O ATO MEDIÚNICO e seus desdobramentos
Herculano Pires
(Reuniões mediúnicas em suas
diversas fases e o trabalho de equipe de desencarnados e encarnados)
O ato mediúnico é o momento em
que o espírito comunicante e o médium se fundem na unidade psicoafetiva da
comunicação.
O espírito aproxima-se do
médium e o envolve nas suas vibrações espirituais. Essas vibrações irradiam-se
do seu corpo espiritual atingindo o corpo espiritual do médium.
A esse toque vibratório,
semelhante ao de um brando choque elétrico, reage o perispírito do médium.
Realiza-se a fusão fluídica.
Há uma simultânea alteração no psiquismo de ambos.
Cada um assimila um pouco do outro.
Uma percepção visual desse momento comove o
vidente que tem a ventura de captá-la. As irradiações perispirituais projetam sobre
o rosto do médium a máscara transparente do espírito.
Compreende-se então o sentido
profundo da palavra intermúndio.
Ali estão, fundidos e ao mesmo
tempo distintos, o semblante radioso do espírito e o semblante humano do
médium, iluminado pelo suave clarão da realidade espiritual.
Essa superposição
de planos dá aos videntes a impressão de que o espírito comunicante se
incorpora no médium.
Daí a errônea denominação de
incorporação para as manifestações orais. O que se dá não é uma incorporação,
mas uma interpenetração psíquica, como a da luz atravessando uma vidraça.
Ligados os centros vitais de
ambos, o espírito se manifesta emocionado, reintegrando-se nas sensações da
vida terrena, sem sentir o peso da carne.
O médium, por sua vez, experimenta a
leveza do espírito, sem perder a consciência de sua natureza carnal, e fala ao
sopro do espírito, como um intérprete que não se dá ao trabalho da tradução.
O ato mediúnico natural é esse
momento de síntese afetiva em que os dois planos da vida revelam o segredo da
morte: apenas um desvestir do pesado escafandro da matéria densa.
Quando o ato mediúnico é assim
perfeito e claro, iluminado por uma mediunidade esclarecida e devotada ao bem,
não há gigante — como no caso de Lombroso — que não se curve reverente ante o
mistério da vida imortal. O médium se torna o instrumento da ressurreição
impossível, provando aos homens que a morte não é mais do que lapso no
intermúndio que separa os vivos na carne dos vivos no espírito. Compreende-se
então o fenômeno da Ressurreição de Jesus, que não foi o ato divino de um Deus,
mas o ato mediúnico de um espírito que dominava, pelo saber e a pureza, os
mistérios da imortalidade.
Quando o ato mediúnico não tem
a pureza e a beleza de uma comunicação amorosa, tem o calor da solidariedade
humana e é iluminado pela caridade cristã.
Numa sessão comum de socorro
espiritual, os médiuns sentados ao redor da mesa, os doutrinadores a postos,
espíritos sofredores e espíritos maldosos e vingativos, sob controle dos
orientadores espirituais, são aproximados de médiuns que desejam servi-los.
O quadro é bem diferente dos
que apresentamos acima. Não há beleza nem serenidade nos espíritos
comunicantes, nem resplendor ou transparência em suas faces. Há desespero, dor,
expressões de rebeldia ou ímpetos de vingança. Os médiuns sentem-se inquietos,
não raro temerosos.
A aproximação dos comunicantes é incômoda, desagradável. As
vibrações perispirituais são ásperas e sombrias O vidente se aturde com aquelas
figuras pesadas e escuras que transtornam a fisionomia dos médiuns.
Mas, na proporção em que os
doutrinadores encarnados dão o socorro de suas vibrações e de seus argumentos
fraternos aos necessitados, o quadro se modifica com as luzes vacilantes que se
acendem nas mentes conturbadas.
Os guias espirituais manifestam-se em socorro
dos doutrinadores e suas vibrações acalmam a inquietação do ambiente.
O trabalho é penoso. Criaturas
recalcitrantes no mal recusam-se a compreender a realidade negativa em que se
encontram. Espíritos vencidos pelas dores de encarnações penosas mostram-se
revoltados. Os que trazem o coração esmagado por injustiças e traições exigem
vingança e fazem ameaças terríveis. Mas a palavra fraterna, carregada de
bondade e amor, iluminada pelas citações evangélicas, vai aos poucos amortecendo
as explosões de ódio.
Às vezes a autoridade do dirigente ou de um
espírito elevado se faz sentir, para que os mais rebeldes compreendam que estão
sob um poder persuasivo, mas enérgico. Uma pessoa que desconheça o problema
dirá que se encontra numa sala de hospício sem controle ou assiste a um
psicodrama de histéricos em desespero.
Psicólogos sistemáticos ririam
com desdém. O dirigente dos trabalhos parece um leigo a brincar com explosivos
perigosos. Fanáticos de seitas dogmáticas julgam assistir a uma cena de
possessão diabólica.
Mas a sessão chega ao fim com
a tranquilização total do ambiente. Um espírito amigo comunica-se com palavras
de agradecimento. Em silêncio, todos ouvem a prece final de gratidão aos
espíritos bondosos que ajudaram a socorrer as sombras sofredoras.
Numa sessão de desobsessão
para casos graves, com poucos elementos, sem a assistência numerosa do socorro
geral, as comunicações são violentas os médiuns sofrem, gemem, gritam e choram.
O dirigente e os doutrinadores permanecem tranquilos, aparentemente
impassíveis, e os doutrinadores usam de palavras persuasivas, de atitudes
benignas.
Nada de ameaças e exprobrações
violentas, como nas práticas antiquadas do exorcismo arcaico, vindo das
profundezas do Egito, da Mesopotâmia, da Palestina.
Nada de velas acesas, de
símbolos sacramentais, de expulsão de entidades diabólicas.
A técnica é de
persuasão, de esclarecimento racional...
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Um pouco sobre Lombroso.
Cesare
Lombroso, 1835-1909, Itália, Psiquiatra, Cirurgião, Higienista, Criminologista,
Antropólogo e Cientista.
Lombroso é creditado como sendo o criador da
antropologia criminal e suas ideias inovadoras deram nascimento à Escola
Positiva de Direito Penal, mais precisamente a que se refere ao positivismo
evolucionista, que baseava sua interpretação em fatos e investigações
científicas.
Ao entrar no campo da mediunidade, Lombroso
primeiramente ridicularizava pesquisas e textos sobre o assunto, como em seu
opúsculo Studi sull'ipnotismo (Turim, 1882). Já em julho de 1888, publicava no jornal Fanfulla della Domenica (n°. 29) um
artigo intitulado L'inflenza della civilta e dell ocasione, em que assumia seus erros quanto ao que dissera acerca do
espiritismo. Torna-se então um defensor do Espiritismo na Itália de seu tempo.
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