segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O LANÇAMENTO DA REVISTA ESPÍRITA E A PRIMEIRA AULA DE ALLAN KARDEC SOBRE MEDIUNIDADE


Introdução
Revista Espírita, janeiro de 1858

A rapidez com a qual se propagaram, em todas as partes do mundo, os fenômenos estranhos das manifestações espíritas, é uma prova do interesse que causam. Simples objeto de curiosidade, a princípio, não tardaram em despertar a atenção dos homens sérios que entreviram, desde o início, a influência inevitável que devem ter sobre o estado moral da sociedade. As ideias novas que deles surgem, se popularizam cada dia mais, e nada poderia deter-lhes o progresso, pela razão muito simples de que esses fenômenos estão ao alcance de todo mundo, ou quase todo, e que nenhuma força humana pode impedi-los de se produzirem. Se os abafam em algum ponto, eles reaparecem em cem outros. Aqueles, pois, que poderiam, nele, ver um inconveniente qualquer, serão constrangidos, pela força das coisas, a sofrer-lhes as consequências, como ocorreu com as indústrias novas que, na sua origem, feriram interesses privados, e com as quais todo o mundo acabou por se ajeitar,porque não se poderia fazer de outro modo. O que não se fez e disse contra o magnetismo!

E, todavia, todos os raios que se lançaram contra ele, todas as armas com as quais o atingiram, mesmo o ridículo, se enfraqueceram diante da realidade, e não serviram senão para colocá-lo mais e mais em evidência. É que o magnetismo é uma força natural, e que, diante das forças da Natureza, o homem é um pigmeu semelhante a esses cãezinhos que ladram, inutilmente, contra o que os assusta. Há manifestações espíritas como a do sonambulismo; se elas não se produzem à luz do dia, publicamente, ninguém pode se opor a que tenham lugar na intimidade, uma vez que, cada família, pode achar um médium entre seus membros, desde a criança até o velho, como pode achar um sonâmbulo. Quem, pois, poderia impedir, a qualquer pessoa, de ser médium ou sonâmbula? Aqueles que combatem a coisa, sem dúvida, não refletiram nela. Ainda uma vez, quando uma força é da Natureza, pode-se detê-la um instante: aniquilá-la, jamais! Não se faz mais do que desviar-lhe o curso.

Ora, a força que se revela no fenômeno das manifestações, qualquer que seja a sua causa, está na Natureza, como a do magnetismo; não será aniquilada, pois, como não se pode aniquilar a força elétrica. O que é preciso fazer, é observá-la, estudar-lhe todas as fases para, delas, deduzir as leis que a regem. Se for um erro, uma ilusão, o tempo lhe fará justiça; se for a verdade, a verdade é como o vapor: quanto mais se comprime, maior é a sua força de expansão. (parte da importante introdução da primeira edição da Revista Espírita)

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Primeiro artigo e PRIMEIRA AULA SOBRE MEDIUNIDADE ministrada por Allan Kardec.

Diferentes naturezas de manifestações
Revista Espírita, janeiro de 1858

Os Espíritos atestam a sua presença de diversas maneiras, segundo sua aptidão, sua vontade e seu maior ou menor grau de elevação. Todos os fenômenos dos quais teremos ocasião de nos ocupar, se relacionam, naturalmente, a um ou a outro desses modos de comunicação.

Cremos, pois, para facilitar o entendimento dos fatos, dever abrir a série de nossos artigos pelo quadro das diferentes naturezas de manifestações. Podem ser resumidas assim:

1-    Ação oculta, quando ela não tem nada ostensivo. Tais são, por exemplo as inspirações ou sugestões de pensamento, as advertências íntimas, as influências sobre os acontecimentos, etc.;
2-    Ação patente ou manifestação, quando ela é apreciável de um modo qualquer;
3-   Manifestações físicas ou materiais', são aquelas que se traduzem por fenômenos sensíveis, tais como os ruídos, o movimento e o deslocamento de objetos. Essas manifestações não comportam, muito frequentemente, nenhum sentido direto; elas não têm por objetivo senão chamar a nossa atenção sobre alguma coisa, e nos convencer da presença de uma força superior à do homem;
4- Manifestações visuais ou aparições, quando um Espírito se revela à visão,   sob uma forma qualquer, sem ter nenhuma das propriedades conhecidas da            matéria;
5- Manifestações inteligentes, quando revelam um pensamento. Toda   manifestação que comporte um sentido, não fora senão um simples       movimento ou um ruído que acuse uma certa liberdade de ação, responde a um pensamento ou obedece a uma vontade, é uma manifestação inteligente.                   Ocorrem em todos os graus;

6- As comunicações', são as manifestações inteligentes que têm por objeto   uma troca seguida de pensamentos entre o homem e os Espíritos.

À natureza das comunicações varia segundo o grau, de elevação ou inferioridade, de saber ou ignorância do Espírito que se manifeste, e segundo a natureza do assunto de que se trata.

Elas podem ser: frívolas, grosseiras, sérias, ou instrutivas.

As comunicações frívolas emanam de Espíritos levianos, zombadores e traquinas, mais maliciosos do que maus, que não ligam nenhuma importância ao que dizem.

As comunicações grosseiras se traduzem por expressões que chocam as conveniências. Elas não emanam senão de Espíritos inferiores, ou que não estão ainda despojados de todas as impurezas da matéria.

As comunicações sérias  são graves quanto ao assunto e à maneira que são feitas. A linguagem dos Espíritos superiores é sempre digna e isenta de toda a trivialidade. Toda comunicação que exclui a frivolidade e a grosseria, e que tem um fim útil, seja de interesse privado, é, por isso mesmo, séria.

As comunicações instrutivas são as comunicações sérias que têm por objetivo principal um ensinamento qualquer, dado pelos Espíritos sobre as ciências, a moral, a filosofia, etc. São mais ou menos profundas e mais ou menos verdadeiras, segundo o grau de evolução e de desmaterialização do Espírito. Para se retirar dessas comunicações um proveito real, é preciso que sejam regulares e continuem com perseverança. Os Espíritos sérios se ligam àqueles que querem se instruir e os secundam, ao passo que deixam aos Espíritos levianos o cuidado de divertir, com gracejos, aqueles que não vêem, nas manifestações, senão uma distração passageira. Não é senão pela regularidade e pela frequência das comunicações, que
se pode apreciar o valor moral e intelectual dos Espíritos com os quais se conversa, e o grau de confiança que merecem. Se é preciso experiência para julgar os homens, é preciso, talvez, mais ainda para julgar os Espíritos.

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