sábado, 22 de março de 2014

Alergia e Obsessão

Alergia e Obsessão - Dias da Cruz

        Quem se consagra aos trabalhos de socorro espiritual há de convir, por certo, em que a obsessão é um processo alérgico, interessando o equilíbrio da mente.
        Sabemos que a palavra «alergia» foi criada, neste século, pelo médico vienense Vou Pirquet, significando a reação modificada nas ocorrências da hipersensibilidade humana.
        Semelhante alteração pode ser provocada no campo orgânico pelos agentes mais diversos, quais sejam:
os alimentos, a poeira doméstica, os polens das plantas, os parasitos da pele, os parasitos do intestino os parasitos do ar, tanto quanto as bactérias que se multiplicam em núcleos infecciosos.
        As drogas largamente usadas, quando em associação com fatores protéicos, podem suscitar igualmente a constituição de alérgenos alarmantes.
        Como vemos, os elementos dessa ordem são exógenos ou endógenos, isto é, procedem do meio externo ou interno, em nos reportando ao mundo complexo do organismo.
        A medicina moderna, analisando a engrenagem do fenômeno, admite que a ação do anticorpo sobre o antígeno, na intimidade da célula, liberta uma substância semelhante à histamina, vulgarmente chamada substância «H», que agindo sobre os vasos capilares, sobre as fibras e sobre o sangue, atua desastrosamente, ocasionando variados desequilíbrios, a se expressarem, de modo particular,...
na dermatite atípica, na dermatite de contacto, na coriza espasmódica, na asma, no edema, na urticária, na enxaqueca e na alergia sérica, digestiva, nervosa ou cardiovascular.
        Evitando, porém, qualquer preciosismo da técnica científica e relegando à medicina habitual o dever de assegurar os processos imunológicos da integridade física, recordemos que as radiações mentais, que podemos classificar por agentes «R», na maioria das vezes se apresentam, na base de formação da substância «H», desempenhando importante papel em quase todas as perturbações neuropsíquicas e usando o cérebro como órgão de choque.
        Todos os nossos pensamentos definidos por vibrações, palavras ou atos, arrojam de nós raios específicos.
        Assim sendo, é indispensável curar de nossas próprias atitudes, na autodefesa e no amparo aos semelhantes, porquanto...
a cólera e a irritação,
a leviandade e a maledicência,
a crueldade e a calúnia,
a irreflexão e a brutalidade,
a tristeza e o desânimo, produzem elevada percentagem de agentes «R», de natureza destrutiva, em nós e em torno de nós, exógenos e endógenos, suscetíveis de fixar-nos, por tempo indeterminado, em deploráveis labirintos da desarmonia mental.
        Em muitas ocasiões,... nossa conduta pode ser a nossa enfermidade, tanto quanto o nosso comportamento pode representar a nossa restauração e a nossa cura.
        Para sanar a obsessão nos outros ou em nós mesmos, é preciso cogitar dos agentes «R» que estamos emitindo.
        O pensamento é força que determina, estabelece, transforma, edifica, destrói e reconstrói.
        Nele, ao influxo divino, reside a gênese de toda a Criação.
        Respeitemos, assim, a dieta do Evangelho, procurando erguer um santuário de princípios morais respeitáveis para as nossas manifestações de cada dia.
        E, garantindo-nos contra a alergia e a obsessão de qualquer procedência, atendamos ao sábio conselho de Paulo, o grande convertido, quando adverte aos cristãos da Igreja de Filipos: "Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é lie, tudo o que é puro, tudo o que é santo, seja, em cada hora da vida, a luz dos vossos pensamentos."

 Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz, médico e denodado batalhador do Espiritismo, que foi Presidente da Federação Espírita Brasileira, no período de 1889 a 1895, desencarnado em 1937.  Livro: Instruções Psicofônicas.


sábado, 8 de março de 2014

A Mulher - Texto de Léon Denis.

O Espiritismo e a Mulher
Autor: León Denis

Encontram-se, em ambos os sexos, excelentes médiuns; é à mulher, entretanto, que parecem outorgadas as mais belas faculdades psíquicas. Daí o eminente papel que lhe está reservado na difusão do novo Espiritualismo.
(Maria de Moura Afonso)
Malgrado às imperfeições inerentes a toda criatura humana, não pode a mulher, para quem a estuda imparcialmente, deixar de ser objeto de surpresa e algumas vezes de admiração. Não é unicamente em seus traços pessoais que se realizam, em a Natureza e na Arte, os tipos da beleza, da piedade e da caridade; no que se refere aos poderes íntimos, à intuição e adivinhação, sempre foi ela superior ao homem. Entre as filhas de Eva é que obteve a antiguidade as suas célebres videntes e sibilas. Esses maravilhosos poderes, esses dons do Alto, a Igreja entendeu, na Idade Média, aviltar e suprimir, mediante os processos instaurados por feitiçaria. Hoje encontram eles sua aplicação, porque é sobretudo por intermédio da mulher que se afirma a comunhão com a vida invisível.

Mais uma vez se revela a mulher em sua sublime função de mediadora que o é em toda a Natureza. Dela provém a vida; e ela a própria fonte desta, a regeneradora da raça humana, que não subsiste e se renova senão por seu amor e seus ternos cuidados. E essa função preponderante que desempenha no domínio da vida, ainda a vem preencher no domínio da morte. Mas nós sabemos que a morte e a vida são uma, ou antes, são as duas formas alternadas, os dois aspectos contínuos da existência.

Mediadora também é a mulher no domínio das crenças. Sempre serviu de intermediária entre a nova fé que surge e a fé antiga que definha e vai desaparecendo. Foi o seu papel no passado, nos primeiros tempos do Cristianismo, e ainda o é na época presente.

O Catolicismo não compreendeu a mulher, a quem tanto devia. Seus monges e padres, vivendo no celibato, longe da família, não poderiam apreciar o poder e o encanto desse delicado ser, em quem enxergavam antes um perigo.

A antiguidade pagã teve sobre nós a superioridade de conhecer e cultivar a alma feminina. Suas faculdades se expandiam livremente nos mistérios. Sacerdotisa nos tempos védicos, ao altar doméstico, intimamente associada, no Egito, na Grécia, na Gália, às cerimônias do culto, por toda a parte era a mulher objeto de uma iniciação, de um ensino especial, que dela faziam um ser quase divino, a fada protetora, o gênio do lar, a custódia das fontes da vida. A essa compreensão do papel que a mulher desempenha, nela personificando a Natureza, com suas profundas intuições, suas percepções sutis, suas adivinhações misteriosas, é que foi devida a beleza, a força, a grandeza épica das raças grega e céltica.

Porque, tal seja a mulher, tal é o filho, tal será o homem. É a mulher que, desde o berço, modela a alma das gerações. É ela que faz os heróis, os poetas, os artistas, cujos feitos e obras fulguram através dos séculos. Até aos sete anos o filho permanecia no gineceu sob a direção materna. E sabe-se o que foram as mães gregas, romanas e gaulesas. Para desempenhar, porém, tão sagrada missão educativa, era necessária a iniciação no grande mistério da vida e do destino, o conhecimento da lei das preexistências e das reencarnações; porque só essa lei dá à vida do ser, que vai desabrochar sob a égide materna, sua significação tão bela e tão comovedora.
Essa benéfica influência da mulher iniciada, que irradiava sobre o mundo antigo como uma doce claridade, foi destruída pela lenda bíblica da queda original.

Segundo as Escrituras, a mulher é responsável pela proscrição do homem; ela perde Adão e, com ele, toda a Humanidade; atraiçoa Sansão. Uma passagem do Eclesiastes a declara “uma coisa mais amarga que a morte”. O casamento mesmo parece um mal: “Que os que têm esposas sejam como se não as tivessem” – exclama Paulo.

Nesse ponto, como em tantos outros, a tradição e o espírito judaico prevaleceram, na Igreja, sobre modo de entender do Cristo, que foi sempre benévolo, compassivo, afetuoso para com a mulher. Em todas as circunstâncias a escuda ele com sua proteção; dirige-lhe suas mais tocantes parábolas. Estende-lhe sempre a mão, mesmo quando decaída. Por isso as mulheres reconhecidas lhe formam uma espécie de cortejo; muitas o acompanharão até a morte.

A situação da mulher, na civilização contemporânea, é difícil, não raro dolorosa. Nem sempre a mulher tem para si os usos e as leis; mil perigos a cercam, se ela fraqueja, se sucumbe, raramente se lhe estende mão amiga. A corrupção dos costumes fez da mulher a vítima do século. A miséria, as lágrimas, a prostituição, o suicídio – tal é a sorte de grande número de pobres criaturas em nossas sociedades opulentas.
Uma reação, porém, já se vai operando. Sob a denominação de feminismo, um certo movimento se acentua legítimo em seu princípio, exagerado, entretanto, em seus intuitos; porque ao lado de justas reivindicações, enuncia propósitos que fariam da mulher, não mais mulher, mas cópia, paródia do homem. O movimento feminista desconhece o verdadeiro papel da mulher e tende a transviá-la do destino que lhe está natural e normalmente traçado. O homem e a mulher nasceram para funções diferentes, mas complementares. No ponto de vista da ação social, são equivalentes e inseparáveis.

O moderno Espiritualismo, graças às suas práticas e doutrinas, todas de ideal, de amor, de equidade, encara a questão de modo diverso e resolve-a sem esforço e sem estardalhaço. Restitui a mulher seu verdadeiro lugar na família e na obra social, indicando-lhe a sublime função que lhe cabe desempenhar na educação e no adiantamento da Humanidade. Faz mais, reintegra-a em sua missão de mediadora predestinada, verdadeiro traço de união que liga as sociedades da Terra às do Espaço.
A grande sensibilidade da mulher a constitui o médium por excelência, capaz de exprimir, de traduzir os pensamentos, as emoções, os sofrimentos das almas, os altos ensinos dos Espíritos celestes. Na aplicação de suas faculdades encontra ela profundas alegrias e uma fonte viva de consolações. A feição religiosa do Espiritismo a atrai e lhe satisfaz as aspirações do coração, as necessidades de ternura, que estendem, para além do túmulo, aos entes desaparecidos. O perigo para ela, como para o homem, está no orgulho dos poderes adquiridos, na suscetibilidade exagerada. O ciúme, suscitando rivalidades entre médiuns, torna-se muitas vezes motivo de desagregação para os grupos.

Daí a necessidade de desenvolver na mulher, ao mesmo tempo que os poderes intuitivos, suas admiráveis qualidades morais, o esquecimento de si mesma, o júbilo do sacrifício, numa palavra, o sentimento dos deveres e das responsabilidades inerentes à sua missão mediatriz.

O Materialismo, não ponderando senão o nosso organismo físico, faz da mulher um ser inferior por sua fraqueza e a impele à sensualidade. Ao seu contato, essa flor de poesia verga ao peso das influências degradantes, se deprime e envilece. Privada de sua função mediadora, de sua imaculada auréola, tornada escrava dos sentidos, não é mais um ser instintivo, impulsivo, exposto às sugestões dos apetites mórbidos. O respeito mútuo, as sólidas virtudes domésticas desaparecem; a discórdia e o adultério se introduzem no lar; a família se dissolve, a felicidade se aniquila. Uma nova geração, desiludida e céptica, surge do seio de uma sociedade em decadência.

Com o Espiritualismo, porém, ergue de novo a mulher a inspirada fronte; vem associar-se intimamente à obra de harmonia social, ao movimento geral das idéias. O corpo não é mais que uma forma tomada por empréstimo; a essência da vida é o espírito, e nesse ponto de vista o homem e a mulher são favorecidos por igual. Assim, o moderno Espiritualismo restabelece o mesmo critério dos Celtas, nossos pais; firma a igualdade dos sexos sobre a identidade da natureza psíquica e o caráter imperecível do ser humano, e a ambos assegura posição idêntica nas agremiações de estudo.

Pelo Espiritismo se subtrai a mulher ao vértice dos sentidos e ascende à vida superior. Sua alma se ilumina de clarão mais puro; seu coração se torna o foco irradiador de ternos sentimentos e nobilíssimas paixões. Ela reassume no lar a encantadora missão que lhe pertence, feita de dedicação e piedade, seu importante e divino papel de mãe, de irmã e educadora, sua nobre e doce função persuasiva.

Cessa, desde então, a luta entre os dois sexos. As duas metades da Humanidade se aliam e equilibram no amor, para cooperarem juntas no plano providencial, nas obras da Divina Inteligência.