segunda-feira, 27 de junho de 2016

A questão da mistificação e suas causas




A questão da mistificação e suas causas
Sala de Estudos da Mediunidade -
Destaque D. Luzinete, trabalhadora da Mediunidade na
Sociedade Espírita Caminho da Paz

1.     Conceito de mistificação nas manifestações espíritas.
2.     Por que é permitida a mistificação nas sessões espíritas.
3.     Diferença entre mistificação e animismo.
4.     Ação dos mentores nos casos de mistificação.
5.     Meios de evitar a mistificação.


 Conceito de mistificação

 – Mistificação é engano, logro, burla, abuso da credulidade de alguém. A prática espírita não está livre da mistificação, porquanto aprendemos, com o estudo da escala espírita, que existem Espíritos levianos, "ignorantes, maliciosos, irrefletidos e zombeteiros", que se metem em tudo e a tudo respondem sem se importarem com a verdade. "Gostam de causar pequenos desgostos e ligeiras alegrias, de intrigar, de induzir maldosamente em erro, por meio de mistificações e de espertezas." (86)
Tais Espíritos podem estar desencarnados ou encarnados, o que quer dizer que a mistificação pode ser proveniente do médium, o que é, porém, muito raro no meio espírita sério.

Kardec ensina que a mistificação é fácil de evitar. Basta, para isso, não exigir do Espiritismo senão o que ele pode e deve dar, que é a melhoria moral da Humanidade. "Se vocês não se afastarem daí, não serão jamais enganados", afirma o Espírito de Verdade, que no mesmo passo esclarece: "Os Espíritos vêm instruí-los e guiá-los no caminho do bem e não no caminho das honras e da fortuna, ou para servirem suas mesquinhas paixões. Se não lhes pedissem jamais nada de fútil ou fora de suas atribuições, não dariam oportunidade (86) alguma aos Espíritos enganadores; donde vocês devem concluir que quem é mistificado tem apenas o que merece". (87)

Na mesma obra e no mesmo item, o Espírito de Verdade diz que "Deus permite as mistificações para provar a perseverança dos verdadeiros adeptos e punir os que fazem do Espiritismo um objeto de divertimento". (88)

Emmanuel diz que a mistificação experimentada por um médium traz sempre uma finalidade útil, que é a de afastá-lo do amor-próprio, da preguiça no estudo de suas necessidades próprias, da vaidade pessoal ou dos excessos de confiança em si mesmo, razão pela qual não ocorre à revelia dos seus mentores mais elevados, que, somente assim, o conduzem à vigilância precisa e às realizações da humildade e da prudência no seu mundo subjetivo. (89)

Quem renuncia ao Espiritismo por causa de um simples desapontamento, como a ocorrência de uma mistificação, prova que não o compreende e que não o toma em sua parte séria. (90)

Esses indivíduos mostram, agindo assim, que jamais foram espíritas convictos; são, em verdade, quais crianças que o vento leva à primeira dificuldade.

Kardec, comentando o assunto, ensina que um dos meios mais frequentes que os Espíritos usam, para lograr-nos, é estimular a nossa cupidez e o nosso interesse por fortunas ou facilidades materiais. Devemos, também, ficar alerta quanto às predições de data certa e evitar qualquer providência prescrita ou sugerida pelos Espíritos quando o objetivo não for evidentemente racional.

Não nos deixemos deslumbrar pelos nomes que tomam os Espíritos para darem uma aparência de verdade a suas palavras e desconfiemos "de teorias e sistemas científicos arriscados" e “de tudo o que se afastar do objetivo moral das manifestações". (91)

 Não devemos confundir mistificação com animismo. O animismo é fenômeno produzido pela própria alma do médium, que nem sempre tem consciência do que ocorre. (92)

A mistificação pressupõe mentira, engodo, trapaça, e pode ocorrer, como vimos, com o conhecimento dos mentores espirituais, como se deu na própria Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas quando um Espírito enganador usou o nome de São Luís, dirigente espiritual da Sociedade, estando este presente. (93). É que nada ocorre por acaso. Afirma Divaldo P. Franco que o melhor médium é aquele que, simpatizando somente com os bons Espíritos, raramente é enganado. “As falsas comunicações, que de tempos a tempos ele recebe, são avisos para que não se considere infalível e não se ensoberbeça. ” (94)


Meios de evitar a mistificação

– Além do que já foi dito, Allan Kardec nos fornece seguras orientações a respeito desse assunto no item 268 d' O Livro dos Médiuns, do qual extraímos os seguintes apontamentos:

a) entre os Espíritos, poucos há que têm um nome conhecido na Terra; por isso é que, na maioria das vezes, eles nenhum nome declinam;

b) como os homens, quase sempre, querem saber o nome do comunicante, para os satisfazer o Espírito elevado pode tomar o de alguém que é reverenciado na Terra. Não quer isso dizer que se trata, nesse caso, de uma mistificação ou uma fraude. Seria sim, se o fizesse para nos enganar, mas, quando é para o bem, Deus permite que assim procedam os Espíritos da mesma categoria, porque há entre eles solidariedade e analogia de pensamentos. Ocorre ainda que muitas vezes o Espírito evocado não pode vir, e ele envia então um mandatário, que o representará na reunião;

c) quando Espíritos de baixo padrão moral adotam nomes respeitáveis para nos induzirem ao erro, não é com a permissão dos Espíritos indevidamente nomeados que eles procedem. Os enganadores serão punidos por essa falta. Fique certo, todavia, que, se não fôssemos imperfeitos, não teríamos em torno de nós senão bons Espíritos. Se somos enganados, só de nós mesmos nos devemos queixar;

d) existem pessoas pelas quais os Espíritos superiores se interessam e, quando eles julgam conveniente, as preservam dos ataques da mentira. Contra essas pessoas os enganadores nada podem. Os bons Espíritos se interessam pelos que usam criteriosamente da faculdade de discernir e trabalham seriamente por melhorar-se. Dão a esses suas preferências e os secundam;

e) os Espíritos superiores nenhum outro sinal têm, para se fazerem reconhecer, além da superioridade das suas ideias e da sua linguagem. Os sinais materiais podem ser facilmente imitados. Já os Espíritos inferiores se traem de tantos modos, que seria preciso ser cego para deixar-se iludir. Os Espíritos só enganam os que se deixam enganar;

f) há pessoas que se deixam seduzir por uma linguagem enfática, que apreciam mais as palavras do que as ideias e que, muitas vezes, tomam ideias falsas e vulgares como sublimes. Como podem essas pessoas, que não estão aptas a julgar as obras dos homens, julgar as dos Espíritos?;

g) quando as pessoas são bastante modestas para reconhecerem a sua incapacidade, não se fiam apenas em si; quando, por orgulho, se julgam mais capazes do que o são, trazem consigo a pena da vaidade tola que alimentam. Os mistificadores sabem perfeitamente a quem se dirigem. Há pessoas simples e pouco instruídas mais difíceis de enganar do que outras, que têm finura e saber. Lisonjeando-lhes as paixões, fazem eles do homem o que querem.

86 “O Livro dos Espíritos”, questão no 103
87 “O Livro dos Médiuns”, cap. XXVII, item 303, 1a pergunta
88 Ibidem, cap. XXVII, item 303, 2a pergunta
89“O Consolador”, questão no 401
90 “O Livro dos Médiuns”, cap. XXVII, item 303, 2a pergunta
91 “O Livro dos Médiuns”, cap. XXVII, “Observação” de Kardec posta depois da 2a pergunta do item 303.
92 Leia, acerca do tema animismo, o livro “Médium: Quem é, quem não é”, de Demétrio Pável Bastos, cap. XX e XXI.
93 “Revista Espírita”, ano de 1860, pág. 172.

94 “Moldando o Terceiro Milênio”, cap. 7, pág. 62

Astolfo Oliveira Filho

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