segunda-feira, 30 de abril de 2012

Espiritismo é uma filosofia de vida, não simplesmente uma crença.- Definição e Opção - Deolindo Amorim


Reflexões de Deolindo Amorim – fonte: O Espiritismo e os Problemas Humanos. 
Definição e Opção.

O estado atual do mundo exige um reexame de conjunto, em face da Doutrina Espírita, a fim de nos prepararmos para as transições de toda ordem, acompanhando o fio da História e procurando compreender as situações de cada momento. A Doutrina Espírita tem luzes para nos indicar o caminho.
Assim, diante de todas as transformações que se operam na Terra, principalmente após 1948, a Doutrina Espírita não ficou ultrapassada:
a)      Continuamos a sustentar a primazia da reforma moral do homem, como base ou ponto de partida de todas as reformas que visem ao melhoramento dos costumes e das condições humanas;
b)      Mantemos a mesma idéia de que o movimento espírita não pode ficar alheio aos problemas sociais, cumprindo-lhe, por isso, interferir na solução desses problemas;
c)       Devemos desenvolver e aprimorar cada vez mais a consciência de participação na vida social, em harmonia com o legítimo pensamento da Doutrina, que não quer o espírita fora do mundo, mas dentro do mundo, ajudando a transformá-lo.

Desta forma vamos encontrar:
1)      O Espiritismo, a Doutrina Codificada por Allan Kardec – tem relações com a Sociologia, o Direito, a Economia, a História...
2)      O Espiritismo é uma Doutrina de sentido universal, podendo ter pontos e coincidência com diferentes doutrinas e religiões, mas conserva autonomia de seus princípios.
3)      O Espiritismo é progressista, afirma a liberdade espiritual e tem por fim precípuo a espiritualização do homem na sociedade.
4)      O Espiritismo acompanha a evolução das idéias e, por isso, não pode ser considerado fora da atualidade.

E ainda: Somos deste mundo (TERRA), pertencemos à sociedade, tempos compromisso na Terra, e por isso mesmo, não podemos fugir às contingências do meio cósmico e do meio social.

Há muitas vias de conhecimento e, consequentemente, cada qual se faz àquela que mais de perto combina com as suas inclinações e possibilidades. Mas, desde que aceitemos integralmente a Doutrina Espírita, com ela devemos sedimentar as nossas reflexões, sem dispensar o exercício da faculdade crítica.

Tem o Espiritismo proposições básicas, necessária solidez para resistir às transformações que passa o mundo atualmente? Terão apenas v alor histórico? – É uma questão muito séria, mas inevitável, porque a realidade social nos afronta de vários modos, como se estivéssemos fazendo um teste de tudo que aprendemos até agora ou de tudo aquilo que acreditamos. Precisamos saber, mas saber criteriosamente, se as nossas convicções ainda estão intactas e se podem ou não enfrentar os desafios do mundo exterior. É o ponto de partida para uma tomada de posição.

Sobre os avanços tecnológicos e descobertas cientificas: não podemos deixar de pensar muito nessa situação, que é uma situação de fato, pois a problemática do momento exige definição e opção: ou nos definimos pela validade da Doutrina, se ela realmente não está superada pelos acontecimentos, ou teremos que optar por outra solução, tomando um roteiro diferente. É uma alternativa indisfarçável porque precisamos saber, conscientemente, onde devemos ficar ou para onde devemos ir. “A Doutrina espírita tem recursos inesgotáveis, mas é necessário saber como descobrir e aplicar esses recursos em face das motivações que vão surgindo”.

Em tudo por tudo, a Doutrina Espírita mostra sempre o equilíbrio, o bom senso, nunca radicalismo nem a precipitação...

O Espiritismo não é uma doutrina fatalista: se existem dificuldades insuperáveis, porque se prendem a vinculações bem dolorosas com o passado de outras etapas da vida, também existem problemas que correm por conta de falta de solidariedade ou frieza de muitos corações, que ainda não aprenderam a palpitar nas expansões de amor ao próximo.

Assim, o Espiritismo é, para nós, uma filosofia de vida, não simplesmente uma crença.

E concluindo o extrato:

“Se não quisermos compreender o mundo atual, ficaremos marginalizados. É a hora mais decisiva de nos voltarmos para o pensamento fundamental da Doutrina...
Leon Denis afirma: cada espírito reencarnado tem a sua missão, grande ou pequena, brilhante ou obscura, mas sempre meritória, se for bem cumprida.

Para saber e refletir um pouco mais:
Sugestão de leitura: O Espiritismo e os Problemas Humanos – Deolindo Amorim
O Livro dos Espíritos: questões




Informações sobre Deolindo Amorim
Dados pessoais: 
Nome
: Deolindo Amorim.  
Nascimento
: 23/01/1908.  
Homem
: jornalista, escritor, sociólogo e espírita.  
Desencarne
: 24 de abril de 1984 (76 anos).

1. ASPECTOS GERAIS
Nasceu em Baixa Grande, interior da Bahia. Foi para o Rio de Janeiro em 1929, para prestar o serviço militar obrigatório e aí ficou residindo em definitivo, casando-se com dona Delta dos Santos Amorim, sua dedicada companheira, de cujo enlace nasceram Paulo Henrique S. Amorim, Rosa Maria A. R. Valle e Marília dos Santos Amorim.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um breve estudo sobre Educação – fonte: O Livro dos Espíritos e Obras Póstumas - AK




383. Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pela infância?
R. — Encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível, durante esse tempo, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação. (1)
 Trecho extraído de “O Livro dos Espíritos - q. 383” - obra codificada por Allan Kardec
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  ENSINO ESPÍRITA
 Um curso regular de Espiritismo seria dado com o fim de desenvolver os princípios da Ciência espírita e propagar o gosto pelos estudos sérios. Esse curso terá a vantagem de criar a unidade dos princípios, de obter adeptos esclarecidos, capazes de difundir as idéias espíritas e de desenvolver grande números de médiuns. Encaro este curso como capaz de exercer influência capital no futuro do Espiritismo e em suas conseqüências.(2) - Allan Kardec no livro “Obras Póstumas”
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NOTAS:
(1) Os pais e os professores espíritas devem ponderar sobre este item e os que se lhe seguem. O Espiritismo vem abrir um novo capítulo da Psicologia infantil e da Pedagogia, mostrando a importância da educação da criança não apenas para esta vida mas para a sua própria evoloção espiritual. (Nota de J. Herculano Pires)
(2) Veja-se o projeto de criação das Escolas de Espiritismo, organismos de ensino de tipo universitário, aprovado pelo IV Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas realizando em Curitiba, Paraná, em 1968, e publicado pela revista Educação Espírita, n.o 1, de dezembro de 1970. (Nota de J. Herculano Pires)

 (...) Há um elemento que não se costuma considerar, sem o qual a ciência econômica torna-se apenas uma teoria: é a educação. Não a educação intelectual, mas a educação moral; não ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar o caráter, que dá os hábitos: porque educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Quando se pensa na massa de indivíduos lançados a cada dia na torrente da população, sem princípios nem freios e entregues aos próprios instintos, devem causar espanto as conseqüências desastrosas que resultam disso? Quando essa arte for conhecida e praticada, o homem trará hábitos de ordem e de previdência para si e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos angustiado os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que uma educação bem conduzida pode curar; aí está o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos. 
O LIVRO DOS ESPÍRITOS Trecho da nota de Allan Kardec em relação a resposta da questão 685-a
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 .... se uma boa educação moral lhes houvera ensinado a praticar a lei de Deus, não teriam caído nos excessos causadores da sua perdição. Disso, sobretudo, é que depende a melhoria do vosso planeta.
O LIVRO DOS ESPÍRITOS - Resposta à questão 889
 Não basta dizer ao homem que ele deve trabalhar, é necessário também que o que vive do seu trabalho encontre ocupação, e isso nem sempre acontece. Quando a falta de trabalho se generaliza, toma as proporções de um flagelo, como a escassez. A ciência econômica procura o remédio no equilíbrio entre a produção e o consumo, mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, sofrerá sempre intermitências e durante essas fases o trabalhador tem necessidade de viver. Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos.

Quando se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população, sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das conseqüências desastrosas desse fato? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo os hábitos de ordem e previdência para si mesmo e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar de maneira menos penosa os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos
O LIVRO DOS ESPÍRITOS - Trecho da nota de Allan Kardec em relação a resposta da questão 685

Conhecidas as causas do egoísmo, o remédio se apresentará por si mesmo. Só restará então destruí-las, senão totalmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e o veneno pouco a pouco será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo, ela só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem.
A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação. É grave erro pensar-se que, para exercê-la com proveito baste o conhecimento da Ciência. Quem acompanhar, assim o filho do rico, como o do pobre, desde o instante do nascimento, o observar todas as influências perniciosas que sobre eles atuam, em conseqüência da fraqueza, da incúria e da ignorância dos que os dirigem, observando igualmente com quanta freqüência falham os meios empregados para moralizá-los, não poderá espantar-se de encontrar pelo mundo tantas esquisitices. Faça-se com o moral o que se faz com a inteligência e ver-se-á que, se há naturezas refratárias, muito maior do que se julga é o número das que apenas reclamam boa cultura, para produzir bons frutos.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS - Trecho da nota de Allan Kardec em relação a resposta da questão 917

terça-feira, 17 de abril de 2012

Resumidamente, a História de O Livro dos Espíritos.


Na imagem acima as primeiras experiências, destacando as reuniões familiares, a utilização da cesta de bico até os dias de hoje.


HISTÓRICO DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS – Jorge Hessen




Foi por volta de 1854 que Denizard Hippolyte León Rivail ouviu falar pela primeira vez das mesas girantes ao encontrar-se com o magnetizador Sr. Fortier, que lhe narrou tais fatos. Não foi cético ao extremo, pois conhecia o magnetismo e sabia que o fluído magnético, uma espécie de eletricidade, podia atuar sobre os corpos inertes. Mas pouco tempo depois, em outro encontro, ao lhe narrar outros fatos sobre a mesa girante no intuito de convencer Rivail, este lhe respondeu: “Só acreditarei vendo, e quando me provarem que a mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que pode tornar-se sonâmbula.” (1)

No início de 1855, encontrou-se com um amigo que o conhecia há 25 anos, o Sr. Carlotti, que lhe falou, também, desses fenômenos. Como era ardente e apaixonado, além de possuidor de uma bela alma, não se deixou de pronto convencer pela exaltação do amigo. Apenas lhe respondeu: “Não digo que não. Veremos mais tarde.” (1)




Em maio de 1855, estando na casa da sonâmbula Sra. Roger com o Sr. Fortier, magnetizador dela, encontrou-se com o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemason, que lhe falaram sobre as mesas girantes, mas agora em outro tom, instrutivo e sério, convidando-o a assistir às experiências que se realizavam em casa da Sra. de Planemaison, à rua Grange-Batelière nº 18. Rivail aceitou solícito em encontro marcado para uma terça-feira às 8 horas da noite.

Foi ali que Rivail testemunhou pela primeira vez o fenômeno das mesas girantes que saltavam e corriam em condições indubitáveis. Inclusive, presenciou ele igualmente alguns ensaios, ainda imperfeitos, da escrita mediúnica numa ardósia com o auxílio de uma cesta.

Atento, entreviu no fundo daquela suposta futilidade algo de sério, um fato que devia ter uma causa, poderia estar ali a revelação de uma nova lei, e prometeu a si mesmo que iria investigar a fundo para encontrar a causa desses acontecimentos surpreendentes.

Em uma dessas reuniões da Sra. Plaineimaison conheceu a família Baudin. Foi quando o Sr. Baudin o convidou para assistir às sessões que aconteciam semanalmente em sua casa, à Rua Rochechouart. Surgia aí uma oportunidade para estudar e observar mais atentamente as causas geradoras desses fenômenos. Rivail passou a ser um frequentador assíduo dessas reuniões assaz concorridas, já que a entrada era franqueada a todo e qualquer interessado.

Duas médiuns, filhas do Sr. Baudin, escreviam numa ardósia com o auxílio da cesta, chamada pião, mostrada na figura anterior. A cesta nada mais é do que um porta-lápis e um apêndice da mão ou um intermediário entre a mão e o lápis (2). Esse método requer a participação de duas pessoas, excluindo assim a possibilidade da influência das idéias do médium. Foi assim que Rivail presenciou comunicações seguidas de respostas dadas às questões apresentadas, inclusive às perguntas que eram feitas mentalmente, fazendo entrever, com evidência, a intervenção de uma inteligência estranha atuando através do médium.

Com o tempo a cesta pião foi substituída por uma espécie de mesa em miniatura, com três pés, sendo um deles o suporte do lápis. Diversos outros dispositivos foram desenvolvidos. Finalmente, chegou-se à conclusão de que os Espíritos poderiam agir diretamente na mão do médium (como geralmente escrevemos), e esse método é usado até os dias de hoje (ver figuras acima).

  
O Espírito que habitualmente se manifestava dava o nome de Zéfiro, completamente de acordo com o seu caráter e o da reunião, onde os assuntos tratados eram geralmente frívolos, tratando da vida mundana e do futuro da vida material de cada um dos presentes que o consultava.

Diz Rivail que, apesar de tudo, o Espírito Zéfiro era muito bom, e declarava-se protetor da família, sabia fazer rir os participantes, e, quando era necessário, dava bons conselhos, muitas vezes, com ditos satíricos e espirituosos.

Em pouco tempo Zéfiro lhe ofereceu provas de grande simpatia, onde mais tarde, assistido por Espíritos superiores, ajudou-o significativamente nos seus primeiros trabalhos espíritas.

Foi nessas reuniões, na casa da família Baudin, que ele desenvolveu seus primeiros trabalhos importantes sobre Espiritismo, muito mais pela observação do que pelas revelações.

Diz Rivail sobre o seu trabalho iniciático do Espiritismo:

“Apliquei a essa nova ciência, como o fizera até então, o método da experimentação; jamais utilizei teorias preconcebidas: observava atentamente, comparava, deduzia as conseqüências; dos efeitos procurava remontar às causas, pela dedução e o encadeamento lógico dos fatos, não admitindo uma explicação como válida senão quando podia resolver todas as dificuldades da questão. Foi assim que sempre procedi em meus trabalhos anteriores, desde os 15 anos de idade. Compreendi, desde logo, a seriedade da exploração que iria empreender; entrevi, nesses fenômenos, a chave do problema, tão obscuro e tão controverso, do passado e do futuro da Humanidade, a solução do que havia procurado em toda a minha vida; era, em uma palavra, toda uma revelação nas idéias e nas crenças; seria preciso, pois, agir com circunspeção, e não levianamente; ser positivo e não idealista, para não se deixar iludir.

Um dos primeiros resultados de minhas observações foi que os Espíritos, não sendo outros senão as almas dos homens, não tinham a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber estava limitado ao grau de seu adiantamento, e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Essa verdade, reconhecida desde o princípio, me preservou do grande escolho de crer em sua infalibilidade, e me impediu de formular teorias prematuras sobre o dizer de um só ou de alguns.” (1)

O fato da possibilidade da comunicação com os Espíritos, não importando o que dissessem, provava a existência de um mundo invisível. Um campo imenso às suas explorações que indicavam, também, ser a chave de uma multidão de fenômenos inexplicados. Outro ponto importante é que ele poderia conhecer o estado desse mundo bem como os seus hábitos e costumes. Rivail percebeu em pouco tempo que cada Espírito que se comunicava, pela sua posição pessoal e pelo seu conhecimento, cada um, lhe desvendava algum aspecto desse mundo invisível, da mesma maneira que se chega ao conhecimento de um país entrevistando os habitantes de todas as classes e condições sociais, com cada um oferecendo uma informação ou um ensino.

Diz ele sobre isso:

“Cabe ao observador formar o conjunto com a ajuda de documentos recolhidos de diferentes lados, colecionados, coordenados e controlados uns pelos outros. Agi, pois, com os Espíritos, como o teria feito com os homens; foram para mim, desde o menor ao maior, meios de me informar, e não reveladores predestinados.” (1)

A disposição adotada pelo professor Rivail em seus estudos espíritas foi sempre seguir a seguinte regra: observar, comparar e deduzir.

Se até então as sessões na casa do Sr. Baudin não tinham um objetivo determinado, Rivail, pelo seu jeito professoral e questionador, mudou naturalmente essa situação, pois nessas entrevistas com os Espíritos, antesfrívolas, agora se procurava resolver problemas importantes e de grande interesse sob o ponto de vista da Filosofia, da Psicologia e da natureza do mundo invisível: ele ia a cada reunião com uma série de perguntas preparadas e metodicamente dispostas, às quais os Espíritos lhe respondiam com precisão, profundidade e lógica. A partir de então, se por algum motivo desse Rivail a faltar em alguma sessão, os participantes ficavam sem saber o que fazer.

A princípio, o professor Rivail só tinha por objetivo instruir-se; contudo, quando percebeu que aquelas informações formavam um conjunto e que tomavam proporções de uma Doutrina, resolveu torná-las públicas para a instrução de todos. Futuramente, essas informações, com questões e respostas, desenvolvidas e completadas, constituiriam a base de O Livro dos Espíritos.

“Tudo foi obtido pela escrita, por intermédio de diversos médiuns.” Os primeiros médiuns que concorreram para a elaboração desse livro foram as Srtas. Baudin, cuja boa vontade jamais lhes faltou: “quase todo o livro foi escrito por intermédio delas em presença de numeroso publico que assistia às sessões com o mais vivo interesse.” (3)

Em 25 de março de 1856, na casa do Sr. Baudin, através da médium Srta. Baudin, teve pela primeira vez contato com o seu guia espiritual. Dias antes ouviu batidas noturnas repetitivas no tabique que separava sua casa, situada à Rua dos Mártires, 8, 2ª andar, do cômodo vizinho. Na sessão daquele dia, então, travou-se a seguinte entrevista:

“– P. ...poderíeis dizer-me a causa dessas pancadas que se fizeram ouvir com tanta persistência (em minha casa)?
– R. Era teu Espírito familiar.

– P. Com que objetivo vinha bater assim?
– R. Queria se comunicar contigo.

– P. Poderíeis dizer-me o que é que ele queria de mim?
– R. Podes perguntar a ele mesmo, porque está aqui.

(...)

P. – Meu Espírito familiar, quem quer que sejais, vos agradeço por terdes ido visitar-me; Poderíeis dizer-me quem sois?
 R. Para ti, me chamarei A Verdade, e todos os meses, aqui, durante um quarto de hora, estarei à tua disposição.

(...)” (1)

Em 17 de junho de 1856, ainda na casa do Sr. Baudin e através da sua filha médium, Rivail pergunta ao Espírito (a Verdade):

“P. – Uma parte da obra já foi revista. Poderíeis ter a bondade de dizer o que dela pensais?
R. – O que foi revisto está bem; mas, quando tudo acabar, será preciso revê-la ainda, a fim de estendê-la sobre certos pontos, e abreviá-la em outros.” (1)

Em 11 de setembro de 1856, também, na casa dos Baudin, depois de haver feito a leitura de alguns capítulos do futuro Livro dos Espíritos, referente às leis morais, a médium Srta. Baudin escreveu espontaneamente:

"Compreendestes bem o objetivo de teu trabalho; o plano está bem concebido; estamos contentes contigo. Continua, mas, sobretudo, quando a obra estiver terminada, lembra-te de que nós te recomendaremos fazê-la imprimir e propagá-la: é de uma utilidade geral. Estamos satisfeitos, e não te deixaremos jamais. Crê em Deus e caminha." Esta mensagem foi assinada assim: “Muitos Espíritos.” (1)

Nesse ano de 1856, Rivail acompanhou também as reuniões espíritas que aconteciam na Rua Tiquetone, na casa do Sr. Roustan; a Srta. Japhet era a médium sonâmbula. Aqui, as reuniões eram sérias e ordeiras. Como o trabalho de Rivail estava quase acabado, pronto para um livro, ele resolveu revê-lo entrevistando outros Espíritos mediante outros médiuns. Inicialmente teve a idéia de fazer objeto de estudo, mas no fim de algumas sessões os Espíritos preferiram vê-lo na intimidade e, para esse efeito,  marcaram certos dias,  em que trabalhariam com a Srta. Japhet, a fim de o fazerem com mais calma, objetivando também evitar indiscrições e comentários prematuros do público. Contudo, Rivail não se contentou com essa verificação que os próprios Espíritos lhe recomendaram.

Assim, Rivail procurou se relacionar com outros médiuns e sempre que surgia uma ocasião, aproveitava para propor algumas das perguntas, principalmente as que lhe pareciam mais espinhosas. Foi assim que, nesse trabalho de revisão, mais de dez médiuns lhe prestaram assistência. Isso aconteceu através da comparação e da fusão de todas as respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes refeitas no silêncio da meditação; Assim se formou a primeira edição de O Livro dos Espíritos, que apareceria para o público a 18 de abril de 1857.

A parte essencial do trabalho de revisão foi feita com o concurso da senhorita Japhet que se prestou, com a maior complacência e o mais completo desinteresse, a todas as exigências dos Espíritos. A Sta. Japhet,  que também era uma sonâmbula muito notável, tinha o tempo da sua vida particular completamente empregado, mas compreendeu a necessidade da utilidade desse trabalho em favor da propagação da Doutrina e dedicou-se de boa vontade a essa tarefa. (3)

Nessa obra Rivail usou o pseudônimo de Allan Kardec, sugerido por um Espírito que se denominava Z (como vimos anteriormente, Zéfiro), que lhe revelou haverem sido amigos vivendo entre os druidas numa vida pretérita, e que seu nome naquela encarnação era Allan Kardec. E com esse pseudônimo assinou todas as suas obras espíritas.

Em janeiro de 1857, quando já havia enviado para a editora imprimir O Livro dos Espíritos, o Espírito Z havia prometido escrever-lhe uma carta por ocasião do Ano Novo. Nesse dia, na casa do Sr. Baudin, Z tinha algo de particular a dizer-lhe. Eis o que escreveu pela médium Srta. Baudin, na intimidade, para o agora Allan Kardec:

“Caro amigo, não quis te escrever, na última terça-feira, diante de todo o mundo, porque há certas coisas que não se podem dizer senão entre nós.

Queria primeiro te falar de tua obra, a que fazes imprimir (O Livro dos Espíritos estava no prelo.) Não te canses tanto noite e dia; terás mais resultado, e a obra não perderá por esperar.

Segundo o que vejo, és muito capaz de levar a bom termo a tua empresa e tens que fazer grandes coisas. Nada, porém, de exagero em coisa alguma. Observa e aprecia tudo judiciosa e friamente. Não te deixes arrastar pelos entusiastas, nem pelos muito apressados. Mede todos os teus passos, a fim de chegares ao fim com segurança. Não creias em mais do que aquilo que vejas; não desvies a atenção de tudo o que te pareça incompreensível; virás a saber a respeito mais do que qualquer outro, porque os assuntos de estudo serão postos sob as tuas vistas.

Mas, ai! a verdade não será ainda conhecida, nem acreditada, por todos, antes de muito tempo! Não verás, nesta existência, senão a aurora do sucesso de tua obra; será necessário que retornes, reencarnado num outro corpo, para completar o que tiveres começado, e, então, terás a satisfação de ver, em plena frutificação, a semente que tiveres difundido sobre a Terra.

Terás invejosos e ciumentos que procurarão te denegrir e contrariar; não te desencorajes; não te inquietes com o que se dirá ou se fará contra ti; prossegue tua obra; trabalha sempre pelo progresso da Humanidade, e serás sustentado pelos bons Espíritos, enquanto perseverares no bom caminho.

Lembra-te de que, há um ano, prometi a minha amizade àqueles que, durante o ano, fossem convenientes em toda a sua conduta? Pois bem! anuncio-te que és um daqueles que escolhi entre todos.

Teu amigo que te ama e te protege, Z.” (1)

Como vimos, Rivail havia dito que Z não era um Espírito superior, mas muito bom e benevolente. Diz Allan Kardec sobre ele: “Talvez fosse mais avançado do que o nome que tomou poderia fazer supor; pode-se supô-lo a julgar pelo caráter sério e a sabedoria de suas comunicações, segundo as circunstâncias. Em favor de seu nome, poderia se permitir uma linguagem familiar, própria ao meio onde se manifestava, e dizer, o que lhe acontecia freqüentemente, duras verdades sob a forma alegórica do epigrama. Seja como for, sempre conservei dele uma boa lembrança e o reconhecimento pelos bons conselhos que me deu e a amizade que me testemunhou. Desapareceu com a dispersão da família Baudin, dizendo que logo deveria reencarnar.” (1)

Em 18 de abril de 1857, na Galeria D'Orleans, local da Livraria Dentu, era lançado ao público a primeira edição de O Livro dos Espíritos. Que trazia em seu frontispício os seguintes dizeres: “O Livro dos Espíritos, contendo os princípios da doutrina espírita acerca da natureza, manifestação e relações dos espíritos com os homens; das leis morais; da vida presente, vida futura e porvir da humanidade. Escrito e publicado conforme o ditado e a ordem de espíritos superiores por Allan Kardec.” (4).
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Escreveu Allan Kardec na Revista Espírita de janeiro de 1858: "...declaramos desde o princípio, e temos a satisfação de reafirmar agora, jamais pensamos em fazer de O Livro dos Espíritos objeto de especulação: Seu produto será aplicado nas coisas de utilidade geral." (3)

Em março de 1860, quando do lançamento da segunda edição, através da Revista Espírita de nº. 3 desse ano, escreveu Allan Kardec sobre esta nova edição:

“Inteiramente refundida e consideravelmente aumentada.

Na primeira edição desta obra, anunciamos uma parte suplementar. Devia compor-se de todas as questões que ali não puderam entrar, ou que circunstâncias ulteriores e novos estudos deveriam originar. Mas como todas se referem a alguma das partes já tratadas, e das quais são o desenvolvimento, sua publicação isolada não teria apresentado nenhuma continuidade. Preferimos aguardar a reimpressão do livro para incorporar todo o conjunto, e aproveitamos para dar à distribuição das matérias uma ordem muito mais metódica, suprimindo ao mesmo tempo tudo quanto tivesse duplo sentido. Esta reimpressão pode, pois, ser considerada como obra nova, embora não tenham os princípios sofrido nenhuma alteração, salvo pouquíssimas exceções, que são antes complementos e esclarecimentos do que verdadeiras modificações. Esta conformidade com os princípios emitidos, malgrado a diversidade das fontes em que foram hauridos, é um fato importante para o estabelecimento da ciência espírita. Prova nossa própria correspondência que comunicações em tudo idênticas, se não quanto à forma, ao menos quanto ao fundo, foram obtidas em diferentes localidades, e isso muito antes da publicação do nosso livro, o que veio confirmá-las e dar-lhes um corpo regular. Por seu lado, a História atesta que a maioria desses princípios tem sido professada pelos homens mais eminentes, dos tempos antigos e modernos, assim trazendo a sua sanção.” (5)

Assim temos, resumidamente, a História de O Livro dos Espíritos.

Notas:

(1) Obras Póstumas (1890), 2ª parte.
(2) O Livro dos Médiuns, 2ª parte, Psicografia, item 157.
(3) Revista Espírita, janeiro de 1858, O Livro dos Espíritos.
(4) O Livro dos Espíritos, 1ª edição.
(5) Revista Espírita, março de 1860.

Revista Espírita de nº. 3 desse ano, escreveu Allan Kardec sobre esta nova edição:


“Inteiramente refundida e consideravelmente aumentada.

Na primeira edição desta obra, anunciamos uma parte suplementar. Devia compor-se de todas as questões que ali não puderam entrar, ou que circunstâncias ulteriores e novos estudos deveriam originar. Mas como todas se referem a alguma das partes já tratadas, e das quais são o desenvolvimento, sua publicação isolada não teria apresentado nenhuma continuidade. Preferimos aguardar a reimpressão do livro para incorporar todo o conjunto, e aproveitamos para dar à distribuição das matérias uma ordem muito mais metódica, suprimindo ao mesmo tempo tudo quanto tivesse duplo sentido. Esta reimpressão pode, pois, ser considerada como obra nova, embora não tenham os princípios sofrido nenhuma alteração, salvo pouquíssimas exceções, que são antes complementos e esclarecimentos do que verdadeiras modificações. Esta conformidade com os princípios emitidos, malgrado a diversidade das fontes em que foram hauridos, é um fato importante para o estabelecimento da ciência espírita. Prova nossa própria correspondência que comunicações em tudo idênticas, se não quanto à forma, ao menos quanto ao fundo, foram obtidas em diferentes localidades, e isso muito antes da publicação do nosso livro, o que veio confirmá-las e dar-lhes um corpo regular. Por seu lado, a História atesta que a maioria desses princípios tem sido professada pelos homens mais eminentes, dos tempos antigos e modernos, assim trazendo a sua sanção.” (5)

Assim temos, resumidamente, a História de O Livro dos Espíritos.

Notas:

(1) Obras Póstumas (1890), 2ª parte.
(2) O Livro dos Médiuns, 2ª parte, Psicografia, item 157.
(3) Revista Espírita, janeiro de 1858, O Livro dos Espíritos.
(4) O Livro dos Espíritos, 1ª edição.
(5) Revista Espírita, março de 1860.