domingo, 5 de fevereiro de 2012


Victor Hugo muito se agigantou pela inteligência; poeta genial, escritor primoroso e fecundo. Sustentou, sem esmorecimentos, tremendas lutas em prol da liberdade, enfrentando a ira dos reacionários de todos os tempos, desses que não vacilam em sacrificar as coisas mais sagradas e nobres para que seus interesses fiquem incólumes.
Por ter sido grande demais, deixou de ser cidadão francês para se tornar cidadão do mundo, porque, como foi dito, sua obra literária, suas palavras, no campo político, suas idéias e pensamentos influíram e beneficiaram os povos do mundo inteiro! Ele próprio sentia, não obstante seu entranhado amor ao país de seu nascimento, que pertencia a todos os povos que sofriam e se viam cerceados da liberdade de pensar, e que a ele cabia o dever de trabalhar, lutar infatigavelmente para que a luz da verdade espiritual reinasse nas almas de todos os seus irmãos, fossem eles desta ou daquela pátria. E para que essa luz pudesse brilhar era condição, sine qua non, que aos homens fosse adjudicado o sagrado direito de liberdade, liberdade de sentir Deus e a sua justiça, dentro das possibilidades intelectuais de cada um, dessa liberdade, enfim, que é uma condição essencial do homem.
Eis por que em pleno Congresso da Paz, em Lausanne, afirmou: "Sou cidadão de todo homem que pensa!".

Não é nosso intento, sem dúvida, descrever a vida e a obra de Victor Hugo, vida por demais extensa, pois que em tudo ele foi exímio, seja como poeta, pensador, dramaturgo, romancista, historiador, panfletista, orador, jornalista e espírita!

Mostrou-se sempre inimigo intransigente da pena de morte: "A cabeça do homem do povo está cheia de princípios úteis... cultivai, decifrai, regai, esclarecei, moralizai, utilizai essa cabeça e não tereis necessidade de cortá-la!".

Nosso propósito, porém, acerca da personalidade de Victor Hugo, é o de focalizá-lo como espírita, o que procuraremos fazer sucintamente.
Em 1852, em face de suas atitudes políticas, viu-se ele na contingência de refugiar-se em Jersey, na vivenda Marine-Terrace. Logo após chamou para junto de si a mulher e os filhos, aos quais se reuniram alguns amigos, e entre eles Vacquerie e Julieta Drouet.

Em setembro de 1853 chegava a Jersey, de visita, a Sra. De Girardin, levando a grande novidade: o Espiritismo.

Neste ponto, transcreveremos o que sobre esse assunto escreveu Raymond Escholier, em seu livro intitulado "A Vida Gloriosa de Victor Hugo":
As suas crenças religiosas, que a certas almas frívolas parecem tão simples, tão restritas, por vezes tão extravagantes, são a verdadeira herança transmitida pelos seus ancestrais rústicos.

A bem dizer, essas idéias são mais velhas do que o Cristianismo: fé na sobrevivência e na presença permanente dos mortos, no poder do sortilégio e da magia. Hugo não se limita a introduzir na poesia francesa as expressões do povo, a linguagem popular, tão cheia de imagens, tão colorida, tão expressiva; deu igualmente o direito de cidadania às crenças do homem primitivo, que sempre existiu no velho solo da França.

Para encontrar aquela que ficou em França, aquela a quem Victor Hugo cantou a mãe dolorosa, consultou ele à sua velha amiga, a Sra. Girardin; interrogando, por intermédio das mesas falantes, o túmulo coberto de ervas e de sombras. Com a Sra. Hugo, com Carlos, maravilhoso médium, com Augusto Vacquerie e o General Le Flô, Victor crê penetrar o segredo das forças obscuras.
O primeiro Espírito que se apresentou em Marine-Terrace foi o de Leopoldina.
-Onde estás? - pergunta o poeta.
-Luz.
-Que é preciso fazer para ir ter contigo?
-Amar.

Então na pequenina casa, tão triste, todos choraram, todos acreditaram.
Nas revelações das mesas, Hugo vê a deslumbrante confirmação das suas idéias religiosas. E é nessa convicção que escreve, a 19 de setembro de 1854:
- Tenho uma pergunta grave a fazer. Os seres, que povoam o Invisível e que lêem os nossos pensamentos, sabem que há vinte e cinco anos me ocupo dos assuntos que a mesa suscita e aprofunda. Mais duma vez a mesa me tem falado desse trabalho; a Sombra do Sepulcro incitou-me a terminá-lo. Nesse trabalho, evidentemente conhecido no além, nesse trabalho de vinte e cinco anos, encontrara, apenas pela meditação, muitos resultados que compõem hoje a revelação da mesa; vira distintamente confirmados alguns desses resultados sublimes; entrevira outros que viviam no meu espírito num estado de embrião confuso. Os seres misteriosos e grandes que me escutam, vêem, quando querem, no meu pensamento, como se vê numa gruta com um archote; conhecem a minha consciência e sabem quanto tudo o que eu acabo de dizer é rigorosamente exato, que fiquei por momentos contrariado, no meu miserável amor-próprio humano, pela revelação atual, que veio lançar à volta da minha lampadazinha de mineiro o clarão dum raio ou dum meteoro. Hoje, tudo o que eu vira por inteiro é confirmado pela mesa: e as meias revelações a mesa as completa. Neste estado de alma escrevi: "O ser que se chama Sombra do Sepulcro aconselhou-me a terminar a obra começada; o ser que se chama Idéia foi mais longe ainda e "ordenou-me" que fizesse versos atraindo a piedade para os seres cativos e punidos, que compõem o que parece aos não videntes a Natureza morta; obedeci. Fiz versos que Idéia me impôs".
Em 22 de maio de 1885 desencarnou o Espírito de Victor Hugo. 

Eis as suas últimas vontades consignadas em testamento confiado a Augusto Vacquerie:
Deixo 50.000 francos aos pobres. Desejo que me levem ao cemitério na carreta dos pobres. Recuso as orações de todas as igrejas. Creio em Deus.


Fonte:Livro: Grandes Vultos da Humanidade e o  Espiritismo





A FACE ESPÍRITA DE VICTOR HUGO

Das figuras exponenciais da cultura deste mundo podemos destacar com absoluta segurança, Victor Marie Hugo (Besançon 1802 - Paris 1885). Poeta, romancista emérito, produziu também coletâneas líricas e peças de teatro. Também exerceu a arte da pintura. Foi defensor intransigente da democracia e da melhoria social do seu povo, tornando-se, por isso, hostil aos interesses de Napoleão III, fato que o obrigou (1852) a exilar-se em Jersey, depois em Guernesey. Nesta localidade participava de reuniões espíritas. Retornou à França em 1870.

Do Plano Espiritual tem nos brindado com romances extraordinários, recebidos pelos médiuns Divaldo Pereira Franco e Zilda Gama. Seus livros espirituais, apresentados com riqueza verbal invejável, nos trazem acontecimentos autênticos de encarnações do passado e suas conseqüências nas reencarnações futuras, visando o nosso esclarecimento e aprimoramento moral. Como todo espírito elevado, não deixa de tecer críticas sobre o mau comportamento humano.

"Deus na sua onisciência absoluta houve por bem criar os seres humanos com todas as faculdades anímicas, que eu denomino negativas e positivas - estas simbolizando o Bem, aquelas o Mal."

Recentemente um documentário sobre o livro "Os Miseráveis" chamou-me a atenção para o lado espírita de Victor Hugo. Nele, um dos estudiosos da obra de Hugo afirma que os espíritos o incentivaram a concluir e publicar o livro que se tornaria um marco na literatura mundial, por dar voz e luz a uma população geralmente esquecida, diminuída ou marginalizada pelos autores anteriores à sua época.

O escritor francês foi condecorado cavaleiro da Legião de Honra em 1825, membro da Academia Francesa e foi eleito deputado constituinte de Paris em 1848 e 1849. Foi eleito presidente do Congresso Internacional da Paz em 1849. Em 1852 um decreto do governo de Luis Napoleão o expulsa da França e ele vai para a ilha de Jersey, onde teve contato com a mediunidade e os espíritos. Hugo só voltaria à Paris após a proclamação da república, mesmo tendo sido anistiado.

O livro de Maria do Carmo Schneider, de leitura agradável, focaliza o lado espírita de Victor Hugo, conectando-o à sua obra.. São impressionantes os poemas obtidos pela via mediúnica na ilha de Jersey e os espíritos com quem comunicava-se, que adotavam pseudônimos poéticos como "Sombra do Sepulcro", "Dama Branca", "Leão de Ândrocles" e "Pomba do Arco". Poetas famosos também assinavam as comunicações, como Molière, Ésquilo, Shakespeare, Dante e Camões.

A pena dos historiadores e biógrafos de Victor Hugo muitas vezes o considerou um "louco no exílio", assim como foi feito com outras personalidades notáveis que se tornaram espíritas ou espiritualistas como William Crookes e Robert Owen. Em sua "loucura genial" Victor Hugo ainda publicou mais de vinte grandes obras, como "O Homem Que Ri", "Os Miseráveis", "William Shakespeare", "Trabalhadores do Mar", "Torquemada" e outras obras memoráveis.

Além do trabalho de Maria do Carmo, quem desejar conhecer uma abordagem filosófica da obra de Victor Hugo, pode ler o livro "Victor Hugo, Espírita", escrito pelo espírita argentino Humberto Mariotti e publicado em português pela editora EME.

Como um presente ao leitor do blog, fica um dos poemas mediúnicos da Ilha de Jersey, ditado pela "Sombra do Sepulcro":


"Espírito que quer saber o segredo das trevas,
E que, segurando nas mãos a terrestre chama,
Vem, furtivo, apalpando nas nossas fúnebres sombras,
Espicaçar a imensa tumba,

Retorna ao teu silêncio e sopra tuas velas,
Retorna à noite de onde algumas vezes sais;
O olho dos vivos não lê coisas eternas
Por sobre os ombros dos que não vivem mais."

(Resposta a Hugo da Sombra do Sepulcro após duas perguntas dirigidas a Molière). Leia sua interpretação na página 52 do livro de Schneider.









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