quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O CASTIGO



O CÉU E O INFERNO - CAPÍTULO IV - Espíritos sofredores

Exposição geral do estado dos culpados por ocasião da entrada no mundo dos Espíritos, ditada à Sociedade Espírita de Paris, em outubro de 1860.

“Depois da morte, os Espíritos endurecidos, egoístas e maus são logo presas de uma dúvida cruel a respeito do seu destino, no presente e no futuro. Olham em torno de si e nada vêm que possa aproveitar ao exercício da sua maldade — o que os desespera, visto como o insulamento e a inércia são intoleráveis aos maus Espíritos.

Não elevam o olhar às moradas dos Espíritos elevados, consideram o que os cerca e, então, compreendendo o abatimento dos Espíritos fracos e punidos, se agarrarão a eles
como a uma presa, utilizando-se da lembrança de suas faltas passadas, que eles põem continuamente em ação pelos seus gestos ridículos.

Não lhes bastando esse motejo, atiram-se para a Terra quais abutres famintos, procurando entre os homens uma alma que lhes dê fácil acesso às tentações. Encontrando-a, dela se apoderam exaltando-lhe a cobiça e procurando extinguir-lhe a fé em Deus, até que por fim, senhores de uma consciência e vendo segura a presa, estendem a tudo quanto se lhe aproxime a fatalidade do seu contágio.

O mau Espírito, no exercício da sua cólera, é quase feliz, sofrendo apenas nos momentos em que deixa de atuar, ou nos casos em que o bem triunfa do mal. Passam no entanto os séculos, e, de repente, o mau Espírito pressente que as trevas acabarão por envolvê-lo; o círculo de ação se lhe restringe e a consciência, muda até então, faz--lhe sentir os acerados espinhos do remorso.

Inerte, arrastado no turbilhão, ele vagueia, como dizem as Escrituras, sentindo a pele arrepiar-se-lhe de terror.
Não tarda, então, que um grande vácuo se faça nele e em torno dele: chega o momento em que deve expiar; a reencarnação aí está ameaçadora... e ele vê como num espelho as provações terríveis que o aguardam; quereria recuar, mas avança e, precipitado no abismo da vida, rola em sobressalto, até que o véu da ignorância lhe recaia sobre os olhos.

Vive, age, é ainda culpado, sentindo em si não sei que lembrança inquieta, pressentimentos que o fazem tremer, sem recuar, porém, da senda do mal. Por fim, extenuado de forças e de crimes, vai morrer. Estendido numa enxerga (ou num leito, que importa?!), o homem culpado sente, sob aparente imobilidade, revolver-se e viver dentro de si mesmo um mundo de esquecidas sensações. Fechadas as pupilas, ele vê um clarão que desponta, ouve estranhos sons; a alma, prestes a deixar o corpo, agita-se impaciente, enquanto as mãos crispadas tentam agarrar as cobertas...
Quereria falar, gritar aos que o cercam: — Retenham-me! eu vejo o castigo! — Impossível! a morte sela-lhe os lábios esmaecidos, enquanto os assistentes dizem: Descansa em paz!
E contudo ele ouve, flutuando em torno do corpo que não deseja abandonar. Uma força misteriosa o atrai; vê, e reconhece finalmente o que já vira. Espavorido, ei-lo que se lança no Espaço onde desejaria ocultar-se, e nada de abrigo, nada de repouso.
Retribuem-lhe outros Espíritos o mal que fez; castigado, confuso e escarnecido, por sua vez vagueia e vagueará até que a divina luz o penetre e esclareça, mostrando-lhe o Deus vingador, o Deus triunfante de todo o mal, e ao qual não poderá apaziguar senão à força de expiação e gemidos.
Georges.”


Nunca se traçou quadro mais terrível e verdadeiro à sorte do mau; será ainda necessária a fantasmagoria das chamas e das torturas físicas?

sábado, 3 de agosto de 2013

A importância de ler e estudar o livro O CÉU E O INFERNO - ALLAN KARDEC. Mesmo entre os espíritas, esse livro é quase desconhecido

Espiritismo (em língua francesa Le Ciel et l'Enfer) da codificação de Allan Kardec, foi publicado em Paris em 1º de agosto de 1865. É uma das obras básicas do espiritismo.

Lendo-se esse livro com atenção, percebe-se que a sua estrutura corresponde a um verdadeiro processo de julgamento. Na primeira parte, temos a exposição dos fatos que o motivaram e a apreciação judiciosa, sempre serena, dos seus vários aspectos, com a devida acentuação dos casos de infração da lei. Na segunda parte, o depoimento das testemunhas. Cada uma delas caracteriza-se por sua posição no contexto processual. E diante dos confrontos necessários, o juiz pronuncia a sua sentença definitiva, ao mesmo tempo enérgica e tocada de misericórdia. Estamos ante um tribunal divino. Os homens e suas instituições são acusados e pagam pelo que devem, mas agravantes e atenuantes são levados em consideração à luz de um critério superior.
imageAtravés da tarefa missionária de Kardec, a Doutrina Espírita tomava corpo rapidamente, e suas bases se solidificavam de forma concreta em seu caminho de glória. Especialmente no tocante a seu aspecto religioso, a nova ordem que então já abrilhantava o mundo iniciava-se com a preliminar constituída pelo "Evangelho Segundo o Espiritismo" e prosseguia com obra seguinte: na edição de setembro de 1865, a "Revista Espírita" publicaria, com satisfação, em sua seção bibliográfica, a notícia do lançamento do quarto livro da Codificação Espírita, "O Céu e o Inferno". Faltava apenas "A Gênese" para completar a obra da Codificação da Terceira Revelação.

Na verdade, dois capítulos de "O Céu e o Inferno" foram publicados antecipadamente na Revista: o capítulo intitulado "Da Apreensão da Morte", vigorosa peça de acusação, na edição de janeiro de 1865; e o capítulo "Onde é o Céu", no número de março do mesmo ano. Apareceram ambos como se fossem simples artigos para a Revista, mas o último trazia uma nota final anunciando que ambos pertenciam a uma "nova obra que o Sr. Allan Kardec publicará proximamente". Em setembro a obra já aparecia anunciada como à venda. Kardec declara que, não podendo elogiá-la nem criticá-la, a Revista se limitava a publicar um resumo do seu prefácio, revelando o seu conteúdo. Os capítulos antecipadamente publicados aparecem, o primeiro com o mesmo título com que saíra, e o segundo, com o título reduzido para "O Céu".

Estava dado o golpe de misericórdia nos dogmas vigentes até então, produzidos por inegável sincretismo religioso com o qual se conseguira penetrar na massa impura do mundo e levedá-la às custas de enormes sacrifícios. Kardec reafirma o caráter científico do Espiritismo: como ciência de observação, a nova Doutrina enfrenta o problema das penas e recompensas futuras à luz da História, estabelecendo comparações entre as idealizações do céu e do inferno nas religiões anteriores e nas religiões cristãs, revelando as raízes históricas, antropológicas, sociológicas e psicológicas dessas idealizações na formulação dos dogmas cristãos.

A comparação do inferno pagão com o inferno cristão é um dos mais eficazes trabalhos de mitologia comparada que se conhece. A mitologia cristã se revela mais grosseira e cruel que a pagã. Bastaria isso para justificar o Renascimento. O mergulho da Humanidade no sorvedouro medieval levou a natureza humana a um retrocesso histórico somente comparável ao do nazi-fascismo verificado no nosso tempo. Os intelectuais materialistas assustaram-se com o retrocesso do homem nos anos 40 do século XX e puseram em dúvida a teoria da evolução. Se houvessem lido esse livro de Kardec, saberiam que a evolução não se processa em linha reta; mas em ascensão espiralada. Vemos assim que, nesse livro, Kardec tem muito para ensinar, não apenas aos espíritas, mas também aos luminares da inteligência neo-pagã que perdem o seu tempo combatendo o Espiritismo, como gregos e romanos combateram inutilmente o Cristianismo. O processo espírita se desenvolve na linha de sequência do processo cristão. A conversão do mundo ainda não se completou. Cabe ao Espiritismo dar-lhe a última demão, como desenvolvimento natural, histórico e profético do Cristianismo em nossos dias.

A leitura e o estudo sistemático desse livro se impõem a espíritas e não-espíritas, a todos os que realmente desejam compreender o sentido da vida humana na Terra. Mesmo entre os espíritas, esse livro é quase desconhecido. A maioria dos que o conhecem talvez nunca tenham realmente se inteirado do seu verdadeiro significado. Kardec nos dá nas suas páginas o balanço da evolução moral e espiritual da Humanidade terrena até os nossos dias. Mas ao mesmo tempo estabelece as coordenadas da evolução futura. As penas e recompensas de após a morte saem do plano obscuro das superstições e do misticismo dogmático para a luz viva da análise racional e da pesquisa científica. É evidente que essa pesquisa não pode seguir o método das ciências de mensuração, pois o seu objetivo não é material, mas segue rigorosamente as exigências do espírito científico moderno e contemporâneo. O grave problema da continuidade da vida após a morte despe-se dos aparatos mitológicos para mostrar-se com a nudez da verdade à luz da razão esclarecida.

www.nossolar.net/ceu_inferno.html

Um pouco mais sobre O Céu e Inferno.

CAP V – O PURGATÓRIO

1. O Evangelho não faz menção alguma do purgatório, que só foi admitido pela Igreja no ano de 593. É incontestavelmente um dogma mais racional e mais conforme com a justiça de Deus que o inferno, porque estabelece penas menos rigorosas e resgatáveis para as faltas de gravidade mediana.

1. O purgatório originou o comércio escandaloso das indulgências, por intermédio das quais se vende a entrada no céu. Este abuso foi a causa primária da Reforma, levando Lutero a rejeitar o purgatório.