terça-feira, 21 de fevereiro de 2012


No texto abaixo, extraído integralmente do livro Viagem Espírita 1862, inserimos um breve "resumo" visando chamar a atenção para a importância das instruções de Kardec, um tanto esquecida nos dias atuais, quando uma onda "materialista" invade o Movimento Espírita.

Sobre a formação de grupos e sociedades espíritas.

a)       Necessidade de objetivos sérios
b)       Devidamente registradas em cartórios  e órgãos governamentais
c)       Da importância da Mulher nas instituições espíritas
d)       Da importância dos Jovens nas instituições espíritas
e)       Da importância dos Estudos e Palestras Espíritas

Em várias localidades solicitaram-me conselhos para a formação de grupos espíritas. Tenho pouco a dizer a esse respeito, além do que está contido, como instruções, em O Livro dos Médiuns. Acrescentarei apenas umas poucas palavras.

A primeira condição é, sem dúvida, constituir um núcleo de pessoas sérias, por mais restrito seja o seu número. Cinco ou seis pessoas, se são esclarecidas, sinceras, imbuídas pelas verdades da doutrina e unidas pela mesma intenção, valem cem vezes mais do que uma multidão de curiosos e indiferentes. Em seguida devem os seus membros fundadores estabelecer um regulamento que se tornará em lei para os novos aderentes.

Esse regulamento é muito simples e não comporta senão medidas de disciplina interior, pois que tão somente as sociedades numerosas e regularmente constituídas exigirão o estabelecimento de particularidades. Cada grupo pode, pois, redigir esse regulamento como desejar. Todavia, para garantir uniformidade e facilidade, ofereço, nas últimas páginas desta obra, um modelo que poderá ser modificado de acordo com as circunstâncias e as necessidades locais. Em todo o caso o objetivo essencial proposto deve ser o recolhimento, a manutenção da ordem mais perfeita e o afastamento de toda e qualquer pessoa que não estiver animada de intenções sérias e possa se transformar em motivo de perturbação. 

Eis a razão da severidade imposta aos novos elementos a serem admitidos. Não creiais que essa severidade possa ser nociva à propagação do Espiritismo. Bem pelo contrário! As reuniões sérias são aquelas que fazem mais prosélitos. As reuniões frívolas e que não são conduzidas com ordem e dignidade, nas quais o primeiro curioso que aparece pode vir representar suas facécias, não inspiram nem atenção nem respeito e delas os incrédulos saem menos convencidos do que ao entrar. Estas reuniões fazem a alegria dos inimigos do Espiritismo, mas as outras se constituem no seu pesadelo e eu conheço gente que tudo daria para ver multiplicadas as primeiras com total desaparecimento das outras. Felizmente, é o contrário que ocorre. Urge considerar ainda que o desejo de ser admitido nas reuniões sérias aumenta em razão das dificuldades antepostas. Quanto à difusão doutrinária, ela se processa bem menos em razão da admissão de assistentes – que, via de regra, uma sessão ou duas não podem convencer – do que pelo estudo preliminar e pela conduta dos membros fora das reuniões.

Excluir as mulheres seria injuriar sua capacidade de julgamento que, verdade seja dita e sem intenção de lisonja, muitas vezes leva vantagem sobre a de muitos homens, entre os quais incluiríamos até mesmo certos críticos intelectualizados. A presença de senhoras exige uma observação mais rigorosa das leis da urbanidade e modifica uma certa displicência comum às reuniões compostas apenas de cavalheiros. Além disso, por que privá-las da influência moralizadora do Espiritismo? A mulher sinceramente espírita só poderá ser uma boa esposa, uma boa filha, uma boa mãe. Por força de sua própria posição ela tem, muitas vezes, mais necessidade do que qualquer outra pessoa, das sublimes consolações do Espiritismo, que a tornarão mais forte e mais resignada ante as provações da vida. Não se sabe, de resto, que os Espíritos só têm sexo para a encarnação? Se a igualdade dos direitos da mulher deve ser reconhecida, com maior razão deverá ser assegurada entre os espíritas, e a propagação do Espiritismo apressará, infalivelmente, a abolição dos privilégios que o homem a si mesmo concedeu pelo direito do mais forte. O advento do Espiritismo marcará a era da emancipação legal da mulher.

Tão pouco deveis recear a admissão dos jovens. A gravidade da assembléia espírita beneficiará o seu caráter. Eles se tornarão mais sérios e, em propício momento, poderão haurir, no ensino dos bons Espíritos, a fé viva em Deus e no futuro, o sentimento dos deveres de família que os tornarão mais doces, mais respeitosos, e que tempera a efervescência das paixões.

Quanto às formalidades legais, não há, na França, nenhuma a regulamentar, desde que as reuniões não se realizem com mais de vinte pessoas. Além desse número, as reuniões regulares e periódicas devem ser autorizadas, e isso embora a tolerância – que não pode ser vista como um direito – que a maioria dos grupos espíritas goza em razão de seu caráter pacífico, exclusivamente moral e, sobretudo, tendo-se em vista que não constituem associações ou afiliações. Em qualquer circunstância, todavia, os espíritas devem ser os primeiros a dar exemplo de submissão às leis, isso no caso de ser necessária a sua aplicação.

Há algum tempo constituíram-se alguns grupos, de especial caráter, e cuja multiplicação entusiasticamente desejamos encorajar. São os denominados grupos de ensino. Neles ocupam-se pouco ou nada das manifestações. Toda a atenção se volta para a leitura e explicação de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e artigos da Revista Espírita. Algumas pessoas devotadas reúnem com esse objetivo um certo número de ouvintes, suprindo para eles as dificuldades da leitura ou do estudo isolado. Aplaudimos de todo o coração essa iniciativa que, esperamos, terá imitadores e não poderá, em se desenvolvendo, deixar de produzir os melhores resultados. Para essa atividade não se tem necessidade de ser orador ou professor; trata-se de uma leitura, como em família, seguida de explicações despretensiosas do ponto de vista da eloqüência, mas que estejam ao alcance de toda a gente.

Sem fazer disso norma obrigatória, muitos grupos têm por hábito iniciar as sessões pela leitura de algumas passagens de O Livro dos Espíritos ou O Livro dos Médiuns. Seríamos felizes vendo essa prática adotada de modo geral, uma vez que o seu resultado é despertar as atenções para princípios que poderiam ser mal compreendidos ou passar desapercebidos. Nesse caso é útil que os dirigentes, ou presidentes dos grupos, preparem antecipadamente as passagens que deverão constituir o objeto de leitura, a fim de harmonizar essa escolha às circunstâncias.

Não deve causar estranheza ou incompreensão que eu indique essas obras como básicas para o estudo, uma vez que são as únicas em que a ciência espírita se encontra analisada em todas as suas partes e de maneira metódica. Todavia julgar-me-ia mal quem me supusesse exclusivo a ponto de recusar outras obras, entre as quais muitas merecem toda a simpatia dos bons espíritos. Em um estudo completo, ademais, é preciso examinar-se tudo, mesmo aquilo que é mau. Julgo também muito útil a leitura das críticas, para delas fazer ressaltar o vazio e a ausência de lógica; nelas nunca há uma única assertiva capaz de abalar a fé de um espírita sincero, pelo contrário, podem apenas fortalecê-la, pois que muitas vezes já a fizeram nascer no coração de incrédulos que se deram ao trabalho de compará-las. O mesmo se pode dizer de certas obras que, se bem que escritas com uma finalidade digna, nem por isso deixam de conter erros manifestos ou excentricidades que é sempre preciso pôr a descoberto.

Eis aqui um outro hábito, cuja adoção nos parece extremamente útil: é essencial que cada grupo recolha e passe a limpo as comunicações recebidas, a fim de, com facilidade, a elas recorrer em caso de necessidade. Os Espíritos que vêem seus ensinamentos relegados ao esquecimento bem cedo abandonam o grupo, fatigados. É também muito útil fazer-se, à parte, uma seleção especial, bem redigida e clara, das comunicações mais belas e instrutivas e reler algumas em cada sessão, a fim de que delas se tire proveito.

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