domingo, 22 de janeiro de 2017

Eu não desprezo ninguém; lamento os que agem mal - uma das frases destaques do discurso de Allan Kardec

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"Eu não desprezo ninguém; lamento os que agem mal, rogo a Deus e aos Bons Espíritos que façam nascer neles melhores sentimentos. E isso é tudo. 

Se retornam, são sempre recebidos com júbilo. Mas, correr ao seu encalço, isso não me é possível fazer ."- Allan Kardec. 



Discursos pronunciados nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux. - Fonte: Viagem Espírita em 1862

Discurso I – Alguns Extratos

A palavra de Kardec -  pequena transcrição: 

"(...) Aqueles que de mim se aproximam, fazem-no porque isto lhes convém; é menos por minha pessoa do que pela simpatia que lhes desperta os princípios que professo. 

Os que se afastam fazem-no porque não lhes convenho ou porque nossa maneira de ver as coisas reciprocamente não concorda. Por que então, iria eu contrariá-los, impondo-me a eles?
Parece-me mais conveniente deixá-los em paz. 

Ademais, honestamente, carece-me tempo para isso. Sabe-se que minhas ocupações não me deixam um instante para o repouso. Além disso, para um que parte, há mil que chegam. Julgo um dever dedicar-me, acima de tudo, a estes e é isso que faço. Orgulho? 

Desprezo por outrem? Oh! Não! Honestamente, não! Eu não desprezo ninguém; lamento os que agem mal, rogo a Deus e aos Bons Espíritos que façam nascer neles melhores sentimentos. E isso é tudo. 

Se retornam, são sempre recebidos com júbilo. Mas, correr ao seu encalço, isso não me é possível fazer, mesmo em razão do tempo que de mim reclamam as pessoas de boa vontade, e, depois, porque não empresto a certos indivíduos a importância que eles a si próprios atribuem. 

Para mim, um homem é um homem, isto apenas! Meço seu valor por seus atos, por seus sentimentos, nunca por sua posição social.
Pertença ele às mais altas camadas da sociedade, se age mal, se é egoísta e negligente de sua dignidade, é a meus olhos, inferior ao trabalhador que procede corretamente, e eu aperto mais cordialmente a mão de um homem humilde, cujo coração estou a ouvir, do que a de um potentado cujo peito emudeceu. A primeira me aquece, a segunda me enregela. (...)" 


Senhores e prezados irmãos espíritas. Não sois escolares em Espiritismo. 

Hoje colocarei, pois, de lado, questões práticas sobre as quais, devo reconhecer, estais suficientemente esclarecidos, para enfocar o problema sob uma perspectiva mais ampla e, acima de tudo, em suas consequências. Este lado do assunto é grave, o mais grave incontestavelmente, pois que revela o objetivo para o qual se orienta a Doutrina Espírita e os meios para atingi-lo. Serei um pouco longo, talvez, pois o assunto é vasto e, todavia, restaria ainda muito a dizer, para completá-lo. Assim, solicitarei vossa indulgência considerando que, podendo permanecer um tempo muito restrito entre vós, sou forçado a dizer, de uma só vez, o que em outras circunstâncias poderia ser dividido em muitas partes. Antes de abordar o ângulo principal do assunto, creio dever examiná-lo de um ponto de vista que me é, de certa forma, pessoal. Se se tratasse tão somente de uma questão individual, seguramente outra seria a minha atitude.

Entretanto ela se prende a vários assuntos de caráter geral e disso pode resultar um esclarecimento de utilidade para toda a gente. Esse foi o motivo que me levou a optar por tal iniciativa, aproveitando, assim, a ocasião para explicar a causa de certos antagonismos com que deparamos, não sem algum espanto, em nosso caminho.

No estado atual das coisas aqui na Terra, qual é o homem que não tem inimigos? Para não tê-los fora preciso não habitar aqui, pois esta é uma consequência da inferioridade relativa de nosso globo e de sua destinação como mundo de expiação. Bastaria, para não nos enquadrarmos na situação, praticar o bem? Não! O Cristo aí está para prová-lo. Se, pois, o Cristo, a bondade por excelência, serviu de alvo a tudo quanto a maldade pôde imaginar, como nos espantarmos com o fato de o mesmo suceder àqueles que valem cem vezes menos? O homem que pratica o bem – isto dito em tese geral – deve, pois, preparar-se para se ferir na ingratidão, para ter contra ele aqueles que, não o praticando, são ciumentos da estima concedida aos que o praticam. Os primeiros, não se sentindo dotados de força para se elevarem, procuram rebaixar os outros ao seu nível, obstinam-se em anular, pela maledicência ou a calúnia, aqueles que os ofuscam. 

Ouve-se constantemente dizer que a ingratidão com que somos pagos endurece o nosso coração e nos torna egoístas. Falar assim é provar que se tem o coração fácil de ser endurecido, uma vez que esse temor não poderia deter o homem verdadeiramente bom. O reconhecimento é já uma remuneração pelo bem que se faz; praticá-lo tendo em vista essa remuneração é fazê-lo por interesse. Por outro lado, quem sabe se aquele que beneficiamos, e do qual nada esperamos, não será estimulado a mais elevados sentimentos por um reto proceder? Esse pode ser, talvez, um meio de levá-lo a refletir, de suavizar sua alma, de salvá-lo! Essa esperança constitui uma nobre ambição. Se nos inferiorizarmos não realizaremos o que nos compete realizar. Não podemos, entretanto, supor que um benefício, aparentemente estéril na Terra, seja para sempre improdutivo; é, muitas vezes, um grão semeado e que não germina senão na vida futura daquele que o recebeu. Muitas vezes temos observado certos Espíritos, ingratos como homens, tomados de emoção na espiritualidade, pelo bem que lhes foi feito. E essa lembrança, neles despertando pensamentos benéficos, facilita-lhes enveredarem para o caminho do bem e do arrependimento, contribuindo para abreviar-lhes os sofrimentos. Só o Espiritismo poderia revelar esse resultado da benevolência, só a ele está dado, pelas comunicações recebidas do além-túmulo, revelar o lado caridoso desta máxima: Um benefício nunca está perdido, substituindo o sentido egoísta que se lhe atribui. Mas retornemos ao que nos concerne. Pondo de lado qualquer questão pessoal, tenho adversários naturais nos inimigos do Espiritismo. Não cogiteis que me lamente! Longe disso! Quanto maior é a animosidade deles, melhor se comprova a importância que a Doutrina Espírita assume aos seus olhos. Se se tratasse de algo sem consequências, uma dessas utopias que já nascem inviáveis, não lhe prestariam atenção. Não tendes visto escritos vazados em um tom de hostilidade que não se encontra nos meus – quanto à ideologia –, e nos quais as expressões não são mais parcimoniosas do que o atrevimento dos pensamentos? Contra eles, todavia, não enunciam uma única palavra! O mesmo se daria se as doutrinas que luto por difundir permanecessem circunscritas às páginas de um livro. Entretanto – o que pode parecer mais espantoso –, o fato é que tenho adversários mesmo entre os adeptos do Espiritismo...

... Se, pois, tenho inimigos, eles não podem ser contados entre os espíritas dessa categoria, pois que, admitindo que tivessem motivos legítimos de queixa contra mim, o que me esforço por evitar, esse não seria um motivo para me odiarem e, com melhores razões se nunca lhes fiz qualquer mal. O Espiritismo tem por divisa: Fora da caridade não há salvação, o que equivale dizer: Fora da caridade não pode existir verdadeiros espíritas. Solicito-vos inscrever, daqui para a frente, essa divisa em vossas bandeiras, pois que ela resume ao mesmo tempo a finalidade do Espiritismo e o dever que ele impõe. Estando, pois, admitido que não se pode ser um bom espírita com sentimentos de rancor no coração, eu me orgulho de contar apenas com amigos entre estes últimos, pois que, se eu tiver defeitos, eles saberão desculpá-los...

 ...Não devo, entretanto, omitir uma censura que me foi endereçada: a de nada fazer para trazer de novo a mim as pessoas que se afastam. Isso é verdadeiro e a reprovação fundamentada. Eu a mereço, pois jamais dei um único passo nesse sentido e aqui estão os motivos de minha indiferença. Aqueles que de mim se aproximam, fazem-no porque isto lhes convém; é menos por minha pessoa do que pela simpatia que lhes desperta os princípios que professo. Os que se afastam fazem-no porque não lhes convenho ou porque nossa maneira de ver as coisas reciprocamente não concorda. Por que, então, iria eu contrariá-los, impondo-me a eles? Parece-me mais conveniente deixá-los em paz. Ademais, honestamente, carece-me tempo para isso. Sabe-se que minhas ocupações não me deixam um instante para o repouso. Além disso, para um que parte, há mil que chegam. Julgo um dever dedicar-me, acima de tudo, a estes e é isso que faço. Orgulho? Desprezo por outrem? Oh! Não! Honestamente, não! Eu não desprezo ninguém; lamento os que agem mal, rogo a Deus e aos bons Espíritos que façam nascer neles melhores sentimentos. E isso é tudo. Se retornam, são sempre recebidos com júbilo. Mas correr ao seu encalço, isso não me é possível fazer, mesmo em razão do tempo que de mim reclamam as pessoas de boa vontade, e, depois, porque não empresto a certos indivíduos a importância que eles a si próprios atribuem. Para mim, um homem é um homem, isto apenas! Meço seu valor por seus atos, por seus sentimentos, nunca por sua posição social. Pertença ele às mais altas camadas da sociedade, se age mal, se é egoísta e negligente de sua dignidade, é, a meus olhos, inferior ao trabalhador que procede corretamente e eu aperto mais cordialmente a mão de um homem humilde, cujo coração estou a ouvir, do que a de um potentado cujo peito emudeceu.

...As pessoas que me conhecem na intimidade podem dizer se jamais os mencionei, se alguma vez, na Sociedade, foi dita uma única palavra, foi feita uma única alusão relativamente a qualquer um deles. Mesmo pela Revista, jamais respondi às suas agressões, se dirigidas à minha pessoa, e Deus sabe que elas não têm faltado! De que adianta, ademais, seu malquerer? De nada! Nem contra a doutrina nem contra mim. A Doutrina Espírita prova, por sua marcha progressiva, que nada tem a temer. Quanto a mim, não ocupo nenhuma posição, por isso nada existe que me pode ser tirado, não peço nada, nada solicito e, assim, nada me pode ser recusado. Não devo nada a ninguém, desse modo nada há que me possa ser cobrado; não falo mal de ninguém, nem mesmo daqueles que o dizem de mim. Em que poderiam, então, prejudicar-me? É certo que se pode atribuir a mim o que eu não disse e isso já se fez mais de uma vez. Mas aqueles que me conhecem são capazes de distinguir o que digo daquilo que não sou capaz de dizer e eu agradeço a quantos, em semelhantes circunstâncias, souberam responder por mim. O que afirmo estou sempre pronto a repetir, na presença de quem quer que seja, e quando afirmo não ter dito ou feito uma coisa, julgo-me no direito de ser acreditado. Ademais, o que representa tudo isso em face do objetivo que nós, os espíritas sinceros e devotados, perseguimos conjuntamente? Desse futuro imenso que se desenrola diante dos nossos olhos? Acreditai-me, senhores, fora preciso ver como um roubo perpetrado contra a grande obra, os instantes que perdêssemos preocupados com essas mesquinharias. De minha parte agradeço a Deus por me haver, já aqui na Terra, concedido tantas compensações morais ao preço de tribulações tão passageiras, bem como pela alegria de assistir ao triunfo da Doutrina Espírita.


Peço-vos perdão, senhores, por vos haver, por tão longo tempo, entretido com assuntos relativos a mim, mas acredito útil estabelecer nitidamente essa posição, a fim de que vos seja possível saber em quem acreditar, de conformidade com as circunstâncias, e para que possais estar convencidos de que minha linha de conduta está traçada e que dela nada me fará desviar. De resto, creio que dessas observações – abstração feita de minha pessoa – poderão resultar alguns ensinamentos úteis. 

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