Por
mais que um grande contingente de companheiros das lides mediúnicas
continue a afirmar a sua estranheza ou incompreensão, ante os
ensinamentos apresentados nas páginas lúcidas de O Livro dos
Médiuns, o fato é que as expressões de Allan Kardec seguem eivadas
de lógica e correção, que necessitam do devido entendimento.
O
referido ensino é o que se reporta à mediunidade como uma faculdade
radicada no organismo. A partir daí sobrevêm uma série de
acaloradas discussões ou pertinazes processos de frieza à frente de
tal pronunciamento do Codificador. O costume do indivíduo de não
associar a experiência mediúnica ao organismo do médium, vendo-a
somente como algo relativo ao Espírito, absolutizando indevidamente
a situação, provoca-lhe dificuldades na compreensão da questão.
O
que ocorre, porém, por outro lado, é que tudo está correto e
nobremente situado pelo notável mestre de Lion. Sem qualquer
dificuldade, compreender-se-á que toda percepção do Invisível,
isto é, toda captação da presença dos Sempre Vivos, é detectada
pelo Espírito. É a alma que possui os instrumentos para fazer os
registros provenientes de outras almas. No entanto, parece-nos de
fácil compreensão que a exteriorização dessa captação estará
em função do corpo somático.
A
sistematização neurológica deverá ser responsável por deixar
jorrar para o exterior a luz da apreensão espiritual. Todo o
material assimilado pela alma do médium escorrerá por meio dos
canais nervosos, pelo organismo que ele enverga, a ponto de sentir
que não haveria a corporificação do fenômeno sem a cooperação
do corpo fisiológico. Utilizemo-nos de algum exemplo singelo, mas
que tem tudo para ajudar na compreensão da questão.
Um
exímio pianista, detentor de grandiosos talentos, de admirado
virtuosismo, somente poderá exprimir a sua arte, com perfeição, no
caso em que lhe seja oferecido um piano de excelentes qualidades.
Caso não se dê tal oferecimento, deveremos admitir que, por mais
notável seja o intérprete, não logrará dar provas da sua
capacidade uma vez que se utiliza de um instrumento inferior,
defeituoso, impróprio para o mister desejado. Cada corpo funciona
como um instrumento e cada Espírito será o intérprete da mensagem
captada.
Qualquer
indivíduo que reencarne com projeto de atuar na esfera da
mediunidade ostensiva, portando, então, o compromisso mediúnico em
sua folha de deveres, necessitará de um corpo físico que lhe
possibilite a exteriorização da faculdade psíquica.
O
sistema nervoso do futuro médium, tanto o central quanto o
periférico, e aqui não nos deteremos em minúcias que poderiam
tornar mais complexa a compreensão do que desejamos aclarar, é
ajustado de tal maneira que o mínimo contato fluídico ou
envolvimento psíquico dos desencarnados sobre ele, imponha-lhe
percepções automáticas do Invisível. Daí o encontrarmos
portadores da faculdade mediúnica que exprimem seu descontentamento
com a sua condição. Dizem, agora que estão na Terra esquecidos do
seu pretérito de enormes carências, que desejariam sustar esses
registros, pelos incômodos que lhes proporcionam, e desfilam um
rosário de irrefletidas razões.
Outros,
não obstante, vivem ansiando por semelhantes registros mediúnicos,
sem que a sua organização neuro-psíquica lhes permita. Não sentem
coisa alguma num nível que se possa considerar mediúnico. Tendo-se
a mediunidade como passível de exteriorizar-se, graças ao
perispírito, a túnica eletromagnética do Espírito, e sendo ele
ligado ao corpo físico célula por célula, é compreensível que,
quando um Espírito comunicante faz vibrar o perispírito, por meio
das energias que consegue movimentar, as células orgânicas
acompanhem-no num processo de ressonância perfeito.
É
por causa dessa ressonância que as células liberam suas
substâncias, desde os processos de sudorese abundante e fria até os
componentes citoplásmicos, que formarão o ectoplasma, segundo a
nomenclatura de Charles Richet, componentes esses que podem ser ricos
em moléculas de A.D.P ou de A.T.P , que propiciarão as ocorrências
de ectoplasmias luminosas, quando os médiuns sejam de efeitos
físicos.
A
intensidade de vibração do perispírito determinará a intensidade
de ressonância celular que, por seu turno, expressará a intensidade
da exteriorização do fenômeno. É essa interação
perispírito-corpo físico que imporá o nível de aprofundamento do
transe mediúnico, observando-se que se há maior liberação nervosa
dos registros perispirituais, a mostragem do comunicante é mais
nítida, mais comprobatória, enfim.
Se
em todos os fenômenos mediúnicos é o organismo, representado pelo
sistema nervoso, que dá o tom da ocorrência, sem qualquer
hesitação, podemos crer que os ditos fenômenos dependem do corpo
do médium para que se manifestem. É por isso que na formosura de O
Livro dos Médiuns, no item 159, do capítulo XIV, o Codificador
informa que "usualmente, só se qualificam como médiuns,
aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e
se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então
depende de uma organização mais ou menos sensitiva".
Uma
vez que a maior ou menor interação perispírito-corpo físico está
na dependência das conquistas gerais anteriores, das necessidades,
méritos e deméritos de cada pessoa, teremos aí um maior ou menor
grau de sensibilidade dos médiuns, chegando a compreender o porquê
da variedade enorme de médiuns, tanto no tipo de manifestações que
produzem quanto na intensidade em que as podem produzir.
Urge
estudar mais detidamente a questão, para que o entendimento se faça
e o brilho transcendente desse Tratado de Espiritismo Experimental
seja percebido, definitivamente, como roteiro seguro para todos os
que se lançam nesses labores felizes da mediunidade a serviço da
implantação do Bem sobre o mundo.
j.
Raul Teixeira – Espírito Camilo – livro Correnteza de Luz