sexta-feira, 31 de março de 2017

Doutrinação - Teledoutrinação

A teledoutrinação
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Os corações amorosos, em todos os tempos, apelaram à oração para socorrer à distância os entes queridos. Das práticas mágicas primitivas, nascidas na selva, nas regiões polares, nos desertos e na vastidão dos mares, o homem passou, nas civilizações agrárias e pastoris, às rogativas dirigidas aos deuses. Da forma de ação direta da magia selvagem – principalmente a simpática ou simpatética, baseada na ideia das relações por semelhança, a mente mais experiente e desenvolvida passava à ação indireta das rogativas.

A ação direta é mágica. Não pertence ao campo da Religião, mas ao da Magia.

O Homo Faber, ou seja, o homem que confia na sua capacidade de fazer, havendo descoberto relações de semelhança (simpáticas) entre coisas e seres, acreditava poder agir diretamente à distância sobre inimigos e amigos através das relações de semelhança.

O Homo Sapiens, ou seja, o homem interessado em saber, buscava conhecer um tipo superior de relações – o mental e emocional, ligando seus deuses (bons Espíritos) aos quais dirigia suas rogativas. Assim nasceram as Religiões, arrancadas pelo espírito das entranhas materiais da Magia.

Nos povos mais adiantados da Antiguidade – entre os quais se destacaram, nesse campo, os egípcios, os gregos, os judeus, os arianos da Índia, os chineses e os celtas – a utilização da mediunidade nas práticas oraculares acelerou o desenvolvimento espiritual da Humanidade.

Essa aceleração produziu o refinamento intelectual, restrito às elites culturais, e transformou o acervo de experiências das práticas mágicas em formulações teológicas e elaborações litúrgicas e rituais, doiradas com a purpurina dos sofismas e das pretensões teológicas.

As ordenações e as sagrações encheram o mundo civilizado de instituições supostamente sagradas, em que permanecem até hoje os resíduos mágicos das selvas. Essas Religiões e Ordens Ocultistas estão carregadas de conceitos absurdos sobre a vida e a morte, com cerimoniais especialmente preparados para influir na credulidade das criaturas ingênuas ou sensíveis.

A Idade Média europeia, acompanhada dos períodos medievais diferenciados em outras partes do mundo, gerou o fanatismo religioso e as guerras de religião, as mais impiedosas e brutais, feitas em nome de Deus, cujo conceito era recortado do modelo bíblico de Iavé, o deus dos Exércitos das bárbaras conquistas judaicas. 

O Cristianismo se transformou numa superestrutura cultural fundamentada na magia primitiva do sangue, com todas as consequências falsas e desumanas de uma Ciência do Absurdo – a Teologia, Ciência dos homens que tinham Deus como objeto. A reação dialética era inevitável e o aceleramento cultural, regido pelas leis do espírito, gerou a revolta científica do Renascimento, da Era da Razão.
Só nos Séculos XVIII e XIX abriram-se as perspectivas para uma compreensão racional, e portanto humana, das relações espirituais entre Deus e o homem. 

E só a pesquisa espírita e sacrificial de Kardec conseguiu romper o nevoeiro restante das pesadas trevas teológico-medievais. Espantado o nevoeiro, Kardec pôde oferecer ao mundo o conceito da telegrafia humana, no qual o problema da oração, tomado no sentido mais simples da palavra prece, restabelecia a verdade sobre a natureza humana e suas relações com Deus.

Ao mesmo tempo, descobria-se a existência das relações humanas à distância, da telegrafia humana, tão simples e natural como as que então ocorriam através do telégrafo elétrico. Nesse processo telegráfico aparentemente mental os homens podiam comunicar-se entre si através de todas as distâncias, inclusive as até então insuperáveis distâncias da morte.

 E o problema da morte, em que até hoje as Igrejas se confundem e se embaralham, tornava-se claro à compreensão de qualquer criatura de bom senso.
Essa expressão comum – o bom senso –, plebeia, popularesca, transformada pelo vulgo em medidazinha de bolso dos moralistas de esquina, Kardec transformou em critério de verdade. Era um escândalo falar em bom senso entre as alucinações teológicas da época e a loucura fecunda dos cientistas.

 Descartes o fizera num desafio de espadachim, num golpe de ironia contra os teólogos, mas Kardec o fazia numa tomada de posição no campo da Verdade. O bom senso, que até então só servira como recurso de acomodação dos medíocres às regras banais da moral burguesa, entre os flocos de algodão da hipocrisia, transformava-se em bússola de navegantes audaciosos em mares nunca dantes navegados.

E Kardec mostrou sem alardes, com a tranquilidade do sábio, que essa expressão humilde e desprezada era a própria chave do futuro.

Não era através de golpes de imaginação, de inspirações e intuições maravilhosas, mas da observação e da pesquisa científica dos fenômenos que se podia arrancar a verdade sobre o homem, a vida e a morte; o destino da civilização é obter uma concepção lógica de Deus.

A realidade total só nos era acessível através desse point d’optique, desse centro visual em que todo o Cosmos se refletia; a descoberta da telegrafia humana não havia sido um golpe de gênio, nem um relâmpago da sabedoria infusa dos teólogos, mas um resultado de pesquisas minuciosas e teimosas, na carne e no espírito de criaturas ingênuas e simples.

Hoje as pesquisas parapsicológicas e biofísicas, em plena era cósmica, comprovam a realidade da telegrafia humana com a expressão científica da telepatia, que diz exatamente o que Kardec proclamava no seu tempo, há mais de um século.

Telepatia não é apenas transmissão do pensamento, mas de todo o pathus individual da criatura, que se define também como projeção do eu. É graças a essa projeção espiritual que podemos falar em teledoutrinação, ou seja, em doutrinação à distância. Kardec relata na Revista Espírita a cura de uma jovem obsedada, cuja família católica não permitia sua frequência a sessões espíritas; à revelia da família e da própria jovem, formou-se um pequeno grupo de amigos que passou a reunir-se todos os dias, em hora determinada, emitindo pensamentos de ajuda e orientação espiritual a ela e às entidades perturbadoras. A moça foi curada sem tomar conhecimento desse fato.

Experiências atuais de telepatia, realizadas por pesquisadores ingleses, como os professores universitários C. G. Soal, Wathely Carrington e Price, bem como por pesquisadores norte americanos, como Rhine, Pratt e Puharicch, e pesquisadores soviéticos como Prof. Vassiliev e o grupo de pesquisas da Universidade de Kirov, confirmaram plenamente o êxito dessas intervenções à distância. 
Chegaram mesmo a comprovar a possibilidade de ação hipnótica à distância, por meio da telepatia. A Ciência Espírita tem hoje a sanção da Parapsicologia, através de experiências e pesquisas realizadas nos maiores e mais importantes Centros Universitários do mundo.

Dessa maneira, o costume aparentemente ingênuo de se colocar o nome e endereço de pessoas necessitadas na mesa de sessões espíritas, para que sejam beneficiadas à distância, não só pelos métodos espirituais de cura, mas também pelo afastamento de entidades perturbadoras e obsessoras, integra-se hoje no campo das realidades científicas comprovadas.

O Espiritismo se firma como a primeira Ciência do paranormal, de cujos flancos chicoteados pela sapiência arrogante e falsa do materialismo e do religiosismo fanáticos, nasceram as disciplinas científicas modernas e contemporâneas da Parapsicologia, da Psicofísica e da Metapsíquica de Richet.

As práticas de ação à distância podem ser individuais ou em grupos, dependendo a sua eficácia unicamente da boa vontade e da intenção real e firme de auxiliar os necessitados.

As pessoas que hoje ainda consideram essas práticas de solidariedade humana como utópicas ou supersticiosas, por mais credenciadas que sejam culturalmente, revelam falta de atualização científica ou, o que é pior, preconceitos inadmissíveis em nosso tempo.

As pessoas que pretendem reduzir a fenomenologia paranormal a manifestações de faculdades humanas sem intervenção de entidades espirituais contrariam a realidade científica mundialmente comprovada, pretendendo colocar suas opiniões pessoais e seus preconceitos acima das rigorosas comprovações científicas atuais. Trata-se de pretensão evidentemente exagerada.

As que se apoiam em crenças e dogmas religiosos para se oporem a essa realidade são espíritos sistemáticos.


O Espiritismo, como Kardec afirmou, é contrário ao espírito de sistema, fundamentando seus princípios na observação e na pesquisa. Fatos são fatos e só podem ser negados por pesquisas científicas rigorosas, realizadas por cientistas qualificados.