II
– AUTORIDADE DA DOUTRINA ESPÍRITA
CONTROLE UNIVERSAL DO ENSINO DOS
ESPÍRITOS - resumo
(estudo e instruções de Kardec esquecidos pelos espíritas na atualidade)
Se a Doutrina Espírita fosse de concepção puramente humana, não
ofereceria por penhor senão as luzes daquele que a houvesse concebido. Ora,
ninguém, neste mundo, poderia alimentar fundadamente a pretensão de possuir, com
exclusividade, a verdade absoluta. Se os Espíritos que a revelaram se houvessem
manifestado a um só homem, nada lhe garantiria a origem, porquanto fora mister
acreditar, sob palavra, naquele que dissesse ter recebido deles o ensino.
Admitida, de sua parte, sinceridade perfeita, quando muito poderia ele
convencer as pessoas de suas relações; conseguiria sectários, mas nunca
chegaria a congregar todo o mundo.
São, pois, os próprios Espíritos que fazem a propagação, com o
auxílio dos inúmeros médiuns que, também eles, os Espíritos, vão suscitando de
todos os lados. Se tivesse havido unicamente um intérprete, por mais favorecido
que fosse, o Espiritismo mal seria conhecido. Qualquer que fosse a classe a que
pertencesse, tal intérprete houvera sido objeto das prevenções de muita gente e
nem todas as nações o teriam aceitado, ao passo que os Espíritos se comunicam em
todos os pontos da Terra, a todos os povos, a todas as seitas, a todos os
partidos, e todos os aceitam
O
primeiro exame comprobativo é, pois, sem contradita, o da razão, ao qual cumpre
se submeta, sem exceção, tudo o que venha dos Espíritos. Toda teoria em manifesta contradição com o bom-senso, com uma
lógica rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga
como assinatura. Incompleto, porém, ficará esse exame em muitos casos,
por efeito da falta de luzes de certas pessoas e das tendências de não poucas a
tomar as próprias opiniões como juízes únicos da verdade. Assim sendo, que hão
de fazer aqueles que não depositam confiança absoluta em si mesmos? Buscar o
parecer da maioria e tomar por guia a opinião desta.
De tal modo é que se deve proceder em face do que digam os Espíritos,
que são os primeiros a nos fornecer os meios de consegui-lo.
A
concordância no que ensinem os Espíritos é, pois, a melhor comprovação. Importa, no entanto, que ela se dê em determinadas condições. A
mais fraca de todas ocorre quando um médium, a sós, interroga muitos Espíritos
acerca de um ponto duvidoso. É
evidente que, se ele estiver sob o império de uma obsessão, ou lidando com um
Espírito mistificador, este lhe pode dizer a mesma coisa sob diferentes nomes.
Tampouco garantia alguma suficiente haverá na conformidade que apresente o que
se possa obter por diversos médiuns, num mesmo centro, porque podem estar todos
sob a mesma influência.
Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a
concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente,
servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários
lugares.
Se, portanto, aprouver a um Espírito formular um sistema excêntrico,
baseado unicamente nas suas ideias e com exclusão da verdade, pode ter-se a
certeza de que tal sistema conservar-se-á circunscrito
e cairá, diante das instruções dadas de todas as partes,
conforme os múltiplos exemplos que já se conhecem. Foi essa unanimidade que pôs
por terra todos os sistemas parciais que surgiram na origem
do Espiritismo, quando cada um explicava à sua maneira os
fenômenos, e antes que se conhecessem as leis que regem as relações entre o
mundo visível e o mundo invisível.
Com extrema sabedoria procedem os Espíritos superiores em suas
revelações. Não atacam as grandes questões da Doutrina senão gradualmente, à
medida que a inteligência se mostra apta a compreender verdade de ordem mais
elevada e quando as circunstâncias se revelam propícias à emissão de uma ideia
nova. Por isso é que logo de princípio não disseram tudo, e tudo ainda hoje não
disseram, jamais cedendo à impaciência dos muito afoitos, que querem os frutos
antes de estarem maduros. Fora, pois, supérfluo pretender adiantar-se ao tempo
que a Providência
assinou para cada coisa, porque, então, os Espíritos
verdadeiramente sérios negariam o seu concurso. Os Espíritos levianos, pouco se preocupando com a verdade, a tudo
respondem; daí vem que, sobre todas as questões prematuras, há sempre respostas
contraditórias.
Os princípios acima não
resultam de uma teoria pessoal: são conseqüência forçada das condições em que
os Espíritos se manifestam. É evidente que, se um
Espírito diz uma coisa de um lado, enquanto milhões de outros dizem o contrário
algures, a presunção de verdade não pode estar com aquele que é o único ou
quase o único de tal parecer.
Ora, pretender alguém ter razão contra todos seria tão ilógico da
parte dos Espíritos, quanto da parte dos homens.
Os Espíritos verdadeiramente ponderados, se não se sentem suficientemente
esclarecidos sobre uma questão, nunca
a resolvem de modo
absoluto; declaram que apenas a tratam do seu ponto de vista e aconselham que
se aguarde a confirmação.
Por grande, bela e justa
que seja uma ideia, impossível é que desde o primeiro momento congregue todas
as opiniões.
Os conflitos que daí decorrem são consequência inevitável do
movimento que se opera; eles são mesmo necessários para maior realce da verdade
e convém se produzam desde logo, para que as ideias falsas prontamente sejam postas
de lado. Os espíritas que a esse respeito alimentassem qualquer temor podem
ficar perfeitamente tranquilos: todas as pretensões insuladas cairão, pela
força mesma das coisas, diante do enorme e poderoso critério da concordância universal.
Não será à opinião
de um homem que se aliarão os outros, mas à voz unânime dos Espíritos; não será um homem, nem nós, nem qualquer outro que fundará a ortodoxia espírita; tampouco
será um Espírito que se venha impor a quem quer que seja: será a universalidade dos
Espíritos que se comunicam em toda a Terra, por ordem de Deus.
Esse o caráter essencial da Doutrina Espírita; essa a sua força,
a sua autoridade. Quis Deus que a sua lei assentasse em base inamovível e por
isso não lhe deu por fundamento a cabeça frágil de um só.
Diante desse imponente acordo de todas as vozes do Céu, que pode a opinião de um
homem ou de um Espírito? menos do que a gota d’água que se perde no oceano,
menos do que a voz da criança que a tempestade abafa.
A opinião universal, eis o juiz supremo, o que se pronuncia em
última instância. Formam-na todas as opiniões individuais. Se uma destas é
verdadeira, apenas tem na balança o seu peso relativo. Se é falsa, não pode
prevalecer sobre todas as demais. Nesse imenso concurso, as individualidades se
apagam, o que constitui novo insucesso para o orgulho humano.
(Fonte: O Evangelho Segundo o Espiritismo – Introdução)
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