O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao
seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos
seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. (Allan Kardec. O Evangelho
Segundo o Espiritismo, cap. X, item VI, 24ª edição de bolso. FEB)
Em decorrência de observações bem
conduzidas por investigadores da alma humana, pode-se afirmar que, entre
os fatores condicionantes da perseguição espiritual, destacam-se o ódio e o
sentimento abastardado de vingança.
Enquanto a maldade prevalecer no
orbe terreno, enquanto o egoísmo encontrar guarida nos corações, a
criatura deixar-se-á envolver com as imperfeições morais responsáveis por
atitudes infelizes de agressões ou revides contra os semelhantes.
A incompetência afetiva embrutece
o sujeito e, quando, por ventura, ele se considera vítima de uma injúria,
mostra-se incapaz de apelar para o recurso do perdão. E, no desvario em que se
entorpece, termina por cristalizar o próprio pensamento no padrão inconsequente
do revide.
A morte, infelizmente, nem sempre
apaga da lembrança o rancor que perturba, e, assim, o espírito menos
esclarecido, impermeável ao chamamento evangélico, prossegue na
erraticidade a albergar em seu âmago a mágoa e o ódio incontroláveis. Imerso
na penumbra da própria desarmonia psíquica, busca no desforço a forma que
imagina correta de se contrapor à ofensa: fazer justiça com as próprias
mãos.
Ao se aproveitar da
invisibilidade do plano astral, o espírito rancoroso escolhe a melhor maneira
de acicatar o seu desafeto, analisa os seus pontos frágeis, psíquicos e
orgânicos, para influenciá-lo mentalmente ou inundá-lo de fluidos perniciosos
com o propósito de desencadear as mais estranhas doenças, nem sempre
diagnosticadas pela ciência convencional. E não importa a idade da vítima
encarnada.
Quando o infante é acometido de
obsessão, torna-se mais difícil elaborar o diagnóstico espiritual do caso,
pois, geralmente, os familiares resistem em admitir tal hipótese. Imaginam que,
por ser criança, ela esteja livre do assédio invisível. Eis um engano
lamentável de sérias repercussões, visto que, quanto mais demorada a
perturbação sofrida, maior a possibilidade de sequelas irreversíveis.
De mais a mais, no afã da
vingança, o obsessor, em verdade, enxerga na pequena vítima o seu desafeto
de outrora, o espírito imortal responsável pelo delito cometido, e não a
criança momentaneamente frágil e ingênua da atual reencarnação.
Por vezes, identificamos, em
campo experimental mediúnico, cruel investida engendrada pela entidade odienta.
Digamos que o alvo pretendido seja o genitor. Então, o obsessor desfecha
seus fluidos mórbidos contra um dos filhos, pois, comprometendo-lhe a saúde,
compraz-se no sofrimento paterno. É um tipo de obsessão indireta, bem mais
frequente do que se imagina.
Em virtude da sensibilidade, a
criança, alvo da ação obsessiva, logo se ressente e manifesta o mal estar de
que é vítima por meio do choro, da inquietude, da irritabilidade, do sono
perturbado. Todavia, os sintomas decorrentes do assédio espiritual podem
confundir o pediatra que vai buscar no organismo as causas mais frequentes
de desconforto geral, a exemplo de erupção dentária, otalgia, verminose,
distúrbio comportamental etc.
Naturalmente os distúrbios
infantis requerem urgência nos procedimentos médicos, pois nem sempre
sintomas psíquicos ou persistentes derivam exclusivamente de obsessão
espiritual. O bom senso adverte: Em primeiro lugar a assistência clínica,
depois, o suporte da ciência da espiritualidade nos casos suspeitos.
Não obstante, considera-se tênue
a linha divisória entre as duas condições. No nosso modo de ver, quando as
tentativas da medicina não surtirem o efeito esperado, justifica-se uma
investigação espiritual do caso, pois está nada custa e acontece no recesso da
instituição espírita, com o concurso de médiuns experimentados nesses
misteres, além da cobertura indispensável dos mentores.
Por muito tempo ainda, a
obsessão espiritual será uma realidade sinistra a infelicitar o gênero humano.
Esse quadro adverso só será extinto quando as imperfeições morais cederem lugar
aos sentimentos enobrecidos conquistados pela maioria. A maldade humana
não distingue idade nem sexo.
O ódio e a vingança bloqueiam o
senso crítico, e, a exemplo do que acontece na crosta, delitos hediondos são
cometidos por espíritos inferiores, avessos ao chamamento do bem. Por isso, a
ciência da espiritualidade aplicada à saúde integral nos adverte para a
possibilidade da obsessão espiritual, em certas situações, que não respondam
satisfatoriamente aos esforços da medicina.
Partindo de tal raciocínio, é
preciso atenção redobrada especialmente com as crianças. Os espíritos bondosos
que nos orientam por meio de médiuns confiáveis e honestos sugerem a
prática do evangelho no lar, insistem na manutenção de um clima de harmonia em
família e aconselham a frequência às aulas de moral cristã nas instituições
espíritas, com a finalidade de robustecer as defesas espirituais das
crianças.
Portanto, diante de um quadro
sugestivo de perturbação espiritual infantil, quando os passes e a água
fluidificada não surtirem os efeitos previstos, por uma questão de bom
senso, não descartemos a hipótese de influenciação espiritual grave, a exigir
os procedimentos mais elaborados da desobsessão formal.
Na atualidade, as casas espíritas
bem orientadas cultivam em sua rotina doutrinária as sessões desobsessivas, sem
dúvida um passo à frente no vasto campo da medicina da alma.
Vitor Ronaldo Costa
Fundamental nas obsessões em crianças e adolescentes é
favorecer a estruturação de um ego forte e amoroso.
É pouco comum encontrar crianças
obsedadas. Parece haver algum tipo de proteção que as cerca, de tal forma, que
a ação de espíritos desencarnados sobre elas é muito pouco observada. Ou elas
gozam de alguma proteção espiritual ou o amor que lhes é dedicado pelos pais
consegue neutralizar a ação maléfica que porventura se faça contra elas.
Os sinais mais evidentes daquela
influência, quando ocorrem, são: sono agitado, agressividade, comportamentos
estereotipados, doenças psicossomáticas, medo sem causa aparente seguido da exigência
intensa da presença materna ou paterna, choro constante, fala desconexa com
falha no curso do pensamento, etc. Alguns desses sintomas isolados podem
ocorrer em função de problemas orgânicos, o que deve levar os pais, em todos os
casos, à busca de orientação profissional.
Na adolescência é mais comum a
obsessão simples, pois é a fase da auto-afirmação e da tendência à
transgressão. O adolescente é mais suscetível que a criança, não só em face da
vulnerabilidade maior ao livre arbítrio, como também da maior exposição às
influências de seu grupo social. O desejo de experimentar o proibido, bem como
a maior lembrança de seu passado reencarnatório, o colocam como alvo fácil à
obsessão simples.
Tanto em crianças como em
adolescentes a terapia mais recomendada é o tratamento de passes. Em alguns
casos deve-se levar a criança a tratamento psicológico. Nos adolescentes
geralmente o tratamento psicológico é sempre bem-vindo.
A adolescência é o período onde
ocorrem grandes transformações hormonais e emocionais. Nela o espírito dá seus
primeiros passos para consolidar sua personalidade. Deseja ele intensamente sua
autonomia e o estabelecimento de sua identidade que cada vez mais quer que seja
diferente da de seus pais. Nem sempre seus desejos de autodeterminação se
realizam devido a fatores que lhes fogem à compreensão. Via de regra ele não
está atento às injunções cármicas.
Na infância a agressividade é
mais rara, porém, quando ocorre, costuma vir associada a outros fatores. Um
deles é a ansiedade e o outro é a hiperatividade. A criança agressiva muitas
vezes quer demonstrar sua insatisfação com alguma coisa que lhe pode ser
inconsciente. Às vezes, também pode querer chamar a atenção para o descaso dos
adultos quanto a ela.
No adolescente também pode estar
associado ao uso de drogas ou mesmo à ausência paterna. A insatisfação do
adolescente também pode decorrer de certos complexos típicos da fase. A
insatisfação com o corpo e a dificuldade em lidar com os desafios de inserção
num grupo podem ser motivos da agressividade.
Em alguns casos pode-se observar,
pela força física de alguns jovens, agressividade além de limites toleráveis
quando eles partem para a agressão física. Nesses casos a família deve buscar
ajuda especializada para evitar que alguém, por medo ou pena, venha a sofrer
graves danos a si mesmo. A passividade nos casos de agressão física pode
significar um estímulo à coerção pretendida.
Necessário que, tanto com a
criança quanto com o adolescente, se busque o diálogo sem entrar na mesma
energia de raiva que costuma aparecer quando o que se quer é a paz. Deve-se
estar atento às influências obsessivas neste período, no qual o espírito já é
senhor de seu corpo. Embora ainda não seja adulto, já tem a encarnação
fisicamente completada.
É de bom alvitre, quando se
observarem sinais ostensivos de mediunidade antes da adolescência, que eles não
sejam estimulados, isto é, que a criança não seja levada à prática ou ao
exercício da faculdade que porventura apresente. Quando se observarem tais
fenômenos, deve-se tratá-los naturalmente para que não desperte a criança
precocemente para algo que lhe pode ser prejudicial.
A mediunidade é uma faculdade
natural e pode ser exercida no ambiente do lar. Nada impede que em família se
possa exercer o contato com os espíritos desencarnados, seja para alguma
orientação a eles ou, ao contrário, para lhes receber auxílio. Porém, é necessário
que as pessoas que assim agirem tenham conhecimento a respeito da prática
mediúnica, consoante os ensinos e advertências de Allan Kardec, expressos em 'O
Livro dos Médiuns'.
Muitos que se iniciaram na
prática mediúnica em casa acabaram por prejudicar o ambiente doméstico com
interferências indevidas de desencarnados nas relações entre familiares.
"Mas, se vós soubésseis o
que significa: Misericórdia quero, e não holocaustos, não teríeis condenado a
inocentes. " (Mateus, 12:7)
Devemos atentar para a afirmação
do Cristo quanto a querer a misericórdia. Parece-me que ele faz a opção por ela
em lugar da punição, contrariando o pensamento corrente do efeito igual à
causa.
A forma educativa precípua de que
se utiliza Deus para fazer evoluir a criatura é o amor seguido da misericórdia.
As expiações são medidas extremas nos casos onde o amor não atingiu aquele que
desconhece sua eficácia. Mesmo que o ser humano persista em seu equívoco por
ignorância, a misericórdia atuará e, consequentemente, os efeitos que
porventura venha a sentir em si como forma educativa, serão mais atenuados que
as causas que os geraram.
Crianças que apresentam sinais
precoces de obsessão são espíritos que conservam equívocos do passado cujas consequências
são logo vistas para a necessária correção. Apresentam-nos cedo para que logo
deles se livrem e possam ter uma encarnação menos problemática.
O Cristo acena sempre com a
misericórdia e o amor a todos que deles se afastaram.
Adenáuer Novaes
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