quarta-feira, 13 de setembro de 2017

O fenômeno mediúnico e suas fases


Grade, Bent, Vibração, Facilidade, Bend
SUMÁRIO: Fase de afinidade fluídica e espiritual. Fase de aproximação da entidade. Fase de aceitabilidade do Espírito comunicante. Fase de incorporação mediúnica. A manifestação mediúnica. Condicionamentos e viciações.   


As fases do fenômeno mediúnico.
Em todo e qualquer fenômeno mediúnico de efeitos intelectuais ocorrem fases bem definidas, com certas particularidades que lhes são próprias: 
1a. Fase de afinidade fluídica e espiritual. 
2a. Fase de aproximação da entidade. 
3a. Fase de aceitabilidade do Espírito comunicante pelo médium. 
4a. Fase de incorporação mediúnica.  

Fase de afinidade fluídica e espiritua

Antes da  ocorrência do fenômeno, o médium é sondado psiquicamente para avaliação de sua capacidade vibratória.  
Professor, Orientar, Treinador, Tutor
No caso em que a entidade passe a se comunicar com frequência, surge a afinidade espiritual, que depende da posição evolutiva do Espírito e do médium. 

Dependendo do tipo de atividade mediúnica, o médium, durante o sono, dias antes do trabalho mediúnico, é levado pelos mentores espirituais a tomar contato com o Espírito que ele deverá receber mediunicamente, para evitar choques inesperados durante a reunião, o que poderia ocasionar desequilíbrio vibratório momentâneo ou demorado, impedindo-o de alcançar os objetivos desejados.  

Esse fato ocorre com frequência com os médiuns que integram os grupos de desobsessão. (1)  
1 "Missionários da Luz”, cap. 16, págs. 263 a 268. 
   

Fase de aproximação da entidade
Hummel, Flor, Aproximação, Floral, Macro
 Sequência natural da fase anterior, esta fase se dá no recinto do trabalho mediúnico, como preparação do médium para a tarefa. Pode ocorrer que antes da sessão o médium sinta a influência espiritual, mas deve controlar-se para evitar o transe fora de ocasião. Geralmente sentirá os fluidos próprios da entidade, cabendo-lhe o trabalho de analisá-los e, conforme conhecimento anterior, absorvê-los ou rechaçá-los.  

Fase de aceitabilidade do comunicante 
Episyrphus Balteatus, Aproximação
Ativamente, o médium começa a vibrar, procurando afinizar-se melhor com a mente do Espírito. Manter-se-á calmo, confiante e seguro, certo de que nada de mau lhe acontecerá, porque o equilíbrio do grupo é uma segurança. Sentirá os seus pensamentos serem dirigidos por uma força estranha e aos poucos terá vontade de falar ou de escrever, ou apenas ficará na expectativa de novas associações mentais. Poderá então sentir-se diferente, como se fosse outra pessoa, ver mentalmente outros lugares, ter sensações diferentes, que viverá com maior ou menor intensidade.  

Fase de incorporação mediúnica 
Bolha De Sabão, Colorido, Bola, Água E Sabão
 O Espírito, para se comunicar, não entra no corpo do médium. O que ocorre são assimilações de correntes fluídicas e mentais numa associação perfeita denominada sintonia vibratória. Os centros cerebrais do perispírito e do corpo físico do médium são estimulados pelas forças fluídicas e mentais da entidade comunicante e, quando se dá a associação,   ocorre a chamada incorporação mediúnica.  
   

Os casos Otávia (2), Eugênia (3) e Celina (4), apresentados na obra de André Luiz, dão-nos uma ideia perfeita de como se processa o fenômeno.  O médium incorpora as ideias, as vivências e os sentimentos do Espírito comunicante e os transmite conforme a faculdade que possua. 

É, pois, natural que nessa fase o medianeiro se sinta diferente e apresente sensações   anormais, suor, amortecimentos, respiração ofegante, tremores, nervosismo etc. O controle das reações orgânicas deverá surgir graças à confiança e à serenidade alcançadas com um bom treinamento mediúnico.
  
Condicionamentos e viciações

 Ao se aproximar do médium, o Espírito combina seus fluidos perispirituais com os do médium, podendo este ter percepções diferentes das que estava tendo na ocasião – ele poderá sentir frio, calor, dor, bem-estar, ansiedade, medo, paz, ódio etc. Muitas vezes, por falta de educação mediúnica, o médium reage com espalhafato diante dessas sensações. Mas não há necessidade de tremores, pancadas, chiados, assobios, gagueira, voz entrecortada e soturna. O médium deve controlar-se para que a comunicação ocorra naturalmente, sem clichês ou prefixos que se repetem nas comunicações, como a frase seguinte e outras assemelhadas: "Vim das alturas trazendo a bandeira branca da paz...". Não há, igualmente, necessidade de fazer certos gestos e trejeitos para marcar a presença de Espíritos. Isso era compreensível antigamente, quando, por falta de orientação, os médiuns davam um sinal de que estavam sob influência espiritual, daí surgindo os chiados, os gemidos, as contrações bruscas etc., porque os novatos viam que os mais velhos assim procediam para chamar a atenção do dirigente.                                                            
 "Missionários da Luz”, cap. 16, págs. 271 a 273. 64 “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 6, págs. 54 a 56. 65 Ibidem, cap. 8, págs. 72 a 74. 
   
Deve-se também evitar transmitir mensagens na segunda pessoa do plural ("Vós sois meus bem-amados; eu vos queria dizer..."), para evitar erros de concordância que acabam por descolorir a comunicação.  A ordem das comunicações deve processar-se naturalmente e compete apenas ao dirigente espiritual. Assim, o dirigente encarnado evitará o sistema de chamar por ordem os médiuns, deixando que as comunicações se façam de forma espontânea. O dirigente procurará estar atento, com os olhos abertos, para atender às ocorrências da reunião. Para evitar os condicionamentos e as viciações devemos guardar respeito íntimo, confiança, espírito de análise, serenidade e sinceridade em tudo aquilo que fizermos, acolhendo com simpatia as observações dos dirigentes que procuram evitar que o fenômeno mediúnico se banalize e se torne motivo de ridículo em nossas Casas espíritas.                 
   

A incorporação mediúnica  

SUMÁRIO: Conceito de incorporação mediúnica. Envolvimento mediúnico. Fundamento de todo o fenômeno mediúnico. Importância da educação mediúnica. Necessidade de sintonia vibratória. Como os Espíritos superiores fazem para comunicar-se conosco.  

Conceito de incorporação mediúnica 

 No fenômeno designado pelo nome de incorporação mediúnica, o que ocorre efetivamente é um envolvimento mediúnico, resultante do entrosamento das correntes vibratórias próprias do médium, emanadas de suas criações mentais e espirituais, com as do Espírito comunicante. Nossos órgãos sensoriais, como os olhos e os ouvidos, estão condicionados pela natureza para perceberem vibrações dentro de um certo limite: a) nosso ouvido é incapaz de perceber o som produzido por menos de 40 vibrações por segundo, e nada percebe quando elas ultrapassam o limite de 36.000; b) nossos olhos não registram a luz produzida por vibrações fora da frequência compreendida entre 458 milhões e 272 trilhões por segundo. (66) Na sessão mediúnica, o médium se coloca durante o transe em condições favoráveis de percepção mais nítida do mundo espiritual que nos circunda. Por haver uma exteriorização maior do perispírito, fundamento de todo o fenômeno mediúnico, este passa a vibrar em regime de maior liberdade, deixando-se influenciar pelo campo de entidades desencarnadas.    
            Os números mencionados, relativos às percepções sonoras e visuais do ser humano, foram extraídos do cap. X da obra “Estudando a Mediunidade”, de Martins Peralva, embora reconheçamos que não existe consenso entre os especialistas quanto à exatidão de ambas as escalas. 
   

Os Espíritos, por sua vez, livres do corpo denso, situam-se em plano vibratório diferente do normalmente perceptível pelos encarnados, somente podendo fazer-se sentidos e comunicar-se conosco quando encontram médiuns que vibram dentro da mesma faixa em que se situam.  

Importância da educação mediúnica 

Ocorrendo, assim, uma perfeita correspondência entre o clima vibratório do Espírito e o do médium, estaremos diante do chamado envolvimento mediúnico, em que o encarnado passa a sentir a presença do Espírito desencarnado, podendo perceber-lhe as sensações, as emoções, os pensamentos e transmiti-los de acordo com sua livre vontade, deixando ou não envolver-se por essa nova personalidade. É aí que reside o ponto nevrálgico da questão: ou nos deixamos arrastar pura e simplesmente, ou reagimos tentando impor nossa vontade.  Se agirmos como na primeira hipótese, corremos o risco de sermos obsidiados facilmente. Se agirmos como na segunda hipótese, podemos passar uma vida inteira sem desenvolvermos a faculdade. Como se vê, a educação mediúnica, por meio do conhecimento e das práticas ordenadas, exige um comportamento equidistante das duas situações e ensina o médium a manter-se em posição de equilíbrio e vigilância, sem que esta se transforme em refratariedade, passando a ter condições de controlar o fenômeno. O médium saberá então quando e como uma mensagem é conveniente ou causadora de confusão e mal-estar, e terá o bom senso de analisar o que vai filtrar ou está filtrando.  


Necessidade de sintonia vibratória 
Mãos, Partículas, Cor, Colorido, Monitor
 Diz Martins Peralva, no estudo que fez sobre a obra "Nos Domínios da Mediunidade", de André Luiz: "Para que um Espírito se comunique é mister se estabeleça a sintonia da mente encarnada com a desencarnada. Essa realidade é pacífica. É necessário que ambos passem a emitir vibrações equivalentes; que o teor das circunvoluções seja idêntico; que o pensamento e a vontade de ambos se graduem na mesma faixa". () Martins Peralva reproduz em seguida, da obra de Léon Denis, a lição que se segue:  "Admitamos, a exemplo de alguns sábios, que sejam de 1.000 por segundo as vibrações do cérebro humano. No estado de transe, ou de desprendimento, o invólucro fluídico do médium vibra com maior intensidade, e suas radiações atingem a cifra de 1.500 por segundo. Se o Espírito, livre no espaço, vibra à razão de 2.000 no mesmo lapso de tempo, ser-lhe-á possível, por uma materialização parcial, baixar esse número para 1.500. Os dois organismos vibram então simpaticamente; podem estabelecer-se relações, e o ditado do Espírito será percebido e transmitido pelo médium em transe sonambúlico". () 

Compreende-se então que os Espíritos superiores baixam o seu teor vibratório, aproximando-o do nosso, envolvendo-se com os fluidos grosseiros de nosso ambiente e tornando-se assim mais acessíveis. O médium em transe, por sua vez, se eleva mediante o preparo antecipado e o disciplinamento dos recursos mediúnicos, podendo dar-se, por conseguinte, a interação entre os dois psiquismos – o do desencarnado e o do médium – criando-se a condição essencial à comunicação, que é a sintonia.  De igual modo, o contrário pode também acontecer. Médiuns com boa capacidade vibratória poderão baixar suas vibrações para servirem de instrumento a entidades inferiores, a fim de que estas sejam esclarecidas e orientadas.  

Concluída a tarefa, o médium retornará ao seu padrão vibratório normal, não lhe ficando sensações desagradáveis próprias do Espírito comunicante, mas sim o bem-estar de ter cumprido o seu dever cristão.  
  
 “Estudando a Mediunidade”, de Martins Peralva, cap. X, p. 57.  Ibidem, cap. X, p. 62. 

Astolfo Olegário Oliveira Filho

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Suicídio – a visão espírita revisitada

Setembro Amarelo - Valorização da Vida



RMS_M_249 - Melankoli_1894-1896
Quadro A Melancolia de Edvard Munch
Há muito queria escrever algo sobre o suicídio e aproveito esse setembro amarelo, em que se faz uma campanha nacional de prevenção ao suicídio, para lançar ao público algumas das reflexões que tenho feito sobre esse tema de grande relevância.                                

Pelo excelente documento preparado pela Associação Brasileira de Psiquiatria, com o título Suicídio, informando para prevenir (http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14) são 10 mil pessoas que se matam por ano no Brasil e quase um milhão no mundo! Temos, portanto, de falar sobre isso! E fazer algo a respeito.

A cena mais bela e forte de um filme que adoro – Lutero – é quando ele toma nos braços o corpo de um rapazinho que se suicidara e cava ele mesmo a terra, para enterrá-lo. Esse ato significava um gesto de empatia e compaixão para com o rapaz e para com a família e uma forma de resistência à inapelável condenação que a Igreja sempre lançou sobre os suicidas, nunca permitindo que fossem sepultados em “terra santa”.

Aliás, o suicídio é fortemente condenado pelas religiões em geral.

O Espiritismo, rompendo no século XIX com a ideia de condenação eterna e de inferno como um local de expiação, amenizou esse julgamento inapelável. Mas nem tanto. As reverberações atávicas da Igreja ainda ressoam hoje no movimento espírita, como veremos.

Examinemos primeiro Kardec. Em pleno século XIX, quando a Igreja católica ainda falava em inferno material, Kardec proclamou que céu e inferno são estados de consciência e não estão fora da alma humana. 

Hoje, o Catecismo oficial da Igreja também entende assim. Para mostrar o estado de consciência de Espíritos das mais diferentes categorias, com histórias de vida e de morte distintas, Kardec realizou em Céu e Inferno, entrevistas minuciosas com eles, através de diferentes médiuns, procurando perscrutar o que sentiam, o que viam, como estavam…

As entrevistas são sóbrias. Os suicidas se mostram em sofrimento sim, e afirma-se que o suicídio é uma infração às leis divinas. Aparece, segundo a linguagem da época, hoje para nós incômoda, como em várias obras de Kardec, a palavra castigo. Entretanto, sempre entendido como uma consequência natural dos atos praticados. Entre os motivos de suicídio dos entrevistados, havia a solidão e o abandono, o alcoolismo aliado à mendicância, a perda de entes queridos, a perda da fortuna, o amor não correspondido e o tédio existencial… esses motivos ainda estão presentes entre as causas de suicídio na atualidade. E as condições de consciência apresentadas pelos entrevistados eram de desapontamento, angústia, escuridão e alguns se viam junto ao corpo – mas isso não é regra.

O suicídio é tema recorrente na maioria dos 12 volumes da Revista Espírita, demonstrando que Kardec tinha uma grande preocupação com o assunto. Em julho de 1862, escreve um artigo intitulado Estatística dos Suicídiosfazendo uma análise sobre o aumento dos suicídios na França, e procurando apontar as causas, lamentando que não existam pesquisas a respeito. Hoje, há essas pesquisas em todo mundo. Entre as que Kardec reconhece em seu tempo estavam as doenças mentais, problemas sociais, e sobretudo, o avanço do materialismo e a falta de perspectiva existencial. O artigo continua muito atual e revela bem como Kardec procurava abordar as questões, abrangendo todos os seus aspectos e procurando soluções educativas e preventivas. Para ele, a maior prevenção possível para o suicídio seria o conhecimento seguro e com contornos mais precisos da vida pós-morte, que o Espiritismo nos dá. Demonstrada a imortalidade, de maneira clara e racional, o suicídio perde sua razão de ser.

No Brasil, como sabemos – e inclusive isso hoje é objeto de teses acadêmicas, feitas por pesquisadores não-espíritas, mas já era opinião de um Herculano Pires, por exemplo – o Espiritismo desenvolveu-se num caldo cultural eminentemente católico e por isso acentuou aquilo que já nos incomoda em Kardec – com palavras como castigo por exemplo, o que pode induzir a uma ideia antropomórfica de Deus – mas deixaou de lado aquela racionalidade sóbria e crítica e aquele espírito científico de observação, que fazem a originalidade e conservam a atualidade do mestre.

No caso do suicídio, temos o clássico da nossa querida Yvonne Pereira, Memórias de um Suicida, que estou relendo no momento, anos depois das primeiras leituras. E realmente o tom do livro em alguns aspectos parece-me hoje excessivo. Há coisas interessantes, como a própria Universidade que os personagens frequentam. Mas os suicidas são chamados o tempo inteiro de criminosos, réprobos, condenados… e causa espécie também a descrição pavorosa daquele vale nas trevas profundas, para onde foram arrastados e aprisionados – como se fosse uma espécie de campo de concentração de suicidas. Eu mesma, em meus 40 anos de mediunidade, já recebi inúmeros suicidas que não estavam em vale nenhum. Um caso de suicídio relatado por exemplo, no livro Missionários da Luz, de Chico Xavier, também não descreve o espírito no vale e muito menos os entrevistados de Kardec.

Outras narrativas por outros médiuns brasileiros seguem trilhas parecidas ao livro de Yvonne. Tudo muito pesado, determinista, condenatório. Não há as nuanças do pensamento de Kardec, que a toda hora avisa que cada caso é um caso, que há muitas atenuantes, que há causas psíquicas, sociais, filosóficas dos suicídios e que precisamos preveni-los.

Isso significa que esses vales não existem? Que são ilusões dos médiuns? Existem sim aglomerações no Plano Espiritual (embora Kardec não tenha tratado disso, há inúmeras narrativas a respeito e eu mesma já visitei algumas). Mas não são lugares necessários a que as pessoas irão. São espíritos reunidos na mesma afinidade de pensamentos, que projetam o ambiente consciente ou inconscientemente e vivem na mesma faixa vibratória e de lá podem sair na hora em que mudarem o vetor vibratório.

Há muitos espíritas que pensam que, ao desencarnarem, passarão um período no Umbral, como os católicos achavam que iriam passar necessariamente pelo purgatório. Isso é materializar e generalizar demais as circunstâncias espirituais de cada consciência. Kardec foi bem mais sutil.

A posição de Kardec em relação ao suicídio, mais analítica, mais preocupada com as causas e com prevenção do que em aterrorizar os vivos com os horrores do vale dos suicidas, é muito mais próxima da perspectiva contemporânea.

Hoje se sabe que a depressão (e outras doenças mentais) é a causa de muitos suicídios – ora, a depressão é uma doença psíquica que requer cuidados, amparo, terapias e, às vezes (penso que menos do que se dá) remédios. Aliás, os medicamentos devem justamente entrar, a meu ver, sobretudo quando a pessoa está correndo o risco de se matar. 

O próprio Kardec avisava no século XIX, quando a Psiquiatria estava apenas nascendo, que se o indivíduo estivesse doente mentalmente, isso lhe isentaria ou ao menos atenuaria muito sua responsabilidade no suicídio. Ora, hoje, considera-se que o suicídio quase nunca é praticado por pessoas que estão saudáveis psiquicamente. Isso já descriminaliza grande parte dos suicidas, nos critérios de Kardec.

Hoje se estudam os fatores de risco do suicídio e além das doenças mentais, há os abusos sofridos na infância, a falta de sentido existencial, tipo de personalidade impulsiva etc. Em todos os casos, identificados os riscos, acompanhando-se de perto a pessoa que os apresente, com atenção, cuidados psíquicos e médicos, o suicídio pode ser evitado. Logo, algo que pode ser prevenido não é apenas um problema individual, mas uma questão social, coletiva. Somos todos responsáveis.

Lembro-me de um livro fantástico, escrito por Pestalozzi, no virar do século XVIII para o século XIX. Chama-se Legislação e Infanticídio e é considerado o primeiro livro de sociologia escrito antes mesmo do advento dessa ciência. Nessa obra, Pestalozzi examina uma grave questão criminal que estava ocorrendo na Suíça do seu tempo. Mulheres eram condenadas à prisão por terem assassinado seus filhos recém-nascidos. Qualquer pessoa diria na época e ainda hoje: mulheres monstruosas, criminosas, que mereciam toda punição.

Pois Pestalozzi não se contentou com essa resposta simplória, já que matar o seu próprio rebento não é algo tão natural assim… (assim como o suicídio, que contraria o instinto de sobrevivência, também não é!) Foi se debruçar sobre os processos de julgamento dessas mulheres, para saber da história delas e constatou que a sociedade era culpada, sobretudo os homens. Eram todas mulheres que vinham do campo para a cidade e ao chegarem eram seduzidas por homens (sim, isso existia 200 anos atrás!), que depois as abandonavam. Grávidas solteiras, não havia escolha para elas. Ao contrário das sociedades católicas, que sempre deram um jeito de remediar o pecado, com Casas de Misericórdia, Conventos, ou mesmo prostituição, o universo protestante, calvinista, não tinha válvulas de escape. As mulheres ou se matavam ou matavam seus filhos. Ninguém iria se casar com uma mãe solteira, mulheres não podiam ter profissão e independência e no caso da velha Suíça calvinista, nem putas ou freiras elas poderiam ser… Pestalozzi então responsabiliza a moral rígida, a sociedade intransigente e os homens que abusavam e se desresponsabilizavam…

Esse é um exemplo para mostrar o quanto aquilo que consideramos crimes monstruosos sempre têm que ser analisados dentro de seus contextos, com olhos abrangentes e de preferência seguindo-se aquelas recomendações de Jesus: “não julgueis para não serdes julgados” e “quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra”.

Nossa visão contemporânea de compreender o suicídio como uma questão de saúde pública é muito mais cristã do que esses arroubos condenatórios, implacáveis, inapeláveis. O suicida é um espírito em sofrimento, sim. Mas ele já estava em sofrimento na terra. E não foi suficientemente visto, socorrido, amparado. Quando ele pratica esse ato, ele está se ferindo a si mesmo. Agora, que espécie de Pai seria Deus se ainda punisse esse ato, se nós, pais terrenos, imperfeitos, ao vermos uma criança se machucar a si mesma, seja por descuido, teimosia ou inexperiência, corremos a socorrer a criança, trazendo remédio, enxugando as lágrimas, cercando de consolo? Não consideraríamos abaixo de qualquer crítica um pai ou uma mãe que ainda espancassem a criança machucada ou a deixassem chorar sem socorro, ou se sentissem pessoalmente ofendidos com a queda do pequeno?

Ora, há gente que advoga que o suicídio é uma ofensa a Deus!! E Deus lá pode se ofender? O suicídio é o ato de um espírito imaturo, inconsciente, desesperado ou mesmo teimoso, de se ferir a si próprio. Ele terá de curar a ferida que fez em si. Mas a misericórdia de Deus é infinita.

Nesse caso, gosto bastante da ideia presente no livro Memórias de um Suicida, em que se conta que Maria de Nazaré é um Espírito que dirige uma falange de almas que socorre os suicidas. Porque é bem isso: o suicida é uma criança machucada, que precisa de um colo materno.

Faz parte da nossa evolução psíquica, social, espiritual, deixarmos de lado essas visões tão trágicas de culpa e castigo e avançarmos para uma visão de que tudo no universo é educativo. Sofrimento há, mas é transitório. E cabe-nos trabalhar para minimizá-lo e até extingui-lo, como propunha Buda. Para isso, cabe-nos sempre perdoar a nós mesmos, perdoar o outro e saber que Deus nem precisa nos perdoar, porque sabe que estamos aprendendo.

Numa das mais impressionantes manifestações de um Espírito suicida, que já tive, observei que ele estava num lugar bonito, amparado por almas amigas, mas sofria intensamente: não conseguia se perdoar por ter feito o que fez, ter ferido a si mesmo e a família. Então, assim podemos ler um relato como o de Camilo Castelo Branco no livro de Yvonne: ele próprio se qualificava de criminoso, réprobo etc. Isso é da consciência acostumada a agir com o próximo e consigo mesma de maneira dura e implacável. Precisamos superar isso e caminhar no sentido da misericórdia, do perdão e sobretudo do amor, que cobre a multidão de pecados, como dizia Jesus.

E o que podemos fazer concretamente para evitar o suicídio à nossa volta?

Não poderia deixar de mencionar a educação, como a mais eficaz prevenção em relação ao suicídio. Mas que educação? Não é certamente essa que é dada nas escolas, que nem a função de instruir faz bem feita.

Mas sim uma educação que procure cercar o indivíduo de fortes e sólidos afetos, de modo que ele nunca se sinta sozinho.

Uma educação que trabalhe sentido existencial, resiliência diante da dor, projeto de vida…
E sobretudo, uma educação que cuide desde cedo da espiritualidade e que abra uma perspectiva de eternidade e transcendência.

https://doraincontri.com/2015/09/21/suicidio-a-visao-espirita-revisitada/


sábado, 2 de setembro de 2017

Processo de Comunicação Mediúnica e a necessidade do Estudo.


Superação, Stone, Rolo, Slide, Forte

 [...] Todos os dias a experiência nos traz a confirmação de que as dificuldades e os desenganos, com que muitos topam na prática do Espiritismo, se originam da ignorância dos princípios desta ciência e feliz nos sentimos de haver podido comprovar que o nosso trabalho, feito com o objetivo de precaver os adeptos contra os escolhos de um noviciado, produziu frutos e que a leitura desta obra deve muitos o terem logrado evitá-los. (Introdução de O livro dos médiuns).



Dificuldades do intercâmbio:

 Não podemos esquecer que o campo de oscilações mentais do médium – envoltório natural e irremovível que lhe pulsa do Espírito – é o filtro de todas as operações..


Cumpre destacar, assim, as dificuldades para a manutenção de largo intercâmbio, dilatado e seguro, nesse terreno. Homem, Face, Humano, Flash, Testa

Basta leve modificação de propósito na personalidade medianimica, seja em matéria de interesse econômico ou de conduta afetiva, para que se lhe alterem os raios mentais.

Verificada semelhante metamorfose, esboçam-se lhe, na aura ou fulcro energético, formas-pensamentos, por vezes em completo desacordo com o programa traçado no Plano Superior, ao mesmo tempo que perigos consideráveis assomam na esfera do serviço a fazer, uma vez que a transformação das ondas mediúnicas imprime novo rumo à força exteriorizada que, desse modo, em certas ocasiões, pode ser manuseada por entidades desencarnadas positivamente inferiores, famintas de sensações do campo físico.

Em tais casos, perturbações variadas podem ocorrer, desencorajando experiências magnificamente encetadas. (Cap. XVII, pp. 114 e 115. Livro: Mecanismos da Mediunidade) 



Hermínio Miranda, no livro Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos, no capítulo I, nos ensina que, em qualquer mecanismo de comunicação, sempre encontramos quatro elementos:

1º - a ideia original, isto é, aquilo que se quer comunicar (tornar comum) e que se origina no pensamento, não em formas de letras ou frases, mas a ideia, o pensamento que será vestido de um dos modos formais de expressão – linguagem falada, escrita, escultura, gesto etc.

2º - a expressão formal deste pensamento através de símbolos conhecidos ou gestos que codificam a ideia de forma a ser transmitida;

3º - a recepção da ideia original devidamente codificada, pelo receptor e devidamente decodificada pelo seu pensamento para estabelecer o entendimento do que foi transmitido;

4º - a reação – ou seja, o retorno do entendimento pelo mesmo processo estabelecendo-se o diálogo a fim de verificar o entendimento da ideia original.

 Empresário, Internet, Continentes



No caso da comunicação mediúnica,

·         A ideia original é do Espírito comunicante;

·         O codificador/transmissor será o médium;

·         O recebedor é a pessoa a quem se destina a comunicação.



Assim, a comunicação mediúnica é a resultante de um entendimento entre a mente do Espírito manifestante e a do médium, e deste para o destinatário. O ponto delicado reside na conversão do pensamento alheio em linguagem articulada (no livro Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos)Satélite, Tecnologia, Rádio, Antena



Sobre a linguagem dos Espíritos, extraímos da introdução, item XIV, de O livro dos Espíritos, as seguintes instruções:

“Para os Espíritos, principalmente para os Espíritos superiores, a ideia é tudo, a forma nada vale. Livres da matéria, a linguagem de que usam entre si é rápida como o pensamento, porquanto são os próprios pensamentos que se comunicam sem intermediário. Muitos pouco à vontade hão de eles se sentirem, quando obrigados, para se comunicarem conosco, a utilizarem-se das formas longas e embaraçosas da linguagem humana e a lutarem com a insuficiência e a imperfeição dessa linguagem, para exprimirem todas as ideias”.


Vale a pena lembrar Martins Peralva.

Ele nos aponta informações dos autores clássicos do Espiritismo, sob a inspiração do Mais Alto, particularmente Léon Denis, a respeito do mecanismo das comunicações:

Para que um Espírito se comunique, é mister se estabeleça a sintonia da mente encarnada com a desencarnada. Essa realidade é pacífica.

É necessário que ambos passem a emitir vibrações equivalentes; que o teor das circunvoluções seja idêntico; que o pensamento e a vontade de ambos se graduem na mesma faixa.

Esse o mecanismo das comunicações espíritas, mecanismo básico que se desdobra, todavia, em nuances infinitas, de acordo com o tipo de mediunidade, estado psíquico dos agentes – ativo e passivo -, valores espirituais, etc... Sintonizado o comunicante com o medianeiro, o pensamento do primeiro se exterioriza através do campo físico do segundo, em forma de mensagem grafada ou audível.

Quanto mais evoluído o ser, mais acelerado o estado vibratório. Assim sendo, em face das constantes modificações vibratórias, verificar-se-á sempre, em todos os comunicados, o imperativo da redução ou aumento das vibrações para que eles se estabeleçam com maior fidelidade. Bordo, Digitalização, Face, Tecnologia

Por isso o médium descuidado, ante o problema da própria renovação interior, é sempre um instrumento que dificulta o intercâmbio. (Mediunidade e evolução).