos bullies. No âmbito deste artigo, destacamos o bullying escolar e o cyberbullying.

O jurista mineiro Lélio Braga Calhau apresenta, em livro de sua autoria, significativos resultados de duas pesquisas relacionadas ao bullying escolar. Em estudo realizado pela Universidade Federal do Paraná, há indicações de que no ambiente escolar “33% das 245 crianças entrevistadas declararam sentir-se inseguras”.3 A pesquisa conduzida pela organização não governamental PLAN (ONG--PLAN), em 2010 (disponível no site www.plan.org.br), aponta que “70% da amostra de estudantes respondem ter presenciado cenas de agressões entre colegas, enquanto 30% deles declararam ter vivenciado ao menos uma situação violenta no mesmo período”.3 E tem mais:

[...] o bullying é mais comum nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do País e que a incidência maior está entre os adolescentes na faixa de 11 a 15 anos de idade, alocados na sexta série do ensino fundamental. [...] Já as vítimas são sempre descritas pelos respondentes como pessoas que apresentam alguma diferença em relação aos demais colegas, como algum tipo de necessidade especial, o uso de vestimentas consideradas diferentes, a posse de objetos ou o consumo de bens indicativos de status socioeconômico superior aos demais alunos.3

São evidências que não podem ser ignoradas pelas pessoas conscientes. Neste contexto, o Espírito Amélia Rodrigues nos faz ver que os violentos são doentes da alma que, mesmo após a desencarnação, procedem da mesma da forma:

Nada obstante, os enfermos da alma, logo recuperados dos desgastes físicos, retornam aos conflitos e comportamentos infelizes, sem aproveitarem a oportunidade de reconstruir a vida ditosa. Imantados à matéria, os indivíduos de então como os de hoje, apenas pensam nos resultados concretos, evitando assumir o compromisso de realizarem uma radical mudança de conduta mental e moral, estabelecendo parâmetros para a autorrealização, aquele que conduz à paz.

O bullying nas escolas atinge professores, alunos e funcionários, ainda que os estudantes sejam o alvo mais visado. Há, a propósito, relatos bem apurados de “trotes” violentos a que estudantes foram submetidos, resultando traumas profundos nas vítimas, mutilações irreversíveis e até mesmo morte.5 Esse tipo de violência é sintomático, indica, sobretudo, que é preciso revisar, urgentemente, as bases que sustentam a educação familial e escolar contemporânea, que ainda prioriza o excesso de conhecimento em detrimento do aprendizado moral, que faz “vista grossa” à necessidade da construção da cidadania, aliás determinada no artigo 22 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) (Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996). Cidadania que “constitui, igualmente, processo construído no dia a dia, permeado de respeito à diversidade, pelo sentimento de pertencimento social e pela decorrente responsabilidade ambiental”.6


Ante tal realidade, a educação espírita surge no cenário como precioso instrumento de auxílio, pois o seu alcance é bem amplo, e dirige-se ao Espírito imortal:

Mas a educação, com o cultivo da inteligência e com o aperfeiçoamento do campo íntimo, em exaltação de conhecimento e bondade, saber e virtude, não será conseguida tão só à força de instrução, que se imponha de fora para dentro, mas sim com a consciente adesão da vontade que, em se consagrando ao bem por si própria, sem constrangimento de qualquer natureza, pode libertar e polir o coração [...].

Cyberbullying ou Ciberbullying é “uma prática que envolve o uso de tecnologias de informação e comunicação para dar apoio a comportamentos deliberados, repetidos e hostis praticados por um indivíduo ou grupo com a intenção de prejudicar outrem”.8 Os bullies virtuais possuem elevado grau de domínio tecnológico. Enviam textos/imagens pela Internet e telefones celulares, via e-mail ou redes sociais de comunicação eletrônica, atingindo numerosos indivíduos com o intuito de ridicularizar, difamar, humilhar ou assediar, sempre que postam boatos, mentiras e rumores:

Essa nova modalidade de bullying vem preocupando especialistas em comportamento humano, pais e professores em todo o mundo. Isso se deve ao fato de ser imensurável o efeito multiplicador do sofrimento das vítimas. Os ataques perversos do ciberbullying extrapolam, em muito, os muros das escolas e de alguns pontos de encontros reais, onde os estudantes se reúnem em território extraclasse (festas, baladas, praças de alimentação em shoppings, cinemas, lanchonetes etc.).9

Os bullies, independentemente das formas por eles utilizadas para ferir o próximo, são mentes muito desorientadas, incluídas na categoria dos Espíritos impuros, de acordo com a Escala Espírita: “inclinados ao mal, de que fazem o objeto de suas preocupações”.10

[...] são perfeitamente classificáveis entre os psicopatas amorais, segundo o conceito de “moral insanity” [insanidade moral], vulgarizado pelos ingleses, demonstrando manifesta perversidade, na qual se revelam constantemente brutalizados e agressivos, petulantes e pérfidos, indiferentes a qualquer noção da dignidade e da honra, continuamente dispostos a mergulhar na criminalidade e no vício.11

Contudo, cedo ou tarde, esses enfermos do espírito serão reeducados na forma da lei humana e dos dolorosos processos reencarnatórios. Assim, o Espírito devedor de hoje será o venturoso de amanhã, por determinação da legislação divina:

Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la pelas provações da vida corpórea. Mas, em sua justiça, Ele lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.12

Referências:

1 XAVIER, Francisco C. Estante da vida. Pelo Espírito Irmão X. 10. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 9, p. 54.
2 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. Cap. 8, p. 145.
3 CALHAU, Lélio Braga. Bullying, o que você precisa saber: identificação, prevenção e repressão. 2. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2010. Cap. 2, it. 2.1, p. 23.
4 FRANCO, Divaldo P. A mensagem de amor imortal. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 2008. Cap. 3, p. 24.
5 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. Cap. 8, p. 147--154.
6 MIRANDA, Simão; DUSI, Miriam. Previna o bullying: jogos para uma cultura de paz. Campinas, SP: Papirus, 2011. Introdução, p. 15.
7 XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. 2.reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 5,p. 27.
8 CYBERBULLYING. Disponível em: ou em – concebido e criado por Bill Belsey, criador e moderador do site .
9 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. Cap. 7, p. 126.
10 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 102.
11 XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 24, it. Reencarnação de enfermos, p. 189.
12 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB. 2011. Comentário de Kardec à q. 171.

Centros Espíritas como meros clubes de lazer.


Dr. Bezerra de Menezes por Ivone A. Pereira

As vibrações disseminadas pelos ambientes de um Centro Espírita, pelos cuidados dos seus tutelares invisíveis; os fluidos úteis necessários aos variados quão delicados trabalhos que ali se devem processar, desde a cura de enfermos até a conversão de entidades desencarnadas sofredoras e à fé mesmo a oratória inspirada pelos instrutores espirituais, são elementos essenciais, mesmo indispensáveis a certa série de exposições movidas pelos obreiros da imortalidade a serviço da Terceira Revelação. Essas vibrações, esses fluidos especializados, muito sutis e sensíveis, hão de conservar-se imaculados, portando, intactas, as virtudes que lhe são naturais e indispensáveis ao desenrolar dos trabalhos, porque, assim não sendo, se mesclarão de impurezas prejudiciais aos mesmos trabalhos, por anularem as suas profundas possibilidades. Daí porque a Espiritualidade esclarecida recomenda, aos adeptos da Grande Doutrina, o máximo respeito nas assembléias espíritas, onde jamais deverão penetrar a frivolidade e a inconseqüência, a maledicência e a intriga, o mercantilismo, o ruído e as atitudes menos graves, visto que estas são manifestações inferiores do caráter e da inconseqüência humana, cujo magnetismo, para tais assembléias e, portanto, para a agremiação que tais coisas permite, atrairá bandos de entidades hostis e malfeitoras do invisivel, que virão a influir nos trabalhos posteriores, a tal ponto que poderão adulterá-los ou impossibilita-los, uma vez que tais ambientes se tornarão incompatíveis com a Espiritualidade iluminada e benfazeja.

Um Centro Espírita onde as vibrações dos seus freqüentadores, encarnados ou desencarnados, irradiem de mentes respeitosas, de corações fervorosos, de aspirações elevadas; onde a palavra emitida jamais se desloque para futilidades e depreciações; onde, em vez do gargalhar divertido,
se pratique a prece; em vez do estrépito de aclamações e louvores indébitos se emitam forças telepáticas à procura de inspirações felizes; e ainda onde, em vez de cerimônias ou passa-tempos mundanos, cogite o adepto da comunhão mental com os seus mortos amados ou os seus guias espirituais, um Centro assim, fiel observador dos dispositivos recomendados de início pelos organizadores da filosofia espírita, será detentos da confiança da Espiritualidade esclarecida,
a qual o levará à dependência de organizações modelares do Espaço, realizando-se então, em seus recintos, sublimes empreendimentos, que honrarão os seus dirigentes dos dois planos da Vida. Somente esses, portanto, serão registrados no Além-Túmulo como casas beneficentes, ou templos do Amor e da Fraternidade, abalizados para as melindrosas experiências espíritas, porque os demais, ou seja aqueles que se desviam para normas ou práticas extravagantes ou inapropriadas, serão, no Espaço, considerados meros clubes onde se aglomeram aprendizes do Espiritismo em horas de lazer.

(Do Livro “Dramas da Obsessão”, de Bezerra de Menezes, psicografado por Ivone A.Pereira

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Apontamentos de Kardec sobre Provações Coletivas



QUESTÃO — O Espiritismo explica perfeitamente a causa dos sofrimentos individuais, como conseqüências imediatas das faltas cometidas na existência precedente, ou como expiação do passado; mas, uma vez que cada um só é responsável pelas suas próprias faltas, não se explicam satisfatoriamente as desgraças coletivas que atingem as aglomerações de indivíduos, às vezes, uma família inteira, toda uma cidade, toda uma nação, toda uma raça, e que se abatem tanto sobre os bons, como sobre os maus, assim sobre os inocentes, como sobre os culpados.

Resposta. — Todas as leis que regem o Universo, sejam físicas ou morais, materiais ou intelectuais, foram descobertas, estudadas, compreendidas, partindo-se do estudo da individualidade e do da família para o de todo o conjunto, generalizando-as gradualmente e comprovando-se-lhes a universalidade dos resultados.

Outro tanto se verifica hoje com relação às leis que o estudo do Espiritismo dá a conhecer. Podem aplicar-se, sem medo de errar, as leis que regem o indivíduo à família, à nação, às raças, ao conjunto dos habitantes dos mundos, os quais formam individualidades coletivas. Há as faltas do indivíduo, as da família, as da nação; e cada uma, qualquer que seja o seu caráter, se expia em virtude da mesma lei. O algoz, relativamente à sua vítima, quer indo a encontrar-se em sua presença no espaço, quer vivendo em contacto com ela numa ou em muitas existências sucessivas, até à reparação do mal praticado. O mesmo sucede quando se trata de crimes cometidos solidariamente por um certo número de pessoas. As expiações também são solidárias o que não suprime a expiação simultânea das faltas individuais.

Três caracteres há em todo homem: o do indivíduo, do ser em si mesmo; o de membro da família e, finalmente, o de cidadão.


Sob cada uma dessas três faces pode ele ser criminoso e virtuoso, isto é, pode ser virtuoso como pai de família, ao mesmo tempo que criminoso como cidadão e reciprocamente. Daí as situações especiais que para si cria nas suas sucessivas existências.
Salvo alguma exceção, pode-se admitir como regra geral que todos aqueles que numa existência vêm a estar reunidos por uma tarefa comum já viveram juntos para trabalhar com o mesmo objetivo e ainda reunidos se acharão no futuro, até que hajam atingido a meta, isto é, expiado o passado, ou desempenhado a missão que aceitaram.
Graças ao Espiritismo, compreendeis agora a justiça das provações que não decorrem dos atos da vida presente, porque reconheceis que elas são o resgate das dívidas do passado. Por que não haveria de ser assim com relação às provas coletivas? Dizeis que os infortúnios de ordem geral alcançam assim o inocente, como o culpado; mas, não sabeis que o inocente de hoje pode ser o culpado de ontem? Quer ele seja atingido individualmente, quer coletivamente, é que o mereceu. Depois, como já o dissemos, há as faltas do indivíduo e as do cidadão; a expiação de umas não isenta da expiação das outras, pois que toda dívida tem que ser paga até à última moeda. As virtudes da vida privada diferem das da vida pública.


Um, que é excelente cidadão, pode ser péssimo pai de família; outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus negócios, pode ser mau cidadão, ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado as mãos em crimes de lesa-sociedade.

Essas faltas coletivas é que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se encontram de novo reunidos, para sofrerem juntos a pena de talião, ou para terem ensejo de reparar o mal que praticaram, demonstrando devotamento à causa pública, socorrendo e assistindo aqueles a quem outrora maltrataram. Assim, o que é incompreensível, inconciliável com a justiça de Deus, se torna claro e lógico mediante o conhecimento dessa lei.
A solidariedade, portanto, que é o verdadeiro laço social, não o é apenas para o presente; estende-se ao passado e ao futuro, pois que as mesmas individualidades se reuniram, reúnem e reunirão, para subir juntas a escala do progresso, auxiliando-se mutuamente. Eis aí o que o Espiritismo faz compreensível, por meio da eqüitativa lei da reencarnação e da continuidade das relações entre os mesmos seres. (Clélia Duplantie - Espíritor)

NOTA de Kardec — Conquanto se subordine aos conhecidos princípios de responsabilidade pelo passado e da continuidade das relações entre os Espíritos, esta comunicação encerra uma idéia de certo modo nova e de grande importância. A distinção que estabelece entre a responsabilidade decorrente das faltas individuais ou coletivas, das da vida privada e da vida pública, explica certos fatos ainda mal conhecidos e mostra de maneira mais precisa a solidariedade existente entre os seres e entre as gerações.
Assim, muitas vezes um indivíduo renasce na mesma família, ou, pelo menos, os membros de uma família renascem juntos para constituir uma família nova noutra posição social, a fim de apertarem os laços de afeição entre si, ou reparar agravos recíprocos.
Por considerações de ordem mais geral, a criatura renasce no mesmo meio, na mesma nação, na mesma raça, quer por simpatia, quer para continuar, com os elementos já elaborados, estudos começados, para se aperfeiçoar, prosseguir trabalhos encetados e que a brevidade da vida não lhe permitiu acabar. A reencarnação no mesmo meio é a causa determinante do caráter distintivo dos povos e das raças. Embora melhorando-se, os indivíduos conservam o matiz primário, até que o progresso os haja completamente transformado.




fonte: Obras Póstumas - Allan Kardec

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Reencarnar é uma lei natural - Uma reflexão


A reencarnação não é de origem ocidental, foi emprestada das religiões orientais, principalmente hinduísta.
É o mesmo que:
1. “palingenesia”,
2. pluralidade de existências,
3. vidas sucessivas,
4. transmigração da alma

A Alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, pode acabar de depurar-se sofrendo a prova de uma nova existência. Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal. Todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles. (O Livro dos Espíritos, 166)


O dogma da reencarnação se funda na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento.
Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se?


Não são filhos de Deus todos os homens?


Todos_os_Espíritos_tendem_para_a_perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova. – O Livro dos Espíritos, 171

O Porquê da Vida – (Léon Denis)
Pelo que respeita às religiões, que asiáticos, bramanistas e budistas, partilham da nossa crença.


Dela partilharam também os egípcios, os gregos e os celtas, nossos antepassados. Por conseguinte, ela faz parte da nossa verdadeira herança nacional.


Vimos que o Cristianismo primitivo dela esteve impregnado até ao século quarto.


Presentemente a encontramos mesmo no Islamismo, sob a forma de certas suratas do Alcorão. Segue-se que a reencarnação é ou foi admitida em todas as religiões.


Só o Catolicismo e os outros ramos do moderno Cristianismo escapam à regra universal, desde que fizeram silêncio e mergulharam em trevas certas passagens da Escritura que afirmavam as vidas anteriores.


A Filosofia colheu dela as mais belas inspirações. Pitágoras, que a ensinou, foi considerado um gênio por toda a AntigUidade. Platão recebeu o cognome de «divino», mesmo dos Pais da Igreja do Oriente.


A Escola de Alexandria, com a sua plêiade de escritores Filon, Plotino, etc. — lhe deveu suas obras mais brilhantes.


Kant, Spinoza a entreviram e, mais recentemente, a lista dos homens ilustres que a adotaram desde Victor Hugo até Mazzini, ocuparia uma página inteira.


Ainda neste momento ela reaparece nas teorias de Bergson, que parecem destinadas a revolucionar todo o pensamento contemporâneo.


Quanto à moral, essa só tem que beneficiar da doutrina das vidas sucessivas.


A convicção de ser ele próprio o artífice de seus destinos, de que tudo o que fizer, de mau ou de bom, recairá sobre a sua cabeça como sombras ou raios de luz, servirá ao homem de estímulo para a sua marcha ascendente e o obrigará a vigiar escrupulosamente seus atos. Cada uma das nossas existências, boas ou más, sendo a conseqüência rigorosa das que a precederam e a preparação das que hão de seguir-se, nos males da vida veremos o corretivo necessário das nossas faltas passadas e hesitaremos em recair nelas. Esse corretivo será muito mais eficaz do que o temor dos suplícios_do_inferno, nos quais ninguém mais crê, nem mesmo os que deles falam com uma segurança mais fingida do que real.


O princípio das reencarnações tudo aclara.
Todos os problemas se resolvem.
A ordem e a justiça surgem no Universo.
A vida toma um caráter mais nobre, mais elevado.
Torna-se a conquista gradual, pelos nossos esforços amparados do Alto, de um futuro sempre melhor.
O homem sente engrandecer-se a sua fé, a sua confiança em Deus e, desta concepção larga, a vida social recebe profundas repercussões.
Ao inverso, não é uma idéia pobre e lamentável a que consiste em acreditar que Deus nos concede uma única vida para nos melhorarmos e progredirmos?

Pois quê! Uma existência que não dura mais do que alguns anos, alguns meses e, para muitos, algumas horas apenas, que é de oitenta ou cem anos para outros, tão desarmônica conforme as condições e os meios em que nos achamos colocados, conforme as faculdades e recursos que nos são outorgados, pode constituir o eixo único sobre o qual repouse todo o conjunto dos nossos destinos imortais?
- Léon Denis, livro: O Porquê da Vida



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“Antes de nascer, a criança já viveu e a morte não é o fim, A vida é um evento que passa como o dia solar que renasce”. (de um papiro egípcio de 5000 anos)

Reencarnação é o retorno sucessivo de um mesmo Espírito à vida em diferentes corpos. Reencarnar é uma lei tão natural quanto nascer, viver ou morrer. “Se é assim – poderão perguntar – por que, então, a ciência a desconhece?” O motivo é simples: como tudo o que é humano, o conhecimento científico também é progressivo. A verdade das academias é sempre provisória. Qualquer colegial de hoje considera normais inúmeros fatos que ontem eram totalmente ignorados pelos cientistas: o movimento da Terra, as partículas menores que o átomo, a composição química da água, etc. Diariamente a ciência revê suas teses da véspera. Mas o conhecimento humano só avança através de pesquisa e, em geral, os que negam a teoria da reencarnação jamais a estudaram seriamente. Entretanto, alguns cientistas de renome que a pesquisaram concluíram tratar-se de fato inegável: Thomas Edson (inventor da lâmpada elétrica), William Crookes (famoso físico e químico falecido em 1919), Charles Richet (Prêmio Nobel de Medicina de 1913), e tantos outros.
Atualmente, muitas universidades já possuem grupos de pesquisa sobre este importante tema. Certamente chegará o dia em que a reencarnação também constará daquela lista progressiva de assuntos “corriqueiros”. “De onde se origina a certeza dos Espíritas sobre esta questão? Em que se baseiam para a afirmarem com tanta convicção?” Estas são perguntas freqüentes e cabíveis. Merecem resposta.

Cumpre esclarecer, que a reencarnação não foi inventada pelos Espíritas: é uma das idéias mais antigas da Humanidade. Um papiro egípcio de 3000 A.C. já a menciona. Outro, mais recente, denominado “Papiro Anana” (1320 A.C.), diz: “O homem retorna à vida varias vezes, mas não se recorda de suas pretéritas existências, exceto algumas vezes em sonho. No fim, todas essas vidas ser-lhe-ão reveladas.”

Na Grécia clássica, Pitágoras (580 a 496 A.C.); já divulgava o reencarnacionismo. No diálogo Phedon, Platão cita Sócrates (469 a 399 A.C): “É. certo que há um retorno à vida, que os vivos nascem dos mortos”. Esta mesma certeza consta da maioria das religiões antigas, como o Hinduísmo, Budhismo, Druidismo, etc. “Mas estas são religiões primitivas, não merecem crédito!” – dirão alguns.

A reencarnação está também na Bíblia. Jeremias (1:4-5): “Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: Antes que eu te formasse no ventre de tua mãe, te conheci; e, antes que tu saísses do seu seio, te santifiquei e te estabeleci profeta entre as nações.” Ou, no Novo Testamento: “Digo-vos, porém, que Elias já veio e não o reconheceram.” (…) “Então os discípulos compreenderam que (Cristo) lhes tinha falado de João Batista.” (Mateus, XVII, 12-13). E ainda: “Não pode ver o Reino de Deus, senão aquele que nascer de novo.” (Jesus, em João, III, 3).

A convicção dos Espíritas, entretanto, decorre de outras razões: Se entendemos que não existe acaso – pois todo efeito possui uma causa – e se cremos que Deus é Justo, somente a reencarnação explicará as diferenças econômicas, sociais, físicas e morais entre os homens. Somente ela é compatível com o conceito de evolução, também evidente em toda a natureza. É ela que confere sentido à existência humana. E, também, a única explicação racional para o “deja vu”, esta sensação comum de já conhecermos pessoas ou lugares que nunca vimos. Além disso, a reencarnação é confirmada universalmente por todos os Espíritos Superiores, assim chamados pela coerência e pela elevação moral e intelectual que demonstram no conjunto de suas mensagens mediúnicas.

Por outro lado, a hipótese de que tenhamos uma única vida é inteiramente incompatível com a admirável perfeição existente em todo o universo conhecido. A idéia de que, após a morte do corpo, nossas individualidades se percam em um “grande nada” é, esta sim, insustentável, pois a própria ciência já descobriu que “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Assim, se temos tantas evidências à favor da reencarnação, o que nos oferecem contra a mesma? Apenas a simples opinião dos materialistas e de algumas igrejas. Quais os seus argumentos? Ainda não os apresentaram.

Revista Espírita Allan Kardec, nº 37.

Espíritas pela Segunda Vez


O número dos reencarnados detentores de conhecimento anterior do Espiritismo aumenta e aumentará a cada dia.
Quanto mais a individualidade consciente mentalize o Mundo Espiritual numa vida física, mais facilidades obtém para lembrar-se dele em outra.
A militança doutrinária, o exercício da mediunidade ou a responsabilidade espírita vincam a alma de profundas e claras percepções que transpõem a força amortecedora da carne.
Os princípios espíritas, a pouco e pouco, automatiizar-se-ão no cosmo da mente, através de reflexos morais condicionados pela criatura, assentados no sentimento intuitivo da existência de Deus e no pressentimento da sobrevivência após a morte que todos carregam no imo do ser.
Daí nasce o valor inapreciável da leitura, da meditação e da troca de idéias sobre as verdades que o Espiritismo encerra e a sua conseqüente realização no dia-dia terrestre.
Estudar e exercer as obrigações de caráter espírita é construir para sempre, armazenar para o futuro, libertar-se de instintos e paixões inferiores, rasgar e ampliar horizontes e perspectivas que enriqueçam as idéias inatas, destinadas a se desdobrarem quais roteiros de luz, na época da meninice e da puberdade, nas existências próximas.
A maior prova da eternidade do Espiritismo, nos caminhos humanos, é essa consolidação de seus postulados na consciência, de vida em vida, de século em século, esculpindo a memória, marcando a visão, desentranhando a emotividade, sulcando a inteligência e plasmando idéias superiores nos recessos do espirito.
A Terra recepciona atualmente a quinta geração de profitentes do Espiritismo, composta de número maior de criaturas que receberão a responsabilidade espírita pela segunda vez. Esse evento, de suma importância na Espiritualidade, reclama vigilante dedicação dos pais, mais viva perseverança dos médiuns, mais acentuada abnegação dos evangelizadores da infância, maior compreensão de todos.
Um exemplo de alguém, uma página isolada, um livro que se dá, um fato esclarecedor, uma opinião persuasiva, uma contribuição espontânea, erigir-se-ão, muita vez, por recurso mais ativo na excitação dessas mentes para a verdade, catalisando-lhes as reações de reminiscências adormecidas, que ressoarão à guisa de clarins na acústica da alma.
Amigo, o Espiritismo é a nossa Causa Comum. Auxilia os novos-velhos mergulhadores da carne, divide com eles os valores espirituais que possuis. Oferece-lhes a certeza de tua convicção, a alegria de tua esperança, a caridade de tua ação.
Se eles descem à tua procura, é indispensável recordes que esses companheiros reencarnantes contigo e o teu coração junto deles "serão conhecidos", na Vida Maior,"por muito se amarem".
CARLOS LOMBA – do livro Seareiros de Volta

domingo, 6 de novembro de 2011

Resumo da História de nossa Sociedade Espírita 2012



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A Casa do Caminho (Jerusalém após morte de Jesus); A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 1º de janeiro 1858 e A Sociedade Espírita Caminho da Paz – João Pessoa, PB em 06/11/2011
Trazemos aqui hoje as singularidades da trajetória de três instituições que tiveram e tem o mesmo propósito: “Divulgar a Boa Nova” iniciada por Jesus, consolidada pela Doutrina Espírita via Allan Kardec e os Espíritos e hoje sendo divulgada pela instituições espíritas, dentre elas a nossa Sociedade Espírita Caminho da Paz, aqui em João Pessoa, Paraíba, Terra do Sol.
Iniciando a trajetória vamos encontrar as primeiras narrativas sobre a fundação da Casa do Caminho em Jerusalém: Após a ressurreição e a ascensão de Jesus, os Doze Apóstolos voltaram para Jerusalém, como o Senhor lhes havia ordenado (Lc 24:52; Atos 1: 12-13). E cheios de júbilo (Lc 24:52) principiaram a realizar a orientação anteriormente recebida:
"Ide, fazei discípulos de todas as nações, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século" (Mt 28: 19-20). E Marcos informa que eles "pregaram por toda a parte, cooperando o Senhor com eles e confirmando a palavra por meio de sinais" (Mc 16:20) ("sinais" = "milagres").
Os Doze começaram a fazer reuniões em residências (isto é, não públicas), nas quais relembravam os ensinos do Mestre, partiam o pão e oravam.
As reuniões cresceram, pois aos primeiros discípulos juntaram-se outros; aos poucos as pregações foram tornando-se públicas.
Os seguidores de Jesus - que ainda não eram chamados "cristãos", mas "nazarenos"- começaram a formar comunidades (grupos) dentro do Judaísmo. Os discípulos de Jesus foram chamados "cristãos" pela primeira vez na comunidade (igreja) de Antioquia (da Síria), segundo Atos 11:26; diz a tradição que foi proposta de Lucas.
Surge então: A Casa do Caminho a primeira comunidade cristã na história da humanidade e um marco na história do cristianismo. Simão Pedro, o seu fundador, presidiu-lhe os destinos, ajudado pelos apóstolos Natanael (Bartolomeu), Thiago (filho de Zebedeu), Filipe e João. Os demais apóstolos saíram para difundir o evangelho de Jesus entre os povos gentios, sendo na sua maioria martirizados.
Conta-se que o casarão principal era um pavilhão singelo não mais que um grande galpão sustentado por paredes frágeis, carentes de todo e qualquer conforto. No princípio as atividades eram basicamente assistenciais. Depois, com a chegada de Estevão, Prócoro, Nicanor, Parmenas, Nicolau, Timon e Barnabé foi construída uma casa em anexo para as atividades de oração e evangelização.
As necessidades e dificuldades com a manutenção da casa eram tantas que Paulo, numa de suas visitas à Casa do Caminho, em diálogo com Pedro, ponderou: "precisamos encontrar um meio de libertar as verdades evangélicas do convencionalismo humano. Precisamos instalar aqui, elementos de serviço que habilitem a casa a viver de recursos próprios. Numa outra passagem pela Casa do Caminho, Paulo acrescentou: "poderemos atender a muitos doentes, ofertar um leito de repouso aos mais infelizes; mas sempre houve e haverá corpos enfermos e cansados na Terra. Na tarefa cristã, semelhante esforço não pode ser esquecido, mas a iluminação do espírito deve estar em primeiro lugar. Desde então os séculos rolaram sobre os séculos. As igrejas se multiplicaram, mas a Casa do Caminho não resistiu às injunções humanas e às perseguições do sacerdócio organizado e desapareceu. Mas deixou, para todos nós, o legado de um novo sistema de viver e conviver em comunidade, com espírito cristão de abnegação e de fraternidade.

Dando prosseguimento aos Planos Divinos ressurge O Consolador Prometido por Jesus...
Em nossa viagem pelo tempo e de Jerusalém vamos nos encontrar no ano de 1854 agora na Europa onde as mesas davam sinais de vida. Surgem as mesas girantes. Hippolyte Léon Denizard Rivail é convocado pela Espiritualidade para assistir tais fenômenos e diante dos fatos assume o papel que lhe é designado e no dia 1o de abril de 1858, menos de um ano após o lançamento da primeira edição de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, a primeira entidade espírita oficialmente constituída...
Observa-se, então, que antes da constituição da Sociedade o grupo utilizava um nome provisório – Cercle Parisienne des Études Spirites – e foi assim que se reuniu todas as terças-feiras na Rua dos Mártires nº 8, na residência particular de Rivail em Paris, por um período aproximado de seis meses antes da fundação da Société Parisienne des Études Spirites.
Como não era nada cômoda essa situação, alguns dos freqüentadores resolveram cotizar-se para alugar um local mais amplo. Para isso, era imprescindível uma autorização legal, evitando-se problemas com as autoridades constituídas. E desta forma Allan Kardec deu continuidade aos trabalhos para a conclusão da Codificação Espírita...


Desde a Casa do Caminho à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas 18 séculos se passaram e agora já estamos no século XXI e na Sociedade Espírita Caminho da Paz, aqui em João Pessoa, na Paraíba, terra do sol...
AH! Quantas histórias para contar sobre nós aqui,
Como foi que surgiu a idéia de se constituir esta instituição?
Vocês, nós, já imaginamos o de que é capaz um grupo de pessoas, pensando, trabalhando e vivendo harmoniosamente os mesmos objetivos e ideais nobres, em nome da sua melhoria pessoal, mas também da melhoria dos demais, somando suas forças e seus esforços, reunidos humildemente numa Sociedade Espírita que seja conduzido estritamente consoante a Doutrina Espírita? Seriam capazes de verdadeiros prodígios, vocês, nós assim diríamos por certo.
E assim surgiu a Sociedade Espírita Caminho da Paz, iniciando suas atividades 5 de novembro de 1996, instalando sua primeira diretoria e implantando seu Estatuto em 5 de novembro de 2004 e 06 de novembro 2010 materializando fisicamente no Planeta Terra e hoje, 06/11/2011 comemorando mais um ano.
Tem como Missão “Promover o estudo, a prática e a difusão do Espiritismo, com base nas obras da Codificação de Allan Kardec e no Evangelho de Jesus; a prática da caridade espiritual, moral e material, dentro dos princípios espíritas; e a união solidária e a integração no Movimento Espírita, colocando o Espiritismo ao alcance e a serviço de todos.”
Portanto, a Sociedade Espírita Caminho da Paz, não é um sonho...é hoje uma realidade.













terça-feira, 1 de novembro de 2011

As relações da ciência espírita com as ciências acadêmicas


As relações da ciência espírita com as ciências acadêmicas
Questões acerca da natureza do Espiritismo -
Este artigo examina brevemente alguns aspectos das relações entre a ciência espírita e as ciências acadêmicas, destacando-se a esclarecida e firme postura de Allan Kardec a esse respeito.

Questão:
Na época do surgimento do Espiritismo alguém que se dedicasse à pesquisa dos fenômenos mediúnicos e não se inclinasse a considerá-los como fantasias ou fraudes arriscava-se a cair em descrédito nos meios científicos e acadêmicos. Houve alguma mudança nessa postura? Ainda existe antagonismo entre ciência e espiritualismo? A ciência é necessariamente materialista?
Resposta:
Existe, como está implícito nas considerações feitas no artigo precedente, um certo grau de conservadorismo na “ciência-comunidade”, e as análises filosóficas contemporâneas reconhecem aí um requisito importante de uma ciência madura. A compreensão desse ponto paradoxal requer estudos especializados. Em alguns artigos sobre a ciência espírita (ver referências bibliográficas) procurei indicar o papel daquilo que o filósofo da ciência Imre Lakatos chamou de “heurística negativa” de uma ciência. Trata-se, de forma simplificada, da decisão metodológica explícita ou tácita dos membros de uma comunidade científica de preservar, tanto quanto possível, o núcleo de leis fundamentais de seu programa científico de pesquisa.
Lakatos argumentou convincentemente que sem essa política conservadora moderada e racional o desenvolvimento científico ficaria inviabilizado. É somente quando condições excepcionais se reúnem, envolvendo o fracasso sistemático do programa de pesquisa em resolver problemas teóricos e de ajuste empírico que o núcleo do programa é revisto ou rejeitado. Na atividade normal da ciência os ajustes e desenvolvimentos teóricos se dão em partes menos centrais da malha teórica, que Lakatos denominou de “cinturão protetor” de leis auxiliares.
Menciono isso para ressaltar que a relutância da comunidade científica em aceitar uma nova teoria sobre o ser humano, como é o caso do Espiritismo, é natural e esperada. Cumpre notar que o Espiritismo trata de coisas que escapam ao domínio das ciências ordinárias, cujo objeto de estudo são os fenômenos e leis pertinentes à matéria. Detenhamo-nos um pouco mais sobre esse ponto.
Um elemento central na análise da ciência é a distinção entre teoria, método e objeto de estudo. As diversas ciências distinguem-se entre si, em primeira instância, por seus objetos de estudo, os conjuntos de fenômenos que investigam. Fenômenos mecânicos, elétricos, magnéticos e nucleares, por exemplo, são do escopo da física; a formação e dissociação de moléculas constitui objeto de estudo da química; a vida, em muitas de suas expressões, é examinada pela biologia. Existem, naturalmente, pontos de contato, interseções e hibridações entre as ciências, mas isso não dilui a distinção fundamental entre elas.
Ora, dada a diversidade de objetos de estudo, haverá diferenças expressivas nos métodos e características teóricas das várias ciências. A identificação de elementos comuns entre elas é tarefa mais difícil do que à primeira vista parece, constituindo um tópico dos mais importantes da área da filosofia denominada filosofia da ciência.
Nos artigos mencionados procurei apresentar alguns traços importantes dessa disciplina, em conexão com o exame do aspecto científico do Espiritismo. Uma tese central neles defendida é que o Espiritismo, tal como estruturado por Allan Kardec, exibe todas as características de uma genuína ciência, à luz da filosofia da ciência contemporânea. Não se deve, porém, confundir o fato de o Espiritismo ser uma ciência com a suposição falsa de que ele é parte das ciências acadêmicas, que tratam de fenômenos referentes à matéria.
No parágrafo 7 da Introdução de O Livro dos Espíritos Kardec discorre lucidamente sobre o assunto, de uma perspectiva filosófica bem avançada para sua época, concluindo seguramente que “o Espiritismo não é da alçada da ciência”, isto é, das ciências acadêmicas. Retoma essa análise de forma mais extensa em O que é o Espiritismo, onde encontramos, por exemplo, este interessante raciocínio no capítulo I, segundo diálogo, seção “Oposição da ciência”:
As ciências vulgares repousam sobre as propriedades da matéria, que se pode, à vontade, manipular; os fenômenos que ela produz têm por agentes forças materiais.
Os do Espiritismo têm como agentes inteligências que possuem independência, livre-arbítrio e não estão sujeitas aos nossos caprichos; por isso eles escapam aos nossos processos de laboratório e aos nossos cálculos, e, desde então, ficam fora dos domínios da Ciência propriamente dita.
A Ciência enganou-se quando quis experimentar os Espíritos como o faz com uma pilha voltaica; foi mal sucedida, como devia ser, porque agiu pressupondo uma analogia que não existe; e depois, sem ir mais longe, concluiu pela negação, juízo temerário que o tempo se encarrega de ir emendando diariamente, como já fez com tantos outros [...].
As corporações científicas não devem, nem jamais deverão, pronunciar-se nesta questão; ela está tão fora dos limites do seu domínio como a de decretar se Deus existe ou não; é, pois, um erro tomá-las aqui por juiz.
No primeiro capítulo de A Gênese, parágrafo 16, Kardec salienta, a esse propósito, que estudando domínios diferentes e complementares “o Espiritismo e a ciência completam-se reciprocamente”.
A autonomia do Espiritismo com relação às ciências ordinárias parece estar suficientemente demonstrada (não aqui, neste breve resumo, evidentemente, mas nos extensos estudos feitos por Kardec e outros pensadores espíritas). Preocupa a incompleta percepção desse ponto por muitos espíritas em nossos dias, aqueles que pretendem, como dizem, “trazer a ciência para o Espiritismo”. Não se dão conta adequadamente de que o Espiritismo já constitui por si uma ciência independente e vigorosa, e que, ademais, a peculiaridade de seu objeto de estudo torna fora de propósito qualquer hibridação fundamental com as ciências da matéria. Há, é claro, áreas periféricas de contato, como por exemplo, o estudo das enfermidades psicossomáticas, onde pode e deve haver contribuições mútuas.
Não se deve confundir o que estou dizendo com as justificadas críticas já avançadas por Kardec a pessoas que, em nome da ciência ou não, julgam o Espiritismo sem haver examinado atentamente todos os fatos de que trata, bem como sua estrutura teórica. Isso é inadmissível filosófica e cientificamente. Tal atitude infelizmente continua sendo comum, inclusive nos meios acadêmicos. A especialização que caracteriza a formação científica parece mesmo favorecê-la, com também notou Kardec no referido item de O Livro dos Espíritos:
Aquele que se fez especialista prende todas as suas idéias à especialidade que adotou. Tirai-o daí e o vereis sempre desarrazoar, por querer submeter tudo ao mesmo cadinho: conseqüência da fraqueza humana.
Na pergunta formulada alude-se também à questão mais geral da posição da ciência acerca do espiritualismo. Conforme em outras palavras ressaltou Aécio Chagas em alguns de seus artigos mencionados na lista de referências, não faz muito sentido discutir se as ciências acadêmicas, enquanto conhecimento, são materialistas ou não. Foram concebidas expressamente para descrever e explicar exclusivamente os fenômenos materiais, não tendo nada a dizer sobre a disputa materialismo versus espiritualismo, que gira em torno da questão da existência de algo além da matéria.
Se se pergunta agora se a comunidade científica acadêmica é materialista ou não, a questão faz sentido, mas só admite resposta estatística, visto que a convicção pessoal de cada um de seus integrantes acerca desse problema filosófico não constitui critério necessário ou suficiente para a sua admissão na profissão. Parece certo que significativa parcela dos cientistas atuais é materialista, mas isso talvez apenas reflita o padrão geral de crença das sociedades nas quais mais prosperam as ciências, como sugere o Prof. Chagas.
Seja como for, nós espíritas não devemos nos inquietar com isso, como advertiu Kardec ainda no mesmo parágrafo de O Livro dos Espíritos, de onde extrairei mais este trecho, para concluir:
O Espiritismo é o resultado de uma convicção pessoal, que os cientistas, como indivíduos, podem adquirir, abstração feita de sua qualidade de cientistas [...].
Quando as crenças espíritas se houverem difundido, quando estiverem aceitas pelas massas humanas [...], com elas se dará com o que tem acontecido com todas as idéias novas que hão encontrado oposição: os cientistas se renderão à evidência. Lá chegarão, individualmente, pela força das coisas. Até então será intempestivo desviá-los de seus trabalhos especiais, para obrigá-los a se ocupar de um assunto estranho, que não lhes está nem nas atribuições, nem no programa. Enquanto isso não se verifica, os que, sem assunto prévio e aprofundado da matéria, se pronunciam pela negativa e escarnecem de quem não lhes subscrevem o conceito, esquecem que o mesmo se deu com a maior parte das grandes descobertas que fazem honra à Humanidade.


Nota
Artigo publicado em Reformador, novembro de 1999, pp. 344-346.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Grito de Cólera



Grito de Cólera

Lembra-se do instante em que gritou fortemente, antes do almoço?
Por insignificante questão de vestuário, você pronunciou palavras feias em voz alta, desrespeitando a paz doméstica.
Ah! Meu filho, quantos males foram atraídos por seu gesto de cólera!...
A mamãe, muito aflita, correu para o interior, arrastando atenções de toda a casa. Voltou-lhe a dor-de-cabeça e o coração tornou a descompassar-se.
As duas irmãs, que cuidavam da refeição, dirigiram-se precipitadamente para o quarto, a fim de socorrê-la, e duas terças partes do almoço ficaram inutilizadas.
Em razão das circunstâncias provocadas por sua irreflexão, o papai, muito contrariado, foi compelido a esperar mais tempo em casa, chegando ao serviço com grande atraso.
Seu chefe não estava disposto a tolerar-lhe a falta e recebeu-o com repreensão áspera.
Quem o visse, erecto e digno, a sofrer essa pena, em virtude da sua leviandade, sentiria compaixão, porque você não passa de um jovem necessitado de disciplina, e ele é um homem de bem, idoso e correto, que já venceu muitas tempestades para amparar a família e defendê-la. Humilhado, suportou as conseqüências de seu gesto impulsivo, por vários dias, observado na oficina qual se fora um menino vadio e imprudente.
Os resultados de sua gritaria foram, porém, mais vastos.
A mãezinha piorou e o médico foi chamado.
Medicamentos de alto preço, trazidos à pressa, impuseram vertiginosa subida às despesas, e o papai não conseguiu pagar todas as contas de armazém, farmácia e aluguel de casa.
Durante seis meses, toda a sua família, lutou e solidarizou-se para recompor a harmonia quebrada, desastradamente, por sua ira infantil.
Cento e oitenta dias de preocupações e trabalhos árduos, sacrifícios e lágrimas! Tudo porque você incapaz de compreender a cooperação alheia, se pôs a berrar, inconscientemente, recusando a roupa que lhe não agradava.
Pense na lição, meu filho, e não repita a experiência.
Todos estamos unidos, reciprocamente, através de laços que procedem dos desígnios divinos. Ninguém se reúnem ao acaso. Forças superiores impelem-nos uns para os outros, de modo a aprendermos a ciência da felicidade, no amor e no respeito mútuos.
O golpe do machado derruba a árvore de vez.
A ventania destrói um ninho de momento para outro.
A ação impensada de um homem, todavia, é muito pior.
O grito de cólera é um raio mortífero, que penetra o circuito de pessoas em que foi pronunciado e aí se demora, indefinidamente, provocando moléstias, dificuldades e desgostos.
Porque não aprende a falar e a calar, a benefício de todos?
Ajude em vez de reclamar.
A cólera é força infernal que nos distancia da paz divina.
A própria guerra, que extermina milhões de criaturas, não é senão a ira venenosa de alguns homens que se alastra, por muito tempo, ameaçando o mundo inteiro. (Neio Lúcio – Luz no Lar. Cap. 27 )




CÓLERA , s. f. Paixão, irritação, impulso violento contra o que ofende ou indigna; ira; frenesi; raiva; arrebatamento. (Med.) Doença infecciosa aguda, contagiosa, em geral epidêmica, que tem por agente etiológico o víbrio comma ou vibrião colérico e é geralmente caracterizada por diarréia abundante, prostração e cãibras. Também chamada cólera-morbo e mordexim. É erro dizer o cólera; a palavra é feminina.

FRENESI, s.m. Impaciência; impertinência; arrebatamento; (Frenético, adj. Convulsivo, agitado) -_ Dicionário Escolar da Língua Portuguesa.
Como entender o sentimento da cólera nos trâmites da vida humana?
_ A cólera não resolve os problemas evolutivos e nada mais significa que um traço de recordação dos primórdios da vida humana em suas expressões mais grosseiras.
A energia serena edifica sempre, na construção dos sentimentos purificados; mas a cólera impulsiva, nos seus movimentos atrabiliários, é um vinho envenenado de cuja embriaguez a alma desperta sempre com o coração tocado de amargos ressaltos. (O Consolador – Quest. 181.)

 Atrabiliário ou Atrabilioso, adj. Que tem atrabilis; colérico; melancólico; violento.
 Atrabilis, s.f. Imaginário humor ou bílis negra que se julgava causadora da melancolia.
 Bílis, s.f. 2 Núm. Líqüido esverdeado e amargo segregado pelo fígado; fel; mau humor; irascibilidade; hipocondria.

A CÓLERA
Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. IX
9. O orgulho vos induz a julgar-vos mais do que sois; a não suportardes uma comparação que vos possa rebaixar; a vos considerardes, ao contrário, tão acima dos vossos irmãos, quer em espírito, quer em posição social, quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e aborrece. Que sucede então? - Entregais-vos à cólera.
Pesquisai a origem desses acessos de demência passageira que vos assemelham ao bruto, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; pesquisai e, quase sempre, deparareis com o orgulho ferido. Que é o que vos faz repelir, coléricos, os mais ponderados conselhos, senão o orgulho ferido por uma contradição? Até mesmo as impaciências, que se originam de contrariedades muitas vezes pueris, decorrem da importância que cada um liga à sua personalidade, diante da qual entende que todos se devem dobrar.
Em seu frenesi, o homem colérico a tudo se atira: à natureza bruta, aos objetos inanimados, quebrando-os porque lhe não obedecem. Ah! se nesses momentos pudesse ele observar-se a sangue-frio, ou teria medo de si próprio, ou bem ridículo se acharia! Imagine ele por aí que impressão produzirá nos outros. Quando não fosse pelo respeito que deve a si mesmo, cumpria-lhe esforçar-se por vencer um pendor que o torna objeto de piedade.
Se ponderasse que a cólera a nada remedeia, que lhe altera a saúde e compromete até a vida, reconheceria ser ele próprio a sua primeira vítima. Mas, outra consideração, sobretudo, devera contê-lo, a de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não lhe será motivo de remorso fazer que sofram os entes a quem mais ama? E que pesar mortal se, num acesso de fúria, praticasse um ato que houvesse de deplorar toda a sua vida!
Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede se faça muito bem e pode levar à prática de muito mal. Isto deve bastar para induzir o homem a esforçar-se pela dominar. O espírita, ao demais, é concitado a isso por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs. - Um Espírito protetor. (Bordéus, 1863.)
10. Segundo a idéia falsíssima de que lhe não é possível reformar a sua própria natureza, o homem se julga dispensado de empregar esforços para se corrigir dos defeitos em que de boa-vontade se compraz, ou que exigiriam muita perseverança para serem extirpados. E assim, por exemplo, que o indivíduo, propenso a encolerizar-se, quase sempre se desculpa com o seu temperamento. Em vez de se confessar culpado, lança a culpa ao seu organismo, acusando a Deus, dessa forma, de suas próprias faltas. E ainda uma conseqüência do orgulho que se encontra de permeio a todas as suas imperfeições.
Indubitavelmente, temperamentos há que se prestam mais que outros a atos violentos, como há músculos mais flexíveis que se prestam melhor aos atos de força. Não acrediteis, porém, que aí resida a causa primordial da cólera e persuadi-vos de que um Espírito pacífico, ainda que num corpo bilioso, será sempre pacífico, e que um Espírito violento, mesmo num corpo linfático, não será brando; somente, a violência tomará outro caráter. Não dispondo de um organismo próprio a lhe secundar a violência, a cólera tornar-se-á concentrada, enquanto no outro caso será expansiva.
O corpo não dá cólera àquele que não na tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. A não ser assim, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nisso não pode atuar; mas, pode modificar o que é do Espírito, quando o quer com vontade firme. Não vos mostra a experiência, a vós espíritas, até onde é capaz de ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam sob as vossas vistas? Compenetrai-vos, pois, de que o homem não se conserva vicioso, senão porque quer permanecer vicioso; de que aquele que queira corrigir-se sempre o pode. De outro modo, não existiria para o homem a lei do progresso. - Hahnemann. (Paris, 1863.)

Refletindo a Culpa



CULPA

Quando fugimos ao dever, precipitamo-nos no sentimento de culpa, do qual se origina o remorso, com múltiplas manifestações, impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da alma.

E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos reflexos de nossa lembrança amarga, transforma-se num abcesso mental, envenenando-nos, pouco a pouco, e expelindo , em torno, a corrente miasmática de nossa vida íntima, intoxicando o hausto espiritual de quem nos desfruta o convívio.

À feição do ímã, que possui campo magnético específico, toda criatura traz consigo o halo ou aura de forças criativas ou destrutivas que lhe marca a índole, no feixe de raios invisíveis que arroja de si mesma. É por esse halo que estabelecemos as nossas ligações de natureza invisível nos domínios da afinidade.

Operando a onda mental em regime de circuito, por ela incorporamos, quando moralmente desalentados, os princípios corrosivos que emanam de todas as inteligências, encarnadas ou desencarnadas, que se entrosem conosco no âmbito de nossa atividade e influência.

Projetando as energias dilacerantes de nosso próprio desgosto, ante a culpa que adquirimos, quase sempre somos subitamente visitados por silenciosa argumentação interior que nos converte o pesar, inicialmente alimentando contra nós mesmos, em mágoa e irritação contra os outros.

É que os reflexos de nossa defecção, a torvelinharem junto de nós, assimilam, de imediato, as indisposições alheias, carreando para acústica de nossa alma todas as mensagens inarticuladas de revolta e desânimo, angústia e desespero que vagueiam na atmosfera psíquica em que respiramos, metamorfoseando-nos em autênticos rebelados sociais, famintos de insulamento ou de escândalo, nos quais possamos dar pasto à imaginação virulada pelas mórbidas sensações de nossas próprias culpas.

É nesse estado negativo que, martelados pelas vibrações de sentimentos e pensamentos doentios, atingimos o desequilíbrio parcial ou total da harmonia orgânica, enredando corpo e alma nas teias da enfermidade, com a mais complicada diagnose da patologia clássica. A noção de culpa, com todo o séquito das perturbações que lhe são conseqüentes, agirá com os seus reflexos incessantes sobre a região do corpo ou da alma que corresponda ao tema do remorso de que sejamos portadores.

Toda deserção do dever a cumprir traz consigo o arrependimento que, alentado no espírito, se faz acompanhar de resultantes atrozes, exigindo, por vezes, demoradas existências de reaprendizado e restauração.

Cair em culpa demanda, por isso mesmo, humildade viva para o reajustamento tão imediato quanto possível de nosso equilíbrio vibratório, se não desejamos o ingresso inquietante na escola das longas reparações.

É por essa razão que Jesus, não apenas como Mestre Divino mas também como Sábio Médico, nos aconselhou a reconciliação com os nossos adversários, enquanto nos achamos a caminho com eles, ensinando-nos a encontrar a verdadeira felicidade sobre o alicerce do amor puro e do perdão sem limites.



extraído do livro Pensamento e Vida - Chico/Emmanuel

domingo, 23 de outubro de 2011

9 de outubro de 1861




Auto-de-fé Barcelona:



Esta data ficará assinalada nos anais do Espiritismo, por motivo do auto-de-fé praticado com os livros espíritas em Barcelona. Eis aqui um extrato da ata da execução:
“Neste dia, nove de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, às dez horas e meia da manhã, na esplanada
da cidade de Barcelona, no local onde são executados os criminosos condenados ao derradeiro suplício e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber: O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec, etc.”
Os principais jornais da Espanha deram conta minuciosa do fato, que os órgãos da imprensa liberal do país muito justamente profligaram. É de notar-se que na França os periódicos liberais se limitaram a mencioná-lo sem comentários. O próprio Século, tão ardoroso em estigmatizar os abusos do poder e os menores atos de intolerância do clero, não achou uma palavra de reprovação para esse ato digno da Idade Média. Alguns jornais da pequena imprensa acharam mesmo no caso motivo para risota. Pondo de parte o que diz respeito à crença, havia ali uma questão de princípio, de direito internacional, que interessava a todo o mundo, sobre a qual não teriam tão levianamente guardado silêncio, se se tratasse de certas outras obras. Eles não se furtam de censuras, quando está em causa a simples exigência de uma estampilha para venda de um livro materialista; ora, o restaurar a Inquisição as suas fogueiras com a solenidade de outrora, às portas da França, apresentava bem maior gravidade. Por que, então, semelhante indiferença?
É que estava em jogo uma doutrina a cujos progressos a incredulidade assiste com pavor. Reivindicar justiça
para ela fora consagrar-lhe o direito à proteção da autoridade e aumentar-lhe o crédito. Seja como for, o auto-de-fé em Barcelona não deixou de produzir o esperado efeito, pela repercussão que teve na Espanha, onde contribuiu fortemente para propagar as idéias espíritas. (Veja-se a Revista Espírita de novembro de 1861)
O acontecimento abriu ensejo a muitas comunicações da parte dos Espíritos. A que se segue foi dada espontaneamente na Sociedade de Paris, a 19 de outubro, quando regressei de Bordéus.
“Fazia-se mister alguma coisa que chocasse com violência certos Espíritos encarnados, para que se decidissem a ocupar-se com essa grande doutrina, que há de regenerar o mundo. Nada, para isto, se faz inutilmente na Terra e nós que inspiramos o auto-de-fé em Barcelona, bem sabía-mos que, procedendo assim, forçávamos um grande passo para frente. Esse fato brutal, inaudito nos tempos atuais, se consumou tendo por fim chamar a atenção dos jornalistas
que se mantinham indiferentes diante dá agitação profunda que abalava as cidades e os centros espíritas. Eles deixavam que falassem e fizessem o que bem entendessem; mas, obstinavam-se em passar por surdos e respondiam
com o mutismo ao desejo de propaganda dos adeptos do Espiritismo. De bom ou mau grado, hoje falam dele; uns,
comprovando o histórico do fato de Barcelona; outros, desmentindo-o, ensejaram uma polêmica que dará volta ao
mundo, de grande proveito para o Espiritismo. Essa a razão por que a retaguarda da Inquisição fez hoje o seu último
auto-de-fé. É que assim o quisemos.” Um Espírito

Obras queimadas no auto-de-fé:

Este dia, nove de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, às dez horas e meia da manhã, sobre a esplanada da cidade de Barcelona, no lugar onde são executados os criminosos condenados ao último suplício, e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber:
"A Revista Espírita, diretor Allan Kardec;
"A Revista Espiritualista, diretor Piérard;
"O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec;
"O Livro dos Médiuns, pelo mesmo;
"O que é o Espiritismo, pelo mesmo;
"Fragmento de sonata, ditado pelo Espírito de Mozart;
"Carta de um católico sobre o Espiritismo, pelo doutor Grand;
"A História de Jeanne d'Arc, ditada por ela mesma à Srta. Ermance Dufau;
"A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta, pelo barão de Guldenstubbé.

domingo, 16 de outubro de 2011

Reflexão Doutrinária sobre Jesus - (Jornada da Mulher Espírita - PB)

111. Segunda classe. ESPÍRITOS SUPERIORES. ( O Livro dos Espíritos)

— Esses em si reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade. Da linguagem que empregam se exala sempre a benevolência; é uma linguagem invariavelmente digna, elevada e, muitas vezes, sublime. Sua superioridade os torna mais aptos do que os outros a nos darem noções exatas sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber. Comunicam-se complacentemente com os que procuram de boa-fé a verdade e cuja alma já está bastante desprendida das ligações terrenas para compreendê--la. Afastam-se, porém, daqueles a quem só a curiosidade impele, ou que, por influência da matéria, fogem à prática do bem.

Quando, por exceção, encarnam na Terra, é para cumprir missão de progresso e então nos oferecem o tipo da perfeição a que a Humanidade pode aspirar neste mundo.

625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido aohomem, para lhe servir de guia e modelo?
“Jesus.”

PRIMEIRA ORDEM. — ESPÍRITOS PUROS
112. CARACTERES GERAIS. — Nenhuma influência da matéria.
Superioridade intelectual e moral absoluta, com relação aos Espíritos das outras ordens.

113. Primeira classe. CLASSE ÚNICA. — Os Espíritos que a compõem percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo alcançado a soma de perfeição de que é suscetível a criatura, não têm mais que sofrer provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus.
Gozam de inalterável felicidade, porque não se acham submetidos às necessidades, nem às vicissitudes da vida material. Essa felicidade, porém, não é a de ociosidade monótona,a transcorrer em perpétua contemplação. Eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os Espíritos que lhes são inferiores, auxiliam--nos na obra de seu aperfeiçoamento e lhes designam as suas missões. Assistir os homens nas suas aflições, concitá--los ao bem ou à expiação das faltas que os conservam distanciados da suprema felicidade, constitui para eles ocupação gratíssima. São designados às vezes pelos nomes de anjos, arcanjos ou serafins.
Podem os homens pôr-se em comunicação com eles, mas extremamente presunçoso seria aquele que pretendesse tê-los constantemente às suas ordens.

TENTAÇÃO DE JESUS (A Gênese – Kardec)
52. Jesus, transportado pelo diabo ao pináculo do Templo, depois ao cume de uma montanha e por ele tentado, constitui uma daquelas parábolas que lhe eram familiares e que a credulidade pública transformou em fatos materiais.
53. “Jesus não foi arrebatado. Ele apenas quis fazer que os homens compreendessem que a Humanidade se acha sujeita a falir e que deve estar sempre em guarda contra as más inspirações a que, pela sua natureza fraca, é impelida a ceder. A tentação de Jesus é, pois, uma figura e fora preciso ser cego para tomá-la ao pé da letra. Como pretenderíeis que o Messias, o Verbo de Deus encarnado, tenha estado submetido, por algum tempo, embora muito curto fosse este, às sugestões do demônio e que, como o diz o Evangelho de Lucas, o demônio o houvesse deixado por algum tempo, o que daria a supor que o Cristo continuou submetido ao poder daquela entidade? Não; compreendei melhor os ensinos que vos foram dados. O Espírito do mal nada poderia sobre a essência do bem. Ninguém diz ter visto Jesus no cume da montanha, nem no pináculo do Templo. Certamente, tal fato teria sido de natureza a se espalhar por todos os povos. A tentação, portanto, não constituiu um ato material e físico. Quanto ao ato moral, admitiríeis que o Espírito das trevas pudesse dizer àquele que conhecia sua própria origem e o seu poder: “Adora-me, que te darei todos os remos da Terra?” Desconheceria então o demônio aquele a quem fazia tais oferecimentos? Não é provável. Ora, se o conhecia, suas propostas eram uma insensatez, pois ele não ignorava que seria repelido por aquele que viera destruir-lhe o império sobre os homens.
“Compreendei, portanto, o sentido dessa parábola, que outra coisa aí não tendes, do mesmo modo que nos casos do Filho Pródigo e do Bom Samaritano. Aquela mostra os perigos que correm os homens, se não resistem à voz íntima que lhes clama sem cessar: ‘Podes ser mais do que és; podes possuir mais do que possuis; podes engrandecer-te, adquirir muito; cede à voz da ambição e todos os teus desejos serão satisfeitos.’ Ela vos mostra o perigo e o meio de o evitardes, dizendo às más inspirações: Retira-te, Satanás ou, por outras palavras: Vai-te, tentação!
“As duas outras parábolas que lembrei mostram o que ainda pode esperar aquele que, por muito fraco para expulsar o demônio, lhe sucumbiu às tentações. Mostram a misericórdia do pai de família, pousando a mão sobre a fronte do filho arrependido e concedendo-lhe, com amor, o perdão implorado. Mostram o culpado, o cismático, o homem repelido por seus irmãos, valendo mais, aos olhos do Juiz Supremo, do que os que o desprezam, por praticar ele as
virtudes que a lei de amor ensina.
“Pesai bem os ensinamentos que os Evangelhos contêm; sabei distinguir o que ali está em sentido próprio, ou em sentido figurado, e os erros que vos hão cegado durante tanto tempo se apagarão pouco a pouco, cedendo lugar à
brilhante luz da Verdade.” — João Evangelista, Bordéus, 1862.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

UM A EXPIAÇÃO TERRESTRE. O JOVEM FRANÇOIS

REVISTA ESPIRITA - JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS 10º ANO NO. 5 MAIO 1867
Estudos de casos espíritas – ref. Out/11 – Sociedade Espírita Caminho da Paz

As pessoas que leram O Céu e o Inferno, sem dúvida, se lembram da tocante história de Mareei, a criança do nº 4, reportada no capítulo VIM, Expiações terrestres. O fato seguinte apresenta um caso quase análogo e não menos instrutivo, como aplicação da soberana justiça, e como explicação daquilo que, freqüentemente, parece inexplicável em certas posições da vida.

Numa boa e honesta família, morreu no mês de outubro de 1866, um jovem de doze anos, cuja vida, durante nove anos, não havia sido senão um sofrimento contínuo que nem os cuidados afetuosos dos quais estava cercado, nem os recursos da ciência não tinham podido mesmo abrandar. Estava atingido de paralisia e de hidropsia; seu corpo estava coberto de feridas invadidas pela gangrena e suas carnes caíam em pedaços.
Freqüentemente, no paroxismo da dor, ele gritava: "Que fiz, pois, meu Deus, para merecer sofrer tanto! Desde que estou no mundo, não fiz mal a ninguém!" Instintivamente, essa criança compreendia que o sofrimento deveria ser uma expiação, mas na ignorância da lei de solidariedade das existências sucessivas, seu pensamento não remontava além da vida presente, não se dava conta da causa que poderia justificar nele um tão cruel castigo.
Uma particularidade digna de nota foi o nascimento de uma irmã, quando tinha em torno de três anos. Foi nessa época que se declararam os primeiros sintomas da terrível doença à qual deveria sucumbir. Desde esse momento também, concebeu pela recém chegada uma repulsa tal que não podia suportar a sua presença, e que sua visão parecia redobrar seu sofrimento. Freqüentemente, se censurava esse sentimento que nada justificava, porque a pequenina não o partilhava; ao contrário, ela era para ele doce e amável. Ele dizia à sua mãe: "Por que, pois, a visão de minha pequena irmã me é tão penosa? Ela é boa para mim, e apesar de mim não posso me impedir de detestá-la." No entanto, não podia sentir que se lhe fizesse o menor mal, nem que se a atormentasse; longe de se alegrar com suas penas, afligia-se quando a via chorar. Era evidente que dois sentimentos se combatiam nele; compreendia a injustiça de sua antipatia, mas seus esforços para superá-la eram impotentes.
Que tais enfermidades sejam, numa certa idade, as conseqüências da má conduta, isto seria uma coisa toda natural; mas que faltas bastante graves uma criança desta idade pode ter se tornado culpada para suportar um semelhante martírio? Além disto, de onde poderia provir essa repulsa por um ser inofensivo? Aí estão os problemas que se apresentavam a cada instante, e que levam uma multidão de pessoas a duvidar da existência de Deus, porque para isto não encontram solução em nenhuma religião; essas anomalias aparentes encontram, ao contrário, sua completa justificativa na solidariedade das existências. Um observador espírita poderia, pois, dizer com toda a aparência de razão, que esses dois seres eram conhecidos, e foram colocados um ao lado do outro, na existência atual, para alguma expiação e a reparação de algum erro. Do estado de sofrimento do irmão, poder-se-ia concluir que ele era o culpado, e que os laços de parentes próximos que o uniam ao objeto de sua antipatia lhe eram impostos para preparar, entre eles, os caminhos de uma aproximação; assim se vê já no irmão uma tendência e esforços para superar o seu afastamento que reconhece injusto. Essa antipatia não tinha os caracteres do ciúme que se notam, às vezes, nas crianças de um mesmo sangue; ele provinha, pois, segundo toda a probabilidade, de lembranças penosas, e talvez de remorsos que a presença da jovenzinha despertava. Tais são as deduções que se podem racionalmente tirar, por analogia, da observação dos fatos, e que foram confirmados pelo Espírito da criança.
Evocado quase imediatamente depois de sua morte, por uma amiga da família à qual levava muita afeição, ele não pode de início se explicar de maneira completa, e prometeu dar ulteriormente os detalhes mais circunstanciados. Entre as diversas comunicações que deu, eis as duas que se reportam mais particularmente à questão.
"Esperais de mim o relato, que vos prometi, do que fui numa existência anterior e a explicação da causa de meus grandes sofrimentos; isto será para todos um ensinamento.
Estes ensinamentos estão por toda a parte, eu o sei; encontram-se de todos os lados, mas o relato de fatos dos quais se viram as conseqüências, é sempre, para aqueles que existem, uma prova mais tocante.
"Eu pequei, sim eu pequei! Sabeis o que é ter sido assassino, ter atentado à vida de seu semelhante? Eu não o fiz da maneira que os assassinos empregam, matando em seguida, seja com uma corda, seja com uma faca, ou qualquer outro instrumento; não, não foi desta maneira. Eu matei, mas matei lentamente, fazendo sofrer um ser que eu detestava! Sim, eu o detestava, essa criança que acreditava não me pertencer! Pobre inocente! tinha merecido essa triste sorte! Não, meus pobres amigos, ela não tinha merecido, ou pelo menos não cabia a mim lhe fazer suportar esses tormentos. Eu o fiz, no entanto, e eis porque fui obrigado a sofrer como vistes. "Eu sofri, meu Deus! e bastante? vós sois muito bom, Senhor! sim, em presença de meu crime e da expiação, acho que fostes muito misericordioso. Orai por mim, caros pais, caros amigos; agora meus sofrimentos passaram. Pobre senhora D..., eu vos fiz sofrer! e que era muito penoso para mim vir fazer a confissão desse crime imenso!
"Esperança, meus bons amigos, Deus remiu a minha falta; estou agora na alegria, e, no entanto, também na pena; vede! é bom estar num estado melhor, ter expiado: o pensamento, a lembrança de seus crimes deixam uma tal impressão, que é impossível que não se lhe ressinta, por muito tempo ainda, todo o horror, porque não foi só sobre a Terra que sofri, mas antes, na vida espiritual! e, que dificuldade tive para me decidir vir sofrer essa expiação terrível! não posso vos narrar tudo isto, seria muito horrível! A visão constante de sua vítima, e a outra, a pobre mãe! Enfim, meus amigos: preces para mim e graças ao Senhor! Eu vos tinha prometido este relato; era preciso até o fim que eu quitasse a minha dívida, o que pudesse me custar. (Até aqui o médium tinha escrito sob o domínio de uma viva emoção; continuou com mais calma.)
E agora, meus bons pais, uma palavra de consolação. Obrigado, oh obrigado! Avós que me ajudastes nesta expiação, e que dela levastes uma parte; vós abrandastes, tanto quanto dependia de vós, o que eu tinha de amargo em meu estado. Não vos atormenteis, é uma coisa passada; eu sou feliz, eu vo-lo disse, sobretudo em comparando o estado passado e o estado presente. Eu vos amo a todos; agradeço-vos; abraço-vos; amai-me sempre. Nós nos reencontraremos, e, todos juntos, continuaremos esta vida eterna, esforçando-nos para que a vida futura resgate inteiramente a vida passada. Vosso filho, FRANÇOIS E.

Numa outra comunicação, o Espírito do jovem François completou as informações acima.
Pergunta. Cara criança, não dissestes de onde vinha a tua antipatia por tua pequena irmã. Resposta. Não o adivinhais? Essa pobre e inocente criatura era minha vítima que Deus havia ligado à minha última existência como um remorso vivo; eis porque a sua visão me fazia tanto sofrer.
Pergunta. No entanto, não sabias que era ela. Resposta. Eu não o sabia no estado de vigília, sem isto meus tormentos teriam sido cem vezes mais terríveis; tão terríveis quanto o havia sido na vida espiritual onde eu a via
sem cessar; mas credes que meu Espírito, nos momentos em que estava desligado, não o sabia? Era a causa da minha repulsa, e se eu me esforçava por combatê-la, é que, instintivamente, sentia que ela era injusta. Não estava ainda bastante forte para fazer o bem àquela que eu não podia me impedir de detestar, mas não queria que se lhe fizesse mal: era um começo de reparação. Deus me teve em conta esse sentimento, por isso permitiu que fosse livre em boa hora de minha vida de sofrimento, sem isso teria podido viver ainda muitos anos na horrível situação em que me vistes. Bendizei, pois, minha morte que pôs termo à expiação, porque ela foi a garantia de minha reabilitação.

Pergunta (ao guia do médium). Por que a expiação e o arrependimento na vida espiritual não bastam para a reabilitação, sem que sejam necessários a eles acrescentar os sofrimentos corporais?
Resposta. Sofrer num mundo ou num outro, é sempre sofrer, e sofre-se tão longo tempo quanto a reabilitação não seja completa. Esta criança sofreu muito sobre a Terra; pois bem! isso não foi nada em comparação com o que ela sofreu no mundo dos Espíritos. Aqui tinha, em compensação, os cuidados e a afeição dos quais estava cercado. Há ainda esta diferença entre o sofrimento corporal e o sofrimento espiritual, que o primeiro é quase sempre voluntariamente aceito como complemento de expiação, ou como prova para avançar mais rapidamente, ao passo que o outro é imposto.
Mas há outros motivos para o sofrimento corporal: primeiro, é para que a reparação tenha lugar nas mesmas condições em que o mal foi feito; depois, para servir de exemplo aos encarnados. Vendo seus semelhantes sofrerem e disto sabendo a razão, são bem de outro modo impressionados do que saber que são infelizes como Espíritos; podem explicar melhor a causa de seus próprios sofrimentos; a justiça divina se mostra, de alguma sorte, palpável aos seus olhos. Enfim, o sofrimento corporal é uma ocasião, para os encarnados, de exercerem, entre eles, a caridade, uma prova para seus sentimentos de comiseração, e, freqüentemente, um meio de reparar os erros anteriores; porque, crede-o bem, quando um infortunado se encontra sobre vosso caminho, não é o efeito do acaso. Para os pais do jovem François era uma grande prova ter um filho nessa triste posição; pois bem! eles cumpriram dignamente seu mandato, e disso serão tanto mais recompensados quanto agiram espontaneamente, pelo próprio impulso de seu coração. Se os Espíritos não sofressem na encarnação, é que não haveria senão Espíritos perfeitos sobre a Terra.

Complemento do estudo – ler e comentar: 998. A expiação se cumpre no estado corporal ou no estado espiritual?
386. Podem dois seres, que se conheceram e estimaram encontrar- se noutra existência corporal e reconhecer-se?
990. O arrependimento se dá no estado corporal ou no estado espiritual?
=> A lei de solidariedade das existências sucessivas- o que significa.

Hidropsia => A hidropsia é caracterizada pelo acúmulo anormal de líquidos nos tecidos ou em determinadas cavidades do corpo. A progressão da doença inicia-se em um tecido ou membro que começa a inchar, até todo o corpo ser atingido. A doença não é dolorosa, mas os sintomas são fraqueza generalizada e urina escassa. É importante consultar um médico para identificar a sua causa e iniciar tratamento. As causas podem ser principalmente enfermidades do coração, fígado, rins ou baço, e até por alguns tipos de câncer.