sábado, 25 de dezembro de 2010

Resumo das Obras de D. Yvonne Pereira


Yvonne A. Pereira nasceu em 24 de dezembro de 1900, na cidade de Rio das Flores (RJ), e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 9 de março de 1984.
Dentre suas múltiplas especialidades mediúnicas, avultou a psicografia através da qual renomados autores espirituais produziram obras, ao mesmo tempo edificantes e de refinado lavor literário, sobre a ciência e a moral espíritas.
Também na imprensa espírita Yvonne A. Pereira serviu com inexcedível zelo, legando com seus artigos, invariavelmente fecundos e belos, um critério seguro para os serviços em tão delicado quão importante setor da seara do Espiritismo Cristão.

Algumas obras D. Yvonne
Cavaleiro de Numiers, O
• "Drama e emoção guiam o leitor pelos intrincados caminhos do comportamento humano. Nas narrativas misturam-se amor, ódio, dor, coragem e tantos outros fatores palpitantes que compõem os aspectos da vida no mundo físico. A história se desenrola na França de Luís XIV no auge do Absolutismo e das ilusões do poder temporal, envolvendo espíritos endividados que reencarnam em conjunto para se auxiliarem mutuamente." Esta obra é parte integrante de uma trilogia composta na seguinte ordem: Nas Voragens do Pecado, O Cavaleiro de Numiers e O Drama da Bretanha. Pereira, Yvonne A. (autora) Charles (Espírito)

• Devassando o Invisível
• "Como vivem os Espíritos depois da morte de seu corpo físico? Onde e como habitam, como se vestem, como se comunicam? Yvonne Pereira relata contatos com o plano espiritual e apresenta fenômenos e fatos transcendentes, através da sua mediunidade. Esclarece como se apresentam aos médiuns os Espíritos que vêm relatar suas experiências de encarnações anteriores e como são ditados aos psicógrafos os romances mediúnicos. Oferece-nos, ainda, a reprodução de comovente diálogo havido na Espiritualidade com Frederico Chopin, o inspirado compositor e pianista polonês. Sob a orientação de amigos espirituais, dentre eles Bezerra de Menezes, Léon Denis, Charles e Léon Tolstoi, Yvonne nos apresenta fatos que demonstram quão profundo é o entrelaçamento dos planos material e espiritual da vida." Pereira, Yvonne A. (autora) Autores Diversos (Espírito)

• Drama da Bretanha, O
• Este romance passado nas costas da Bretanha desperta o interesse do leitor, pois o Espírito Charles, com riqueza de fatos, narra a empolgante história da jovem Andréa que, envolvida em processo obsessivo, sofre implacável perseguição espiritual, sendo, em consequência, até mesmo rejeitada pelos próprios pais e focaliza a prece com sua ação benéfica aos que sofrem na reparação de faltas passadas. Esta obra é parte integrante de uma trilogia composta na seguinte ordem: Nas Voragens do Pecado, O Cavaleiro de Numiers e O Drama da Bretanha. • Pereira, Yvonne A. (autora) Charles (Espírito)
Dramas da Obsessão
Dividido em duas histórias reais: "Leonel e os Judeus" e "A Severidade da Lei", ambas demonstram que não podemos fugir à lei de causa e efeito, lei que burila nossas almas em torno do Amor. Nestas duas cativantes narrativas, Bezerra de Menezes prende a atenção do leitor apresentando-lhe preciosos ensinamentos. De um lado ajuda a compreender o fenômeno da obsessão, por outro, põe a par das ligações terríveis que o ódio e a vingança forjam entre as criaturas, requerendo, por vezes, séculos de sofrimento, até que se dissolvam ao toque suave do perdoar setenta vezes sete. Menezes, Bezerra de (Espírito) Pereira, Yvonne A. (autora)

Memórias de um Suicida
Sob orientação de Léon Denis, o espírito Camilo descreve sua dolorosa experiência no plano espiritual após a desencarnação resultante de suicídio, transmitindo valiosos ensinamentos. Evidencia a grandeza da misericórdia divina em favor de espíritos de suicidas arrependidos, e, apesar do impacto inicial provocado pela descrição das dramáticas cenas expostas, o livro também demonstra que há sempre um caminho de retorno, de reconstrução, para os faltosos arrependidos. Memórias de um Suicida obteve o quinto lugar entre os 10 melhores livros espíritas publicados no século XX. Pereira, Yvonne A. (autora) Botelho, Camilo Cândido (Espírito)

Pelos Caminhos da Mediunidade Serena
Coletânea de entrevistas de uma das mais notáveis médiuns que se tem notícia. Com opiniões firmes, profundo conhecimento da doutrina espírita e uma experiência mediúnica inigualável, Yvonne Pereira aborda temas como: sofrimento, vida no mundo espiritual, suicídio, divórcio, mediunidade e obsessão. Pereira, Yvonne A. (autora) Camilo, Pedro (organizador)

Recordações da Mediunidade - Especial
Em narrativa ágil e envolvente, a autora confidencia as recordações da própria mediunidade, transmitindo sua vivência no exercício mediúnico por longos anos, expondo suas observações sobre os mais variados fenômenos que sentiu em si mesma. Obra preparada segundo a orientação do Espírito Bezerra de Menezes, oferece amplo material e diretrizes seguras aos que realizam atividades no campo mediúnico, contribuindo para o melhor desempenho de suas faculdades. Sempre com propósito de esclarecer e orientar, são focalizados interessantes temas, tais como: reminiscências de vidas passadas os arquivos da alma sonhos premonições e avisos premonitórios mortes violentas suicídio anjos guardiães letargia e catalepsia o que é a mediunidade e como se processa obsessão, dentre outros. Menezes, Bezerra de (Espírito) Pereira, Yvonne A. (autora)

Um caso de Reencarnação - Eu e Roberto de Canallejas
Os leitores das excelentes obras da médium Yvonne Pereira irão se emocinar com este livro. Ex-esposo em vida passada, Roberto reencarna na Polônia. Troca de cartas em esperanto propicia experiências emocionantes destas almas afins. Obra edificante pelos elementos de orientação, fortalecimento moral e consolação que, à luz das revelações do Espiritismo, oferece ao leitor. Pereira, Yvonne A. (autora)

Amor e Ódio
Romance empolgante. Retransmite o drama vivido pelo fidalgo Gaston de Saint-Pierre, ex-aluno do Professor Rivail, mais tarde, Allan Kardec, que por uma infeliz paixão foi acusado de crimes que não cometera, do que resultou o seu injusto degredo. A obra relata o auxílio espiritual prestado ao personagem principal para que este encontrasse energias e esperança ao contato das lições contidas em O Livro dos Espíritos, com que o próprio Codificador do Espiritismo o presenteara. Em lances de muita emoção, o leitor verificará a visita da coragem, da fé e da confiança na justiça divina, hauridas na compreensão dos princípios da Doutrina Espírita. Pereira, Yvonne A. (autora) Charles (Espírito)

Nas Telas do Infinito
Divide-se esta obra em duas partes. Na primeira, o Espírito Bezerra de Menezes narra Uma História Triste, ambientada em comunidade pobre do Rio de Janeiro do século XIX, onde Palmira, Espírito que se reabilita de erros pretéritos, dignifica-se em testemunhos de renúncia e paciência. Na segunda parte, o Espírito Camilo Castelo Branco traz a emocionante novela mediúnica O Tesouro do Castelo, desenrolada em Portugal, em 1640, mostrando que o amor e a bondade são qualidades indispensáveis à paz do homem em seu processo de reforma moral. Ambas as narrativas, ao focalizar a lei de causa e efeito, divulgam os princípios espíritas, consolando e alertando aos que sofrem a injunção de provas dolorosas. Menezes, Bezerra de (Espírito) Pereira, Yvonne A. (autora) Camilo Castelo Branco (Espírito)

Nas Voragens do Pecado - Especial
"Romance passado na França, por volta do ano de 1572, relata a luta dos seguidores da reforma luterana e calvinista. Descreve a trama de duas mulheres unidas num processo de vingança e posterior obsessão contra o responsável pela massacre de seus entes amados. Juras de amor, ódios e traições, exemplos de honradez e elevada moral, tudo se entremeia num fascinante enredo, urdido em torno da célebre e terrível Noite de São Bartolomeu." Esta obra é parte integrante de uma trilogia composta na seguinte ordem: Nas Voragens do Pecado, O Cavaleiro de Numiers e O Drama da Bretanha. Pereira, Yvonne A. (autora) Charles (Espírito)

Sublimação
Sublimação apresenta quatro contos que abordam temas como o suicídio, a reencarnação, a lei de causa e efeito e o amor ao próximo. Os contos ditados pelo espírito Leon Tolstói conscientizam aqueles que nas horas difíceis tentam o suicídio como a solução mais adequada. Esta obra mostra ao leitor a importância do Espiiritismo como orientação à evolução do homem. Pereira, Yvonne A. (autora) Leon Tolstói (Espírito) Charles (Espírito

A Tragédia de Santa Maria,
Livro destinado à juventude sedenta de luz e iluminação, apresentando conceitos de moral cristã. Ao tratar de duas encarnações sucessivas do mesmo grupo preocupa-se em elucidar os equívocos causadores da tragédia, crime e dor. Em sua narrativa o leitor identificará que o ideal cristão irá infiltrar novas seivas nos corações sedentos de luz e de justiça. Menezes, Bezerra de (Espírito) Pereira, Yvonne A. (autora

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Reflexão sobre Centro Espírita – fonte: Dramas da Obsessão – Yvonne Pereira


“Um Centro Espírita onde as vibrações dos seus freqüentadores, encarnados ou desencarnados, irradiem de mentes respeitosas, de corações fervorosos, de aspirações elevadas; onde a palavra emitida jamais se desloque para futilidades e depreciações; onde, em vez do gargalhar divertido, se pratique a prece; em vez do estrépito de aclamações e louvores indébitos se emitam forças telepáticas à procura de inspirações felizes; e ainda onde, em vez de cerimônias ou passatempos mundanos, cogite o adepto da comunhão mental com os seus mortos amados ou os seus guias espirituais, um Centro assim, fiel observador dos dispositivos recomendados de início pelos organizadores da filosofia espírita, será detentor da confiança da Espiritualidade esclarecida, a qual o elevará à dependência de organizações modelares do Espaço, realizando-se então, em seus recintos, sublimes empreendimentos, que honrarão os seus dirigentes dos dois planos da Vida. Somente esses, portanto, serão registrados no Além-Túmulo como casas beneficentes, ou templos do Amor e da Fraternidade, abalizados para as melindrosas experiências espíritas, porque os demais, ou seja, aqueles que se desviam para normas ou práticas extravagantes ou inapropriadas, serão, no Espaço, considerados meros clubes onde se aglomeram aprendizes de Espiritismo em horas de lazer.

Dramas da Obsessão”. Bezerra de Menezes, psicografado por Yvonne A. Pereira, Terceira Parte —Conclusão II

domingo, 19 de dezembro de 2010

O COMPLEXO OBSESSÃO – fonte: Recordações da Mediunidade



“Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é, introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado nesse corpo?”
“O Espírito não entra em um corpo como entras numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material.”
(“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, pergunta 473.)

Um dos mais belos estudos que o Espiritismo faculta aos seus adeptos é, certamente, aquele a que os casos de obsessão nos arrastam. Temos para nós que esse difícil aprendizado, essa importante ciência de averiguar obsessões, obsessores e obsidiados deveria constituir especialidade entre os praticantes do Espiritismo, isto é, médiuns, presidentes de mesa, médiuns denominados passistas, etc. Assim como existem médicos pediatras, oculistas, neurologistas, etc., etc., também deveriam existir espiritas especializados nos casos de tratamento de obsessões, visto que a estes será necessária uma dedicação absoluta a tal particularidade da Doutrina, para levar a bom termo o mandato. Tal ciência, porém, não se poderá limitar à teoria, requerendo antes paciente e acurada observação em torno dos casos de obsessão que se apresentem no limite da ação de cada um, pois é sabido que a observação pessoal, a prática no exercício do sublime mandato espírita enriquece de tal forma os nossos conhecimentos em torno de cada caso com que nos defrontamos que, cada um deles, ou seja, cada obsidiado que se nos depare em nossa jornada de espíritas constituirá um tratado de ricas possibili-dades de instrução e aprendizado, visando à cura, quando a cura seja possível. Tantas são as modalidades, as espécies de obsessão que se nos têm deparado durante o nosso longo tirocínio de espírita e médium que, certamente, para examiná-las todas, na complexidade das suas manifestações e origens, precisaríamos organizar um compêndio. Nesta ligeira anotação, portanto, preferiremos tratar de alguns casos da nossa observação pessoal, nos quais agimos como médium, às vezes, ou como conselheira de ambos os implicados no fenômeno, isto é, o obsessor e o obsidiado. Mas antes que entremos diretamente na exposição que pretendemos tentar, preferimos reportar-nos ao mestre por excelência do Espiritismo, Allan Kardec, cujas sensatas advertências não foram jamais desmentidas pela observação dos seus seguidores, até o presente momento. Em «O Livro dos Espíritos» vemos ainda os seguintes ligeiros esclarecimentos, que pedimos vênia ao leitor para transcrever, visto que nunca serão demasiados o estudo e a meditação em torno de qualquer ponto importante da Doutrina Espírita, se é que nela existem pontos menos importantes uns do que outros. Assim relembremos, além da questão 473, acima citada, também as de número 474 e seguintes. Pergunta Allan Kardec aos instrutores espirituais que ditaram aquele código de ouro:
— «Desde que não há possessão prõpriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada ?»
E o instrutor espiritual respondeu:
— «Sem dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas é preciso saibas que essa dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos.»
— «Pode alguém por si mesmo afastar os maus Espíritos e libertar-se da dominação deles?»
— «Sempre é possível, a quem quer que seja, subtrair-se a um jugo, desde que com vontade firme o queira.”
— «Mas não pode acontecer que a fascinação exercida pelo mau Espírito seja de tal ordem que o subjugado não a perceba? Sendo assim, poderá uma terceira pessoa fazer que cesse a sujeição da outra? E, nesse caso, qual deve ser a condição dessa terceira pessoa? — indaga ainda, inteligentemente, Allan Kardec, ao que o instrutor espiritual advém com a seguinte preciosa lição:
— Sendo ela (a terceira pessoa) um homem de bem, a sua vontade poderá ter eficácia, desde que apele para o concurso dos bons Espíritos, porque, quanto mais digna for a pessoa, tanto maior poder terá sobre os Espíritos imperfeitos, para afastá-los, e sobre os bons, para os atrair. Todavia, nada poderá, se o que estiver subjugado não lhe prestar o seu concurso. Há pessoas a quem agrada uma dependência que lhes lisonjeia os gostos e os desejos. Qualquer, porém, que seja o caso, aquele que não tiver puro o coração nenhuma influência exercerá, Os bons Espíritos não lhe atendem ao cha¬mado e os maus não o temem.”

Destaque sobre os membros das equipes da mediunidade:

De tudo quanto aqui registramos, deduziremos, portanto, a grande responsabilidade que pesa sobre os ombros do espírita, pois, se tais deveres nos são confiados pelo Consolador é porque temos possibilidade de cumpri-los, desde que fielmente nos dediquemos aos me¬lindrosos certames do setor transcendental, pois que ele, o Consolador, nos fornece as credenciais para tanto. Muitas das curas obtidas através da mediunidade surpreendem até os que para elas concorreram: chegam a ignorar quando e como a cura foi realizada, fato significativo, indicando que somos todos meros instru¬mentos dos Guias Espirituais, sem razões, portanto, para a vanglória de nos considerarmos autores das mesmas. De qualquer forma, não será meditação ociosa lembrar ainda uma vez as condições mais urgentes para prevenir o flagelo da obsessão ou para remediâ-lo, em nós próprios ou no próximo, porqüanto o trabalho é espinhoso, requerendo a máxima atenção nos seus pormenores, por parte daquele que em inspirada hora se dedica à edificante especialidade:
1 — Ascendência de médiuns e doutrinadores (diretores de sessões práticas) sobre o obsessor e o obsidiado, o que implica estado de superioridade moral dos mesmos operadores, atraindo a benemérita assistência da Espiritualidade Superior.
2 — Conhecimento pleno, senão profundo, da causa que defendem, com observação atenta das diferentes obsessões, visto que a obsessão é, por vezes, desorientador complexo, é absoluta certeza da assistência de Guias Espirituais autênticos durante o certame.
3 — Absoluta coragem — a coragem da fé —para enfrentar o obsessor e também o obsidiado, que poderá ser tão rebelde e endurecido quanto o primeiro, e vencê-los com as armas da fraternidade e do amor, sem se acovardar ante suas investidas, usando energia quando necessário, energia que o amor inspira e não a violência ou o orgulho.
4 — Humildade perante si próprio e as leis divinas, certificando-se de que as vitórias conseguidas no importante setor pertencem a Jesus, Mestre e reeducador dos homens e dos Espíritos, e não a nós, que nada representamos senão antigos obsessores e delinquentes, que agora resgatam vergonhoso passado através do amor e do trabalho; oração, vigilância, dedicação ilimitada ao compromisso firmado, esforçando-se por manter equilibrada a harmonização vibratória com os Espíritos protetores que acionam os trabalhos, jamais esquecendo que, se assim não for, o obsessor poderá tentar investir contra eles mesmos, durante o sono de cada noite, e será necessário conservar defesas que o desarmem. E lembrar, outrossim, que a mediunidade é dom sagrado, posto de abnegação e sacrifício a serviço dos desígnios de Deus para com a Humanidade.
5 — O ambiente da agremiação onde tais trabalhos forem realizados deverá ser resguardado de tumultos de qualquer natureza ou de outras tantas operosidades que não sejam os serviços doutrinários, visto que a transcendência, o imperativo dos trabalhos para curas de obsessão requerem pureza de vibrações e harmonias fluídicas que reajam favoràvelmente sobre os figurantes do certame, inclusive os próprios Guias Espirituais, que se afastam dos meios que se desviem das normas estatuidas pela Doutrina. Semelhantes operosidades são próprias de templos de ciência e de fé e não poderão ser bem sucedidas se as levarmos a efeito indiferentes à grande responsabilidade assumida.
6 — Não convirá ao obsidiado assistir às sessões realizadas a seu beneficio durante o estado agudo do mal, nem o obsessor deverá ser doutrinado por seu intermédio. Outro médium, assaz desenvolvido e bem assistido espiritualmente, intervirá com a boa vontade de servir, recebendo mediunicamente o obsessor a fim de que seja aconselhado. O obsidiado, afeito às vibra¬ções dominantes do seu opositor, não estará em condições de se prestar à comunicação normal necessária, é antes um enfermo necessitado de tratamento e não um médium, prôpriamente. O fenômeno da passagem do malfeitor desencarnado para outro médium poderá ser provocado, caso não se revele espontâneo, seja por uma ordem dos tutelares espirituais que orientam os trabalhos, seja pela atração magnética do diretor dos mesmos, o qual aporá as mãos sobre o obsidiado e o médium disponível, simultaneamente, não sendo, contudo, indispensável tal atitude.
7 — Será necessário que os responsáveis pelos citados trabalhos orem e vigiem a cada passo, procedendo no lar e na sociedade como procedem no seu núcleo espírita, ou seja, de acordo com os quesitos que a Doutrina Espírita estabelece como norma moral para seus adeptos, visto que passarão a servir de padrão e exemplo para a emenda dos obsessores; estes prestarão atenção em suas normas de vida diária e somente os respeitarão se neles encontrarem superioridade moral.
8 — O obsidiado, se não procurar renovar-se diàriamente, num trabalho perseverante de auto-domínio ou auto-educação, progredindo em moral e edificação espiritual, jamais deixará de se sentir obsidiado, ainda que o seu primitivo obsessor se regenere. Sua renovação moral, portanto, será a principal terapêutica, nos casos em que ele possa agir.
9 — Se um médium não se conduzir convenientemente perante a Doutrina, ou por qualquer outra circunstância demonstrar sinais de domínio de um obsessor, será indispensável que suspenda qualquer labor mediúnico, visto que já não poderá inspirar confiança as comunicações que receber e se poderá também prejudicar grandemente, dando ensejos à solidificação da obsessão. Nesse caso, deverá ser rigorosamente tratado pelos companheiros e por um médico, porqüanto poderá encontrar-se esgotado nas suas forças vitais e nervosas, estado favorável ao prosseguimento do mal, que se alastrará também pelo aspecto físico e mental.
10 — A mesma recomendação acima (9) se aplicará aos médiuns mistificados, pois que a mistificação persistente é o primeiro grau da obsessão. Nos casos do chamado animismo (automatismo. mental), será conveniente que se afaste das sessões práticas e se dedique a estágios em setores diferentes, onde poderá ser aproveitável.


A Seara Divina é extensa e fecunda e em qualquer situação serviremos ao Bem e à Verdade, se realmente houver o desejo de servir, e não sômente no campo mediúnico. Muitos supostos médiuns, emaranhados nos complexos do animismo, uma vez afastados ou corrigidos das pretensões mediúnicas, têm conseguido equilibrar-se em outros setores, então realmente servindo à Doutrina Espírita e ao próximo. O automatismo mental, ou seja, o animismo, é a obsessão da própria mente e poderá ocasionar consequências desagradáveis para quem a cultiva.
Lembremo-nos de que o grande Paulo de Tarso, um dos maiores médiuns que o Cristianismo produziu, antes de se tornar o esteio do Cristianismo nascente recolheu-se ao deserto a fim de fazer a sua iniciação, num espaço de três longos anos. E o mesmo fizeram os demais médiuns do passado, isto é, os profetas e os grandes iniciados.


Tenhamos, portanto, idênticas atitudes se nos desejarmos transformar em obreiros seguros e fiéis da Doutrina dos Espíritos, capazes de vencer os terríveis complexos geradores da obsessão.

Sobre Amigo Ignorado - (Recordações da Mediunidade)


Amigo Ignorado

“Além do anjo guardião (1), que é sempre um Espírito superior, temos Espíritos protetores que, embora menos elevados, não são menos bons e magnânimos. Contamo-los entre amigos, ou parentes, ou, até, entre pessoas que não conhecemos na existência atual. Eles nos assistem com seus conselhos e, não raro, intervindo nos atos da nossa vida.”
(“O Evangelho segundo o Espiritismo”, Allan Kardec, capítulo 28, item 11.)

Nenhum espírita, atento aos deveres do estudo doutrinário e da observação daí conseqüente, desconhece que a sociedade do Além-Túmulo e a sociedade da Terra são uma e a mesma coisa, continuação uma da outra, em fase diferente, apenas com a só dificuldade de ser a primeira invisível e, por vezes, até ignorada pela segunda. Os espíritas, não desconhecemos também o quanto os homens em geral são assistidos e grandemente influenciados pelos habitantes do mundo espiritual, pois possuímos amigos e inimigos, simpatizantes e adversários desencarnados, e que a influência de todos eles em nossa vida cotidiana depende absolutamente de nós mesmos, do estado sadio ou precário da nossa mente, dos atos diários que praticamos.

Tal seja o nosso proceder, mesmo durante a infância — pois também a criança poderá ser bem ou mal assistida espiritualmente — poderemos até impor respeito àqueles desencarnados de ordem medíocre ou inferior e deles fazermos amigos leais e prestativos para todo o sempre, ou também obsessores, pois sabemos que não só os amigos altamente colocados, na Terra como no Espaço, nos poderão valer em horas difíceis. Nutrimos, entretanto, a pretensão de vaidosamente julgar que os nossos amigos espirituais serão somente os instrutores e guardiães de elevada hierarquia, aqueles altamente colocados na Espiritualidade por suas virtudes, méritos e sabedoria.

Desejamos mesmo, para nossos guardadores diários, Espíritos cujos nomes foram venerados na Terra pela Humanidade, e infantilmente acreditamos que esta ou aquela individualidade brilhante do’ mundo dos Espíritos vive às nossas ordens, submissa aos caprichos da nossa curiosidade ou da nossa insensatez, sem querermos atender à necessidade do esforço para o próprio progresso, a fim de conseguirmos aquelas tão desejadas companhias espirituais. Mas a verdade é que possuímos, além dessas, outros amigos devotados que muito e muito nos servem, desenvolvendo atividades de legítima fraternidade cristã em torno das nossas necessidades de pecadores em serviços de resgates através das provações e lutas próprias da evolução, amigos pertencentes aos planos modestos da sociedade espiritual, que, humildemente, amorosamente, discretamente, nos socorrem em horas adversas, sem que, as mais das vezes, os suspeitemos, embora agindo, certamente, sob direção de entidades mais elevadas.

Como as demais pessoas, também possuímos amigos dessa categoria espiritual, e estas páginas serão a homenagem do nosso reconhecimento à dedicação humilde e perseverante com que nos têm eles amado e servido durante toda a nossa vida.

Bezerra de Menezes
Yvonne Pereira
Recordações da Mediunidade

sábado, 11 de dezembro de 2010

Recordações da Mediunidade - Yvonne Pereira


Muitas cartas temos recebido, principalmente depois que saiu a lume o nosso livro “Devassando o Invisível”, onde algo relatamos do que conosco há sucedido, referência feita ao nosso âmbito mediúnico. Desejariam os nossos correspondentes que outro noticiário naqueles moldes fosse escrito, que novos relatórios viessem, de algum modo, esclarecer algo do obscuro campo mediúnico, esquecidos de que o melhor relatório para instrução do espírita e do médium são os próprios compêndios da Doutrina, em cujos testos os médiuns se habilitam para os devidos desempenhos. Confessamos, entretanto, que não atenderíamos aos reiterados alvitres que nos fizeram os nossos amigos e leitores se não fora a ordem superior recebida para que o tentássemos, ordem que nos decidiu a dar o presente volume à publicidade. Como médium, jamais agimos por nossa livre iniciativa, senão fortemente acionada pela vontade positiva das entidades amigas que nos dirigem, pois entendemos que o médium por si mesmo nada representa e que jamais deverá adotar a pretensão de realizar isto ou aquilo sem antes observar se, realmente, é influenciado pelas verdadeiras forças espirituais superiores.

Disseram-nos os nossos Instrutores Espirituais há cerca de seis meses, quando aguardávamos novas ordens para o que ainda tentariamos no ângulo da mediunidade psicográfica: “Narrarás o que a ti mesma sucedeu, como médium, desde o teu nascimento. Nada mais será necessário. Serás assistida pelos superiores do Além durante o decorrer das exposições, que por eles serão selecionadas das tuas recordações pessoais, e escreverás sob o influxo da inspiração.»

E por essa razão ai está o livro Recordações da Mediunidade, porque estas páginas nada mais são que pequeno punhado de recordações da nossa vida de médium e de espírita.
Muito mais do que aqui fica poderia ser relatado. Podemos mesmo diser que nossa vida foi fértil em dores, lágrimas e provações desde o berço. Tal como hoje nos avaliamos, consideramo-nos testemunho vivo do valor do Espiritismo na recuperação de uma alma para si mesma e para Deus, porque sentimos que absolutamente não teríamos vencido, nas lutas e nos testemunhos que a vida exigia das nossas forças, se desde o berço não fôramos acalentada pela proteção vigorosa da Revelação Celeste denominada Espiritismo.

Poderíamos, pois, relatar aqui também as recordações do que foi o amargor das lágrimas que chorámos durante as provações, as peripécias e humilhações que nos acompanharam em todo o decurso da presente existência, e os quais a Doutrina Espírita remediou e consolou. Mas para que tal ex planação pudesse ser feita seria necessário apontar ou criticar aqueles que foram os instrumentos para a dor dos resgates que urgia realizássemos, e não foram acusações ao próximo que aprendemos nos códigos espíritas, os quais antes nos ensinaram o Amor, a Fraternidade e o Perdão. Encobrindo, pois, as personalidades que se tornaram pedra de escândalo para a nossa expiação e olvidando os seus atos para somente tratarmos da sublime tese espírita, é o testemunho do Perdão que aqui deixamos, único testemunho, ao demais, que nos faltava apresentar e o qual os nossos ascendentes espirituais de nós exigem no presente momento.

Ao que parece, o presente livro é a despedida da nossa mediunidade ao público. Obteremos ainda outros ditados do Além? É bem possível que não, é quase certo que não. O mais que ainda poderá acontecer é a publicação de temas antigos conservados inéditos até hoje, porqüanto nunca tivemos pressa na publicação das nossas produções mediúnicas, possuindo ainda, arquivados em nossas gavetas, trabalhos obtidos do Espaço há mais de vinte anos.

As fontes vitais que são o veículo da mediunidade: fluido vital, fluido nervoso, fluido magnético, já se esgotam em nossa organização física. O próprio perispírito encontra-se traumatizado, cansado,
exausto. As dores morais, ininterruptamente renovadas, sem jamais permitirem um único dia de verdadeira alegria, e o longo exercicio de uma mediunidade positiva, que se desdobrou em todos os setores da prática espírita, esgotaram aquelas forças, que, realmente, tendem a diminuir e a se extinguirem em todos os médiuns, após certo tempo de labor. Se assim for, consoante fomos advertida pelos nossos maiores espirituais e nós mesma o sentimos, estaremos tranquila, certa de que nosso dever nos campos espíritas foi cumprido, embora por entre espinhos e lutas, e, encerrando nossa tarefa mediúnica literária na presente jornada, cremos que poderemos orar ao Criador, dizendo:
— «Obrigada, meu Deus, pela bênção da mediunidade que me concedeste como ensejo para a reabilitação do meu Espírito culpado. A chama imaculada que do Alto me mandaste, com a revelação dos pontos da tua Doutrina, a mim confiados para desenvolver e aplicar, eu ta devolvo, no fim da tarefa cumprida, pura e imaculada conforme a recebi: amei-a e respeitei-a sempre, não a adulterei com idéias pessoais porque me renovei com ela a fim de servi-la; não a conspurquei, dela me servindo para incentivo às próprias paixões, nem negligenciei no seu cultivo para benefício do próximo, porque todos os meus recursos pessoais utilizei na sua aplicação. Perdoa, no entanto, Senhor, se melhor não pude cumprir o dever sagrado de servi-la, transmitindo aos homens e aos Espíritos menos esclarecidos do que eu o bem que ela própria me concedeu.”

E, assim sendo, neste crepúsculo da nossa penosa marcha terrena recordamos e aqui deixamos, aos leitores de boa vomtade, parcelas de nós mesma, nas confidências que aí ficam registradas, patrimônio sagrado de quem nada mais, nada mais nem mesmo um lar, possuiu neste mundo. E aos amados Guias Espirituais que nos amaram e sustentaram na jornada espinhosa que se apaga, o testemunho da nossa veneração.

Rio de Janeiro, 29 de Junho de 1966.
YVONNE A. PEREIRA

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O vôo de Uma Alma - Yvonne do Amaral Pereira

Sobre a obra

Foi lançado em 09/03/99, justamente data comemorativa da desencarnação de Yvonne (09/03/84), no Rio de Janeiro, pela Editora CELD, o livro: "Yvonne do Amaral Pereira - O vôo de uma alma" autor e amigo particular Augusto Marques de Freitas, fundador e presidente do CEYP.

O livro relata boa parte de suas atividades no bem, mostrando o aspecto humano que a caracterizava. A assistida de Bezerra de Menezes, desde a sua infância, além de constantemente amparada por Charles que foi seu pai em algumas reencarnações transatas, a médium de Camilo Castelo Branco é aqui retratada não só pelo seu Acervo Literário, como também, em Lembrando Suas Vidas Passadas, sua Mediunidade, o Receituário Homeopático que exerceu durante 54 anos ininterruptos, seus Desdobramentos do Corpo Físico, sua participação no Esperanto, sua desencarnação, os Espíritos Amigos, as aparições junto a sofredores após a desencarnação, o encontro com Humberto de Campos (Irmão X) na espiritualidade, após assistirem uma palestra do Instrutor Gúbio, mensagens dadas após sua passagem ã vida do Além, etc. Ressalte-se a vasta correspondência de Yvonne com o Padre Sebastião Bernardes, que residia em Uberaba, e que nada mais era que o Bispo Incinerador das obras espíritas no alto-de-fé de Barcelona, ocorrido em 09 de outubro de 1861.

Apresentação

O grande afeto que mantivemos com Yvonne do Amaral Pereira, hoje no mundo espiritual, encorajou-nos, após uma boa dose de esforço devido às nossas naturais limitações (e inibições) no uso da palavra escrita ou falada, a juntar, neste opúsculo despretencioso, alguns dados e ou acontecimentos que julgamos de grande valia para quem, porventura, lê-los, referentes a algumas passagens da vida da “Pupila de Charles”, serva fiel do Cristo, que durante mais de 70 anos (viveu entre nós 83 anos, 2 meses e 14 dias) exerceu sua mediunidade com extremada abnegação.

A amizade com a “assistida de Bezerra de Menezes” teve início a partir da visita que a ela fizemos, juntamente com nossa esposa e mais dois casais de amigos no bairro da Piedade, na cidade do Rio de Janeiro, onde ela residia com sua irmã Amália Pereira Lourenço, fato ocorrido em 12 de outubro de 1981.

A partir daí, minha esposa passou a manter com ela correspondência periódica . Vários livros por ela psicografados (e ou narrados, mostrados, registrados após desdobramentos que era levada a fazer sempre com o auxílio de espíritos amigos) foram lidos por nós, e os demais, relidos, até que, em 09 de março de 1984, tomávamos conhecimento de sua desencarnação , ocorrida no Hospital da Lagoa , no Rio de Janeiro, local para onde fora levada horas antes, a fim de colocar um marca-passo. Avisara, anteriormente, aos seus familiares, pela manhã daquele mesmo dia, que regressaria à Pátria Espiritual nesse dia, não valendo a pena, portanto, “tanto trabalho para a colocação de um marca-passo.”

Ao chegar ao referido Hospital, repetiu isso aos médicos, segundo nos declarou sua irmã com quem ela morava, em carta posterior à sua desencarnação, a nós enviada por essa sua irmã.

Apresentamos este pequeno trabalho, acreditando que ele poderá fornecer subsídios a quem de direito, melhor do que nós para encetar outro mais completo e mais substancioso, em perfeita concomitância com a grandeza de uma alma redimida, sublimada, que foi e continua sendo a de Yvonne Pereira. E isso o fazemos com certa ousadia, ante nossa falta de condição como escritor, com o agravante de estarmos diante de um dos maiores valores literários e doutrinários do Brasil-espírita, em cujo exercício da mediunidade-cristã, fez com que o exterior também passasse a conhecê-la.

Necessário é, portanto, que outros companheiros, com mais bagagem em assunto de tão relevante importância, “animem-se”, no sentido de ser conhecida ainda mais, a grande obra deixada pela médium, e seus grandes feitos, tão peculiares às almas raras, de escol, que a Espiritualidade Maior nos tem enviado, para nos endireitar os caminhos.

Buscamos primar pelo cuidado no selecionarmos alguns dados biográficos de TUTI (tratamento carinhoso-afetivo-familiar com que atendia), bem como, aquilo que achamos ser de grande valia ao conhecimento e despertamento dos que porventura nos lerem, ante a “via crucis”que os verdadeiros Apóstolos do Espiritismo, o Consolador prometido por Jesus ( João: Cap.XIV, vv. 15 a 17 e 26) , realizam quando encarnados.

Esperamos que as anotações contidas nas páginas deste pequeno livro favoreçam ao leitor, dando-nos o indispensável discernimento à conquista da Coragem da Fé, de que nos falam os Evangelhos.

Aí então estaremos ingressando definitivamente nas fileiras desse Exército glorioso, cujo Comandante perpétuo é o nosso Mestre e Senhor JESUS .

Augusto Marques de Freitas

Valença-RJ

Prefácio do livro

Augusto Marques de Freitas, em boa hora, tomou como encargo fazer um livro que retratasse a vida de dedicação ao bem de Yvonne, buscando, justamente, mostrar o aspecto humano que tanto caracterizou a passagem desta grande trabalhadora.

Há, nesta obra, fatos desconhecidos que, agora, estão sendo apresentados para o público leitor e outros que, embora já conhecidos, trazem informações que enfocam de maneira mais clara e abrangente o roteiro de vida desta prodigiosa médium.

De forma interessante, o autor apresenta os espíritos com quem Yvonne se comunicou e, ainda, curiosa entrevista dela com Humberto de Campos, na Espiritualidade.

Enfim, muito aprenderemos sobre a médium com esta leitura.

Yvonne – pessoa humana.
Yvonne – médium
Yvonne – espírito em trabalho, após sua desencarnação.
Yvonne – o espírito que se apresentando, ele mesmo, como réu, diante da Lei de Deus, soube superar a própria dor e alçar vôo – o Vôo de uma Alma.

Temos plena certeza de que esta preciosa obra preencherá uma lacuna no campo das biografias de trabalhadores espíritas que enriqueceram a atividade de divulgação doutrinária.

Altivo Carissimi Pamphiro

Como foi psicografado o livro Memórias de um Suicida


Material extraído do livro Pelos Caminhos da Mediunidade Serena.

Em agosto de 1975, o extinto periódico carioca Obreiro do Bem, publicou mais uma entrevista de Yvone Pereira. Uma entrevista histórica, em que a pupila de Charles fala sobre os primeiros contatos com o espírito Camilo Castelo Branco.

Obreiros do Bem – Todos os espíritas reconhecem memórias de um suicida como uma autêntica obra prima, desses livros que aparecem a cada cem anos. Como se travou seu conhecimento com Camilo Castelo Branco e quais as circunstâncias que cercaram a captação do livro?

Yvone Pereira
- Creio que meu conhecimento com Camilo seja até de vidas passadas, porque, segundo as referencias que tenho a respeito de meu pretérito, eu residi, ou pelo menos desencarnei, em Lisboa, Portugal, e a primeira vez que o vi, nesta presente existência, contava doze anos, somente, não sabia que fosse ele Camilo Castelo Branco. Vi aquele espírito muito triste, torturado, mas, repito, não sabia que era Camilo. No ano de 1956, depois de ter sido dado a público, Memórias de um Suicida, em novembro de 1955, fui pela primeira vez, a Pedro Leopoldo. Nunca havia conversado com o Chico, do mesmo modo, portanto, que nunca havíamos trocado ideias sobre esse assunto. Estávamos, então, na residência de Chico, onde, na sala, conversávamos com D. Esmeralda Bittencourt, de quem ele era muito amigo, e a qual havia perdido dois filhos, em circunstâncias trágicas. Chico Consolava-a muito. Foi quanto recebeu para d. Esmeralda uma comunicação do filho que havia falecido depois do que escreveu alguma coisa que passou às minhas mãos, dizendo tratar-se de um soneto de Antero de Quental, a mim endereçado. “Diz ele”, continuou o Chico, que, quando se deu o seu suicídio em Lisboa, ele era mocinho e recorda-se muito dos comentários da sociedade, a esse respeito. Aceitei plenamente a comunicação, porque Chico não sabia de nada do que se havia passado comigo,nem mesmo na existência presente. Procurei, então, saber a época em que viveu Antero de Quental: e vim a constatar que foi justamente o tempo de Camilo Castelo Branco.

Quanto às circunstancias de captação do livro, não creio haja acontecido de algo especial, propriamente. Apenas um belo dia, em 1926, depois do receituário que desenvolvia no centro espírita de Lavras, senti o braço escrever, vi Camilo, e começaram desde então a surgir os episódios de memórias de um suicida. Acontece que o escritor dava apenas as narrativas, sem nenhum comentário doutrinário. Como fosse muito nova e conhecesse pouco à doutrina,eu passei a achar que talvez se tratasse de mistificação; mas, como gostasse, no fundo, do que por assim dizer surgia no papel, continuei a escrever, diariamente, na instituição já citada, após o receituário abundantíssimo. Só vinte e cinco anos, após, quando eu morava no Rio de Janeiro, tendo os espíritos me orientado no sentido de rever o livro bem como termina-lo, porque ele não estava completo, foi que se apresentou Léon Denis e auxiliou Camilo a elaborar o conteúdo doutrinário existente da obra.

Notas:
1- Divaldo P. Franco, em entrevista a mim concedida para a composição do livro Yvone Pereira: uma heroína silenciosa, afirmou que Francisco Candido Xavier, lhe havia contado impressões do espírito André Luiz sobre Memórias de um suicida. Andre Luiz, dizia a Chico, considerava-o o livro dos últimos cinquenta anos e dos próximos cinquenta, ou seja, uma obra que viera marcar um século.

2-Antero T. Quental era originário de Açores, tendo nascido em Ponta Delgada a 18 de abril de 1842, vindo a cometer suicídio 11 de setembro de 1891, também em Açores. Poeta e escritor, invulgar e foi licenciado em direito, tendo deixado textos políticos, poemas líricos-filosoficos, prosas sócio-históricas e outros. A considerar o que o texto afirma o suicídio de Yvone, em Lisboa, teria acontecido entre os anos de 1854 a 1867, considerando uma margem de erro razoável, em relação à mocidade aludida por Antero.

Fonte: Pelos caminhos da Mediunidade Serena/ Yvone do Amaral Pereira – 1ª Ed., 1ª reimp. – São Paulo, SP: Lachâtre, 2007.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Uma coletânea das entrevistas concedidas por D.Yvonne, algumas pouco divulgada


Pelos Caminhos da Mediunidade Serena transcreve entrevistas e textos onde a notável médium Yvonne do Amaral Pereira, autora de Memórias de um Suicida , descreve fatos importantes da sua vida e do seu trabalho mediúnico. Dona de um profundo conhecimento da Doutrina Espírita e guiada espiritualmente por nomes célebres, sempre ilustra os ensinamentos adquiridos com casos vivenciados por ela.

Conhecida por suas opiniões firmes, retrata a dor como uma educadora das almas pois, é através dela que os seres se identificam e aprendem a comungar com o bem, tarefa difícil para quem ainda não passou por certos infortúnios na vida. Defende, ainda, que proteger os infelizes é amar o próximo, é amar a Deus e, termina o assunto enaltecendo aquele que, mesmo passando por muitas dificuldades na vida terrena, consegue se manter sereno e caridoso.

Coloca a reforma íntima como alicerce para qualquer mudança coletiva e como causa de toda a cura. Enfatiza que cabe a cada um fazer o seu melhor e deixar o resto entregue ao Mestre, não devemos nos preocupar com os resultados, devemos apenas nos preocupar em realizar algo de bom para a evolução do mundo onde nos encontramos. Junto disto, ensina que devemos amar os nossos inimigos e aqueles que nos perseguem e caluniam, pois amando-os estaremos amando também a Deus.

Em relação à sua experiência mediúnica, a autora ensina que os Guias Espirituais não impõem nada à seus trabalhadores e que a mediunidade nasce neutra, cabe a cada tarefeiro transformá-la em boa ou má, de acordo com sua conduta e pensamentos.

Quando fala sobre o Movimento Espírita, Yvonne A. Pereira reconhece que ele está mudando com o passar do tempo e a evolução contínua da Humanidade e, acredita ser este um caminho natural para se adequar ao progresso dos novos tempos.

O livro é uma coletânea das entrevistas concedidas por Yvonne, algumas pouco divulgadas. Parte de seus textos, de inovador conteúdo, estavam esquecidos em acervos pessoais e na imprensa e foram resgatados para que fosse possível trazer para o público uma obra mais completa sobre a vida, as reflexões e ensinamentos dessa grande estudiosa e colaboradora do Espiritismo.

Livro: “Pelos Caminhos da Mediunidade Serena”
Autora: Yvonne do Amaral Pereira
Editora: Lachâtre
191 páginas

Um pouco da Obra de D. Yvonne Pereira


Obra

A obra mediúnica de Yvonne Pereira monta a uma vintena de livros. Embora desde 1926 tenha escrito numerosas obras psicografadas, somente decidiu publicá-las na década de 1950, segundo ela mesma, após muita insistência dos "mentores espirituais". Dentre as mais conhecidas destacam-se:

Memórias de um Suicida (Rio de Janeiro: FEB, 1955. 568p.) – do espírito de Camilo Castelo Branco e de Léon Denis. Constitui-se num libelo contra o suicídio, descrevendo em sua primeira parte, os sofrimentos experimentados pelos que atentaram contra a própria vida. Na segunda e na terceira partes focaliza os trabalhos de assistência e de preparação para uma nova encarnação. Esta obra é considerada um marco na bibliografia mediúnica brasileira e o melhor exame sobre o suicídio sob o ponto de vista doutrinário espírita.
Nas Telas do Infinito – apresenta duas novelas: do espírito Bezerra de Menezes e outra a Camilo Castelo Branco.
Amor e Ódio (Rio de Janeiro: FEB, 1956. 553p.) – O espírito Charles, enfoca o drama de um ex-aluno francês do Prof. Rivail (Allan Kardec), o artista Gaston de Saint-Pierre, acusado de um crime que não cometera. Após grandes padecimentos, recebe os esclarecimentos elucidativos por meio de um exemplar de O Livro dos Espíritos, à época em que este foi lançado pelo codificador.
A Tragédia de Santa Maria (Rio de Janeiro: FEB, 1957. 267p.) – de Bezerra de Menezes, ambientado em uma fazenda de café em Vassouras (RJ).
Ressurreição e Vida (Rio de Janeiro: FEB, 1963. 314p.) – Com o espírito Leon Tolstoi, compreende seis contos e dois mini-romances ambientados na Rússia dos czares.
Nas Voragens do Pecado (Rio de Janeiro: FEB, 1960. 317p.) - primeiro volume de uma trilogia atribuído ao espírito Charles, relata a trágica história do massacre dos huguenotes na Noite de São Bartolomeu (23 de Agosto de 1572), durante o que seria uma encarnação anterior da médium, na personalidade de Ruth-Carolina de la Chapelle.
O Cavaleiro de Numiers (Rio de Janeiro: FEB, 1976. 216p.) - segundo volume da trilogia, mostra outra suposta encarnação da médium, ainda na França, na personalidade de Berth de Sourmeville.
O Drama da Bretanha (Rio de Janeiro: FEB, 1974. 206p.) – terceiro e último volume da trilogia, ilustra como a médium, agora na personalidade Andrea de Guzman, não consegue suportar os embates de sua expiação e se suicida por afogamento.
Dramas da Obsessão (Rio de Janeiro: FEB, 1964. 209p.) – atribuído ao espírito Bezerra de Menezes, compreende duas novelas abordando o tema obsessão.
Sublimação (Rio de Janeiro: FEB, 1974. 221p.) – apresenta dois contos atribuídos ao espírito Charles (um ambientado na Pérsia e outro na Espanha) e três contos atribuídos ao espírito Leon Tolstoi (ambientados na Rússia).
Como escritora, publicou muitos artigos em jornais populares, produção atualmente desconhecida, que carece de um trabalho amplo de recuperação. São ainda da autora:

A Família Espírita
À Luz do Consolador (Rio de Janeiro: FEB, 1997. ) - coletânea de artigos da médium na revista Reformador, originalmente entre a década de 1960 e a de 1980.
Cânticos do Coração (Rio de Janeiro: Ed. CELD. 1994. 2 v. 246 p.) - coletânea de artigos publicados no jornal Obreiros do Bem.
Contos Amigos
Devassando o Invisível (Rio de Janeiro: FEB, 1963. 232p.) – a autora desenvolve uma dezena de estudos sobre temas doutrinários, com base em suas experiências mediúnicas.
Evangelho aos Simples
O Livro de Eneida
Pontos Doutrinários – reúne crônicas publicadas na revista Reformador.
Recordações da Mediunidade (Rio de Janeiro: FEB, 1968. 212p.) – a autora discorre sobre reminiscências de vidas passadas, arquivos da alma, materializações, premonição e obsessão.
A Lei de Deus

Yvonne do Amaral Pereira

Véspera de Natal de 1900, seis horas da manhã. Na pequena Vila de Santa Tereza de Valença, hoje Rio das Flores, Estado do Rio de Janeiro, renasce em lar espírita Yvonne do Amaral Pereira, primogênita do casal Manoel José Pereira Filho e Elisabeth do Amaral Pereira. Teve cinco irmãos, além de outro mais velho, filho do primeiro casamento de sua mãe.

Seu pai, pequeno comerciante, homem generoso de coração e desprendido dos bens materiais, faliu por três vezes por favorecer a clientela em prejuízo próprio. Tornou-se, pouco depois, funcionário público, de cujos parcos proventos viveu até sua desencarnação, em 1935.

Yvonne viveu em lar pobre e modesto. Aprendeu com os pais a servir os mais necessitados, pois em sua casa eram acolhidos com carinho pobres criaturas sem recursos, inclusive mendigos.

Contam seus biógrafos que, com 29 dias de nascida, depois de um acesso de tosse, sobreveio uma sufocação que a deixou como morta, em estado de catalepsia. Durante 6 horas permaneceu nesse estado. O médico e o farmacêutico atestaram morte por sufocação. O velório foi preparado. A suposta defunta foi vestida com grinalda e vestido branco e azul, e o caixão encomendado. A mãe, que não acreditava que a filha estivesse morta, retirou-se para um aposento, onde orou fervorosamente a Maria de Nazaré, pedindo que a situação fosse definida. Instantes depois, a criança acordou aos prantos.

Sua infância foi povoada de fenômenos espíritas, muitos deles narrados no livro Recordações da Mediunidade. Aos 4 anos já se comunicava com os Espíritos, que considerava pessoas normais, encarnadas. Duas entidades lhe eram particularmente caras. O espírito Charles, que fora seu pai carnal e a quem considerava como tal, devido a lembranças vivas de uma encarnação passada. Foi seu orientador durante toda a sua vida, inclusive nas atividades mediúnicas. O espírito Roberto de Canalejas, que fora médico espanhol em meados do século XIX, era a outra entidade pela qual nutria um profundo afeto e com a qual tinha ligações espirituais de longa data.

Mais tarde, na vida adulta, manteria contatos mediúnicos regulares com outras entidades evoluídas, como o Dr. Bezerra de Menezes, Camilo Castelo Branco e Frédéric Chopin.

Aos 8 anos repetiu-se o fenômeno de catalepsia, associado a desprendimento parcial. Aconteceu à noite e a visão que teve marcou-a pelo resto da vida. Em espírito, foi parar ante uma imagem do \"Senhor dos Passos\", na igreja que freqüentava. Pedia socorro, pois sofria muito. A imagem, então, cobrando vida, dirigiu-lhe as seguintes palavras: \"Vem comigo, minha filha, será o único recurso que terás para suportar os sofrimentos que te esperam\". Aceitou a mão que lhe era estendida, subiu os degraus e não se lembra de mais nada.

De fato, Yvonne Pereira foi uma criança infeliz. Vivia acossada por uma imensa saudade do ambiente familiar que tivera na sua última encarnação na Espanha e que lembrava com extraordinária clareza. Considerava seus familiares, principalmente seu pai e irmãos, como estranhos. Para ela, o pai verdadeiro era o espírito Charles e a casa, a da Espanha. Esses sentimentos desencontrados e o afloramento das faculdades mediúnicas faziam com que tivesse comportamento considerado anormal por seus familiares. Por esse motivo, até os dez anos, passou a maior parte do tempo na casa da avó paterna.

Em ambientação reencarnatória propícia, teve aos 8 anos o primeiro contato com um livro espírita.

Aos 12, o pai deu-lhe de presente \"O Evangelho segundo o Espiritismo\" e \"O Livro dos Espíritos\", que a acompanharam pelo resto da vida, sendo a sua leitura repetida um bálsamo nas horas difíceis. Aos 13 anos começou a freqüentar as sessões práticas de Espiritismo, que muito a encantavam, pois via os espíritos comunicantes. Teve como instrução escolar apenas o curso primário. Não pôde, por motivos
econômicos, fazer outros cursos, o que representou uma grande provação para ela, pois amava o estudo e a boa leitura, tanto que, aos 16 anos, já tinha lido obras de grandes autores como Goethe, Bernardo
Guimarães, José de Alencar, Alexandre Herculano e Arthur Conan Doyle. Desde cedo teve de trabalhar para o seu próprio sustento.

O fenômeno de catalepsia foi comum na sua vida a partir dos 16 anos. A maior parte das reportagens de além-túmulo, dos romances, das crônicas e contos relatados por Yvonne Pereira foram coletados no mundo espiritual através deste processo.

A sua mediunidade, porém, foi diversificada. Foi médium psicógrafa e receitista, assistida por entidades de grande elevação, como Bezerra de Menezes, Charles, Roberto de Canalejas e Bittencourt Sampaio. Possuía mediunidade de efeitos físicos, chegando a realizar algumas sessões de materialização, mas nunca sentiu atração por esta modalidade mediúnica. Os trabalhos que mais gostava de fazer, no campo da mediunidade, eram os de desdobramento, incorporação e receituário homeopático. Nessa última atividade trabalhou em diversos centros espíritas de várias cidades em que morou durante seus 54 anos de labor mediúnico.

Como médium psicofônica, pôde entrar em contato com obsessores, obsidiados e suicidas, aos quais devotava um carinho especial, sendo que muitos deles tornaram-se espíritos amigos. Costumava ler nos periódicos e jornais nomes de suicidas e orava por eles constantemente, catalogando-os num livro de preces criado por ela. Era o que fazia como forma de reparação ao seu suicídio pretérito por afogamento. Passado algum tempo, muitos deles vinham agradecer-lhe as orações e davam-lhe fortes abraços passeando com ela de braços dados pelo casarão em que morava, sem que ela, confusa, soubesse distinguir se o visitante era encarnado ou desencarnado...

Pelo desdobramento noturno Yvonne Pereira visitava o mundo espiritual, amparada por seus orientadores, coletando as crônicas, contos e romances com os quais hoje nos deleitamos. Deixou 20 obras de sua lavra mediúnica, entre as quais Memórias de um Suicida, considerada por Chico Xavier a que melhor retrata a profundeza do Umbral. Este livro, ditado pelo espírito Camilo Castelo Branco, que usou o pseudônimo Camilo Cândido Botelho, foi recebido em 1926, mas editado somente 30 anos depois, em 1956, pela FEB.

São também de sua autoria os seguintes livros: Nas Telas do Infinito, Amor e Ódio, Nas Voragens do Pecado, O Drama da Bretanha, Cavaleiro de Numiers, Ressurreição e Vida, Sublimação, Dramas da Obsessão, Devassando o Invisível e Recordações da Mediunidade, tendo como autores espirituais Bezerra de Menezes, Charles, Leão Tolstoi e Roberto de Canalejas.

Embora conhecesse bem a arte poética, jamais psicografou qualquer poema. Deixou uma série de 10 livros destinados ao público infanto-juvenil, recebidos por intuição e supervisionados por Bezerra de Menezes e Léon Denis, livros que ainda não vieram a lume.

Diz Yvonne, em entrevista a Jorge Rizzini em 1972: \"A formação do meu caráter foi feita pelo Dr. Bezerra. Segui sempre os conselhos dele. Mas houve outros espíritos que me guiaram, como Bittencourt Sampaio e Eurípedes Barsanulpho, com quem trabalhei muito, principalmente em curas de paralíticos.\" A maior parte de sua atividade mediúnica foi exercida em Lavras e outras cidades de Minas Gerais.

Foi esperantista convicta e trabalhou arduamente na sua propaganda e difusão, através de correspondência que mantinha com outros esperantistas, tanto no Brasil quanto no exterior.

Yvonne Pereira serviu como médium de 1926 a 1980, quando um acidente vascular cerebral impossibilitou-a para a atividade mediúnica. Sempre humilde, terna e vivaz, morava num casarão em Piedade, subúrbio do Rio de Janeiro, em companhia de sua irmã casada, Amália Pereira Lourenço, também espírita.

Na noite de 9 de março de 1984, vitimada por trombose, desencarnou durante uma cirurgia a que se submetera no Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro. Seu corpo foi sepultado no Cemitério de Inhaúma. Tinha 83 anos e mantivera-se solteira, cumprindo dignamente o mandato mediúnico exercido com amor e total devotamento ao semelhante.


FONTES: Danilo Vilela e Jorge Rizzini (entrevistas e notas biográficas, Revista Reformador - jan/82 e jornal Macaé Espírita - Nº 289/ 290 – jan/fev. 2000

Publicado no jornal O Espírita Mineiro - 292

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Animismo e espiritismo - Animismo e Espiritismo é um livro escrito pelo filósofo russo Alexandre Aksakof


Um pouco sobre: Alexandre Aksakof (Ripievka, 27 de maio de 1832 — São Petersburgo, 4 de janeiro de 1903)) foi um diplomata russo, conselheiro de Alexandre III. Doutorou-se em filosofia e se notabilizou na investigação e na análise dos fenômenos espíritas durante o século XIX.

Foi professor da Academia de Leipzig e fundador, em 1874, da revista Psychische Studien (Estudos Psíquicos), na Alemanha. Em 1891, lançou em Moscou a revista de estudos psíquicos Rebus, a primeira do gênero na Rússia.

Criou adeptos entre cientistas e filósofos de seu tempo, que, através de experiências feitas com médiuns famosos como Daniel Dunglas Home, levou a Rússia a formar a primeira comissão de caráter puramente científico para o estudo dos fenômenos espíritas. Para essa comissão, Aksakof mandou vir da França e da Inglaterra os médiuns que participariam das experiências. Como resultado, por haver fugido das condições pré-estabelecidas, tal comissão chegou a conclusões questionáveis, saindo como relatório conclusivo o livro "Dados para estabelecer um juízo sobre o Espiritismo", onde afirmava a falsidade dos fenômenos observados. Aksakof contestou a comissão com um outro livro intitulado: "Um momento de preocupação científica".

Sustentou longa polêmica e refutou as explicações materialistas do filósofo alemão Von Hartmann, discípulo de Schopenhauer, que atribuía todos os fenômenos espíritas a manifestações do inconsciente ou a charlatanismos.

Efetivou numerosas experiências e observações científicas com o concurso da médium italiana Eusapia Palladino, que serviram de fundamentação para sua obra mais importante: Animismo e Espiritismo assim como, ao estudar a mediunidade da médium inglêsa conhecida como Elizabeth d'Espérance, testemunhou um evento sobre o qual escreveu a obra "Um Caso de Desmaterialização".

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Resumo e motivo da obra:
Prefácio da tradução francesa
Conforme um ajuste feito com o Sr. Alexandre Aksakof, conselheiro de Estado atual de S. M., o imperador da Rússia, assumi a responsabilidade de publicar em francês a sua obra tão conhecida no estrangeiro: Animismus und Spiritismus.
O filósofo bávaro Sr. Carl du Prel me recomendava esta obra como indispensável a qualquer investigador consciencioso; eu era do seu parecer.
Confiei a tradução da obra ao Sr. B. Sandow, nosso colaborador, em razão dos seus conhecimentos lingüísticos; acrescentarei que as provas definitivas foram submetidas à apro-vação do autor.
Deixo ao tradutor a incumbência de apresentar ao público francês algumas considerações sobre Animismo e Espiritismo e sobre as origens deste volume.
O Editor: P.-G. Leymarie
* * *
A obra que apresentamos ao público não foi escrita com o intuito especial de defender a causa espírita, mas, sim, para preservar essa doutrina dos ataques sérios a que no futuro ficaria indubitavelmente exposta, desde que os fatos sobre os quais se baseia sejam admitidos pela Ciência.

A leitura deste livro produzirá certamente impressão profunda no espírito de todos aqueles que se preocupam com o problema da vida e meditam sobre os destinos humanos. Sem dúvida, os espíritas só encontrarão aqui a confirmação, cientificamente formulada, de suas crenças; os incrédulos, quer o sejam de caso pensado, quer repousem apenas no quietismo de um cepticismo indiferente, ao menos serão levados à dúvida, que resume, apesar de tudo, a suprema prudência no homem, quando este não tem, para sancionar as suas convicções, uma certeza absoluta.

A uma pena muito mais autorizada do que a minha caberia apresentar Animismo e Espiritismo aos leitores franceses. Mas nenhuma necessidade deste gênero se impõe, porque o nome do escritor basta para recomendar sua obra e, demais, o seu Prefácio justifica amplamente, perante todos os pensadores, a publicação do livro: expõe de maneira admirável a profissão de fé do autor e faz conhecer claramente o fim que ele se propôs. Nada mais se poderia acrescentar aí.
Meu papel deve, pois, limitar-se a mencionar rapidamente algumas particularidades referentes às origens deste trabalho.

Conforme se pode ver no frontispício do volume, foi este uma resposta à brochura que o bem conhecido filósofo alemão Eduard von Hartmann – continuador de Schopenhauer – publicou em 1885, sobre o Espiritismo.

A primeira edição original (alemã) de Animismus und Spritismus (Leipzig, 1890) provocou da parte do Sr. Von Hartmann uma réplica intitulada “A hipótese dos Espíritos e seus fantasmas” (Berlim, 1891), na qual ele volta, com insistência, aos argumentos de que já se tinha servido. Desta vez foi o sábio Carl du Prel quem se encarregou de continuar, contra esse adversário tão temível, a polêmica que o Sr. Aksakof infelizmente não podia continuar, devido ao seu estado de saúde.

Nem a resposta do Dr. Carl du Prel nem as duas publicações do Sr. Von Hartmann foram até agora traduzidas para o francês; esta lacuna, porém, não diminuirá sensivelmente o interesse que o leitor atento há de encontrar nesta obra, notando-se que o autor nela reproduz “in extenso” os principais argumentos de seu adversário.

Resta-me dar algumas indicações sobre as fontes de que me servi para imprimir a esta tradução uma fidelidade tão escrupulosa quanto possível.
Traduzi do próprio texto alemão as numerosas citações extraídas do livro do Sr. Von Hartmann.
As indicações se referem, pois, naturalmente à edição alemã, porquanto, como já o disse acima, nenhuma tradução francesa existe desse livro. A parte do texto primitivo de Animismo e Espiritismo, escrita em francês pelo autor, permitiu-me fixar na tradução uma terminologia já consagrada pelo próprio autor. No que respeita às alterações feitas na edição russa, que veio à luz em 1893, consultei cuidadosamente essa edição; quanto às citações de origem inglesa, não pude ter à vista todos os textos originais e vi-me assim obrigado, acerca de muitos deles, a limitar-me às traduções alemã e russa, as quais, apresso-me em dizê-lo, nada deixam a desejar.

Tenho necessidade, depois desta documentação, de solicitar a indulgência do leitor?

Conto que os meus esforços serão apreciados com retidão por aqueles que se interessam por estas questões de tão elevada importância.

Concluindo, não posso deixar de exprimir o meu mais vivo reconhecimento ao meu sábio amigo, o Dr. H., pelo precioso concurso que generosamente me prestou. Recorri aos seus conhecimentos para a tradução de diversos trechos de ordem científica e técnica, e posso dizer que sempre recebi dele pareceres tão esclarecidos quanto benevolentes.

Devo, finalmente, agradecer ao Sr. Leymarie haver-me confiado este trabalho tão delicado quanto interessante.
B. Sandow

O REINO DE DEUS (TOLSTOI ENCONTRA ZAQUEU II


Mas nenhum deles sequer prestava atenção em minha insignificante pessoa... Não me olhavam, não me viam, e eu temia importuná-los dirigindo-lhes a palavra... Eram tantos os pretendentes ao aprendizado do Amor, ao redor deles! Eles tinham tantas preocupações, preparando-se, chocados, para o heróico apostolado!... E como eu era "publicano", um malvisto cobrador de impostos da alfândega romana, convenci-me, erroneamente, de que era por isso que não me recebiam, não obstante saber que entre os doze principais havia também um "publicano", o qual fora diretamente convidado pelo próprio Nazareno...

Recolhi-me então à minha mágoa imensa, sem todavia deixar de seguir, discretamente, os apóstolos, orando para que não tardasse o socorro a vir fortalecer a fé e a esperança que eu depositava naquele reino de Deus que havia de vir, reino cujas leis me fora dado entrever do verbo e das ações do próprio Messias esperado pelos homens de Israel.

Recolhi-me, mas não desanimei.

Continuava percebendo que Aquele Amor que, um dia, não se diminuíra em visitar minha casa, sentar-se à minha mesa e repousar sob o meu teto, continuava incentivando-me, prolongando suas atenções em torno dos meus passos. No fim de pouco tempo, de tanto ouvir as pregações dos seus apóstolos e dos outros setenta - fosse pelas Sinagogas, aos sábados, pelas praias e praças públicas ou pelos domicílios domésticos dos "santos", então freqüentados pelos outros "santos" - eu aprendera os pormenores da Doutrina já exposta pelo Senhor.

Por esse tempo, eu deixara Jericó, desligara-me das funções aduaneiras, dera parte dos meus bens aos pobres, conforme prometera a Jesus, provera, com a outra parte, recursos para minha família, distribuíra minhas terras entre os camponeses mais necessitados, reservando o estritamente necessário à minha manutenção pelos primeiros tempos. Fizera-me errante e vagabundo para acompanhar os discípulos e ouvi-los contar às multidões as conversações íntimas que o Senhor entretivera com eles, antes do Calvário e depois da gloriosa ressurreição.

Como eu conhecesse bem as letras e as matemáticas, falando mesmo o grego, tão usado em Jerusalém, e também o latim, igualmente usado graças à influência romana, à parte os nossos dialetos da Síria, da Galiléia e da Judéia, se me escasseavam recursos apresentava-me às escolas mantidas pelas Sinagogas. Empregava-me ali como adjunto dos escribas, para as lições aos jovens, ou então nas casas particulares ricas, como professor, e assim ganhava meu sustento. Mas se não houvesse lições a transmitir era certo que nunca faltariam madeiras a serrar, aqui ou ali; águas a carregar, a fim de saciar a sede das famílias; paredes a reparar nas casas dos romanos, os quais, se eram agressivos no trato pessoal com o povo hebreu, sabiam, no entanto, remunerar com justiça aqueles que os serviam, desde que não se tratasse de escravos.

Um dia - foi em Jerusalém - correra a nova sensacional de que certo jovem fariseu, responsável pelo apedrejamento e morte do nosso querido Estêvão, a quem o Espírito do Senhor inspirava com tantas glórias, acabara por se converter à Causa, porque o Senhor lhe aparecera em ressurreição triunfante, exatamente quando ele entrava na cidade de Damasco, para onde se dirigia tencionando prender os nossos "santos" domiciliados naquela localidade. Aparecera-lhe o Senhor e convidara-o diretamente para o seu ministério, como o fizera aos outros doze, antes de sua paixão e morte. E que, agora, já inteiramente aos desejos do Mestre Nazareno, com tremendas responsabilidades pesando-lhe nos ombros, conferidas pelo mesmo Mestre, pela primeira vez ia falar à assembléia dos discípulos, em Jerusalém, narrando o que se passara.

Fui ouvi-lo.

Esse fariseu era Saulo (Saul), o de Tarso, "que é também chamado Paulo".

Contou ele, à assembléia silenciosa e atenta, o seu colóquio com o Nazareno, à entrada de Damasco, e logo conquistou o coração de muitos que se achavam presentes. Foi de pé (alguns se ajoelharam) que ouvimos os pormenores da aparição do Senhor a Paulo, e a conversa que tivera com ele mesmo, Paulo, e a seqüência dos acontecimentos que envolveram Ananias, um dos nossos amados "santos" de Damasco. Muitos choraram, eu inclusive, e também Paulo.

Se, no entanto, essa aparição fez a redenção de Paulo, de certo modo contribuiu para minha definitiva estabilidade na Doutrina do Mestre, porque daquele dia em diante tudo se modificou em minha vida.

Nunca mais deixei Paulo, até hoje!

Procurei-o então, em Jerusalém. Fui recebido com afeto e bondade. Fiz-lhe a minha confissão, o que não tivera coragem de fazer aos demais discípulos. Narrei-lhe os meus sofrimentos íntimos por Jesus. Quisera servi-lo, a ele, Jesus. Sinceramente o queria! Mas não sabia como iniciar nem o que fazer.

Pelo amor de Jesus, Paulo ouviu-me com solicitude digna daquele mesmo Mestre que o admoestara em Damasco. E aconselhou-me, e guiou-me!

Desse dia em diante, em vez de apenas ouvir as pregações em torno da Doutrina do Senhor e meditar sobre ela, pus-me a trabalhar também, por amor do mesmo Mestre, sob orientação de Paulo, que, como aquele, não desprezava "publicanos". Ele deu-me incumbências:

"Não te limites à adoração inativa, que poderá cristalizar-se em fanatismo. A Doutrina de Jesus é afanosa por excelência... E ele precisa de servos trabalhadores, enérgicos, ágeis para mil e uma peripécias, de boa vontade para a propagação da Verdade que nos trouxe... Tu, que possuis noções da prática da beneficência, porque já a havias mais ou menos praticado antes do teu encontro com o Mestre, testemunha o teu amor por ele, servindo também aos teus irmãos que sofrem ou erram, pois tal é o segredo da boa prática da nova Doutrina. Nenhum de nós será tão pobre que não possa favorecer o próximo com algo que possua para distribuir: o pão, o lume, o agasalho, o bom conselho, a advertência solidária, a assistência moral no infortúnio, o ensinamento do Bem, a lição ao ignorante, a visita ao enfermo, o consolo ao encarcerado, a esperança ao triste, o trabalho ao necessitado de ganhar o próprio sustento honrosamente, a proteção ao órfão, o seu próprio coração de amigo e irmão em Cristo, a prece rogando aos Céus bênçãos que aclarem os caminhos dos peregrinos da vida, o perdão àqueles que nos ferem e nos querem mal..."

De tais conselhos fiz, então, o meu lema.

Em vez de só ouvir falar do Mestre, pus-me a falar, eu mesmo, dele e da sua Doutrina, que teoricamente eu já conhecia bastante; dos seus atos, das maravilhas que operara por entre os doentes, os pecadores e os desgraçados, pois eu o conhecera, estava devidamente informado a seu respeito. E, se não curei leprosos, estanquei a aflição de muitas lágrimas com exposições em torno dele. Se não levantei paralíticos, pelo menos ergui a coragem da fé em muitos corações desanimados ante a incúria pelas coisas santas. Se não expulsei demônios, é certo que alijei o ateísmo, recuperando almas para o dever com Deus. E se não ressuscitei mortos renovei esperanças na alma de muitas matronas desgostosas com a indiferença dos próprios filhos na prática do Bem, revigorei a decisão de muitos pecadores que temiam procurar o bom caminho, porque envergonhados de se apresentarem a Deus, pela oração, a fim de se renovarem para jornadas reabilitadoras. E, assim, minh'alma se alegrava em Cristo, dilatavam-se os meus propósitos de progresso... E eu sentia que, de dia para dia, quando orava, mais incidiam sobre mim forças e novas bênçãos para mais me desdobrarem em operações objetivas, que tendiam a me fazer comungar com a vontade daquele Unigênito dos Céus, que um dia penetrou os umbrais pecaminosos de minha casa para me levar salvação.

E encontrei, então, dentro de mim próprio, aquele Reino de Deus que ele anunciara... Encontrei-o na paz do dever cumprido, que me embalava o coração...

Eu ouvia, embevecido, a empolgante exposição daquele Zaqueu, cujo nome, no Evangelho atraía as minhas simpatias, mas a quem as referências são mínimas, no livro santo. Mas acontecia que a força mental do humilde discípulo do Nazareno distendera em torno um círculo de luz fulgurante, o qual nos envolveu a todos, e nos levou a vibrar com ele, e nos dominou a vontade, submetendo nossas vontades à vontade dele próprio, nosso pensamento ao seu pensamento, nosso sentimento ao seu sentimento, nosso raciocínio ao seu raciocínio, tal se, completamente mergulhados nas ondas das suas irradiações, ficássemos à sua mercê para lhe obedecermos às sugestões. Era a "faixa vibratória" dele mesmo, onda transmissora do pensamento, capaz dos mais belos feitos psíquicos, que nos atingia e dominava. Então, o mais edificante foi que o pensamento de Zaqueu e suas recordações, revividas nos haustos de uma expansão solene, criaram novamente os fatos passados e nos deram a presenciar com ele tudo quanto era narrado. Seguimo-lo, assim, em suas idas e vindas atrás dos discípulos do Cristo. Presenciamos suas silenciosas lágrimas, seus sofrimentos ante a dificuldade em iniciar o ministério do Bem, expandindo objetivamente o que já existia no íntimo do seu coração. Com ele vagamos, chorosos, pelas praias de Cafarnaum, recordando as prédicas sublimes que não mais se ouviam, mas às quais os discípulos nunca deixavam de se referir durante as exposições da Boa Nova para o povo... E, desse modo, quantas vezes com ele subimos o Calvário, sob a nostalgia do crepúsculo, vendo-o chorar, sozinho e sofredor, a saudade daquele que ali expirara para legar ao mundo o patrimônio do Amor! E aprendemos com ele, vendo-o agir, como se pratica o verdadeiro Bem, como se estancam as lágrimas da desgraça e se recupera o pecador para o dever, ocultamente, silenciosamente, sem os alardes da vaidade nem os elogios da História, fiel a um ministério santo, incansável, em torno das criaturas sofredoras, pelo amor de Jesus-Cristo...

Foi esse um dos mestres que encontrei aquém do túmulo. Seus ensinamentos, os exemplos de ternura em favor do próximo, que me deu, revigoraram minhas forças. Sob seus conselhos amorosos orientei-me, dispondo-me a realizações conciliadoras da consciência.

E se tu, meu amigo, desejas encontrar aquele Reino de Deus de que Jesus dá notícias, ama os desgraçados! Cada lágrima que enxugares em seus olhos, cada conselho bom que dispensares ao pobre desarvorado da vida é mais um passo que darás em direção a esse Reino que, finalmente, encontrarás dentro do teu próprio coração, que assim aprendeu o cumprimento da suprema lei: Amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo... (Espírito de Léon Tolstoi - Médium: Yvonne A. Pereira - livro: Ressurreição e Vida).

Leon Tolstoi encontra Zaqueu - Fonte: Ressurreição e Vida - Yvonne Pereira


O REINO DE DEUS

(TOLSTOI ENCONTRA ZAQUEU)

Informativo: nota do copilador:
"Uma das passagens bem conhecidas da vida de Jesus é, sem dúvida, seu encontro com Zaqueu. Este, de estatura baixa, rico e criticado pelo povo porque desempenhava a função de coletor de impostos, subiu a uma árvore para ver Jesus. O Mestre, vendo-o, chamou-o e disse: Zaqueu, desce depressa, porque importa que eu fique hoje em tua casa. (Lucas, 19:1 a 10.) A história seguinte, descrita pelo espírito de Leon Tolstoi no livro "Ressurreição e Vida!" de sua autoria e psicografado pela médium Yvonne A. Pereira, coloca-nos numa posição privilegiada diante de tanta beleza e ensinamentos que ela nos traz".

"Tendo-lhe feito os fariseus esta pergunta: - Quando virá o reino de Deus? - Respondeu-lhes Jesus: - O reino de Deus não virá com mostras exteriores. Nem dirão: - Ei-lo aqui; ou: - Ei-lo acolá. Porque eis que o reino de Deus esta dentro de vós." (LUCAS, 17:20 e 21.)

"E tendo entrado em Jericó, atravessava Jesus a cidade. E vivia nela um homem chamado Zaqueu, e era ele um dos principais entre os publicanos, e pessoa rica. E procurava ver Jesus, para saber quem era, mas não o podia conseguir, por causa da muita gente, porque era pequeno de estatura. E correndo adiante subiu a um sicômoro para o ver, porque por ali havia ele de passar. E quando Jesus chegou àquele lugar, levantando os olhos, ali o viu, e lhe disse: - Zaqueu, desce depressa, porque importa que eu fique hoje em tua casa. E desceu ele a toda pressa, a recebeu-o, satisfeito. Vendo isso, todos murmuravam, dizendo que tinha ido hospedar-se em casa de um homem pecador. Entretanto, Zaqueu, posto na presença do Senhor, disse-lhe: - Senhor, eu estou para dar aos pobres metade dos meus bens,e naquilo em que eu tiver defraudado alguém, pagar-lhe-ei quadruplicado. Ao que lhe disse Jesus: - Hoje entrou a salvação nesta casa, porque este também é filho de Abraão. Porque o filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido." (LUCAS, 19:1 a 10.)

=> Eu trouxera para a Vida do Além o desejo sincero de aprender a amar e servir o meu próximo. Creio mesmo que nos últimos tempos de minha vida intuições protetoras, bondosamente alimentadas por amigos celestes, que se compadeciam do meu pesar por não me haver sido possível ser tão fraterno para com os outros, como o desejara, falavam-me de rumos novos que deveria tomar, bem diversos daqueles que a sociedade viciosa do meu tempo me apontara.

Carreguei para o túmulo esse pesar. E esse pesar se acentuou aquém do túmulo e se transformou em aflição. Em vergonha depois. E em remorso. Compreendi por isso que, além dos umbrais da morte, o mérito que se nos permite é aquele que o Amor confere. E eu, que desejara amar, sem realmente ter amado; que fora rancoroso quando devera ser brando de coração; que usara da impaciência e do desdém - quantas vezes?! - onde se recomendariam a ternura e o interesse complacente, entendi que nada sabia, que nada fizera de bom e que urgia aprender novamente tudo o que uma alma necessita para a reabilitação de si mesma ante o próprio conceito.

Um dia (direi um dia para que os homens me entendam, porque nestas plagas espirituais não se poderá expressar assim, visto que se desconhecem os dias e as noites, para somente se integrar a mente no eterno momento), um dia roguei Àquele que É a piedade de me proporcionar ensejos de um aprendizado de legítimo Amor ao próximo, mas um aprendizado que saciasse a minha alma até às suas remotas fibras, fazendo desaparecer o complexo da idéia de desamor em que me considerava ter vivido.

Pus-me a "passear" pelo espaço ilimitado, pensativo e compungido, e por vezes recordando meus antigos passatempos pela floresta de Iasnaia-Poliana1, ao passo que confabulava com a própria consciência, estabelecendo resoluções definidas e programas urgentes.

Havia pouco tempo que abandonara aos vermes aquilo que fora a minha personalidade social humana, e a mente, afeita desde o berço às paisagens russas, figurava para si própria os quadros habituais de minha terra natal: estepes geladas a se confundirem com o horizonte, onde o vento soprava levantando a neve, para reuni-la em montículos que se multiplicavam a perder de vista; as aldeias com suas "isbas", movimentadas pelo trabalho dos moradores sempre preocupados com suas lides; o gado rumorejando à hora do repouso; as camponesas palrando ou cantarolando ao recolherem as roupas que secavam ao vento desde manhã; os "trenós" e as "troikas" regressando com seus nédios proprietários, bem aquecidos e ainda mais tranqüilos sob suas peliças, depois de vencerem cinco ou oito "verstás", satisfeitos com os resultados de suas compras e vendas...

Mas de súbito tudo mudou.

Vi-me perdido em campo azul-pálido, lucilante de uma aurora cujo resplendor matizava de doces coloridos a região imensa. E acolá, sentado, meditativo, como a contemplar algo que eu era impotente para também distinguir, entrevi um vulto atraente, cujo aspecto me surpreendeu. Dir-se-ia encontrar-me em presença de um daqueles discípulos do Nazareno, daqueles que, no anonimato, o seguiam em suas idas e vindas pelos contrafortes da Judéia e as planícies de trigo da Galiléia.

Reparando de mais perto, e mais atentamente, compreendi que o vulto discursava para a pequena assembléia de ouvintes sentados pelo chão, à sua volta, como de uso no Oriente, e como se concedesse uma entrevista ou uma aula. Em derredor, estendia-se um panorama oriental recordando as descrições bíblicas. Veio-me a impressão de que o Tempo recuara dois milênios, transportando-me, sem que eu o percebesse, à Galiléia da época da peregrinação do Senhor por suas paragens.

A luz da aurora, inalterável, incidia suavemente sobre o grupo e a pradaria em torno, com irradiações de madrepérola esbatendo claros e sombras tão singulares que eu desafio, a todos os artistas que têm passado pela Terra, a reproduzirem em suas telas um só daqueles celestes reflexos que então tive a ventura de contemplar.

Aproximei-me de mansinho do grupo entrevisto, discreto, algo curioso. E me considerei discípulo daquele provável mestre, como os outros que o rodeavam. E eis o que ouvi e presenciei:

- Retornaremos a qualquer momento para nova experimentação terrena, mestre Zaqueu... Fala-nos de ti mesmo, dos tempos apostólicos, das pregações do Nazareno expondo a sua Boa Nova, que provavelmente ouviste... Seria de muito bom proveito que levássemos, detidos nas comportas da consciência, algo estimulante, deslumbrante, desse tempo... para que, uma vez nos sentindo novamente homens, pouco a pouco se fossem destilando, pelos escapamentos da intuição, essas lições salvadoras que sabes contar, à guisa de reminiscências levadas deste plano espiritual em que nos encontramos... - rogaram sorrindo os discípulos, todos atraentes personagens, muito agradáveis de ver.

Sobressaltei-me.

- Zaqueu?... - pensei. - Mas seria aquele que subiu ao sicômoro, quando o Senhor entrava em Jericó, para vê-lo passar?... Seria aquele em cuja casa Jesus se hospedara? que oferecera ao Mestre um festim, enquanto o reino de Deus era mais uma vez ensinado aos de boa-vontade, entre os convivas?... Seria possível, mesmo, que eu me encontrasse em presença de um Espírito que fora "publicano" ao tempo do Senhor, na Judéia; que viesse a conhecer alguém que, por sua vez, houvera conhecido a Jesus - Cristo?...

Excitado, aproximei-me ainda mais. Pus-me à sua frente, sentado como os outros, a olhar para ele.

Ao que observava, aquela sociedade retratava uma democracia modelar, superior em moral e fraternidade mesmo à que eu sonhara outrora para a Rússia e o mundo, nas horas de desesperança, quando observava o Mal perseguindo o Bem, a Força dominando o Direito, a Treva sobrepondo-se à Luz. Eu chegava ali sem credenciais, sem apresentações. Sentava-me entre todos, confiante, como se compartilhasse benefícios da casa paterna entre irmãos. Imiscuía-me para junto do mestre que discursava e ninguém me censurava a impertinência, não me pediam satisfações pela intromissão. Mais tarde eu soube que, se tal acontecia, era devido a mera questão de afinidades. Somente o fato de havermos todos gravitado para aquele plano valeria pela credencial, que outra não era senão aquela mesma. Quem estivesse ali, estava porque poderia e deveria estar. Mais nada. Eu estava ali. Devia estar. No Além não existem dubiedades nem meias medidas. O que é, é! E era por isso que ninguém me enxotava de junto do mestre que discursava. Eu tinha direitos a estar junto daquele mestre. E estava.

Olhei-o, àquele a quem haviam chamado Zaqueu. Semblante sereno, bondoso, enternecido, ainda jovem. Olhos cintilantes e perscrutadores, como alimentados por uma resolução invencível. Lábios finos, queixo estirado, com pequena barba negra em ponta, recordando o característico fisionômico dos varões judaicos. Tez alva, sobrancelhas espessas, mãos pequenas, pequena estatura, coifa discreta, listrada em azul forte e branco, manto azul forte, barrado de galões amarelos e borlas na ponta - eis a materialização do homem que teria sido, há dois mil anos, aquele Espírito que assim mesmo se apresentava aos seus ouvintes do mundo espiritual, disposto a cativá-los através da "regressão da memória" a essa personalidade remota que tivera sobre a Terra.

Confesso que durante meus antigos estudos sobre o Evangelho nutrira grande simpatia por essa personagem que vemos, nas páginas santas, admiradora incondicional de Jesus, dotada de inclinações generosas a serviço do próximo, desejando repartir entre a pobreza parte da própria fortuna, desinteresse raro em qualquer tempo, sobre a Terra. Eu a entrevia, então, através dos versículos de S. Lucas, um caráter profundamente terno, simples, um idealista disposto ao auxílio aos semelhantes, não obstante tratar-se de pessoa que, embora poderosa e influente na localidade em que vivia, como chefe dos cobradores de impostos que era, se via, por isso mesmo, repelida e moralmente estigmatizada por aquela sociedade preconceituosa. E foi com o coração excitado por todos os raciocínios conseqüentes de tais lembranças que a ouvi atender à solicitação dos discípulos:

- "A bondade do Mestre Galileu, honrando-me com uma visita e uma refeição em minha casa, eu, um renegado pela sociedade porque um "publicano" tocou-me para sempre o coração, meus amados, conforme sabeis... - ia ele dizendo. - Ele compreendeu as minhas necessidades morais de estímulo para o Bem, o meu aflitivo desejo de ser bom. Penetrou, com sua solicitude inesquecível, os mais remotos escaninhos do meu ser moral; contornou, com seu amor de Arcanjo, todas as aspirações do meu Espírito, filho de Deus, que sofria por algo sublime que lhe aclarasse as ações... E conquistou-me, assim, por toda a consumação dos séculos...

Muito sofri e chorei quando esse Mestre foi levantado no suplício da Cruz. Não, eu não o abandonei jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! Segui-o. E o pouco que ainda viveu depois disso teve-me em suas pegadas para ouvi-lo e admirá-lo. Eu não me ocultei das autoridades, receando censuras ou prisão, nem tive preconceitos, e tampouco me importunou a vigilância dos tiranos de Roma ou o despeito dos asseclas do Templo de Jerusalém. Achava-me bem visível entre o povo, transitando pelas ruas, embora ignorado, humilhado pela minha condição de funcionário romano... e assisti aos estertores da agonia sublime, naquela tarde do 14 de Nisan... Soube, é certo, da ressurreição que a todos revigorou de esperanças... Mas não logrei tornar a ver e ouvir o Mestre, não fui bastante merecedor dessa ventura imensa... Ele só se apresentou, depois da ressurreição, aos discípulos - homens e mulheres - e aos apóstolos...

Inconsolável por sua ausência e sentindo em mim um vazio aterrador, meu recurso para não desesperar ante a saudade e o pesar pelo desaparecimento desse Amigo incomparável foi insinuar-me entre seus discípulos, a fim de ouvir falarem dele...

Fui a Betânia, quantas vezes?!... e tentei tornar-me assíduo da granja de Lázaro, de tão gratas recordações... Mas tudo ali estava tão mudado e tão triste, depois do 14 de Nisan...

No entanto, ali, na granja de Lázaro, sob o frescor das figueiras viçosas que Marta plantara; à luz do luar, junto das oliveiras que farfalhavam docemente, ao impulso das virações que desciam do Hermon; no próprio pátio onde recendiam os lírios que Maria plantara, perdido entre o anonimato dos forasteiros que acorriam a Betânia quando ali o sabiam hospedado, eu ouvira pregações do Mestre pouco antes da Sua morte, saciando-me até à alegria e ao deslumbramento com as palavras daquela Doutrina que Ele concedia ao povo, o qual ignorava que a dois passos se ergueria a cruz, arrebatando-o da nossa vista...

Visitei Pedro, esperando consolar a minha grande dor ouvindo-o dissertar sobre Aquele que se fora do alto do Calvário, com a eloqüência com que sempre soube arrebatar as multidões.

Perlustrei, choroso e desarvorado, as praias de Cafarnaum e de Genesaré, sem saber o que tentar em meu próprio socorro, mas esperançado de que os irmãos Boanerges, filhos de Zebedeu, me compreendessem e adotassem para discípulo do seu bando, como eu via que acontecia a tantos outros... (Espírito de Léon Tolstoi - Ressurreição e Vida! - Yvonne A. Pereira) -

Bom, sugerimos ler o texto sobre livro e no capítulo Segue em "O Reino de Deus II", os detalhes do encontro são muitos vibrantes. Vale a pena conferir.

Objetivo da obra O Evangelho Segundo o Espiritismo


Podemos dividir as matérias contidas nos Evangelhos em cinco partes:

1) Os atos comuns da vida do Cristo:
2) Os milagres:
3) As profecias:
4) As palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja:
5) O ensino moral.

Se as quatro primeiras partes têm sido objeto de discussões, a última PERMANECE INATACÁVEL. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. E o terreno em que TODOS OS CULTOS podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda a parte PROVOCADA PELOS DOGMAS. Se o discutissem, as seitas teriam, aliás, encontrado nele a sua própria condenação, porque A MAIORIA DELAS SE APEGARAM MAIS A PARTE MÍSTICA DO QUE À PARTE MORAL, que EXIGE A REFORMA DE CADA UM. Para os homens, em particular É UMA REGRA DE CONDUTA QUE ABRANGE TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS DA VIDA PRIVADA E PUBLICA, O PRINCÍPIO DE TODAS AS RELAÇÕES SOCIAIS fundadas na mais RIGOROSA JUSTIÇA. É, por fim, e acima de tudo O CAMINHO INFALÍVEL DA FELICIDADE A CONQUISTAR, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura. É essa parte que constitui o objeto exclusivo desta obra.

Todo o mundo admira a moral evangélica; todos proclamam a sua sublimidade e a sua necessidade, mas muitos o fazem confiando naquilo que ouviram, ou apoiados em algumas máximas que se tornaram proverbiais, pois poucos a conhecem a fundo, e menos ainda a compreendem e sabem tirar-lhes as conseqüências. A razão disso está em grande parte, nas dificuldades apresentadas pela leitura do Evangelho, ininteligível para a maioria. A forma alegórica, O MISTICISMO INTENCIONAL DA LINGUAGEM, fazem que a maioria o leiam por desencargo de consciência e por obrigação, como lêem as preces sem as compreender, o que vale dizer sem proveito. OS PRECEITOS DE MORAL, espalhados no texto, misturados com as narrativas, PASSAM DESPERCEBIDOS. Torna-se impossível apreender o conjunto e fazê-los objeto de leitura e meditação separadas.

Fizeram-se, é verdade, tratados de moral evangélica, mas A ADAPTAÇÃO ao estilo literário moderno tira-lhe a ingenuidade primitiva, que lhe dá, ao mesmo tempo, encanto e autenticidade. Acontece o mesmo com as máximas destacadas, reduzidas a mais simples expressão proverbial, que não passam então de aforismos, PERDENDO UMA PARTE DE SE VALOR e de seu INTERESSE, pela falta dos acessórios e das circunstâncias em que foram dadas.

Para evitar esses inconvenientes, REUNIMOS nesta obra os TRECHOS QUE PODEM CONSTITUIR, propriamente falando, UM CÓDIGO MORAL UNIVERSAL, sem distinção de cultos. Nas citações, CONSERVAMOS TUDO o que era de UTILIDADE ao desenvolvimento do pensamento, suprimindo apenas as coisas estranhas ao assunto. Além disso, RESPEITAMOS ESCRUPULOSAMENTE a tradução original de Sacy, assim como a divisão por versículos. Mas, em vez de nos prendermos a uma ordem cronológica impossível, e sem vantagem real em semelhante assunto, as máximas foram agrupadas e distribuídas metodicamente segundos sua natureza, de maneira a que umas se deduzam das outras, tanto quanto possível. A indicação dos números de ordem dos capítulos e dos versículos permite recorrer à classificação comum, caso se julgue conveniente.

Esse seria apenas um trabalho material, que por si só não teria mais do que uma utilidade secundária. O essencial era pô-lo ao alcance de todos, pela explicação das passagens obscuras e o desenvolvimento de todas as suas conseqüências, com vistas à aplicação às diferentes situações da vida. Foi o que procuramos fazer, com a ajuda dos bons Espíritos que nos assistem.

Muitas passagens do Evangelho, da Bíblia, e dos autores sagrados em geral são ininteligíveis, e muitas mesmo parecem absurdas por falta de uma chave que nos dê o seu verdadeiro sentido. Essa chave está inteirinha no Espiritismo, como já se convenceram os que estudaram seriamente a doutrina, e como ainda melhor se reconhecerá mais tarde. O Espiritismo se encontra por toda parte, na Antigüidade, e em todas as épocas da humanidade. Em tudo encontramos seus traços, nos escritos, nas crenças e nos monumentos, e é por isso que, se ele abre novos horizontes para o futuro, lança também uma viva luz sobre os mistérios do passado.

Como complemento de cada preceito, damos algumas instruções, escolhidas entre as que foram ditadas pelos Espíritos em diversos países, através de diferentes médiuns. Se essas instruções tivessem surgido de uma fonte única, poderiam ter sofrido uma influência pessoal ou do meio, enquanto diversidade de origens prova que os Espíritos dão os seus ensinamentos por toda parte, e que não há ninguém privilegiado a esse respeito (1).

ESTA OBRA É PARA O USO DE TODOS; cada qual pode dela tirar os meios de conformar sua conduta à moral do Cristo. Os espíritas nela encontrarão, além disso, as aplicações que lhes concernem mais especialmente. Graças às comunicações estabelecidas, de agora em diante, de maneira permanente, entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica, ensinada a todas as nações pelos próprios espíritos, não será mais letra morta, porque cada qual a compreenderá, e será incessantemente solicitado a pô-la em prática, pelos conselhos de seus guias espirituais. As instruções dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los á prática do Evangelho.