segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Brasil na Revista Espírita - Kardec comenta fato


EXTRATO DO JORNAL DO COMMERCIO DO RIO DE JANEIRO
De 23 de setembro de 1863 - CRÔNICA DE PARIS.

A propósito dos espectros dos teatros, o correspondente conclui assim, depois de deles fazer o histórico:
"Por sorte, no próximo inverno, cada um poderá regalar aos seus amigos do espetáculo, tornado popular, de alguns fantasmas e outras curiosidades sobrenaturais. De sobremesa, se apagarão as velas e ver-se-ão aparecer, envolvidos em seus lençóis, os espectros modernos que substituirão assim as tiradas que outrora cantavam nossos avós. Nos bailes, em lugar dos refrescos, far-se-ão desfilar os fantasmas. Que encantador divertimento! nada que disso pensar se tem dele o arrepio."

O autor passando ao Espiritismo:
"Uma vez que falamos de coisas sobrenaturais, não passaremos em silêncio O Livro dos Espíritos. Que título atraente! quantos mistérios não se escondem! E se nos reportarmos ao ponto de partida, que caminho que essas idéias fizeram há alguns anos! –No início, esses fenômenos, ainda não explicados, consistiam em uma simples mesa posta em movimento pela imposição das mãos; hoje, as mesas não se contentam mais em girar, em saltar, em se endireitar sobre um pé, em fazer mil cabriolas, elas vão mais longe; falam! que digo eu: elas falam, é que têm um alfabeto próprio e mesmo vários. Basta dirigir-lhe uma pergunta, e a resposta é logo dada por pequenos golpes seguidos, batidos com o pé, ou bem por meio de um lápis que, preso à mão, põe-se a traçar sinais sobre o papel, palavras, frases inteiras ditadas por uma vontade estranha e desconhecida; a mão se torna então um simples instrumento, um porta-lápis, e o espírito da pessoa fica completamente estranho a tudo o que se passa.

"O Espiritismo, é assim que se chama a ciência desses fenômenos, fez, em poucos anos, grandes progressos nos fatos, na prática; mas a teoria, na minha opinião, não fez o mesmo caminho, está estacionaria, e direi porque. - É incontestável, a menos que as pessoas que se ocupam dessa matéria não tenham interesse em se enganar e em nos enganar, é incontestável que os fatos existem. Eles não se revelam unicamente por meio das mesas, se nos apresentam todos os dias e a toda hora. Excitam e espantam a todos, mas todos permanecem aí. - Duas pessoas concebem a mesma idéia ou se reencontram simultaneamente sobre a mesma palavra; alguém que não vemos, freqüentemente e no qual acabamos de pensar se nos apresenta inopinadamente; bate-se à nossa porta, e, se bem que nada vem de fora nos indicar a pessoa, adivinhamos que ela está; uma carta com dinheiro nos chega num momento de urgência; e tantos outros casos tão freqüentes, tão numerosos e conhecidos de todo o mundo; tudo isso pode ser atribuídos ao acaso?
Não, isso não pode ser o acaso em nenhum caso; e por que não seria isso uma comunicação fluídica inapreciável por nosso organismo material, um sexto sentido, enfim, de uma natureza mais elevada? Ninguém sabe onde reside a alma; ela não é nem visível, nem ponderável, nem tangível, e, no entanto, cheios de convicção que somos, afirmamos a sua existência. - Qual é a natureza do agente elétrico? O que é o imã?... E no entanto os efeitos da eletricidade e do magnetismo são continuamente patentes aos nossos olhos.
- Estou persuadido de que um dia deverá ocorrer o mesmo com o Espiritismo, ou qualquer que seja o nome que em último lugar praza à ciência lhe dar. "Há algum tempo vi numerosos fatos de catalepsia, de magnetismo, de Espiritismo, e não posso conservar a menor dúvida a seu respeito; mas o que me parece mais difícil é poder explicá-los e atribuí-los a tal ou tal causa. É preciso, pois, proceder com prudência e reservar sua opinião, abstendo-se de cair nos dois extremos: ou de negar todos os fatos
ou de submetê-los todos a uma teoria prematura.
"A existência dos fenômenos é incontestável; sua teoria está ainda para descobrir-se: eis hoje o estado da questão. Não se pode negar que haja alguma coisa de singular e digna de ser examinada nessa idéia que agitou o mundo inteiro, que reaparece com mais intensidade do que nunca, nessa idéia que tem seus órgãos periódicos,, seus anais de observações, que emocionou os espíritos na Áustria, na Itália, na América, que fez nascer reuniões na França, país onde se formam raramente, e onde o governo as tolera dificilmente.
"Essa invasão geral, além deter produzido uma viva impressão, tem uma muito alta importância. É preciso, pois, sem precipitação nem idéias preconcebidas, verificar de boa fé esses fenômenos, até que venham a ser explicados, o que ocorrerá um dia, se aprouver a Deus nos revelar a natureza desse agente misterioso."

O autor, como se vê, não é muito avançado; mas ao menos não julga aquilo que não sabe; reconhece a existência dos fatos e a sua causa primeira, mas não conhece seu modo de produção. Ele ignora os progressos da parte teórica da ciência, e dá a esse respeito um conselho muito sábio: poderão fazer teorias arriscadas, assim como se estava muito apressado de fazê-lo no início da aparição dos fenômenos, onde cada um se apressou em explicá-los à sua maneira; assim, a maioria desses sistemas prematuros caíram diante das experiências ulteriores, que vieram contradizê-los. Hoje se possui disso uma teoria racional da qual nenhum ponto foi admitido a título de hipótese; tudo é deduzido da experiência e da observação atenta dos fatos; pode-se dizer que, sob este aspecto, o Espiritismo foi estudado à maneira das ciências exatas.
Esta ciência, nascida ontem, não disse tudo, tanto lhe é preciso, e nos resta ainda muito a aprender, mas disse o bastante para ser fixada sobre as bases fundamentais e saber que esses fenômenos não saem da ordem dos fatos naturais; não foram qualificados de sobrenaturais e maravilhosos senão por falta de conhecer a lei que os rege, assim como ocorreu com a maioria dos fenômenos da Natureza. O Espiritismo, fazendo conhecer essa lei, restringe o círculo do maravilhoso em lugar de estendê-lo; dizemos mais, é que ele lhe dá o último golpe. Aqueles que dele falam de outro modo provam que não o estudaram.

Constatamos com prazer que a idéia espírita fez progressos sensíveis no Rio de Janeiro, onde conta com numerosos representantes fervorosos e devotados. A pequena brochura: O Espiritismo em sua mais simples expressão, publicada em língua portuguesa, não contribuiu pouco para ali difundir os princípios da Doutrina.

Professar ou Praticar o Espiritismo


JEAN REYNAUD
(Sociedade Espírita de Paris. Comunicação espontânea.)
Extrato de uma comunicação – O Céu e o Inferno. Para ler, estudar e meditar sobre o assunto. Atualíssimo.
P. Em vida professáveis o Espiritismo?

— R. Há uma grande diferença em professar e praticar.
Muita gente professa uma doutrina, que não pratica; pois bem, eu praticava e não professava. Assim como cristão é todo homem que segue as leis do Cristo, mesmo sem conhecê-lo, assim também podemos ser espíritas, acreditando na imortalidade da alma, nas reencarnações, no progresso incessante, nas provações terrenas — abluções necessárias ao melhoramento. Acreditando em tudo isso, eu era, portanto, espírita. Compreendi a erraticidade, laço intermediário das reencarnações e purgatório no qual o espírito culposo se despoja das vestes impuras para revestir nova toga, e onde o Espírito, em evolução, tece cuidadosamente essa toga que há de carregar no intuito de conservá-la pura. Compreendi tudo isso, e, sem professar, continuei a praticar.

“A expressão: “tecer cuidadosamente a toga que há de carregar” é uma figura feliz que retrata a solicitude com que o Espírito em evolução prepara a nova existência conducente a um maior progresso do que o feito. Os Espíritos atrasados são menos meticulosos, e muita vez fazem escolhas desastradas, que os forçam a recomeçar”. (comentários e análise de Allan Kardec).

O que é Ser Espírita:
Consultando um bom dicionário vamos encontrar de pessoa vinculada ao Espiritismo. Mudando a pergunta. Surgem porém os que ironizam e outros que temem e outros ainda indiferentes. Mas isto não importa, o problema reside se direcionarmos aos “Espíritas” a pergunta o que é ser espírita. Uns dirão que é ir ao Centro, tomar passe, ouvir ou fazer palestras, ler livros. Outros dirão que é fazer caridade. As respostas e tentativas de se ser explicar e se explicar. Mas qual seria ou será o motivo de respostas tão variadas, evasivas, incompletas? Como fonte de explicação a que se destina o blog, vamos buscar respostas na Codificação Espírita, que segundo o ilustre Espírito Espírita Vianna de Carvalho, é uma grande desconhecida dos espíritas. Vejamos então Kardec explicando a partir de O Livro dos Espíritos. Em O Livro dos Espíritos, na conclusão (item VII), o Codificador apresenta uma classificação dos adeptos: a) Os que acreditam; b) Os que acreditam e admiram a moral espírita; e c) Os que crêem, admiram e praticam. Segundo Kardec, esses últimos são os verdadeiros espíritas, ou os espíritas cristãos. No livro O Céu e o Inferno, há uma manifestação interessante de espírito que se encontra classificado como Espírito Feliz. Trata-se do espírito identificado pelo nome de Jean Reynaud citado acima no início do texto informativo. Indagado se na vida física ele professava o Espiritismo, respondeu: “ Há uma grande diferença entre professar e praticar. Muita gente professa uma Doutrina, mas não pratica. Pois bem, eu praticava e não professava. Professar significa portanto, reconhecer publicamente, declarar-se adepto, dizer de si mesmo, fazer propaganda da idéia e por em prática no seu relacinamento consigo e com o próximo. Pois bem, aí está a chave da questão. A felicidade de um Espírito deve-se à vivência dos princípios cristãos associados ao Espiritismo, mesmo sem conhecê-lo. Já no capítulo XVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, no item O Homem de Bem e Os bons espíritas, é necessário compreender que as características coincidem com os preceitos morais que justificam a denominação de espíritas cristãos, conforme definição do próprio Kardec, surgindo daí a figura do espírita praticante.O Espírito Simeão no item 14 de Evangelho Segundo o Espiritismo em seu capítulo X, já no finalzinho da instrução diz que Se vós vos dizeis espíritas, sede-o pois; olvidai o mal que se vos pôde fazer e não penseis senão uma coisa: o bem que podeis realizar. Resumindo a instrução: estamos tratando da VIVÊNCIA ESPIRITA. Reforçando os estudos então, temos: reconhece-se o verdadeiro espírita pelo esforço que empreende para vencer as suas más tendências. Ser Espírita portanto é a busca constante de se conhecer e de novo um velho ditado inserido na pergunta e resposta 919 de O Livro dos Espíritos.

domingo, 24 de outubro de 2010

A Dúvida...A Apatia Religiosa nos tempos de Kardec e de HOJE também


As épocas de transição na Humanidade.
(Sociedade Espírita de Paris, 19 de junho de 1863. - Médium, Sr. Alfred Didier. Revista Espírita)

Os séculos de transição na história da Humanidade se assemelham a vastas planícies semeadas de monumentos misturados confusamente sem harmonia, e a harmonia mais pura, a mais justa, existe no detalhe e não no conjunto. Os séculos abandonados pela fé, pela esperança, são sombrias páginas em que a Humanidade, trabalhada pela dúvida, se mina surdamente nas civilizações aperfeiçoadas, para chegar a uma reação que, o mais freqüentemente, as levaria, para substituí-las por outras civilizações. Os pesquisadores do pensamento, mais do que os sábios, aprofundam na nossa época, no ecletismo racional, esses misteriosos encadeamentos da história, essas trevas, essa uniformidade lançada como nevoeiros e nuvens espessas sobre civilizações há pouco tempo vivazes e férteis. Estranho destino dos povos! É quase no nascimento do Cristianismo, é nas mais opulentas cidades, sedes dos maiores bispados do Oriente e do Ocidente, que os estragos da decadência começam; é no próprio meio da civilização, do esplendor inteligente das artes, das ciências, da literatura e dos ensinos sublimes do Cristo, que começa a confusão das idéias, as dissensões religiosas; é no próprio berço da Igreja romana, orgulhosa e soberba do sangue dos mártires, que a heresia, gerada pelos dogmas supersticiosos e as hierarquias eclesiásticas, se insinuam como uma serpente iminente para morder no coração a Humanidade e lhe infiltrar nas veias, no meio de desordens políticas e sociais, o mais terrível e o mais profundo de todos os flagelos: a dúvida. Esta vez a queda é imensa, a apatia religiosa dos padres, unida aos fanáticos heresiarcas, tira toda a força à política, todo amor ao país, e a Igreja do Cristo se torna humana, mas não mais humanitária. E inútil aqui, creio, apoiar sobre as relações assustadoras dessa época com a nossa; vivendo ao mesmo tempo com as tradições do Cristianismo e com a esperança do futuro, os mesmos abalos sacodem nossa velha civilização, as mesmas idéias são partilhadas, e a mesma dúvida atormenta a Humanidade, sinais precursores da renovação social e moral que se prepara.
Ah! orai, Espíritas, vossa época atormentada e blasfematória e uma rude época, que os Espíritos vêm instruir e encorajar.
LAMENNAIS.

Eis por que todas as instituições humanas, políticas, sociais e religiosas...


Todos os que reconhecem a missão de Jesus dizem: Senhor! Senhor! – Mas, de que serve lhe chamarem Mestre ou Senhor, se não lhe seguem os preceitos? Serão cristãos os que o honram com exteriores atos de devoção e, ao mesmo tempo, sacrificam ao orgulho, ao egoísmo, à cupidez e a todas as suas paixões? Serão seus discípulos os que passam os dias em oração e não se mostram nem melhores, nem mais caridosos, nem mais indulgentes para com seus semelhantes? Não, porquanto, do mesmo modo que os fariseus, eles têm a prece nos lábios e não no coração. Pela forma poderão impor-se aos homens; não, porém, a Deus. Em vão dirão eles a Jesus: “Senhor! não profetizamos, isto é, não ensinamos em teu nome; não expulsamos em teu nome os demônios; não comemos e bebemos contigo?” Ele lhes responderá: “Não sei quem sois; afastai-vos de mim, vós que cometeis iniqüidades, vós que desmentis com os atos o que dizeis com os lábios, que caluniais o vosso próximo, que espoliais as viúvas e cometeis adultério. Afastai--vos de mim, vós cujo coração destila ódio e fel, que derramais o sangue dos vossos irmãos em meu nome, que fazeis corram lágrimas, em vez de secá-las. Para vós, haverá prantos e ranger de dentes, porquanto o reino de Deus é para os que são brandos, humildes e caridosos. Não espereis dobrar a justiça do Senhor pela multiplicidade das vossas palavras e das vossas genuflexões. O caminho único que vos está aberto, para achardes graça perante ele, é o da prática sincera da lei de amor e de caridade.”

São eternas as palavras de Jesus, porque são a verdade. Constituem não só a salvaguarda da vida celeste, mas também o penhor da paz, da tranqüilidade e da estabilidade nas coisas da vida terrestre. Eis por que todas as instituições humanas, políticas, sociais e religiosas, que se apoiarem nessas palavras, serão estáveis como a casa construída sobre a rocha. . Os homens as conservarão, porque se sentirão felizes nelas. As que, porém, forem uma violação daquelas palavras, serão como a casa edificada na areia: o vento das renovações e o rio do progresso as arrastarão.
==> Fonte: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVIII item 9

sábado, 23 de outubro de 2010

Doutrina Espírita, O Espírita e Política



Inciemos nosso estudo refletindo sobre o formato do comportamento humano. Temos a alegoria do “Mito da Caverna”, Platão não consegue fazer com que o filósofo mudasse o comportamento dos homens que ficaram dentro da caverna. Já na Doutrina Espírita, Kardec descortina vários horizontes para a mudança do nosso comportamento, pois os ensinamentos contidos em O Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo e associando ainda mais a reflexão no O Céu e Inferno, nos convida a uma constante melhoria de nossa conduta.
Vencer hábitos (esforçar para domar suas más tendências) calcados nos automatismos negativos são estimulados a se transformarem em atitudes centradas na moral evangélica.

Ampliando a reflexão analisemos sobre o Trabalho. Estudando a pergunta 685 de O Livro dos Espíritos: “Por isso não basta dar trabalho ao homem, sendo também necessário dar-lhe educação moral, ou seja, orientação espiritual para que ele possa tirar do trabalho todos os proventos que este lhe possa dar”.

Quanto ao Poder a maioria de nós gosta de possuir muitos bens e ter domínio sobre os demais homens. Mas de acordo com as instruções dos Espíritos “A autoridade, da mesma forma que a fortuna, é uma delegação da qual serão pedidas contas àquele que dela se acha investido; não creiais que lhe seja dada para lhe proporcionar o vão prazer de comandar, nem, assim como crêem falsamente a maioria dos poderosos da Terra, como um direito, uma propriedade”. Deus as dá como prova ou missão e as retira quando lhe apraz.

Resumindo Aristocracia Intelecto Moral, observamos que as sociedades em tempo algum prescindem de chefes para se organizarem. Daí a necessidade da autoridade. Esta autoridade vem se modificando ao longo do tempo. No início tínhamos a força bruta, depois a do exército. Na idade Média, a autoridade de Nascença. Segue-se-lhe a influência do dinheiro e da inteligência, na época atual. Será o fim? Não. Segundo Allan Kardec, em Obras Póstumas, há que se implantar a aristocracia intelecto-moral.

Reflexões oportunas e atuais:
"Para nós, a política é a ciência de criar o bem de todos e nesse princípio nos firmaremos". Deputado Dr. Adolfo Bezerra de Menezes.

As questões políticas decorrem dos próprios princípios do Espiritismo. A partir do momento em que se fala em reforma moral, em mudança de visão do mundo, em desapego dos bens materiais, prática da caridade, etc. fala-se sobre política. Principalmente, quando se fala em transformação da sociedade, como aparece a todo momento na Codificação (particularmente no capítulo final da Gênese), estamos falando de política. "Em que consiste a missão dos Espíritos Encarnados? - Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais". (Questão n º 573 de O Livro dos Espíritos).

O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens? - Esse direito é conseqüente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo". (Questão nº 711 de O Livro dos Espíritos).

"A vida social está em a Natureza? - Certamente, Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação". (Questão nº 766 de O Livro dos Espíritos).

As revoluções morais e sociais são condições para a realização do progresso. São idéias novas, conceitos novos que se chocam com os existentes, os quais já não mais satisfazem as necessidades e aspirações. (Veja questão nº 783 de O Livro dos Espíritos)

Encontramos no comentário de Allan Kardec à Questão nº 789 de O Livro dos Espíritos, esclarecimento de grande valia sociológica: "A humanidade progride, por meio dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e instruem. Quando estes preponderam pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempos a tempos, surgem no seio dela homens de gênio que lhe dão impulso; vêm depois, como instrumentos de Deus, os que têm autoridade e, nalguns anos, fazem-na adiantar-se de muitos séculos". Compreende-se, por tudo isso, a importância da participação dos espíritas na sociedade, de uma forma esclarecida e consciente. O espírita precisa conhecer os conceitos e fundamentos da Doutrina Espírita para, com os meios que lhe sejam possíveis, colocá-los na organização social em que vive.

Allan Kardec comenta: "A liberdade pressupõe confiança mútua. Ora, não pode haver confiança entre pessoas dominadas pelo sentimento exclusivista da personalidade. Não podendo cada uma satisfazer-se a si própria senão à custa de outrem, todas estarão constantemente em guarda umas com as outras. Sempre receosas de perderem o que chamam seus direitos, a dominação constitui a condição mesma da existência de todas pelo que armarão continuamente ciladas à liberdade e a coarctarão quanto puderem". (In Obras Póstumas, Capítulo Liberdade, Igualdade e Fraternidade).

Instrução dos Espíritos na Questão nº 930 O Livro dos Espíritos: "Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome". E acresce Allan Kardec: "Com uma organização social criteriosa e previdente, ao homem só por sua culpa pode faltar o necessário. Porém, suas próprias faltas são freqüentemente resultado do meio onde se acha colocado. Quando praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade e ele próprio também será melhor".

O Espírito Lázaro, no Capítulo IX, item 8, de O Evangelho Segundo o Espiritismo nos alerta que "Cada época é, assim, marcada pelo cunho da virtude ou do vício que a devem salvar ou perder. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual, seu vício é a indiferença moral". Assim, essa ação política deve objetivar o bem comum.

A Gênese - Kardec explicando sobre Os tempos são chegados


A Gênese – “Os tempos são chegados”:

Nº 14: A vida espiritual é a vida normal e eterna do Espírito, e a encarnação não é senão uma forma temporária de sua existên-cia. Exceto pela vestimenta exterior, há, pois, identidade entre os encarnados e os desencarnados; são as mesmas individualidades sob dois aspectos diferentes, pertencendo tanto ao mundo visível, quanto ao mundo invisível, se reencontrando seja num, seja no outro, convergindo num e no outro ao mesmo propósito, pelos meios apropriados à sua situação. Desta lei decorre aquela da perpetuidade da relação entre os seres; a morte não os separa e não dá término às suas relações simpáticas nem aos seus deveres recíprocos. Daí a SOLIDARIEDADE do todos por um, e de um por todos, daí também a FRATERNIDADE. Os homens não viverão felizes sobre a Terra senão quando esses dois sentimentos tiverem entrado em seus corações e nos seus costumes, porque então o conformarão a suas leis e suas instituições. Isto será um dos principais resultados da transformação que se opera.

Mas como conciliar os deveres de solidariedade e da fraternidade com a crença de que a morte tornaria todos os homens estranhos uns aos outros? Pela lei da perpetuidade das relações que une todos os seres, o Espiritismo funda este duplo princípio sobre as próprias leis da natureza. Ele fez disso não só um dever mas uma necessidade. Por aquela da pluralidade das existências, o homem se relaciona a tudo que fez e a tudo que fará, aos homens do passado e aos homens do porvir; não pode mais dizer que não tem nada em comum com aqueles que morreram, uma vez que uns e outros se reencontram sem cessar, neste mundo e no outro, para ascenderem juntos a escada do progresso e se prestarem um apoio mútuo. A fraternidade não é mais circunscrita a alguns indivíduos que o acaso reúne durante a duração efêmera da vida; ela é perpétua como a vida do Espírito, universal como a humanidade, que constitui uma grande família em que todos os membros são solidários uns aos outros, qual-quer que seja a época na qual morreram.

Tais são as idéias que ressaltam do Espiritismo, e que ele suscitará entre todos os homens quando estiver universalmente disseminado, compreendido, ensinado e praticado. Com o Espiritismo, a fraternidade, sinônima da caridade pregada pelo Cristo, não é mais uma palavra vã; ela tem sua razão de ser. Do sentimento da fraternidade nasce aquele da reciprocidade e dos deveres sociais, de homem a homem, de pessoa a pessoa, de raça a raça; estes dois sentimentos bem compreendidos forçosamente farão as instituições mais proveitosas ao bem estar de todos.”

Nº 15: A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, se não estiver assentada sobre uma base inabalável; essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que se apedrejam mutuamente, porque, em se anatematizando, alimentam o antagonismo; mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar: Deus, a alma, o porvir, O PROGRESSO INDIVIDUAL, INDEFINIDO, A PERPETUIDADE DAS RELAÇÕES ENTRE OS SERES. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos, de que esse Deus, soberanamente justo e bom, não pode querer nada de injusto, que o mal vem dos homens e não dele, se considerarão como os filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos. Essa a fé que o Espiritismo dá, e que será daqui por diante o eixo em torno do qual girará o gênero humano, quaisquer que sejam seus modos de adoração e suas crenças particulares, que o Espiritismo respeita, mas de que não se ocupa. Somente desta fé pode sair o verdadeiro progresso moral, porque somente ela oferece uma sanção lógica aos direitos legítimos e aos deveres; sem ela, o direito é determinado pela força; o dever, um código humano imposto pela pressão. Sem ela que é o homem? Um pouco de matéria que se dissolve, um ser efêmero que só passa; mesmo o gênio não é mais que uma chama que brilha um instante para se extinguir para sempre; não há, certamente, motivo para valorizá-lo a seus próprios olhos.

Com tal pensamento, onde estão realmente os direitos e os deveres? Qual é o objetivo do progresso? Somente essa fé fez o homem sentir sua dignidade pela perpetuidade da progressão de seu ser, não em um porvir mesquinho e circunscrito à persona-lidade, mas grandioso e esplêndido: esse pensamento o eleva acima da Terra; ele se sente crescer sonhando que possui sua parte no universo; que esse universo é seu domínio que ele poderá percorrer um dia, e que a morte não fará dele uma nulidade, ou um ser inútil a si mesmo e aos outros.

O progresso intelectual, realizado até este dia nas mais largas proporções, é um grande passo, e marca uma primeira fase da Humanidade; mas sozinho é impotente para regenerá-la; enquanto o homem estiver dominado pelo orgulho e o egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos para proveito de suas paixões e de seus interesses pessoais; por isso que os aplica no aperfeiçoamento de meios de prejudicar os outros e de se destruir entre si.

SOMENTE O PROGRESSO MORAL PODE ASSEGURAR AOS HOMENS A FELICIDADE NA TERRA, COLOCANDO UM FREIO ÀS PAIXÕES MÁS; SOMENTE ELE PODE FAZER REINAR ENTRE OS HOMENS A CONCÓRDIA, A PAZ, A FRATERNIDADE. É ele que derrubará as barreiras entre os povos, que fará cair os preconceitos de casta e calar os antagonismos de seitas, ensinando os homens a se considerarem irmãos chamados a se auxiliarem mutuamente e não a viver à custa uns dos outros. Será ainda o progresso moral, secundado aqui pelo progresso da inteligência, que reunirá os homens numa mesma crença estabelecida sobre as verdades eternas, não sujeitas a controvérsias e, por isso mesmo, aceita por todos.


A unidade de crença será o laço mais forte, o fundamento mais sólido da fraternidade universal, ferida desde todos os tempos pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem ver no próximo inimigos a serem evitados, combatidos, exterminados, em vez de irmãos a serem amados

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Rivail e Kardec



Sobre Rivail e Kardec:

Para melhor compreensão de alguns aspectos, preferimos dividi-la em duas fases distintas: a primeira em que, desde o seu nascimento até a idade dos 50 anos, foi conhecido por Hippolyte Léon Denizard Rivail; e a segunda, quando se tornou espírita e passou a assinar Allan Kardec.

1ª fase:
Nasce em Lyon (França), a 3 de outubro de 1804 de Hippolyte Léon Denizard Rivail.
Iniciou seus estudos na escola de Pestalozzi (em Yverdun, Suiça). A educação transmitida por Pestalozzi marcou profundamente a vida futura do jovem Rivail.
Tornou-se educador e entusiasta do ensino, tendo sido várias vezes convidado por Pestalozzi para assumir a direção da escola, na sua ausência. Durante 30 anos (de 1824 a 1854), dedicou-se inteiramente ao ensino e foi autor de várias obras didáticas, que em muito contribuíram para o progresso de educação, naquela época.

2ª fase:
Em 1855, o prof. Rivail depara, pela primeira vez, com o “fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam, em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida”.
Passa então a observar estes fenômenos; pesquisa-os cuidadosamente, graças ao seu espírito de investigação, que sempre lhe fora peculiar, não elabora qualquer teoria pré-concebida, mas insiste na descoberta das causas.
Aplica a estes fenômenos o método experimental com o qual já estava familiarizado na função de educador; e, partindo dos efeitos, remonta às causas e reconhece a autenticidade daqueles fenômenos.
Convenceu-se da existência dos espíritos e de sua comunicação com os homens.
Grande transformação se opera na vida do prof. Rivail: convencido de sua condição de espírito encarnado, adota um nome já usado em existência anterior, no tempo dos druidas: Allan Kardec.
De 1855 a 1869, consagrou sua existência ao Espiritismo; sob a assistência dos Espíritos Superiores, representados pelo Espírito da Verdade, estabelece as bases da Codificação Espírita, em seu tríplice aspecto: Filosófico, Científico e Religioso.
Além das obras básicas da Codificação(Pentateuco Kardequiano), contribuiu com outros livros básicos de iniciação doutrinária, como: O que é o Espiritismo, O Espiritismo na sua mais simples expressão, Instruções práticas sobre as manifestações espíritas e Obras Póstumas.
A estas obras junta-se a Revista Espírita, “jornal” de estudos psicológicos, lançado a 1º de janeiro de 1858 e que esteve sob sua direção por 12 anos.
É também de sua iniciativa a fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1º de abril de 1858 - primeira instituição regularmente constituída com o objetivo de promover estudos que favorecessem o progresso do Espiritismo.
Assim surgiu o Espiritismo: com a ação dos Espíritos Superiores, apoiados na maturidade moral e cultural de Allan Kardec, no papel de codificador.
Com a máxima “Fora da caridade não há salvação”, procura ressaltar a igualdade entre os homens, perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a benevolência mútua.
E a este princípio cabe juntar outro: “Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face à face, em todas as épocas da humanidade”. Esclarece Allan Kardec:

“A fé raciocinada que se apóia nos fatos e na lógica, não deixa qualquer obscuridade: crê-se, porque se tem certeza e só se está certo, quando se compreendeu”.
Denominado “o bom senso encarnado” pelo célebre astrônomo Camille Flammarion, Allan Kardec desencarnou aos 65 anos, a 31 de março de 1869.
Em seu túmulo, no cemitério de Père Lachaise (Paris), uma inscrição sintetiza a concepção evolucionista da Doutrina Espírita: “Nascer, Morrer, Renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei

Deus na Natureza


Clássico do Espiritismo e a sua obra-prima, nele Camille Flammarion apóia-se nos princípios da natureza para demonstrar a existência de Deus. (ano de lançamento 1866)

O prisma através do qual nos permitimos concluir a nossa demonstração geral é antes síntese que peroração; e se é verdade que a Ciência e a Poesia estão intimamente associadas na contemplação da Natureza, não podemos, judiciosamente, impedir o sentimento poético de se manifestar nestas últimas impressões que o panorama do mundo nos sugere.

Apenas, necessário fôra nos consagrássemos, agora, a um estudo especial da causa divina, visto que por essa causa temos combatido de início, neste longo arrazoado, e todas as conclusões atingiram esse alvo supremo. Contudo, vale enfechá-las numa conclusão geral. Assim como o naturalista, o botânico, o geômetra, o lavrador, o operário ou o poeta, depois de examinar as particularidades de uma paisagem e galgar a colina de cujo cimo se abrange os pontos estudados, volta-se por contemplar de conjunto a distribuição, o plano e a beleza do panorama, assim também, após o estudo particularizado das leis da matéria e da vida, apraz-nos a ele voltar e calmamente admirá-lo.

Aos olhos da alma apraz embevecer-se na radiação celeste, que inunda toda a Natureza. Aqui, já não é a discussão, mas a contemplação recolhida da luz e da vida resplandecentes na atmosfera, que brilham no cromatismo das flores e refulgem nos seus matizes; que circulam na folhagem dos bosques e envolvem num beijo universal os inumeráveis seres palpitantes no seio da Natureza. Depois da potência, da sabedoria, da inteligência, é a bondade inefável o que se faz sentir; é a universal ternura de um ser misterioso sempre, fazendo sucederem-se na superfície do globo as formas inumeráveis de uma vida que se perpetua por amor, e que jamais se extingue.

A correlação das forças físicas nos mostrou a unidade de Deus, sob todas as formas transitórias do movimento. Pela síntese, o espírito se eleva à noção de uma lei única -- lei e fonça universais, que valem por expressão ativa do pensamento divino. Luz, calor, eletricidade, magnetismo, atração, afinidade, vida vegetal, instinto, inteligência, tudo deriva de Deus. O sentimento do belo, a estesia das ciências, a harmonia matemática, a geometria, iluminam essas forças múltiplas e lhes dão o perfume do ideal. Seja qual for o prisma pelo qual o pensador observe a Natureza, encontra uma trilha conducente a Deus - força viva, cujas palpitações, através de todas as formas, ele as sentirá no estremecer da sensitiva, como no canto matinal dos passarinhos.
Tudo é número, correspondência, harmonia, revelação de uma causa inteligente, agindo universal e eternamente.

Deus não é, pois, como dizia Lutero, "um quadro vazio, sem outra inscrição além da que lhe apomos". Deus é, ao contrário, a força inteligente, universal e invisível, que constrói sem cessar a obra da Natureza. E' sentindo-lhe a presença eterna que compreendemos as palavras de Leibnitz: "há metafísica, geometria e moral por toda a parte - bem como o velho aforismo de Platão, que poderemos assim traduzir: Deus é o geômetra que opera eternamente.

E' fora dos tumultos da sociedade mundana, é no silêncio das profundas meditações que a alma pode rever-se, em face da glória do invisível, manifestada pelo visível.

E' nessa visualização da presença de Deus na Terra, que a alma se eleva à noção do verdadeiro. O ruído longínquo do oceano, a paisagem solitária, as águas cujos murmúrios valem sorrisos, o sono das florestas entre cortado de anseios, suspirosas, a altivez impassível das montanhas, tudo abrangendo de alto, são manifestações sensíveis da força que vela no âmago de todas as coisas. Abandonei-me, algumas vezes, a contemplar-vos, ó esplendores vívidos da Natureza! e sempre vos senti envoltos e banhados de inefável poesia! Quando meu espírito se deixava seduzir pela magia da vossa beleza, ouvia acordes desconhecidos escapando-se do vosso concerto.