domingo, 13 de dezembro de 2015

ALIENAÇÃO POR OBSESSÃO



Mente em desalinho, pensamento turbilhonado, o espírito encarnado que jaz nas malhas soezes da obsessão pode ser comparado a aranha imprevidente encarcerada nos fios da própria teia.

Vencido pela mente pertinaz que a persegue através de vinculações que remontam ao pretérito espiritual, a casa cerebral, visitada pela interferência do obsessor, se desarranja, dificultando ao espírito encarnado controlar os centros de que se utiliza na investidura carnal.

A incidência da vontade subjugadora, em hipnose continuada e coercitiva sobre a vontade que se deixa subjugar, faculta o descontrole do centro de censura psíquica, que vela, nos tecidos sensíveis do perispírito, lembranças e acontecimentos passados, dando origem a interferência de fatos transcorridos com os sucessos em curso, gerando desequilíbrio e anarquia mental. Iniciando o processo de descontrole, o invasor faz que se reavivem os complexos de culpa e as recordações dos crimes que ficou impune, surgindo, então, as síndromes das psicoses e neuroses, das alienações e desvarios de toda ordem.

Invariavelmente, os móveis das perseguições do além-túmulo são o ódio, a vingança, o ciúme e toda uma série de fatores negativos que unem algoz e vítima em vigorosos liames, começando, muitas vezes, a perseguição espiritual muito antes da concepção fetal, e continuando, não raro, - quando os processos do ódio são recíprocos, - após o decesso carnal da vítima que, infortunada, prossegue sofrendo ou, por sua vez, se transforma em algoz do seu antigo verdugo.

A obsessão é, por isso mesmo, enfermidade espiritual de anamnese muito difícil, apresentando um quadro clínico deveras complexo, em considerando serem as suas causas quase sempre ignoradas por quantos interferem nas tarefas de socorro aos obsidiados, exigindo muito espírito de abnegação e renúncia, sacrifício e amor. Sobretudo nos processos desobsessivos faz-se imprescindível não somente um “coração puro” mas também um caráter ilibado e uma mente esclarecida que hauriu, no Espiritismo, a terapêutica especializada para tarefas que tais.

Flagelo social de consequências imprevisíveis e de constituição sutil quão danosa, a obsessão campeia nos quadros da humanidade moderna engendrando lamentáveis processos de desajustamentos de vária ordem, de cujo resultado a Terra se converte num báratro desesperador. Insidiosa, persistente, dominadora, a obsessão produz estados degenerativos nas sedes do perispírito que se encarregam de imprimir, nas células dos departamentos da mente quanto no corpo, os desvios da loucura e de enfermidade outras ainda não estruturadas devidamente pela Patologia, comprometendo seriamente, através do desgaste, o aparelho psíquico e a maquia somática do deambulante pela neblina carnal. (*)
(*) O pensamento, atuando no núcleo da células através do centro coronário, faz incidir, pelo concurso do centro cerebral que a seu turno envia a mensagem para os demais centros, as suas energias nos mitocôndrios dos citoplasmas, portadores de alto poder energético, como de oxidação, dando origem no metabolismo a construções positivas ou negativas, que, no fígado, graças a função de glândula mista, com o curso das enzimas, se transformam, não poucas vezes, em descargas de bílis, provocando imediata eliminação quando de origem perniciosa.
 Razão porque, quase sempre, embora a Ciência Médica moderna não dê qualquer valor, os Benfeitores Espirituais prosseguem sugerindo o uso de colagogos e coleréticos, como auxiliares naquela função liberativa - Nota do Autor espiritual.

Espírito perseguidor a perfeita identificação com o Espírito perseguido em comércio mental de demorado curso, através da necessária sintonia vibratória em que o devedor se ajusta ao cobrador sem que dele se afaste, por faltar ao segundo os recursos nobilitantes do resgate da dívida mediante o contingente do amor.

Marcado pela dívida o obsidiado é alguém atormentado em si mesmo.

Assinalado nos íntimos tecidos do subconsciente pelo crime pretérito, possui os fatores básicos para a obsessão, em forma de predisposição psíquica e consequente desarmonia emocional.

Ao primeiro impacto do pensamento obsessivo debate-se nas amarras da intranquilidade e facilmente se deixa consumir pela perturbação que o assalta.

Assediado nas tendências inferiores que caracterizam a indisciplina do próprio espírito, o homem em processo obsessivo deixa-se engolfar pelo fascínio da emoção desregrada que o arrasta até a queda fatal nos abismos de sombra em que sucumbe na subjugação violenta.

Quando isto ocorre, só mui dificilmente de poderá libertar, considerando-se mesmo que o retorno à esfera da consciência tranquila se fará com as reminiscências dos horrores das batalhas travadas em espírito com o impenitente perseguidor...

Jesus, o excelente protótipo de Filho de Deus, graças às condições inerentes ao seu Espírito Célico, pôde produzir nas mentes atormentadas dos perseguidores da Erraticidade, como nos departamentos mentais dos perseguidos da indumentária física, o despertamento dos primeiros para as responsabilidades maiores da vida espiritual deles mesmos e dos segundos, facultando-lhes a ensancha da liberação das dívidas pela produção do bem de que podiam dispor graças à Sua intervenção sublime, poderosa...

Depois d'Ele, os Seus continuadores mais próximos, investidos de altos recursos de Espiritualidade, não poucas vezes intervieram nas paisagens lúgubres das mentes atribuladas pela constrição obsessiva, produzindo verdadeiros estados de paz e liberando do vampirismo soez clientes e hóspedes portadores de obsessões e obsessores para que pudessem marchar em clima de harmonia pelas veredas da redenção...

No entanto, com o desenvolvimento tecnológico e a consequente escassez da moralidade nos dias atuais, avultam-se os quadros da patologia medianímica abrindo as verdadeiras chaves da sintonia perfeita para os "plugs" da interferência espiritual negativa em cujas malhas se debate o homem do Século do Conhecimento, tão atormentado, no entanto, quanto os ancestrais das nefandas lutas do pretérito que o túmulo consumiu, e cuja memória lentamente se apaga nos anais da História... ...

E a obsessão se multiplica em quadros que se renovam, em torvelinhos que são apresentados às pressas dentro dos novos departamentos que a vida cria e a que o homem se ajusta por imprevidência quanto por leviandade.
Examinemos alguns tópicos:
·         Obsessão da gula. - Não obstante o conhecimento generalizado a respeito das possibilidades orgânicas, no trabalho de preservação do corpo pelo processo alimentar, elaborando os recursos de manutenção das células, muitos homens se atiram famélicos e atormentados sobre acepipes, caldos, gorduras e repastos, como se a mesa lhes significasse o único reduto da felicidade e de prazer, convertendo-se em veículo de vampirizadores desencarnados, odientos.   
·         Obsessão alcoólica. - Desejando fugir aos tormentos que dizem respeito às paisagens lôbregas da mente inquieta, o obsidiado é inspirado a buscar os alcoólicos para refugiar- se na obliteração da consciência em cujos painéis se encontram impressos os cenários terríveis da alucinação em que se debate, aparvalhando-se, quando vencido pela embriagues decorrente de licores da vária procedência e transformando-se em mais fácil e demorada presa da subjugação (¹).   
·         Obsessão dos alucinógenos. – Barbitúricos, opiáceos de elaboração complexa, alucinógenos ou depressivos em geral abrem as portas da loucura fácil aos trânsfugas do caminho da verdade, que se arrojam buscando as ilusões e a irrealidade para se entregarem inermes às mãos dos perseguidores desencarnados que os espreitam, logo se desprendem parcialmente dos liames físicos, de momento afrouxados pelo torpor produzido nos centros do psicossoma...    
·         Obsessão sexual. – Corrompendo-se as finalidades das fontes geratrizes da vida em meios indignos, de lasciva degeneração, o homem transforma o aparelho sexual em pântano de aberrante expressão de prazer, em que paulatinamente se afunda até imersão total nas vascas de irreversível loucura que o domina e consome. Além das Entidades que o perturbam, vincula-se a outras, ociosas e malsãs, dos vários sítios a que recorre, complicando até além da vida física o processo obsessivo.    
·         Obsessão da avareza. – Evocando pela consciência ultrajada crimes praticados na vida passada, o homem se aferra à posse, e, vencido pelo prazer onzenário de tudo reunir, acumula numa gaiola dourada todos os bens, deixando-se nela aprisionar mesmo depois do fenômeno da morte, indefinidamente, perdendo a oportunidade de viver e de marchar na direção da Imortalidade.    
·         Obsessão na saúde. – Espíritos atribulados em si mesmos engendram psicopatas de nomenclatura complexa, nas quais desgastam o veículo fisiológico a golpes de rebeldia, de ira, criando estados de desorganização física e posteriormente psíquica, que se transformam mais tarde em enfermidade mui graves e ainda não definidas na Patologia Médica, que terminam por consumi-los, levando-os à desencarnação antecipada, na condição de suicidas indiretos e inconsequentes. Incluem-se entre esses os hipocondríacos, os psico-maníacos...    
·         Auto-obsessão. – Nem todos os fenômenos obsessivos, entretanto, procedem da injunção proposital de um Espírito desencarnado sobre outro vestido pela roupagem fisiológica. Grande parte dos que se encontram entorpecidos pelos problemas de ordem espiritual, psíquica ou física, padece de um processo de auto-obsessão dos mais lamentáveis, pois que nesse quadro o Espírito obsessor é o próprio obsidiado em reencarnação compulsória der resgate impositivo, que não consegue forcas para se libertar facilmente das situações enfermiças, a fim de avançar nos rumos do equilíbrio, da necessária paz.
·         (¹) Oportunamente examinamos, no livro “Nos Bastidores da Obsessão”, os tópicos: tabagismo, alcoolofilia, sexualidade e estupefacientes. Nota do Autor

Espíritos despóticos ou viciados, precitos ou cruéis, ao se emboscarem na organização das células físicas, condicionam, através das próprias vibrações, enarmonias no metabolismo desta ou daquela natureza, do que decorrem desequilíbrios vários, gerando estados de perturbação íntima, engendrando distúrbios e nevroses que os fazem com tempo transformar-se em algozes ou em vítimas de si mesmos, conduzindo-se à desesperação do túmulo antecipado pelo suicídio direto ou indireto, vítimas de alucinações momentâneas ou da loucura de grande porte...

Aí estão os esquizofrênicos, os cleptomaníacos, os neuróticos e psicóticos de múltipla variedade, refletindo as distonias do próprio espírito nos centros de comando da vontade, da razão, dos diversos órgãos...
Em todos esses quadros, a mediunidade tem uma função primacial, pois que, graças a ela, se estreitam as relações do espírito reencarnado com os demais Espíritos desencarnados que fixam, mediante hipnose cuidadosa e pertinaz, as ideias obsidientes que a atual vítima lentamente se deixa absorver fascinada, permitindo-se dominas e consumir...

Todavia, excelente terapêutica espírita detém medicamentos valiosos de fácil utilização, merecendo que se recordem a técnica curadora do Cristo, bem como os métodos psicossomáticos, psiquiátricos, psicanalíticos da Ciência moderna, simultaneamente.

Em qualquer processo obsessivo, o enfermo será sempre convidado às operações de reajustamento e reequilíbrio próprio, por dele depender a regularização do débito párea com o seu cobrador espiritual.

Pequenos exercícios de disciplina da vontade, culto da prece, leituras edificantes, algum trabalho eficiente em favor de outrem, na fase inicial ou em qualquer período da perturbação, são antídotos que agem poderosamente a benefício dos atribulados do espírito.

No capítulo das obsessões todo auxílio de outrem significa aumento de responsabilidade para o beneficiado.
A obsessão é escolho que, a cada momento, ceifa alegrias e esperanças.

O Espiritismo, por ser doutrina do “homem integral”, torna-se fácil terapia para a felicidade e um verdadeiro glossário de bênçãos. É o mais eficiente tratado de que dispõe o homem para a erradicação total desse fantasma cruel, - a obsessão – já que enseja uma vida ética em consonância com os preceitos evangélicos, em cuja prática a harmonia interior e o otimismo constituem fatores de equilíbrio sem limite, a irradiar-se em todas as direções.

Ø  Oração. – Pelo processo do otimismo oracional, desgastam-se as construções mentais negativas, favorecendo a mente com ideias salutares que fomentam paisagens de luz e paz, nas quais o homem haure renovação e coragem, encontrando entusiasmo e alegria para impregnar-se de equilíbrio e forças, já que sintoniza com as Esferas Superiores da Vida.    
Ø  Passe. – O revigoramento orgânico, pelo processo da transmissão fluidoterápica de natureza espiritual ou magnética, consegue no metabolismo do obsidiado o mesmo resultado que o organismo físico logra, quando dosado recebe a dosagem do plasma ou da simples transfusão de sangue. O passe estimula ou leucócitos e as hemácias que passam a trabalhar pela reorganização da vitalidade e a elaboração na medula óssea de novos contingentes para a manutenção e substituição paulatina dos implementos celulares do organismo.  
Ø   Água magnetizada. – Evocando a terapêutica utilizada pelo Cristo nas “Bodas de Caná”, e, conhecedores das possibilidades de que a água é indicada para catalisar energias de várias ordens, a fluidificação ou magnetização da mesma é de relevante resultado, quando realizada pelo obsidiado, orando, ou por seus companheiros de socorro, pois que dessa forma, ao se ingerida, o organismo absorve as quintessências que vão atuar no perispírito à semelhança do medicamento homeopático, estimulando os núcleos vitais donde procedem os elementos para a elaboração das células físicas onde, em verdade, se estabelecem os pródromos da saúde como da enfermidade que sempre se originam no espírito liberado ou calceta.     
Ø  Desobsessão. – Mediante e elucidação do Espírito perseguidor nas sublimes Escolas de Fé com que o Espiritismo Cristão enriquece a Terra através da interferência dos Espíritos Superiores e da técnica iluminativa dos doutrinadores junto àqueles que sofrem, abrem-se as comportas do entendimento, facultando-lhes compreender que todo perseguidor é um perseguido em si mesmo e que roda vítima traz consigo os processos auto-regenerativos impostos pela Lei, fazendo que eles, seus algozes, os entreguem à Sabedoria Divina que os não deixará impunes na sucessão intérmina do processo educativo da Terra.

O esmo processo, o da doutrinação, é de relevância nos casos de auto-obsessão, pois o Espírito doente, seja encarnado ou desencarnado, é sempre alguém necessitado de esclarecimento e paz, do que resultará a sua auto-libertação. Seja, todavia, qual seja o recurso utilizado no socorro ao padecente do flagelo obsessivo, somente o obsidiado pode oferecer o indispensável requisito para a própria saúde: reforma íntima.

Sem a reforma interior, inócuos, negativos, sem produtividade redundam quase todos os processos socorristas, pois que nos temperamentos rebeldes e reacionários benefício algum pode produzir resultado valioso.

É por essa razão que examinando a problemática obsessiva, convém ressaltarmos ante obsessores ou diante de obsidiados é indispensável a inalienável, a valiosa colaboração do próprio obsidiados no que diz respeito à transformação íntima de que se fazem testemunha os seus perseguidores desencarnados, que resolvem abandoná-los ou não graças ao esforço que desenvolvam na busca da paz ou mediante o contingente que ofereçam a benefício da regeneração daqueles a quem são devedores.

Cultive, pois, cada um que deseja a harmonia pessoal e a persistência relativa da saúde, a boa palavra, o amor, a piedade fraternal, o perdão indiscriminado, a conduta moral elevada; exercite-se nas tarefas da caridade, pelo pensamento, pela palavra e pela ação, pois como é verdade que podemos enganar o próximo no caminho em que nos encontramos, inutilmente tentaremos obliterar a própria consciência e ludibriar aqueles que nos seguem do passado em regime de comensalidade conosco, na atual conjuntura reencarnatória...

O antídoto salutar, imediato, á obsessão é a vivência cristã e espírita através da conjugação dos verbos amar, servir e perdoar em todos os tempos e modos, em cuja execução o espírito endividado se libera dos compromissos negativos e ascende na direção do Planalto redentor da paz.

Tornado “carta viva” do Evangelho, ensina a imorredoura lição da fraternidade, após libertar-se da causa constringente da dor, pela sublime mensagem do amor de que se faz emissário em nome do Excelso Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Por fim, consideramos a necessidade de estudar o Espiritismo para conhecer as suas preciosas lições, e, banhando-se de otimismo e vigilância, precatar-se da obsessão, esse terrível invasor, cooperando para que na Terra se estabeleça o primado do Espírito, que será formosa ante-manhã do Reino de Deus entre as criaturas (²).


MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA (Sementeira da Fraternidade)


(²) A presente mensagem foi refundida e ampliada por nós mesmos para fazer parte do presente livro. Nota do autor espiritual.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Doutrina Ímpar Autor: Yvonne do Amaral Pereira (espírito) Dezembro mês de D. Yvonne Pereira

Doutrina Ímpar


Autor: Yvonne do Amaral Pereira (espírito)

O Espiritismo é uma doutrina complexa e completa. 

É original na sua estrutura, porque reúne em um todo harmônico os postulados da ciência, as diretrizes da filosofia e os instrumentos ético-morais da religião. 

Única, na sua formulação, é portadora de propostas simples que estão ao alcance de todos os níveis de cultura, ao tempo em que atende as exigências mais severas da razão e da lógica. 


De fácil entendimento pelos simples de inteligência e os mansos de coração, penetra-lhes o cerne da alma como um bálsamo suavizador na ardência da ignorância. 

Abrindo um leque de inúmeras vertentes, tem a ver com os mais diversos ramos do conhecimento, completando-os com os seus conteúdos profundos, porque remonta às causas de todas as ocorrências, a fim de entender-lhes os efeitos. 


Enquanto a ciência, em geral examina nos efeitos as causas, o Espiritismo foi revelado pelo mundo real, anterior, facultando a compreensão da esfera física, sua transitoriedade e suas razões de existir. 

Para bem ser entendido exige o estudo e a reflexão cuidadosos, abrangendo o conhecimento geral, que ilumina com os conceitos libertadores de crendices e de superstições. 


Partindo-se da sua base - a crença em Deus e na imortalidade da alma – a comunicabilidade dos Espíritos é axiomática, pois que se constitui com recurso experimental que lhes comprova a sobrevivência ao fenômeno da morte. 

A reencarnação logo se apresenta viável instrumento de que se utiliza a Justiça Divina para reeducar, corrigir e conduzir todos aqueles que se tornarem infratores ante as Leis Soberanas, tombando nos gravames que os empurram aos abismos da inferioridade moral por onde transitam, e de que se deveriam libertar. 


Na prática mediúnica – sublime recurso de iluminação! – alarga os horizontes do ser humano para entender os desafios e os enigmas existenciais, logicando em torno dos malogros e desditas de que ninguém passa na Terra sem os experimentar. 

A mensagem evangélica de que se faz portador, atualizando-a com as revelações do Além-túmulo, confirma a grandeza de Jesus e dos Seus ensinamentos, restaurando-Lhe a luminosa diretriz do amor como a mais eficaz terapia para a vida de todas as criaturas humanas.

É nesse campo de nobres realizações que atinge a sua magnitude, facultando o diálogo com os imortais, o conhecimento da vida extra-física, os objetivos essenciais da reencarnação, os comportamentos saudáveis para o despertar lúcido após a jornada no corpo somático. 

Pergunte-se a alguém que trazia o coração dilacerado pela dor da perda física de um ser amado, sobre o conforto libertador e indescritível que hauriu após a comunicação mediúnica com esse afeto de retorno, vivo e exuberante, e ele não terá palavras fáceis para traduzi-lo. 

Suas explicações a respeito do sofrimento, o bem que proporciona ao calceta, ensejando-lhe esperança de renovação e de recuperação, ao infeliz, brindando oportunidade de recompor-se e ser ditoso, ao padecente sem esperança de recuperação que descobre a continuidade da vida após a disjunção molecular, são as mais nobres respostas de qualidade que nenhuma outra doutrina pode oferecer. 

Arrancando das tenazes férreas da obsessão o paciente agora em equilíbrio, ei-lo que se rejubila e dispõe de expressões para bendizê-lo, agradecendo a dádiva do raciocínio lúcido e da alegria de poder voltar a voar pela imaginação na direção do infinito... 


Ao mesmo tempo, aquele que se encontrava nas sombras da ignorância, sem haver descoberto o sentido existencial, após haver fruído as harmonias do Espiritismo, exultante, não consegue sopitar o júbilo infindo e a felicidade do bem-estar e da paz que ora o visitam. 

Desencarcerando os desencarnados em aflição, que se arrojavam à loucura, por não entenderem o fenômeno da morte e da vida, faculta-lhes a visão perfeita das possibilidades que se lhes encontram ao alcance para manter-se em equilíbrio. 

As suas avenidas culturais, alargadas pelos tratores do conhecimento e do sentimento, ensejam as caminhadas exitosas aos viandantes que antes se estremunhavam nos dédalos sombrios dos conflitos íntimos e do martírio dos sofrimentos que se entregavam nos corredores estreitos da aflição... 


As lágrimas enxugadas e as dores lenidas nas mulheres e nos homens aflitos modificam totalmente o contexto social que se apresenta calmo, ensejando a construção de melhores condutas para o futuro da humanidade. 

Nunca podem ser contabilizados os benefícios que propicia e a luz da caridade que esparze, fulgurando nos corações é como um permanente Sol mantendo a vida em todas as suas expressões. 

Uma palavra espírita é valioso tesouro para a solução de muitos sucessos desafiadores e de caráter agressivo, infeliz. 

Um pensamento espírita bem direcionado é corrente vigorosa que vitaliza, erguendo os combalidos que não suportaram o fragor das lutas. 

Uma atitude espírita de socorro transforma-se em lição viva que traduz a qualidade dos seus ensinamentos vigorosos. 


Que tem o materialismo, no entanto, para oferecer-lhes, além do desencanto, da fatalidade ignóbil de haverem sido esses desditosos eleitos para a desgraça, conforme apregoa? Apresentando o suicídio ou o mergulho no prazer exaustivo, como saída da agonia, são as torpes soluções de que dispõe para as vidas ressequidas e atormentadas, tornando-se verdugo cruel do pensamento e do sentimento humano. 

O Espiritismo não é uma doutrina passadista ou conformista, porquanto estimula a busca dos valiosos recursos da ciências nos seus múltiplos aspectos para solucionar os enigmas existenciais e ajudar a vencer os desafios normais, enquanto oferece conforto mortal, resistência e coragem para prosseguir-se na luta sem jamais desistir, sempre jovial e confiante nos resultados finais. 

Não mantém a ingenuidade nem a ignorância, jamais estimulando à postergação do que se deve fazer quando se apresenta difícil no momento, antes oferece as ferramentas para a execução do trabalho que está destinado a cada indivíduo, iluminando-lhe a mente com a inspiração do bem e renovando-lhe os sentimentos com o prazer de encontrar-se vivo no corpo, portanto, com infinitas possibilidades de superar os impedimentos que surgem pelo caminho da evolução. 


A sua lógica decorrente da filosofia atende a todas as necessidades e interrogações do pensamento, não deixando de elucidar os dramas existenciais, a origem do ser, do sofrimento e o seu destino. 
O ser humano tem buscado, através da história, uma religião que console sem iludir, iluminando-lhe a existência e oferecendo-lhe robustez de ânimo para o enfrentamento das vicissitudes que todos experimentam durante a trajetória material. 

Por muito tempo ludibriado pelas doutrinas ortodoxas que escravizam as mentes e atemorizam os corações, terminou por tombar na negação, cansando-se de cerimônias e de extravagantes conceitos dogmáticos. 
Apoiando-se na ciência e na sua extraordinária contribuição, sente, não poucas vezes, o vazio interior que o inquieta, buscando soluções químicas para os conflitos que podem ser resolvidos pela oração, pela meditação,. pela ação do bem, pelo auto-encontro...

Por fim, chegou-lhe o Espiritismo e abriu-lhe os braços generosos com as suas informações de sabedoria, propondo-se a albergar a imensa mole humana no seu seio, sem qualquer tipo de dependência psicológica fora da razão ou promessa salvacionista sem o concurso pessoal de cada qual. 

O Espiritismo é a ciência religiosa dos tempos modernos e das criaturas que anelam por uma religião científica, a fim de que, abraçadas, essas duas alavancas do progresso ofereçam a filosofia especial para a conquista da felicidade plena pela qual todos anelam, e a conseguirão.



Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 18 de junho de 2008, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia. 

domingo, 22 de novembro de 2015

A Família como Instrumento de Redenção Espiritual

A Família como Instrumento de Redenção Espiritual

Autor: Deolindo Amorim e Hermínio C. Miranda.

... Reconcilia-te com o teu adversário – advertiu Cristo – enquanto estás a caminho com ele.
E não é precisamente no círculo aconchegante da família que estamos a caminho com aquele que a nossa insensatez converteu em adversário?

O espiritismo coloca, pois, sob perspectiva inteiramente renovada e até inesperada, além de criativa e realista, a difícil e até agora inexplicável problemática do inter-relacionamento familial. Se um membro de nossa família tem dificuldades em nos aceitar, em nos entender, em nos amar, podemos estar certos de que tais dificuldades foram criadas por nós mesmos num relacionamento anterior em que as nossas paixões ignoraram o bom senso.

- E a repulsão instintiva que se experimenta por algumas pessoas, donde se origina? Perguntou Kardec aos seus instrutores (LIVRO DOS ESPÍRITOS, Pergunta 389).

- São espíritos antipáticos que se adivinham e reconhecem, sem se falarem.

O ponto de encontro de muitas dessas antipatias, que necessitam do toque mágico do amor e do entendimento, é a família consangüínea, célula de um organismo mais amplo que é a família espiritual, que por sua vez, é a célula da instituição infinitamente mais vastas que são a família mundial e, finalmente, a universal.

A Doutrina considera a instituição do casamento como instrumento do “progresso na marcha da humanidade” e, reversamente, a abolição do casamento como “uma regressão à vida dos animais”. (Questões 695 e 696, de O LIVRO DOS ESPÍRITOS). Como vimos há pouco, é também essa a opinião dos cientistas especializados responsáveis.

Ao comentar as questões indicadas, Kardec acrescentou que – “O estado de natureza é o da união livre e fortuita dos sexos. O casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna e se observa entre todos os povos, se bem que em condições diversas”.

No que, mais uma vez, estão de acordo estudiosos do problema do ponto de vista científico e formuladores e divulgadores da Doutrina Espírita.
Isto nos leva à delicada questão do divórcio, reconhecido como uma das principais causas desagregadoras do casamento e, por extensão, da família.
O problema da indissolubilidade do casamento foi abordado pelos Espíritos, de maneira bastante sumária, na Questão nº. 697. Perguntados sobre se “Está na lei da Natureza, ou somente na lei humana a indissolubilidade absoluta do casamento”, responderam na seguinte forma:

- É uma lei muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis.

O que, exatamente, quer dizer isso?

Em primeiro lugar, convém chamar a atenção para o fato de que a resposta foi dada no contexto de uma pergunta específica sobre a indissolubilidade absoluta. Realmente, a lei natural ou divina não impõe inapelavelmente um tipo rígido de união, mesmo porque o livre arbítrio é princípio fundamental, direito inalienável do ser humano. “Sem o livre arbítrio – consta enfaticamente da Questão nº. 843 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS – o homem seria máquina”.

A lei natural, por conseguinte, não iria traçar limites arbitrários às opções humanas, encadeando homens e mulheres a um severo regime de escravidão, que poderá conduzir a situações calamitosas em termos evolutivos, resultando em agravamento dos conflitos, em lugar de os resolver, ou pelo menos atenuá-los.

Ademais, como vimos lembrando repetidamente, o Espiritismo não se propõe a ditar regras de procedimento específico para cada situação da vida. O que oferece são princípios gerais, é uma estrutura básica, montada sobre a permanência e estabilidade de verdades testadas e aprovadas pela experiência de muitos milênios. Que dentro desse espaço se movimente a criatura humana no exercício pleno de seu livre arbítrio e decida o que melhor lhe convém, ante o conjunto de circunstâncias em que se encontra.

O casamento é compromisso espiritual previamente negociado e acertado, ainda que nem sempre aceito de bom grado pelas partes envolvidas. São muitos, senão maioria, os que se unem na expectativa de muitos anos de turbulência e mal-entendidos porque estão em débito com o parceiro que acolhem, precisamente para que se conciliem se ajustem, se pacifiquem e se amem ou, pelo menos, se respeitem e estimem.
Mergulhados, porém, na carne, os bons propósitos do devedor, que programou para si mesmo um regime de tolerância e autocontrole, podem falhar. Como também pode exorbitar da sua desejável moderação o parceiro que vem para receber a reparação, e em lugar de recolher com serenidade o que lhe é devido (e outrora lhe foi negado) em atenção, apoio, segurança e afeto, assume a atitude do tirano arbitrário que, além de exigir com intransigência o devido, humilha, oprime e odeia o parceiro que, afinal de contas, está fazendo o possível, dentro das suas limitações, para cumprir seu compromisso. Nesses casos, o processo de ajuste – que será sempre algo difícil mas poderá desenrolar-se em clima de mútua compreensão – converte-se em vingança irracional.
Numa situação dessas, mais frequentes do que poderíamos supor, a indissolubilidade absoluta a que se refere a Codificação seria, de fato, uma lei antinatural. Se um dos parceiros da união, programada com o objetivo de promover uma retificação de comportamento, utilizou-se insensatamente da sua faculdade de livre escolha, optando pelo ódio e a vingança, quando poderia simplesmente recolher o que lhe é devido por um devedor disposto a pagar, seria injusto que a lei recusasse a este o direito de recuar do compromisso assumido, modificar seus termos, ou adiar a execução, assumindo, é claro, toda as responsabilidades decorrentes de seus atos, como sempre, aliás.

A lei divina não coonesta a violência que um parceiro se disponha a praticar sobre o outro. Além do mais, a dívida não é tanto com o indivíduo prejudicado quanto com a própria lei divina desrespeitada. No momento em que arruinamos ou assassinamos alguém, cometemos, claro, um delito pessoal de maior gravidade. É preciso lembrar, contudo, que a vítima também se encontra envolvida com a lei, que, paradoxalmente, irá exibir a reparação da falta cometida, não para vingá-la, mas para desestimular o faltoso, mostrando-lhe que cada gesto negativo cria a sua matriz de reparação. O Cristo foi enfático e preciso ao ligar sempre o erro à dor do resgate. “Vai e não peques mais, para que não te aconteça coisa pior”, disse ele.
Não há sofrimento inocente, nem cobrança injusta ou indevida. O que deve paga e o que está sendo cobrado é porque deve. Assim a própria vítima de um gesto criminoso é também um ser endividado perante a lei, por alguma razão concreta anterior, ainda que ignorada. Se, em lugar de reconciliar-se, ela se vingar, estará reabrindo sua conta como novo débito em vez de saldá-la.
A lei natural, portanto, não prescreve a indissolubilidade mandatária e absoluta do casamento, como a caracterizou Kardec na sua pergunta. Consequentemente, a lei humana não deve ser mais realista do que a outra que lhe é superior; deve ser flexível, abrindo espaço para as opções individuais do livre arbítrio.

Isso, contudo, está longe de significar uma atitude de complacência ou de estímulo à separação dos casais em dificuldades. O divórcio é admissível, em situações de grave conflito, nas quais a separação legal assume a condição de mal menor, em confronto com opções potencialmente mais graves que projetam ameaçadoras tragédias e aflições imprevisíveis: suicídios, assassinatos, e conflitos outros que destroem famílias e acarretam novos e pesados compromissos, em vez de resolver os que já vieram do passado por auto-herança.

Convém, portanto, atentar para todos os aspectos da questão e não ceder precipitadamente ao primeiro impulso passional ou solicitação do comodismo ou do egoísmo. Dificuldades de relacionamento são mesmo de esperar-se na grande maioria das uniões que se processam em nosso mundo ainda imperfeito. Não deve ser desprezado o importante aspecto de que o casamento foi combinado e aceito com a necessária antecipação, precisamente para neutralizar diferenças e dificuldades que persistem entre dois ou mais Espíritos.

O que a lei divina prescreve para o casamento é o amor, na sua mais ampla e abrangente conotação, no qual o sexo é apenas a expressão física de uma profunda e serena sintonia espiritual. Estas uniões, contudo, são ainda a exceção e não a norma. Ocorre entre aqueles que, na expressão de Jesus, Deus juntou, na imutável perfeição de suas leis. Que ninguém os separe, mesmo porque, atingida essa fase de sabedoria, entendimento e serenidade, os Espíritos pouco se importam de que os vínculos matrimoniais sejam indissolúveis ou não em termos humanos, dado que, para eles vige a lei divina que já os uniu pelo vínculo supremo do amor.

Em suma, recuar ante uma situação de desarmonia no casamento, de um cônjuge difícil ou de problemas aparentemente insolúveis é gesto e fraqueza e covardia de graves implicações. Somos colocados em situações dessas precisamente para resolver conflitos emocionais que nos barram os passos no caminho evolutivo. Estaremos recusando exatamente o remédio prescrito para curar mazelas persistente que se arrastam, às vezes, por séculos ou milênios aderidas à nossa estrutura espiritual.

A separação e o divórcio constituem, assim, atitudes que não devem ser assumidas antes de profunda análise e demorada meditação que nos levem à plena consciência das responsabilidades envolvidas.

Como escreveu Paulo com admirável lucidez e poder de síntese.
_ “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”.

O Espiritismo não é doutrina do não e sim da responsabilidade, Viver é escolher, é optar, é decidir. E a escolha é sempre livre dentro de um leque relativamente amplo de alternativas. A semeadura, costumamos dizer, é voluntária; a colheita é que é sempre obrigatória.

É no contexto da família que vem desaguar um volume incalculável de consequências mais ou menos penosas resultantes de desacertos anteriores, de decisões tomadas ao arrepio das leis flexíveis e, ao mesmo tempo, severas, que regulam o universo ético em que nos movimentamos.

Para que um dia possamos desfrutar o privilégio de viver em comunidades felizes e harmoniosas, aqui ou no mundo póstumo, temos de aceitar, ainda que relutantemente, as regras do jogo da vida. O trabalho da reconciliação com espíritos que prejudicamos com o descontrole de nossas paixões, nunca é fácil e, por isso, o comodismo nos empurra para o adiantamento das lutas e renúncias por onde passa o caminho da vitória.


Como foro natural de complexos problemas humanos e núcleo inevitável das experiências retificadoras que nos incumbe levar a bom termo, a família é instrumento da redenção individual e, por extensão, do equilíbrio social.

Não precisaria de nenhuma outra razão para ser estudada com seriedade e preservada com firmeza nas suas estruturas e nos seus propósitos educativos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

JORNADA DA MULHER ESPIRITA VERSÃO 2015







Registro do evento da Jornada da Mulher Espírita em João Pessoa, versão 2015.

No dia 24 de outubro a Sociedade Espírita Caminho da Paz foi a instituição anfitriã do evento, que contou com a presença de mais de 75 pessoas de diversas casas espíritas da Paraiba.

Acesse o link abaixo e veja imagens do evento.

https://www.facebook.com/joaogoncalvesfilho.afonso/posts/787448511363478?notif_t=like

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

ESPÍRITA - novela de Théophile Gautier

Description de cette image, également commentée ci-aprèsESPÍRITA

História fantástica, por Théophile Gautier
Fonte: Allan Kardec -  Revista Espírita março de 1866

Resultado de imagem para espirita theophile gautierNa Revista de dezembro último dissemos algumas palavras sobre esse romance, aparecido em folhetins no Moniteur universel e que hoje está publicado em um volume. Lamentamos que o espaço não nos permita fazer-lhe uma análise mais detalhada e, sobretudo, citar algumas de suas passagens, cujas ideias são incontestavelmente bebidas na própria fonte do Espiritismo; como, certamente, a maior parte dos nossos leitores já o leu, o relato detalhado seria supérfluo. Diremos apenas que a parte consagrada ao fantástico é certamente um pouco grande e que não se deve tomar todos os fatos ao pé da letra; não se trata, absolutamente, de um tratado de Espiritismo. A verdade está no fundo das ideias e pensamentos, que são essencialmente espíritas e narrados com uma delicadeza e uma graça encantadoras, muito mais que nos fatos, cuja possibilidade por vezes é contestável. Embora romance, esta obra não deixa de ter grande importância, primeiro pelo nome do autor, e porque é a primeira obra capital saída dos escritores da imprensa, onde a ideia espírita é afirmada sem rodeios, e surgida no momento em que parecia um desmentido lançado na onda de ataques dirigidos contra esta ideia. A forma mesma do romance tinha sua utilidade; certamente era preferível, como transição, à forma doutrinária, de estilo severo. Graças a uma leveza aparente, penetrou em toda parte e, com ele, a ideia.

Embora Théophile Gautier seja um dos autores favoritos da imprensa, esta foi, contrariamente a seus hábitos, de uma sobriedade parcimoniosa a respeito desta última obra. Não sabia se devia louvá-lo ou censurá-lo. Censurar Théophile Gautier, um amigo, um confrade, um escritor amado do público; dizer que tinha feito uma obra absurda era coisa difícil; louvar a obra era enaltecer a ideia; guardar silêncio a respeito de um nome popular teria sido uma afronta. A forma romanesca levantou o embaraço; permitiu dizer que o autor tinha feito uma bela obra de imaginação, e não de convicção. Falaram, mas falaram pouco. É assim que com a própria incredulidade há acomodações. Notou-se uma coisa muito singular: no dia em que a obra apareceu em volume, havia em todos os livreiros cartazes expostos no exterior; alguns dias depois todos os cartazes haviam desaparecido.

Nos discretos e raros noticiários dos jornais, encontram-se confissões significativas, sem dúvida saídas por descuido da pena do escritor. No Courrier du Monde illustré de 16 de dezembro de 1865, lê-se o seguinte:

“É preciso crer, sem duvidar, sem professar a doutrina, sem mesmo ter sondado muito essas insondáveis questões de Espiritismo e sonambulismo, que o poeta Théophile Gautier, só pela intuição de seu gênio poético, acertou na mosca, fugiu com o dinheiro do caixa e encontrou o abre-te Sésamo das evocações misteriosas, porque o romance que publicou em folhetins no Moniteur, sob o título de Espírita, agitou violentamente todos os que se ocupam dessas perigosas questões. A emoção foi imensa e, para lhe avaliar todo o alcance, somos obrigados a percorrer, como o fazemos, os jornais da Europa inteira.

“Toda a Alemanha espírita levantou-se como um só homem, e como todos os que vivem na contemplação de uma ideia só têm olhos e ouvidos para ela, um dos órgãos mais sérios da Áustria pretende que o imperador encomendou a Théophile Gautier esse prodigioso romance, a fim de desviar a atenção da França das questões políticas. Primeira asserção, cujo alcance não exagero. A segunda asserção chocou-me por causa de seu lado fantástico.

“Segundo a folha alemã, o poeta da Comédie de la Mort, muito agitado em consequência de uma visão, teria adoecido gravemente e sido levado para Genebra. Ali, dominado pela febre, teria sido forçado a guardar o leito durante várias semanas, vítima de estranhos pesadelos, de alucinações luminosas, joguete constante de Espíritos errantes. Pela manhã teriam encontrado ao pé da cama as folhas esparsas de seu manuscrito Espírita.
“Sem atribuir à inspiração que guiou a pena do autor de Avatar uma fonte tão fantástica, cremos firmemente que uma vez entrado em seu assunto, o escritor do Roman de la Momie ter-se-ia extasiado com essas visões, e que no paroxismo terá traçado essa descrição admirável do céu, que é uma de suas mais belas páginas.

“A correspondência que deu origem à publicação de Espírita é extremamente curiosa. Lamentamos que um sentimento de conveniência não nos tenha permitido pedir cópia de uma das cartas recebidas pelo poeta dos Émaux et camées.”

Aqui não fazemos crítica literária, senão poderíamos achar de duvidoso bom-gosto a espécie de catálogo de que se prevalece o autor para colocar em seu artigo, que, aliás, nos parece pecar um pouco por falta de clareza. Confessamos não ter compreendido a frase sobre o dinheiro do caixa; contudo ela é citada textualmente. Isto talvez se deva à dificuldade de explicar onde o célebre romancista hauriu semelhantes ideias, e como ousou apresentá-las sem rir. Mas o que é mais importante é a confissão da sensação produzida por essa obra na Europa inteira. É preciso, pois, que a ideia espírita esteja bem vivaz e bem espalhada; não é, pois, um aborto frustrado. Quantas pessoas são colocadas pelos nossos adversários, de uma penada, na categoria dos cretinos e dos idiotas! Felizmente seu julgamento não é definitivo. Os Srs. Jaubert, Bonnamy e muitos outros recorrem da sentença.
O autor qualifica essas questões de perigosas. Mas, segundo ele e seus irmãos de cepticismo, são quimeras ridículas. Ora, o que uma quimera pode ter de perigoso para a sociedade? De duas, uma: há ou não há no fundo de tudo isto algo de sério. Se nada há, onde o perigo? Se no princípio se tivesse dado ouvidos a todos os que declararam perigosas a maior parte das grandes verdades que hoje brilham, onde o progresso? A verdade não tem perigos senão para os poltrões, que não ousam encará-la de frente, e para os interesseiros.

Um fato menos grave, que vários jornais se apressaram em reproduzir, como se fosse provado, é que o imperador teria encomendado esse prodigioso romance para desviar a atenção da França das questões políticas. Evidentemente não passa de uma suposição, porquanto, admitindo a realidade dessa origem, não é presumível que a tivessem divulgado. Mas essa própria suposição é uma confissão da força da ideia espírita, pois reconhecem que um soberano, o maior político de nossos dias, pôde julgá-la adequada para produzir semelhante resultado. Se tal pudesse ter sido o pensamento que presidiu à execução dessa obra, parece-nos que a coisa seria supérflua, porque apareceu justamente no momento em que os jornais disputavam a primazia de chamar atenção, pelo barulho que faziam a propósito dos irmãos Davenport.

O que há de mais claro em tudo isto é que os detratores do Espiritismo não podem explicar a prodigiosa rapidez do progresso da ideia, a despeito de tudo quanto fazem para o deter. Não podendo negar o fato, que cada dia se torna mais evidente, empenham-se em procurar a causa em toda parte onde não está, na esperança de lhe atenuar o alcance.

Num artigo intitulado: Livros de hoje e de amanhã, assinado por Émile Zola, o Evénement de 16 de fevereiro dá um resumo muito exíguo do assunto da obra em questão, acompanhado das seguintes reflexões:

“Ultimamente o Moniteur deu uma novela fantástica de Théophile Gautier: Espírita, que a livraria Charpentier acaba de publicar em um volume.
“A obra é para a maior glória dos Davenport. Ela nos faz passear no país dos Espíritos, mostra-nos o invisível, revela-nos o desconhecido. O jornal oficial deu os boletins do outro mundo.
“Mas eu desconfio da fé de Théophile Gautier. Ele tem uma bonomia irônica que cheira a incredulidade a uma légua. Suspeito que ele entrou no invisível pelo único prazer de descrever a seu modo horizontes imaginários.
 “No fundo, ele não acredita numa palavra das histórias que conta, mas se deleita em contá-las e os leitores gostarão de ler. Tudo é, pois, para o melhor, na melhor das incredulidades possíveis.
“Não importa o que escreva, Théophile Gautier é sempre escritor pitoresco e poeta original. Se acreditasse no que diz, seria perfeito, e isto talvez fosse uma pena.
Quantas pessoas repelem as crenças espíritas, não pelo temor de se tornarem perfeitas, mas simplesmente pelo de serem obrigadas a emendar-se! Os Espíritos lhes causam medo porque falam do outro mundo e este tem terrores para elas. É por isto que tapam os olhos e os ouvidos.

Théophile Gautier nasceu em Tarbes em30 de de Agosto de 1811 e morreu em Neuilly-sur-Seine em . Poeta, romancista e crítico de arte.