Abaixo inserimos um artigo muito importante e do qual compartilhamos, uma vez que expressa uma visão atual sobre a necessidade das Instituições Espíritas (diretores) analisarem e realinharem seus programas e próprios pensamentos sobre a Importância do Jovem na Casa Espírita.
Fonte do artigo: http://pensarespirita.wordpress.com/2012/03/17/importancia-da-mocidade-espirita/
Existem,
atualmente, em alguns centros espíritas, uma reação entre os adultos para com
os jovens que é a de que “eles não sabem das coisas”, “ é muito novo, não
entende”, “ainda tem muito que aprender”.
Entendo isso como
falta de respeito e passo a explicar meu ponto de vista.
O jovem é um ser
pensante e tem direito a ter opiniões próprias mas, além disso, quando os
adultos dizem tais coisas esquecem-se de um fator básico: a idade espiritual,
pois, posto que somos espíritos temos a consciência de que dessa forma todos
somos multimilenares.
Muitos dos que já
passaram por esta fase, a meu ver, sentem emoções distorcidas, alguns não
aceitam que a sua mocidade já passou, outros dizem que essa fase é apenas para
curtir a vida explorando toda espécie de situações fúteis e prazeres sem
nenhuma responsabilidade, outros ainda querem que sigamos o que eles faziam
quando jovens em décadas tão diferentes da atual.
Dora
Incontri, jornalista e escritora brasileira e um importante nome da Pedagogia
Espírita, diz em sua obra “A Educação Segundo o Espiritismo”,
livro que já se encontra em sua 8ª edição baseado em pesquisas, experiências
pessoais e inspirações mediúnicas, que “a grande
maioria dos adultos ignora a real importância da fase juvenil para o Espírito.”
Quantos jovens
demonstram muito mais sabedoria que aqueles que já se encontram na fase adulta?
Essa é uma fase
onde eles buscam a autonomia, onde eles têm a necessidade de estabelecer seus
próprios ideais. O pior que se pode fazer a um jovem é utilizar-se das frases
que citamos no início do texto, pois, desta forma, estaremos afastando-o e lhe
dando espaço para a rebeldia que, de certa forma, será justificada.
Mas
para que isso não ocorra ou encontre dificuldades para ocorrer, temos que dar
aos jovens o que cobramos. Temos que dar a eles o espaço para pensar,
raciocinar e refletir sobre a vida nas suas mais diversas nuances, mas NUNCA
tolhendo seu livre-arbítrio.
Cobramos
responsabilidade, mas não damos espaço para que eles trabalhem, ou se damos
espaço é o espaço que queremos, não perguntamos, na maioria das vezes, qual a
área de interesse do jovem.
E aí criticamos,
pois quando eles não se interessam eles simplesmente não fazem. Mas, um
momento…
Nós, adultos, não
somos assim? Se alguém tentar fazer você comer o que não gosta, você vai comer?
Se alguém tentar fazer você vestir uma roupa que não gosta, você vai vestir?
Não. Não faremos posto que somos “adultos” e podemos e sabemos escolher.
Os jovens também
tem esse direito. A Casa espírita não deve ser um lugar de repressão. Existem
sim normas e regras que devemos seguir pelo bem comum de todos os que lá
frequentam e que são extremamente importantes para o bem do trabalho material e
espiritual, mas como queremos que os jovens sejam o futuro da casa se não os
ouvimos? Se não os observamos?
É imprescindível
observar até que ponto alguns jovens se aproveitam dessa situação e, em
percebendo isso, devemos intervir e incluir os pais e/ou os responsáveis pelos
jovens, de forma firme e respeitosa sempre, lembrando que nossa posição não é de
juízes mas de observadores.
Os encontros
espíritas, as mocidades, tudo isso existe para e pelos jovens, mas o que vemos
atualmente é que eles, nem sempre, são a prioridade.
Por exemplo, quando
eu era jovem de mocidade, várias vezes ao fim do ano pediam para que a gente
escrevesse sobre que assuntos gostaríamos de estudar. Tínhamos a expectativa de
que no próximo ano esse assuntos fossem trabalhados sob a visão da Doutrina mas,
o que acontecia não era isso. Trabalhávamos o mesmo de sempre.
Se pegarmos como exemplo
o modelo de evangelização de Jesus, percebemos que os discípulos perguntavam
sobre coisas do cotidiano e Jesus as respondia introduzindo o conceito cristão.
Jesus as respondia sem ficar repetindo as mesmas coisas, era sobre aquela
circunstância em questão.
Quantas vezes vemos
as mocidades estudando as mesmas coisas anos a fio? Como fazer que o interesse
se mantenha dessa forma? Dando sempre os mesmos exemplos? Falando sempre dos
mesmos vultos que, quase sempre, são espíritas como se nenhuma outra pessoa de
outra vertente religiosa ou até que não siga nenhuma vertente religiosa tivesse
exemplos lindos a seguir?
E nisso cito
Gandhi, Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá e tantos outros.
Deolindo
Amorim, jornalista, escritor e conferecista espírita, nos dá no texto “Mocidades
Espíritas e as Mudanças” publicado no Anuário Espírita de 1976, informações
extremamente importantes. Passo a citar alguns trechos:
“Até
1940 a quarenta e tantos, por exemplo, era habitual, entre nós, a promoção de
festas e programas artísticos para atrair os moços. Festas realmente sadias e
programas inegavelmente bem inspirados. Dizia-se então que a Doutrina pura e
simples era “muito seca” e, por isso mesmo, não seria possível trazer o moço
para o meio espírita somente com ensino doutrinário. Dizia-se abertamente: ‘os
moços querem alegria e movimento” “ainda é cedo para estudos sérios de
Espiritismo’’. Programas artísticos por toda a parte, a bem dizer, números de
poesia, às vezes violão, brincadeiras inofensivas, e assim passavam-se as
“tardes fraternas’’ de mocidades e juventudes espíritas. Foi assim mesmo, por
muito tempo. Mas as coisas mudaram, e temos que compreender a mudança.
Os
jovens de 1975 têm outras motivações, outras experiências e, até certo ponto,
têm outras necessidades. A mentalidade dos jovens de hoje não pode ser a mesma
mentalidade da geração que participou do movimento espírita na década de
quarenta. Houve grande transformação sócio-cultural de 1940 para cá. Não seria
possível, hoje, atrair e segurar o elemento jovem no meio espírita somente com
declamações, números de música, festinhas e por que não é possível? Exatamente
porque o jovem quer o diálogo, o raciocínio mais objetivo. Convém
notar, ainda mais, que há trinta anos, digamos assim, não havia tanto elemento
universitário no meio espírita, como hoje. E a mentalidade universitária, por
natureza, é diferente da mentalidade passiva. Havia, anteriormente, naqueles
tempos, menos diálogo, porque a palavra do mentor captava muita confiança por
si mesma. Quase não se falava em debate, a não ser em determinados movimentos,
e pouco se discutia em ‘‘mesa-redonda’’.
Atualmente,
como se vê, já é impressionante, nas fileiras espíritas, o contingente de
jovens oriundos de Universidades, onde recebem informações de vários tipos e se
defrontam com diversas direções de pensamento. Eles têm, por força do ambiente
universitário, muito espírito de participação e crítica. Muitos deles levam o
Espiritismo a sério e querem estudá-lo bem, muito mais do que se pensa, mas
precisam encontrar condições adequadas. Esta situação está reclamando
naturalmente novos hábitos no relacionamento com as alas jovens. Claro que
ninguém iria admitir nem sequer imaginar que as organizações de juventudes e
mocidades espíritas se transformassem em clubes de mera recreação ou em
círculos de polemicas fora dos princípios espíritas. Não. Entretanto, não
se pode deixar de considerar que cada época tem suas exigências, e o
Espiritismo tem um corpo de doutrina capaz de nos dar a verdadeira dimensão
deste fenômeno, desde que tenhamos a necessária cautela para evitar
intromissões oportunistas, com segundas intenções, querendo forçar conexões que
não existem. É outro problema. O estudo básico da Doutrina, porém, está
necessitando de uma perspectiva nova, em certos aspectos, sem desmerecer a
tradição e as grandes experiências do passado, que nunca deixará de ser uma
lição para o presente.
Não
há muito tempo, em artigo publicado no jornal Mundo Espírita, de 31.05.75,
insistíamos nestes mesmos pontos e dizíamos, a certa altura: “A palavra de
consolo e fé, nas horas mais criticas, é insubstituível, porque é a linguagem
do sentimento, e não do raciocínio frio, que pode instruir, mas não alivia as
dores da alma. Todavia, o Espiritismo precisa e deve acompanhar o espírito
critico da época. Se quisermos fazer um tipo de espiritismo devocional ou
conventual, ignorando os desafios da realidade presente, ficaremos à margem,
não há dúvida Dentro deste novo quadro, finalmente, a cultura e a promoção de
cursos são necessidades compatíveis com a posição do Espiritismo em face da
crítica moderna”. Se pensamos assim, e já de algum tempo a esta parte, é porque
a vivência no meio espírita, observando as reações dos elementos jovens, nos
induz, cada vez mais, a compreender a necessidade de um sistema de comunicação
doutrinária mais consentâneo com os problemas que estão surgindo.
Em
lugar, finalmente, de querermos prender os jovens com recursos usados há mais
de trinta anos, quando eram outras as condições ambientais, oferecendo-lhes
apenas oportunidades festivas, devemos pensar, antes de tudo, que eles querem
ir mais longe, porque estão vivendo uma época de desafios e, por mesmo,
procuram no Espiritismo as respostas convincentes e as soluções compatíveis com
o estado de espírito em que se encontram, justamente por causa das experiências
de hoje. Devemos compreendê-los, com visão do momento. Indiscutivelmente os
programas artísticos ou recreativos têm o seu lugar, a sua oportunidade, pois
fazem parte das atividades espíritas e, portanto, são necessários; não devem,
porém, ser a única razão de ser dos movimentos de juventudes e mocidades, como
se fossem um chamariz, um ponto de atração, e nada mais. Não devemos continuar
pensando como há trinta anos, pois o jovem espírita, vivendo o seu mundo de
hoje, embora aprecie muito as artes e as expansões naturais, reclama outros
instrumentos através do diálogos e da crítica. Mudança de mentalidade, mudança
de hábitos, embora permaneçam inabaláveis os valores espirituais.”
É fato que queremos
que os outros experimentem e gostem daquilo que gostamos e que sabemos ser bom
mas será que acreditamos “convencer” os outros só pelas palavras?
Temos, sim, que
orientá-los mediante à Doutrina mas nós não somos os pais. Somos os que
facilitam o entendimento por estarmos, encarnados neste momento, há mais tempo
ou até por estudarmos mais e há mais tempo mas é só. Regras, normas, conceitos
e preceitos existem e sou totalmente a favor mas toda regra tem sua exceção,
não esqueçamos que cada um caminha conforma sua possibilidade e que os jovens
são sim o futuro do que está por vir e o que você, evangelizador, e o que você,
jovem, está plantando hoje?
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