Na imagem acima as primeiras experiências, destacando as reuniões familiares, a utilização da cesta de bico até os dias de hoje.
HISTÓRICO DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS –
Jorge Hessen
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Em maio de 1855,
estando na casa da sonâmbula Sra. Roger com o Sr. Fortier, magnetizador dela,
encontrou-se com o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemason, que lhe falaram sobre as
mesas girantes, mas agora em outro tom, instrutivo e sério, convidando-o a
assistir às experiências que se realizavam em casa da Sra. de Planemaison, à
rua Grange-Batelière nº 18. Rivail aceitou solícito em encontro marcado para
uma terça-feira às 8 horas da noite.
Em uma dessas
reuniões da Sra. Plaineimaison conheceu a família Baudin. Foi quando o Sr.
Baudin o convidou para assistir às sessões que aconteciam semanalmente em sua
casa, à Rua Rochechouart. Surgia aí uma oportunidade para estudar e observar
mais atentamente as causas geradoras desses fenômenos. Rivail passou a ser um
frequentador assíduo dessas reuniões assaz concorridas, já que a entrada era
franqueada a todo e qualquer interessado.
Duas médiuns, filhas
do Sr. Baudin, escreviam numa ardósia com o auxílio da cesta, chamada pião,
mostrada na figura anterior. A cesta nada mais é do que um porta-lápis e um
apêndice da mão ou um intermediário entre a mão e o lápis (2). Esse método
requer a participação de duas pessoas, excluindo assim a possibilidade da
influência das idéias do médium. Foi assim que Rivail presenciou comunicações
seguidas de respostas dadas às questões apresentadas, inclusive às perguntas
que eram feitas mentalmente, fazendo entrever, com evidência, a intervenção
de uma inteligência estranha atuando através do médium.
Com o tempo a cesta
pião foi substituída por uma espécie de mesa em miniatura, com três pés,
sendo um deles o suporte do lápis. Diversos outros dispositivos foram
desenvolvidos. Finalmente, chegou-se à conclusão de que os Espíritos poderiam
agir diretamente na mão do médium (como geralmente escrevemos), e esse método
é usado até os dias de hoje (ver figuras acima).
O Espírito que
habitualmente se manifestava dava o nome de Zéfiro, completamente de acordo
com o seu caráter e o da reunião, onde os assuntos tratados eram geralmente
frívolos, tratando da vida mundana e do futuro da vida material de cada um
dos presentes que o consultava.
Diz Rivail que,
apesar de tudo, o Espírito Zéfiro era muito bom, e declarava-se protetor da
família, sabia fazer rir os participantes, e, quando era
necessário, dava bons conselhos, muitas vezes, com ditos satíricos e
espirituosos.
Em pouco tempo Zéfiro
lhe ofereceu provas de grande simpatia, onde mais tarde, assistido por
Espíritos superiores, ajudou-o significativamente nos seus primeiros
trabalhos espíritas.
Foi nessas reuniões,
na casa da família Baudin, que ele desenvolveu seus primeiros trabalhos
importantes sobre Espiritismo, muito mais pela observação do que pelas
revelações.
Diz Rivail sobre o
seu trabalho iniciático do Espiritismo:
“Apliquei a essa nova ciência, como o fizera até então, o método da
experimentação; jamais utilizei teorias preconcebidas: observava atentamente,
comparava, deduzia as conseqüências; dos efeitos procurava remontar às
causas, pela dedução e o encadeamento lógico dos fatos, não admitindo uma
explicação como válida senão quando podia resolver todas as dificuldades da
questão. Foi assim que sempre procedi em meus trabalhos anteriores, desde os
15 anos de idade. Compreendi, desde logo, a seriedade da exploração que iria
empreender; entrevi, nesses fenômenos, a chave do problema, tão obscuro e tão
controverso, do passado e do futuro da Humanidade, a solução do que havia
procurado em toda a minha vida; era, em uma palavra, toda uma revelação nas
idéias e nas crenças; seria preciso, pois, agir com circunspeção, e não
levianamente; ser positivo e não idealista, para não se deixar iludir.
Um dos primeiros resultados de minhas observações foi que os
Espíritos, não sendo outros senão as almas dos homens, não tinham a soberana
sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber estava limitado ao grau de
seu adiantamento, e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião
pessoal. Essa verdade, reconhecida desde o princípio, me preservou do grande
escolho de crer em sua infalibilidade, e me impediu de formular teorias
prematuras sobre o dizer de um só ou de alguns.” (1)
O fato da
possibilidade da comunicação com os Espíritos, não importando o que
dissessem, provava a existência de um mundo invisível. Um campo imenso às
suas explorações que indicavam, também, ser a chave de uma multidão de
fenômenos inexplicados. Outro ponto importante é que ele poderia conhecer o
estado desse mundo bem como os seus hábitos e costumes. Rivail percebeu em
pouco tempo que cada Espírito que se comunicava, pela sua posição pessoal e
pelo seu conhecimento, cada um, lhe desvendava algum aspecto desse mundo
invisível, da mesma maneira que se chega ao conhecimento de um país
entrevistando os habitantes de todas as classes e condições sociais, com cada
um oferecendo uma informação ou um ensino.
Diz ele sobre isso:
“Cabe ao observador formar o conjunto com a ajuda de documentos
recolhidos de diferentes lados, colecionados, coordenados e controlados uns
pelos outros. Agi, pois, com os Espíritos, como o teria feito com os homens;
foram para mim, desde o menor ao maior, meios de me informar, e não
reveladores predestinados.” (1)
A disposição adotada
pelo professor Rivail em seus estudos espíritas foi sempre seguir a seguinte
regra: observar, comparar e deduzir.
Se até então as
sessões na casa do Sr. Baudin não tinham um objetivo determinado, Rivail,
pelo seu jeito professoral e questionador, mudou naturalmente essa situação,
pois nessas entrevistas com os Espíritos, antesfrívolas, agora se procurava
resolver problemas importantes e de grande interesse sob o ponto de vista da
Filosofia, da Psicologia e da natureza do mundo invisível: ele ia a cada
reunião com uma série de perguntas preparadas e metodicamente dispostas, às
quais os Espíritos lhe
respondiam com precisão, profundidade e lógica. A partir de então, se por
algum motivo desse Rivail a faltar em alguma sessão, os participantes ficavam
sem saber o que fazer.
A princípio, o
professor Rivail só tinha por objetivo instruir-se; contudo, quando percebeu
que aquelas informações formavam um conjunto e que tomavam proporções de uma
Doutrina, resolveu torná-las públicas para a instrução de todos. Futuramente,
essas informações, com questões e respostas, desenvolvidas e completadas,
constituiriam a base de O Livro dos Espíritos.
“Tudo foi obtido pela escrita, por intermédio de diversos médiuns.” Os primeiros médiuns
que concorreram para a elaboração desse livro foram as Srtas. Baudin, cuja
boa vontade jamais lhes faltou: “quase todo o livro foi escrito por intermédio delas em
presença de numeroso publico que assistia às sessões com o mais vivo
interesse.” (3)
Em 25 de março de
1856, na casa do Sr. Baudin, através da médium Srta. Baudin, teve pela
primeira vez contato com o seu guia espiritual. Dias antes ouviu batidas
noturnas repetitivas no tabique que separava sua casa, situada à Rua dos
Mártires, 8, 2ª andar, do cômodo vizinho. Na sessão daquele dia, então,
travou-se a seguinte entrevista:
“– P. ...poderíeis dizer-me a causa dessas pancadas que se fizeram
ouvir com tanta persistência (em minha casa)?
– R. Era teu Espírito familiar.
– P. Com que objetivo vinha bater assim?
– R. Queria se comunicar contigo.
– P. Poderíeis dizer-me o que é que ele queria de mim?
– R. Podes perguntar a ele mesmo, porque está aqui.
(...)
P. – Meu Espírito familiar, quem quer que sejais, vos agradeço por
terdes ido visitar-me; Poderíeis dizer-me quem sois?
– R. Para ti, me chamarei A Verdade, e todos os
meses, aqui, durante um quarto de hora, estarei à tua disposição.
(...)” (1)
Em 17 de junho de
1856, ainda na casa do Sr. Baudin e através da sua filha médium, Rivail
pergunta ao Espírito (a Verdade):
“P. – Uma parte da obra já foi revista. Poderíeis ter a bondade de
dizer o que dela pensais?
R. – O que foi revisto está bem; mas, quando tudo acabar, será
preciso revê-la ainda, a fim de estendê-la sobre certos pontos, e abreviá-la
em outros.” (1)
Em 11 de setembro de
1856, também, na casa dos Baudin, depois de haver feito a leitura de alguns
capítulos do futuro Livro dos Espíritos, referente às leis
morais, a médium Srta. Baudin escreveu espontaneamente:
"Compreendestes bem o objetivo de teu trabalho; o plano está bem
concebido; estamos contentes contigo. Continua, mas, sobretudo,
quando a obra estiver terminada, lembra-te de que nós te recomendaremos
fazê-la imprimir e propagá-la: é de uma utilidade geral. Estamos satisfeitos,
e não te deixaremos jamais. Crê em Deus e caminha." Esta mensagem
foi assinada assim: “Muitos Espíritos.” (1)
Nesse ano de 1856,
Rivail acompanhou também as reuniões espíritas que aconteciam na Rua
Tiquetone, na casa do Sr. Roustan; a Srta. Japhet era a médium sonâmbula.
Aqui, as reuniões eram sérias e ordeiras. Como o trabalho de Rivail estava
quase acabado, pronto para um livro, ele resolveu revê-lo entrevistando
outros Espíritos mediante outros médiuns. Inicialmente teve a idéia de fazer
objeto de estudo, mas no fim de algumas sessões os Espíritos preferiram vê-lo
na intimidade e, para esse efeito, marcaram certos dias, em que
trabalhariam com a Srta. Japhet, a fim de o fazerem com mais calma,
objetivando também evitar indiscrições e comentários prematuros do público. Contudo,
Rivail não se contentou com essa verificação que os próprios Espíritos lhe
recomendaram.
Em janeiro de 1857,
quando já havia enviado para a editora imprimir O Livro
dos Espíritos, o Espírito Z havia prometido escrever-lhe uma carta por ocasião do
Ano Novo. Nesse dia, na casa do Sr. Baudin, Z tinha algo de particular a
dizer-lhe. Eis o que escreveu pela médium Srta. Baudin, na intimidade, para o
agora Allan Kardec:
“Caro amigo, não quis te escrever, na última terça-feira, diante de
todo o mundo, porque há certas coisas que não se podem dizer senão entre nós.
Queria primeiro te falar de tua obra, a que fazes imprimir (O Livro
dos Espíritos estava no prelo.) Não te canses tanto noite e dia;
terás mais resultado, e a obra não perderá por esperar.
Segundo o que vejo, és muito capaz de levar a bom termo a tua empresa
e tens que fazer grandes coisas. Nada, porém, de exagero em coisa alguma. Observa
e aprecia tudo judiciosa e friamente. Não te deixes arrastar pelos
entusiastas, nem pelos muito apressados. Mede todos os teus passos, a fim de
chegares ao fim com segurança. Não creias em mais do que aquilo que vejas;
não desvies a atenção de tudo o que te pareça incompreensível; virás a saber
a respeito mais do que qualquer outro, porque os assuntos de estudo serão
postos sob as tuas vistas.
Mas, ai! a verdade não será ainda conhecida, nem acreditada, por
todos, antes de muito tempo! Não verás, nesta existência, senão a aurora do
sucesso de tua obra; será necessário que retornes, reencarnado num outro
corpo, para completar o que tiveres começado, e, então, terás a satisfação de
ver, em plena frutificação, a semente que tiveres difundido sobre a Terra.
Terás invejosos e ciumentos que procurarão te denegrir e contrariar;
não te desencorajes; não te inquietes com o que se dirá ou se fará contra ti;
prossegue tua obra; trabalha sempre pelo progresso da Humanidade, e serás
sustentado pelos bons Espíritos, enquanto perseverares no bom caminho.
Lembra-te de que, há um ano, prometi a minha amizade àqueles que,
durante o ano, fossem convenientes em toda a sua conduta? Pois bem!
anuncio-te que és um daqueles que escolhi entre todos.
Teu amigo que te ama e te protege, Z.” (1)
Como vimos, Rivail
havia dito que Z não era um Espírito superior, mas muito bom e benevolente.
Diz Allan Kardec sobre ele: “Talvez fosse mais
avançado do que o nome que tomou poderia fazer supor; pode-se supô-lo a
julgar pelo caráter sério e a sabedoria de suas comunicações, segundo as
circunstâncias. Em favor de seu nome, poderia se permitir uma linguagem
familiar, própria ao meio onde se manifestava, e dizer, o que lhe acontecia
freqüentemente, duras verdades sob a forma alegórica do epigrama. Seja como
for, sempre conservei dele uma boa lembrança e o reconhecimento pelos bons
conselhos que me deu e a amizade que me testemunhou. Desapareceu com a
dispersão da família Baudin, dizendo que logo deveria reencarnar.” (1)
Escreveu Allan Kardec
na Revista Espírita de janeiro de 1858: "...declaramos desde o princípio, e temos
a satisfação de reafirmar agora, jamais pensamos em fazer de O
Livro dos Espíritos objeto de especulação: Seu produto será aplicado
nas coisas de utilidade geral." (3)
Em março de 1860,
quando do lançamento da segunda edição, através da Revista Espírita de nº. 3 desse ano,
escreveu Allan Kardec sobre esta nova edição:
“Inteiramente refundida e consideravelmente aumentada.
Na primeira edição desta obra, anunciamos uma parte suplementar. Devia
compor-se de todas as questões que ali não puderam entrar, ou que
circunstâncias ulteriores e novos estudos deveriam originar. Mas como todas
se referem a alguma das partes já tratadas, e das quais são o
desenvolvimento, sua publicação isolada não teria apresentado nenhuma
continuidade. Preferimos aguardar a reimpressão do livro para incorporar todo
o conjunto, e aproveitamos para dar à distribuição das matérias uma ordem
muito mais metódica, suprimindo ao mesmo tempo tudo quanto tivesse duplo
sentido. Esta reimpressão pode, pois, ser considerada como obra nova, embora
não tenham os princípios sofrido nenhuma alteração, salvo pouquíssimas
exceções, que são antes complementos e esclarecimentos do que verdadeiras
modificações. Esta conformidade com os princípios emitidos, malgrado a
diversidade das fontes em que foram hauridos, é um fato importante para o
estabelecimento da ciência espírita. Prova nossa própria correspondência que
comunicações em tudo idênticas, se não quanto à forma, ao menos quanto ao
fundo, foram obtidas em diferentes localidades, e isso muito antes da
publicação do nosso livro, o que veio confirmá-las e dar-lhes um corpo
regular. Por seu lado, a História atesta que a maioria desses princípios tem
sido professada pelos homens mais eminentes, dos tempos antigos e modernos,
assim trazendo a sua sanção.” (5)
Assim temos,
resumidamente, a História de O Livro dos Espíritos.
Notas:
(1) Obras Póstumas (1890), 2ª parte.
(2) O Livro dos Médiuns, 2ª parte, Psicografia, item 157.
(3) Revista Espírita, janeiro de 1858, O Livro dos Espíritos.
(4) O Livro dos Espíritos, 1ª edição.
(5) Revista Espírita, março de 1860.
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Revista Espírita de nº. 3 desse ano,
escreveu Allan Kardec sobre esta nova edição:
“Inteiramente refundida e consideravelmente aumentada.
Na primeira edição desta obra, anunciamos uma parte suplementar. Devia
compor-se de todas as questões que ali não puderam entrar, ou que
circunstâncias ulteriores e novos estudos deveriam originar. Mas como todas
se referem a alguma das partes já tratadas, e das quais são o
desenvolvimento, sua publicação isolada não teria apresentado nenhuma
continuidade. Preferimos aguardar a reimpressão do livro para incorporar todo
o conjunto, e aproveitamos para dar à distribuição das matérias uma ordem
muito mais metódica, suprimindo ao mesmo tempo tudo quanto tivesse duplo
sentido. Esta reimpressão pode, pois, ser considerada como obra nova, embora
não tenham os princípios sofrido nenhuma alteração, salvo pouquíssimas
exceções, que são antes complementos e esclarecimentos do que verdadeiras
modificações. Esta conformidade com os princípios emitidos, malgrado a
diversidade das fontes em que foram hauridos, é um fato importante para o
estabelecimento da ciência espírita. Prova nossa própria correspondência que
comunicações em tudo idênticas, se não quanto à forma, ao menos quanto ao
fundo, foram obtidas em diferentes localidades, e isso muito antes da
publicação do nosso livro, o que veio confirmá-las e dar-lhes um corpo
regular. Por seu lado, a História atesta que a maioria desses princípios tem
sido professada pelos homens mais eminentes, dos tempos antigos e modernos,
assim trazendo a sua sanção.” (5)
Assim temos,
resumidamente, a História de O Livro dos Espíritos.
Notas:
(1) Obras Póstumas (1890), 2ª parte.
(2) O Livro dos Médiuns, 2ª parte, Psicografia, item 157.
(3) Revista Espírita, janeiro de 1858, O Livro dos Espíritos.
(4) O Livro dos Espíritos, 1ª edição.
(5) Revista Espírita, março de 1860.
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