O presente trabalho, como instrução prática, não se endereça exclusivamente a médiuns, mas sim a todos quantos desejarem ver e observar os fenômenos espíritas.
A ciência espírita está necessariamente na existência dos Espíritos e na sua intervenção no mundo corporal. Tornar-se-ia hoje supérflua a demonstração do fato, uma vez que ele é aceito por tanta gente. Sendo o nosso objetivo o de guiar as pessoas desejosas de se ocuparem com as manifestações, queremos crer que elas estejam suficientemente esclarecidas acerca dessa questão, bem como das verdades fundamentais dela decorrentes. Eis o motivo por que não as discutiremos, nem procuraremos manter controvérsias, nem refutar objeções.
Dirigimo-nos somente às pessoas convictas ou predispostas, às de boa fé, ou que pretendem sê-lo; aqueles que tudo ainda deverão aprender não encontrarão aqui as demonstrações que apreciariam encontrar, já mesmo porque consideramos incontrovertido o ponto de partida. Diremos àqueles que contradisserem o nosso ponto de partida: quando a ocasião se lhes apresentar, vejam e observem; se, não obstante os fatos e os raciocínios os senhores ainda persistirem na incredulidade, tomaríamos como tempo perdido o que aplicássemos em tirá-los de um erro em que se comprazem sem dúvida. Respeitamos-lhes a opinião, respeitem portanto a nossa. É tudo quanto lhes pedimos.
Daremos início à instrução expondo os princípios gerais da Doutrina; conquanto pareça mais racional começar pela prática, queremos crer que agora não é o caso; há uma convicção moral que só o raciocínio nos poderá dar; aqueles pois que tiverem adquirido as primeiras noções pelo estudo da teoria compreenderão melhor a necessidade de alguns preceitos recomendados pela prática e ficarão com disposições mais favoráveis.
Levando os indecisos para o terreno da realidade, esperamos destruir os preconceitos que possam prejudicar o resultado objetivado, poupar ensaios inúteis, porque mal dirigidos ou dirigidos para o impossível, combater enfim as idéias supersticiosas, que sempre se originam de uma noção falsa ou incompleta das coisas.
As manifestações espíritas são a fonte de uma porção de idéias novas, que não puderam encontrar representação na linguagem usual; como sói acontecer na infância das ciências, foram expressas por analogia; daí a ambigüidade vocabular, fonte inesgotável de discussões.
Compreendemo-nos mais facilmente desde que tenhamos vocábulos claramente definidos e um nome para cada coisa; então a discussão será de fundo e não de forma. Visando esse objetivo e no intuito de pôr ordem nas idéias novas e ainda confusas, damos primeiramente uma lista dos nomes que, de um modo direto ou indireto, dizem respeito à Doutrina, com explicações bastantes completas, as quais, se bem que sucintas, procurarão fixar as idéias.
Allan Kardec -
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