quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

FESTA DE NATAL - REVISTA ESPIRITA JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS - Allan Kardec

 FESTA DE NATAL.

(Sociedade Espírita de Tours, 24 de dezembro de 1862. - Médium, Sr. N...)

Esta noite que, no mundo cristão, se festeja o Nascimento do Menino Jesus; mas vós, meus irmãos, deveis também vos rejubilar e festejar o nascimento da nova Doutrina Espírita. Vê-la-eis crescer como essa criança; virá, como ela, esclarecer os homens e lhes mostrar o caminho que devem percorrer. Logo vereis os reis, como os magos, virem, eles mesmos, pedir a esta Doutrina os recursos que não encontram mais nas ideias antigas.

Não vos trarão mais o incenso e a mirra, mas se prosternarão de coração diante das ideias novas do Espiritismo. Não vedes já brilhar a estrela que deve guiá-los? Coragem, pois, meus irmãos; coragem, e logo podereis com o mundo inteiro celebrar a grande festa da regeneração da Humanidade.

Meus irmãos, por muito tempo guardastes em vosso coração o germe dessa doutrina; mas hoje eis que ele aparece à luz com o apoio de um tutor solidamente plantado e que não deixará curvar seus fracos ramos; com esse apoio providencial, crescerá dia a dia e se tornará a árvore da criação divina.

Dessa árvore recolhereis frutos que não conservareis só para vós, mas para vossos irmãos que terão fome e sede da fé sagrada. Oh! então, apresentai-lhes esse fruto, e exclamai do fundo do vosso coração: "Vinde, vinde partilhar conosco o que alimenta o nosso espírito e alivia as nossas dores físicas e morais."

Mas não esqueçais, meus irmãos, que Deus vos fez levantar o primeiro germe; e esse germe cresceu e se tornou já uma árvore própria para dar seu fruto.

Restar-vos-á alguma coisa, são esses caules que podereis transplantar; mas antes, vede se o terreno ao qual confiais esse germe não esconde, sob seu leito aparente algum verme roedor que poderia devorar o que vos confiou o Mestre.

Assinado: SÃO LUÍS. (Revista Espírita 1863 – AK)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Diretores, trabalhadores e frequentadores da Sociedade Espírita Caminho da Paz reunidos em Confraternização anual 2014

Com a presença de todos diretores, de trabalhadores e frequentadores, a Família Caminho da Paz realizou no dia 03 de dezembro a Confraternização 2014. Entre os trabalhadores, tivemos a oportunidade de ter além de seus fundadores, a presença de Melo e família na foto abaixo junto com Sinval. Melo estava sempre realizando estudos e palestras no tempo em que a Sociedade Espírita Caminho da Paz funcionava na garagem da casa de Agripino, a partir de 1996. 
Neste evento foram destacados alguns momentos marcantes de nossa casa (alias, todos são marcantes), onde analisamos a nova geração em curso e também a chegada de novos colaboradores e frequentadores e futuros trabalhadores. Alguns depoimentos emocionantes como de Melo e Sr. João.





















domingo, 30 de novembro de 2014

Fascinação Obsessiva: O narcisismo

Conforme Allan Kardec a Obsessão é o domínio que alguns espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. Nunca é praticado senão por espíritos inferiores que procuram dominar o obsediado. É a ação persistente que um espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais.

Com Joanna de Ângelis (espírito) a obsessão é - Distúrbio espiritual de longo curso, a obsessão procede dos painéis íntimos do homem, exteriorizando-se de diversos modos, com graves consequências, em forma de distonias mentais, emocionais e desequilíbrios fisiológicos.
Inerentes à individualidade que lhe padece o constrangimento, suas causas se originam no passado culposo, em cuja vivência o homem, desatrelado dos controles morais, arbitrariamente se permitiu consumir por deslizes e abusos de toda ordem, com o comprometimento das reservas de previdência e tirocínio racional.

Amores exacerbados, ódios incoercíveis, dominação absolutista, fanatismo injustificável, avareza incontrolável, morbidez ciumenta, abusos do direito como da força, má distribuição de valores e recursos financeiros, aquisição indigna da posse transitória, paixões políticas e guerreiras, ganância em relação aos bens perecíveis, orgulho e presunção, egoísmo nas suas múltiplas facetas são as fontes geratrizes desse funesto condutor de homens, que não cessa de atirá-los nos resvaladouros da loucura, das enfermidades portadoras de síndromes desconhecidas e perturbantes do suicídio direto ou indireto que traz novos agravamentos àquele que se lhe submete, inerme, à ação destrutiva.

Nos três momentos da obsessão, destacamos um que tem afetado muito: "A fascinação," que significa ação de fascinar, atrai, cativar, encantamento, enlevo, feitiço, ilusão e o mais preocupante atualmente: DESLUMBRAMENTO.  

Analisando deslumbramento, destaque para embaçamento da vista que pode ser causado pela exposição da luz (narcisismo) ou seja, a pessoa está encantada, que sente admiração excessiva.

Manoel P. de Miranda através da psicografia de Divaldo Franco em 19/07/1977, alerta para o problema na mensagem NARCISISMO, na qual destacamos alguns trechos para leitura e reflexões íntimas.
1.    O narcisismo é desvio de comportamento que perturba o ser humano colhido pelos conflitos que não consegue diluir. Também pode ser resultado de alguma frustração que leva o paciente ao retorno ao período infantil.
2.    Auto apaixonando-se, o narcisista se atribui valores e direitos que a outrem não concede, tornando-se o epicentro dos próprios e dos interesses gerais.
3.    À medida que se lhe agrava o distúrbio, aliena-se do convício social saudável, acreditando que não tem muito a lucrar com a atenção e os cuidados que poderia direcionar às outras pessoas.
4.    Esse comportamento, às vezes, é sutil, agravando-se na razão que se lhe fixam no imo a presunção, a ausência de autocrítica, embora a severidade com que analise a conduta alheia, utilizando-se de palavras ásperas e julgamento severo como transferência daquilo de que inconscientemente se faz merecedor.

Uma questão que merece ser analisado no momento é que denominamos de “narcisismo digital”. Será que estamos vivendo na atualidade este fascínio?

“O homem não raramente é obsessor de si mesmo. Alguns estados doentios e certas aberrações que se lançam à conta de uma causa oculta, derivam do Espírito do próprio individuo. São doentes de alma”.

- Allan Kardec

terça-feira, 18 de novembro de 2014

RESPONSABILIDADE MEDIÚNICA - Estudos sobre Diversidade dos Carismas - Hermínio Miranda




Muitos acham bonito ser médium e veem os médiuns envoltos numa auréola de prestígio e de energia. Há médiuns que não apenas gostam disso, mas até estimulam admirações boquiabertas, como se fossem verdadeiros gurus. É inevitável que a mediunidade exercida com segurança, conhecimento, responsabilidade, humildade é, de fato, coisa admirável de se observar em operação, seja pela qualidade dos fenômenos, seja pela limpidez das comunicações escritas ou faladas. Não é uma beleza ler um soneto de Bilac ou um poema de Castro Alves que acaba de ser recebido pelas mãos de um Chico Xavier? Ou um livro como Memórias de um Suicida, pela Yvonne Pereira? Claro que é. É também emocionante assistir um atleta bater um recorde mundial, a um virtuoso do piano ou do violino, uma bela sonata, mas poucos são os que pensam nos anos e anos de disciplina e renúncia, de estudo e aplicação que estão por trás de tais desempenhos.

Mediunidade é dom inato, mas, como qualquer outra faculdade, pode (e precisa) ser desenvolvida e treinada. O bom corredor nasce com pernas fortes e longas, bom sistema respiratório, coração resistente, mas não nasce corredor; ele precisa fazer-se, e só o consegue quando se aplica com dedicação ao desenvolvimento de suas metas. O médium em potencial não pode fazer por menos, se é que deseja chegar a dominar a sua instrumentação, ao invés de cedê-la aos espíritos, ao mesmo tempo que mantém sobre ela sua atenta vigilância. Isto se aprende, se cultiva e se exerce.

Desejo, a seguir, demonstrar, ao vivo, o que entendo por um médium responsável que, longe de entregar-se, às cegas, ao exercício da mediunidade, procura estudá-la, observá-la, esmiuçá-la nas suas mais sutis características a fim de orientar-se devidamente, com um mínimo de riscos, pelos seus meandros, segredos e mistérios. Transcrevo, para isso, o depoimento escrito ao meu pedido, por esse médium.

"Se a psicografia apresenta variantes na sua mecânica" - escreve ele - "a psicofonia, muito mais”. O problema começa com a palavra incorporação, de vez que incorporar significa 'dar forma corpórea, juntar num só corpo, dar unidade, introduzir, embeber, entrar a fazer parte, juntar-se', entre outras conotações que encontramos no Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda. Por isso, muita gente acha que o espírito comunicante 'entra' no médium para falar ou agir. A palavra, portanto, não está bem empregada. O que acontece, então, na chamada incorporação?
"Segundo informações de que dispomos, vindas de amigos espirituais e orientadores (Silver Birch é um deles), e da minha própria experiência, as coisas se passam da seguinte maneira”:

"A entidade comunicante aproxima-se do aparelho mediúnico e as duas auras - a dele e a do instrumento - se unem e, então, a entidade passa a comandar os centros nervosos do aparelho. Esse controle é exercido, obviamente, através do cérebro físico do médium, via perispírito, já que o espírito manifestante não pode comandar diretamente um corpo que não é o seu”.

"O que acontece, portanto, é que o espírito do médium cede o controle parcial do corpo, ao qual está ligado e pelo qual é responsável, ao comunicante que, através do seu próprio perispírito, assume tais controles, enquanto o perispírito do médium se coloca ao lado. É, pelo menos, o tipo de 'incorporação' que ocorre comigo.

"Agora, vejamos bem: o espírito do médium não perde sua autonomia tem sua autoridade e soberania sobre o corpo emprestado à outra individualidade que o manipula. O corpo é de sua inteira responsabilidade e somente através de seu perispírito pode a entidade desencarnada atuar sobre o mesmo. O espírito do médium empresta sua aparelhagem física, mas continua dono dela, vigilante, de olho o tempo todo para certificar-se de que nada lhe aconteça. Tanto é assim que, se julgar necessário, poderá interromper a comunicação a qualquer momento. Não há, a rigor, mediunidade inconsciente. O espírito está sempre consciente e atento. A diferença está em que a consciência não se expressa pelo cérebro físico (que, naquele momento, está sendo manipulado por uma mente estranha), mas sim no perispírito do médium, usualmente desdobrado e presente, à curta distância. Por isso se torna difícil ao médium registrar a comunicação transmitida por intermédio do seu cérebro físico, mas gerada por outra mente que não a sua. Ao retornar ao corpo, ele encontra vagas impressões do que por ali flui, vindo da mente do espírito comunicante. Coisa semelhante acontece com o sonho, do qual nem sempre podemos nos lembrar, porque as atividades desenvolvidas pelo sonhador não ficaram registradas no cérebro físico, e sim na sua contraparte espiritual. Isso não quer dizer que a pessoa ficou inconsciente enquanto sonhava. Apenas não guardou a lembrança do que aconteceu e pensou:

"Isto se dá com certos tipos de mediunidades (como é o meu caso). Observe-se, contudo, que, quando digo passividade, não quero dizer inatividade e sim entrega vigiada, cessão, empréstimo temporário.

"Sei, por informação de companheiros, também médiuns, que a psicofonia pode assumir características outras, bem diferentes da minha”. Em alguns deles, depreendo que a comunicação ocorre em nível mental, isto é, o médium 'ouve' antes o que o espírito tem a dizer, podendo, assim, interferir diretamente na comunicação dizendo muitas vezes o que ele, médium, quer e ache o que deva dizer, e não exatamente aquilo que ouviu do espírito. Nesses casos o médium cerceia a liberdade do comunicante, censurando e modificando a comunicação, quando e onde achar conveniente, a seu inteiro arbítrio.

"Há médiuns nos quais a comunicação vai se formando palavra por palavra embora inaudíveis, alinhando-se em frases que, lentamente, vão sendo comunicadas" .

Fecho, neste ponto, a citação. E a comento de maneira sumária.

Em primeiro lugar, a técnica do processo que, segundo Kardec, se promove pela "mistura dos fluidos" perispirituais do manifestante com os médium. Em seguida, a nítida definição de atribuições, responsabilidade e limitações e, finalmente, o fato de que, como vimos há pouco, em Kardec o médium audiente não deve ser confundido com o psicofônico. Um repete que ouve, o outro empresta seu corpo para que o próprio manifestante fale por ele, manipulando centros que comandam a fala. Num caso, há (ou pode haver censura prévia, uma interferência deliberada e voluntária do médium no teor da comunicação. No outro, a censura também pode (e deve) ocorrer, mas pelo processo de seleção direta de palavras mas por um bloqueio psicológico e mais sutil. Diríamos que, no primeiro caso, é uma peneiragem, no segundo o processo é de filtragem. Em ambos o médium dispõe de recursos para policiar o que flui através da sua instrumentação.

A interpenetração de fluidos a que alude Kardec, ocorre, segundo Boddington, quando a aura do médium e a do espírito se tocam - conceito semelhante ao formulado por Regina, que diz que "as auras se unem". Em verdade, a aura é uma extensão do perispírito, irradiando-se até uma distância de alguns centímetros além dos limites do corpo físico encarnado. No seu excelente livro The Human Aura, hoje injustamente esquecido, o dr. Killner estuda com minúcias a aura, os fenômenos que produz e as modificações que apresenta, em conjunção com as eventuais disfunções orgânicas da pessoa.

Escreve Boddington:
É fato bem estabelecido que, a não ser que o magnetismo se misture harmoniosamente com o dos sensitivos, eles não podem fazer sentir suas presenças. (Boddington. Harry. 1948).
Mais adiante em seu livro, Boddington volta ao assunto. Aliás, a aura é um de seus temas prediletos, a julgar pelas inúmeras referências esparsas, além de um capítulo especialmente dedicado ao assunto na sua obra University of spiritualism. Acha ele que até o tipo da mediunidade é determinado pela qualidade específica da aura e esta, pelo tipo psicológico do indivíduo, bem como por suas emoções. Vejamos:
Indivíduos sujeitos a estados de transe profundo são as pessoas mais práticas e objetivas, sem a menor ambição por se projetarem dessa maneira, O transe inconsciente ocorre com menor frequencia àqueles que pensam rápido e que, aparentemente, não possuem a qualidade especial de aura através da qual o estado de transe se torne possível. (Idem)
Isto faz sentido, quando nos lembramos de que certas faculdades mediúnicas acham-se conjugadas com outras tantas disposições orgânicas, como os médiuns de efeitos físicos (cura, materialização, transporte, etc.), são os que têm condições de produzir e movimentar maiores quantidades de ectoplasma.


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Estudos sobre o livro "Diversidade dos Carismas" - de Hermínio C. Miranda – Alguns Extratos



Paulo de Tarso: «Há diversidade de carismas, mas o espírito é o mesmo (I Co 12,4).

Não há como negar que o maior interessado no estudo da mediunidade é o próprio médium […]

1.    A mediunidade não é uma doença, nem indício de desajuste mental ou emocional – é uma afinação especial de sensibilidade;

2.     […] Não é nada fácil à pessoa que descobre em si os primeiros sinais de mediunidade encontrar acesso ao território onde as suas faculdades possam ser entendidas, identificadas, treinadas e, finalmente, praticadas com proveito para todos. O médium precisa de recolhimento para o exercício de suas atividades, mas não deve ser um trabalhador solitário. Ele necessita de todo um sistema de apoio;

3.     […] Peça decisiva nesse contexto é o grupo incumbido de trabalhar mais diretamente junto dele. Exige-se dessas pessoas não apenas um bom preparo doutrinário e experiência, como outros atributos, de maturidade e sensibilidade, que lhes permitam posicionar-se como amigos e companheiros de trabalho e não como chefes, mestres, gurus ou proprietários do médium.

Em Reflexões sobre a humildade diz o autor, entre citações de Allan Kardec e Boddington (livro ainda não traduzido para o português), que a «mediunidade equilibrada e funcional resulta de esforço, cultivo, aprimoramento não apenas da faculdade em si, mas do carácter e comportamento da pessoa. Em outras palavras: é o resultado de um trabalho consciente, às vezes longo, monótono, cansativo e sem brilho a que muitos aspiram. Não é também para ser forçada
1.    […] Qualquer que seja, porém, o tipo de mediunidade em desenvolvimento, é preciso que o médium em formação promova um severo e honesto auto exame, a fim de identificar em que aspectos de comportamento precisa mudar e que eventuais virtudes ou qualidades pessoais devem e podem ser revigoradas. E para isso também uma boa dosagem de humildade será de vital importância.

Sobre psicosfera refere-se que «Regina (personagem básica do livro) é particularmente sensível à psicosfera das cidades e, dentro destas, de determinados locais, fenómeno que faz lembrar o que denominamos alhures de psicometria ambiental. Cada cidade tem, a seu ver, uma espécie de aura vibratória específica mais pura ou mais poluída, segundo as correntes de pensamento nelas dominantes […] Certos locais se apresentam, à sua sensibilidade, particularmente aflitivos»

E sobre o tema da aura escreve: Essa borda perispiritual que se irradia para o exterior e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera é a aura […] para configurar a importância da aura no ser humano […] a radioscopia da nossa intimidade física e espiritual para aqueles que têm os olhos de ver de que nos falou Jesus» (posteriormente vamos editar mais detalhes do livro sobre este tema)


Em Canais de comunicação há a seguinte informação: «Contemplado em estado de repouso, o disco de Newton apresenta, distintamente, as suas sete cores fundamentais. Levado, porém, a uma velocidade específica, as cores como que se fundem numa só e ele se apresenta totalmente branco. Não que as cores componentes deixassem de existir no disco, mas a vista do observador é que, incapaz de acompanhar a velocidade do disco, percebe apenas a tonalidade resultante […] Quando duas entidades evoluídas se comunicam no mesmo nível de frequência mental, o pensamento é um todo e, ao mesmo tempo, constituído de partes que o integram

domingo, 2 de novembro de 2014

Fatores cruciais para um bom desenvolvimento mediúnico - Herminio Miranda


1- Teoria e Prática: Estudo teórico das questões pertinentes ao mediunato (quanto mais preparado o cérebro, melhor se torna o instrumento mediúnico) é de vital importância. Leitura indicada: Livro dos Médiuns e Livro dos Espíritos (ambos de Allan Kardec). Note-se que é recomendado o estudo aprofundado/ sistemático e não uma simples leitura.

2- Definições e Decisões: Mediunidade é uma faculdade natural, que se descobre, identifica e se aprende a utilizar para que dela se faça bom uso. Para tanto é fundamental a disponibilidade para a adoção de disciplina pessoal (mental e de comportamento), a qual possibilite a aproximação de verdadeiros amigos espirituais. Ela é um instrumento de trabalho e não de gozo pessoal; é para servir. O médium deve ter bem claro que se trata de uma responsabilidade e compromisso, a qual lhe exigirá dedicação, cultivo e sacrifício.

3- Reflexões sobre a Humildade: O médium deve ter humildade para realizar constante auto-exame a fim de identificar atitudes e pensamentos que deve mudar e os que deve manter e reforçar. Deve reconhecer também que é preciso haver disciplina, tempo e lugares certos para o exercício do trabalho mediúnico. Sua humildade também é necessária na aceitação de que sua tarefa não obedece a suas escolhas e preferências pessoais e que sua mediunidade, se esse for realmente o seu caminho, também não será aquela a que ele tiver mais simpatia; em suma, deve estar preparado para aceitar que tipo de contribuição efetivamente pode dar e sentir-se grato por ela.

4- Mediunidade como Trabalho de Equipe: A faculdade mediúnica não se destina ao uso pessoal e exclusivo, mas para servir ao próximo. Além disso, o trabalho em grupo também é ferramenta para se evitar mistificações, uma vez que o grupo viabiliza trocas, onde se debate o teor das comunicações bem como o comportamento mediúnico e, através do exercício ordenado da mediunidade, possibilita uma maior atenção, harmonização e vigilância.

5- Riscos e Desvios: O exercício inadequado da mediunidade é quando ela é canalizada para a promoção pessoal desse ou daquele médium, desta ou daquela instituição. Na prática, normalmente isso leva a cobranças pelos serviços que deveriam ser ofertados voluntariamente ou ao endeusamento de um ou mais médiuns, aviltando suas vaidades e promovendo, ao invés do bem estar dos irmãos necessitados, a fascinação e a realização de verdadeiros shows, desvirtuando dessa forma a real essência da mediunidade.

6- O Médium e a Crítica: A crítica é necessária ao aperfeiçoamento do nosso trabalho, das nossas faculdades e de nós mesmos como seres humanos. O médium deve ser receptivo ao seu grupo de trabalho, não só depositando confiança para entregar-se ao trabalho, como também para debater seus resultados a fim de realizar correções e ajustes que visem o aperfeiçoamento de sua mediunidade. É necessário, portanto, ser receptivo às críticas que lhe são feitas por pessoas mais experientes e de maior conhecimento, ao mesmo tempo em que deve precaver-se com relação a crítica exagerada e, principalmente, a injusta, para que não venha a sufocar suas faculdades nascentes ou criar inibições insuperáveis devido a insegurança e desconfiança. É preciso também atentar para o contrário, ou seja, tomar cuidado com elogios bajuladores que poderiam indevidamente levá-lo a crer-se na categoria dos semi-deuses.

7- Crítica e Autocrítica: O autor nos orienta sobre como identificar as críticas construtivas e fundamentadas, bem como distinguir entre as palavras de estímulo e elogios bajuladores. Informa-nos que, para tanto, é imprescindível o estudo para sermos capazes de discernir aquilo que está de acordo com a doutrina espírita. Além disso, deve-se avaliar a própria conduta, ou seja, se está havendo cumprimento dos compromissos profissionais e pessoais, se está cuidando para desenvolver uma moral mais elevada no seu comportamento diário, se não se está cultivando vícios, se tem se dedicado ao exercício da prece com regularidade, etc.

8- O Crivo da Razão: É o bom senso aliado ao espírito crítico, na verificação da autenticidade e da natureza das manifestações mediúnicas. O autor alerta para a sedução que alguns espíritos de natureza infeiror exercem sobre médiuns e outras pessoas; são espíritos que querem impressionar através de fenômenos de pequena monta, revelações e elogios, para assim conquistar a confiança e a partir daí começam a impor regras e rituais, criando uma situação de cumplicidade que melhor seria definida como de dependência.

9- Excessos da Autocritica: A atitude crítica deve ser reservada para os resultados somente e não para bloquear o processo em si. O médium deve manter a livre circulação de idéias para dar espaço ao fenômeno mediúnico. Somente se os resultados forem verdadeiramente insatisfatórios, deve-se repassar os fatores envolvidos na instrumentação mediúnica, identificar o ponto defeituoso e efetuar as devidas correções. Além disso, o médium deve manter uma postura saudável de auto-confiança, mantendo o equilíbrio entre os dois (confiança e crítica vigilantes).

10- O Trabalho Mediúnico no Centro Espírita: Selecionar um bom grupo que se possa frequentar com regularidade e no qual encontre apoio, orientação e espaço para trabalhar, além de pessoas bem preparadas (teoria e prática mediúnicas) e dispostas a auxiliar o médium em seu aperfeiçoamento com orientação segura e tratamento compreensivo. Kardec e outros autores também nos dizem que, para propiciar uma maior unidade e consequente uniformidade de ideias, o ideal é trabalhar-se com grupos pequenos de médiuns, onde a harmonia é mais facilmente conseguida.

11- Os Espíritos são Gente: "Os espíritos não são brinquedos infantis, mas indivíduos dotados de um claro propósito na vida e que escolhem seus médiuns como a melhor instrumentação para alcançarem os objetivos que têm em mente". Acrescente-se também que, embora alguns estejam degraus acima e outros abaixo de nós, todos são seres humanos, não havendo justificativa para tratá-los como deuses e nem para tratá-los como seres desprezíveis.

12- O Médium e o Grupo: Palavras Finais: Não é tão fácil encontrar o grupo ideal e nesse caso sempre se faz necessária uma certa dose de humildade e flexibilidade. Se no entanto, as concessões forem muitas a ponto de descaracterizarem as singularidades do trabalho que as partes realizam, o médium deve procurar um outro local onde possa exercer suas faculdades. Uma observação importante, nos agrupamentos espíritas, é que a presença de um dirigente de tarefas mediúnicas consciente (e não insconsciente) é mais favorecedora para a tarefa que ele tem a desempenhar.

13- Que é Concentração? Tanto no fenômeno anímico como no mediúnico, o esforço da chamada concentração é uma das principais causas inibidoras do fenômeno. O relaxamento físico e mental é fator de primária importância para o desenvolvimento da mediunidade. Na verdade, a concentração é justamente esvaziar a mente de pensamentos e essa receptividade abre espaço para que o fenômeno, seja ele anímico ou mediúnico, se produza. Evidentemente, isso diz respeito basicamente ao fenômeno da incorporação, onde a mente tem que estar livre para deixar penetrar os pensamentos do espírito da maneira mais fiel possível.


14- De Novo a Passividade: A passividade é resultante do estado de relaxamento, entretanto, embora o médium deva ser um instrumento passivo, isso não significa inércia ou ausência de participação. A mediunidade deve, nesse sentido, ser o resultado de uma equação equilibrada entre permitir e vigiar, coibindo abusos não somente durante as manifestações em si como no discernimento do momento adequado para elas ocorrerem.

Hermínio Miranda capítulo 2 - extrato - Livro: Diversidade dos Carismas.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A procura de uma nova ordem social em que o homem não seja o lobo do homem, mas o seu irmão, é o sonho de toda a humanidade

Extratos da introdução ao Livro Socialismo e Espiritismo de Leon Denis, por Freitas Nobre.

A procura de uma nova ordem social em que o homem não seja o lobo do homem, mas o seu irmão, é o sonho de toda a humanidade. Nenhum cidadão de sentimentos firmados nos princípios do Cristianismo pode aceitar, sem uma justa reação, as disparidades sociais e econômicas que colocam fabulosas riquezas – em geral mal ganhas e mal utilizadas - ao lado de agrupamentos de párias que não têm o mínimo para sobreviver. Kardec, em Obras Póstumas, no capítulo “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, como em O Livro dos Espíritos, destaca: “Risquem-se das leis e das instituições, das religiões e da educação, os últimos restos da barbárie e os privilégios; destruam-se por completo todas as causas que dão vida e desenvolvimento a estes eternos obstáculos do verdadeiro progresso e que, por assim dizer, aspiramos por todos os povos na atmosfera social, e então os homens compreenderão os deveres e benefícios da fraternidade, e a liberdade e igualdade se estabelecerão por si mesmas de qualquer forma”. Estava Kardec seguro de que chegaremos a essa fase de justiça social com liberdade e igualdade e, ainda em Obras Póstumas, pode orientar para que a alcancemos, afirmando: “a aspiração do homem para uma ordem de coisas melhor que a atual é um indício certo da possibilidade de que chegará a ela. Cabe, pois, aos homens amantes do progresso ativar esse movimento pelo estudo e a prática dos meios julgados mais eficazes”. Essa compreensão das mudanças de estrutura e da própria ordem social está profundamente comprometida com o conteúdo da doutrina espírita, que se baseia na justiça da reencarnação, mas que atribui ao ser humano a tarefa fraterna de auxiliar o irmão, procurando eliminar as diferenças através de uma prática social que permita ao homem auxiliar o semelhante necessitado com os bens que possua

Os dogmas que envelheceram reclamam uma outra vivência e, por isso, a revolução que representou o Cristianismo, abalando os alicerces do poderio romano na palavra meiga do Nazareno, tem o mesmo sentido da revolução que o Espiritismo prega, visando a destruição do egoísmo e levando os homens à convicção de que nada possuem de seu, pois que são meros depositários dos bens materiais e simples usufrutuários da riqueza. Desse depósito e desse usufruto haverão de dar conta na sucessão das reencarnações. Não havia violência na pregação de Jesus, embora Ele fosse claro e preciso com referência à riqueza, toda vez que lhe era propiciada uma oportunidade de manifestar-se. E os apóstolos seguiram-lhe os passos. A própria Igreja Católica procura atualizar-se socialmente, como se fizesse uma autocrítica na procura do Cristianismo primitivo. Tem, no entanto, dificuldades intransponíveis, porque a estrutura conservadora de muitos séculos é uma séria barreira ao encontro da via socialista para diminuir as desigualdades flagrantes e as injustiças sedimentadas pela ordem social vigente. O problema, porém,  não estava apenas em diagnosticar as raízes da miséria e em condenar a voracidade do capitalismo, mas em procurar os caminhos para essa justiça social que foi banida do planeta. Aí, as dificuldades se acumularam e a Igreja não passava do diagnóstico... A conversão cristã teria que vir com a revisão de Zaqueu, no encontro com Jesus, anulando as injustiças praticadas com a restituição dos bens e a dispensa dos privilégios que mantinha. Enquanto a conversão de Zaqueu não se amplia com a repetição do gesto, a ordem estabelecida fica intocável e o comprometimento com as iniquidades sociais e com as estruturas sedimentadas é reafirmado a cada momento. Não foi uma advertência vã a de Jesus ao moço rico que pretendia segui-lo e ao qual recomendou que deixasse seus bens, nem a observação quanto ao óbolo da viúva que dera tão pouco e no entanto fora a dádiva maior, porque enquanto outros ofertaram do que lhes sobrava, ela doara do que lhe fazia falta. Não foi, também, sem razão que as lições se repetiram, demonstrando que a riqueza deveria estar a serviço da comunidade de tal maneira que o mau uso da propriedade poderia significar maiores empecilhos para alcançar o Reino dos Céus. “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus” (Mateus 19:24) No Deuteronômio (15,4) está o clamor para que não haja lugar para a pobreza, com a condenação dos lucros e juros, no Levítico (25, 35, 38) ou a condenação de exploração do homem (Levítico, 19:13). As lições do Cristianismo primitivo estão vivas, renascendo nos princípios da doutrina espírita que eclodiu praticamente com a revolução industrial na Europa.

A substituição de um sistema social por outro não foi a solução, porque o que se faz necessário é uma ordem social baseada na fraternidade e no amor ao semelhante. As próprias nações ricas luxam à custa da miséria do denominado terceiro mundo, fornecedor de matérias-primas, mergulhado num alarmante índice de mortalidade infantil, fornecendo uma mão-de-obra aviltada numa atmosfera de doenças, de miséria e de fome, onde o homem não se diferencia do animal no tratamento que recebe. Por isso mesmo, Kardec pôde comparar as nações aos homens quando advertiu que se elas seguissem o preceito de não fazer às demais o que não desejassem que lhes fizessem, o mundo viveria sob o signo da paz e do progresso. “Vencido o egoísmo, será mais fácil extirpar as outras paixões que corroem o coração humano”, lembra Léon Denis. De fato, o nosso edifício social a ser construído pelo Socialismo pode não excluir todas as iniquidades, porque a condição humana não é de perfeição, mas, sem dúvida, significará muito na edificação de uma sociedade menos injusta. A constatação dessas iniquidades não é feita apenas pelos espíritas que pregam uma ordem social mais cristã. A iníqua repartição das rendas vem propiciando um perigoso afrontamento das classes sociais. A posse dos meios de produção concentra-se nas mãos de grupos poderosos ou do Estado, ao mesmo tempo em que se acelera a desnacionalização das economias nacionais, pelo domínio crescente das multinacionais”.

A revolução que significa o Espiritismo é mais profunda, porque penetra as bases do comportamento humano e implica uma revisão de princípios morais, sem o que a revisão jurídica, econômica e social não seria alcançada com eficácia.

Duas partes distintas: o Estado dos pobres e o dos ricos, que se digladiam”. O Espiritismo, embora compreenda e explique certos fenômenos sociais e econômicos através da lei da reencarnação, tem que ser eminentemente revolucionário no sentido de reivindicar as mudanças da estrutura da sociedade, combatendo a concentração da riqueza e a ausência de fraternidade que significam a manutenção dos privilégios e dos excessos no uso dos bens. Jesus, filho de artesãos, ensinando pelo próprio nascimento a grande lição evangélica dos simples e o amor pelos pobres, foi um revolucionário por excelência, mas não se transformou num caudilho a serviço de grupos ou partidos, porque sua missão transcendia as misérias do império romano e não podia, por isso mesmo, perder-se no labirinto das paixões políticas e das artimanhas da burocracia da administração. 

A vida de Jesus e dos apóstolos ao lado da população cristã de Jerusalém era a demonstração prática e real dos ensinamentos que pregavam a fraternidade e a vida comunitária. É evidente que os tempos são outros e que com o progresso técnico e científico, com a revolução industrial e as mudanças sensíveis na forma de vida e de convívio social, não se poderia reproduzir a mesma atmosfera e exigir da comunidade atual que vivesse como os apóstolos. No entanto, os princípios que fundamentavam aquela vida, ou seja, o sentido de cooperação e de auxílio, o amor pelos humildes e necessitados, a repartição dos bens com o semelhante, a predominância do sentimento sobre a ganância, do amor sobre o ódio, são imutáveis no correr dos séculos e marcam o verdadeiro sentido cristão da vida. O Espiritismo não prega novidade quando realiza o chamamento à vida simples e fraterna. Figuras inesquecíveis como São Vicente de Paulo e São Francisco de Assis, há séculos, são legendas desse amor cristão. O fundador da Ordem dos Franciscanos era filho de um rico comerciante e, no entanto, ao invés de herdar-lhe os bens e a fartura, atendeu ao chamamento de uma “voz interior”, voltando-se para os pobres. E São Vicente de Paulo teve sua biografia resumida numa frase que costumamos reproduzir pela beleza da comparação: “Nele, como em certas plantas nas quais as flores nascem antes da folhagem, a caridade nasceu antes da razão”. 

Como, no entanto, eliminar “as pragas da propriedade privada” de que falava Thomas Morus na Utopia? Como continuidade histórica do Cristianismo, o Espiritismo no seu sentido evolucionista caminhou para o encontro com os ideais socialistas e não teve dúvida em afirmar através de Kardec que “uma nova ordem de coisas tende a estabelecer-se e os mesmos que a isso se opõem com mais empenho são exatamente os que mais o ajudam, sem sabê-lo”. Mas onde estariam essas pragas da propriedade privada? Einstein, citado por Humberto Mariotti (O Homem e a Sociedade numa Nova Civilização – Edicel, São Paulo, 1967), em afirmativa constante de artigo na revista Gauche Européenne, de Paris, janeiro de 1957, apontava essas causas: “A anarquia econômica da sociedade capitalista, tal como existe hoje, constitui, a meu ver, a fonte real de todo o mal”. E prossegue Einstein: “Por uma questão de clareza, chamará doravante por trabalhadores a todos aqueles que não compartilhem da propriedade dos meios de produção, ainda que isto não corresponda ao uso normal do termo”. Para o Espiritismo, os bens são concedidos em custódia e o seu usufruto apresenta valores espirituais que são creditados aos que compreenderam que esses bens não lhes pertencem, sendo o homem mero instrumento no uso da propriedade a serviço do conjunto social.

.. É procurar a verdade e dizê-la; é não seguir a lei da mentira triunfante, e não fazer da nossa alma, da nossa boca e das nossas mãos eco dos aplausos imbecis e dos gritos fanáticos”. Reconhecemos que o capitalismo envelheceu e que muitas foram as modificações por que passou a sociedade. Assistimos ao surgimento do contrato trabalhista, eliminando o trabalho escravo – embora ainda vigente mesmo depois da abolição da escravatura –, a redução das horas de trabalho, as férias, as licenças, o descanso semanal remunerado, etc. Mas a sociedade capitalista, por sua vez, reagiu a essas conquistas e, assim, confiou à inteligência jurídica da época as medidas legais que lhe facultassem sobreviver e aí se instalaram os trustes, as multinacionais, as sociedades anônimas, os títulos de crédito, a garantia fiduciária, as fortunas móveis, que encontram tranquilo sono no segredo dos depósitos de bancos suíços, as falências que deixam os falidos mais ricos do que antes... Essas adaptações de sobrevivência justificaram afirmações como estas de Walter Lippmann e Nicholas Murray Butler, respectivamente (Walter Lippmann, A Cidade Nova, 1938, páginas 32 e 329): “O capitalismo moderno não teria podido se desenvolver se a sociedade por ações não existisse”. “A sociedade por ações foi a maior descoberta dos tempos modernos, mais preciosa que a do vapor e da eletricidade”.

 O livro de Léon Denis tem a virtude de reativar o debate em torno do Socialismo e do Espiritismo, permitindo a continuidade de uma análise que julgamos oportuna, especialmente agora quando o Partido Socialista, na França, elegendo o seu Presidente, procura, sem a violência das revoluções pelas armas, as modificações viáveis para abrir caminho ao programa de socialização gradual, democraticamente, respeitada a estrutura pluripartidária. O imposto sobre a fortuna – medida adotada pelo governo socialista da França – é já um passo importante na melhor distribuição da renda, fazendo utilizar o excesso da concentração de bens e capital em favor das camadas necessitadas e desassistidas. Afinal, a natureza nos ensina com a essência da vida, nada nos cobrando pelo ar que respiramos, pela chuva que alimenta as lavouras e mantém os rios, pela luz que nos chega todos os dias, pelo calor que o sol distribui a todos, sem indagar de origem, condição social, econômica e geográfica, exemplificando com a gratuidade de seus serviços e sem a procura de recompensa. A lição da natureza dando o seu capital sem reivindicar lucros ou vantagens, proveitos ou benefícios, é uma legenda inscrita na consciência coletiva, reclamando do homem a exemplificação da fraternidade, que está na palavra do Divino Reformador quando aconselhou fazer ao semelhante o que desejamos que ele nos faça.  

(Abril de 1982)

Freitas Nobre

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O MÉTODO DE KARDEC - J. Herculano Pires in A Pedra e o Joio



Kardec nasceu no início do século XIX, numa fase de aceleramento do processo cultural em nosso mundo. Formou-se na cultura do século, sob a orientação de Pestalozzi, o mestre por excelência. Especializou-se em Pedagogia, que podemos chamar de Ciência da Cultura, e até aos cinqüenta anos de idade exerceu intensas atividades pedagógicas, tornando-se o sucessor de Pestalozzi na Europa. Não se fez padre nem pastor, mas cientista e filósofo, na despretensão e na humildade de quem não procurava elevadas posições, mas aprimorar os seus conhecimentos. Adquiriu no estu­do, nas atividades teóricas e na prática, o mais amplo conhecimento dos problemas culturais do seu tempo.

Vivendo em Paris, considerada então como o cérebro do mundo, impôs-se ao consenso geral como homem de elevada cultura, um intelectual por excelência. Colocado num mo­mento crucial da evolução terrena, viu e viveu o drama cultural da época. E só aos 50 anos de idade, maduro e culto, deparou com o problema nodal do tempo e procurou solucioná-lo em termos culturais. Esse problema se resumia no seguinte: a cultura clássica, religiosa e filosófica, desabava ao impacto do desenvolvimento das Ciências, sem a menor capacidade para enfrentar o realismo científico e salvar os seus próprios valores fundamentais.


Formado na tradição cultural do Século XVIII, herdeiro de Francis Bacon, René Descartes e Rousseau, compreendeu claramente que o problema do seu tempo repousava na questão do método. Os fenômenos espíritas se verificavam com intensidade, como uma espécie de reação natural aos excessos do empirismo, no bom sentido do termo, que era a aplicação do método experimental a todo o Conhecimento. A tradição espiritual rejeitava esses excessos mas não dispu­nha de armas para combatê-los. Kardec resolveu aplicar o método experimental ao estudo dos fenômenos espíritas.
 

Logo aos primeiros resultados verificou que o nó do problema estava no seguinte: o método experimental se aplicava apenas à matéria, excluindo-se o espírito que era considerado como imaterial e portanto inverificável.

Mas se havia fenômenos espíritas era evidente que o espírito, manifestando-se na matéria, tornava-se acessível à pesquisa. Tudo dependia, pois, do método. Era necessá­rio descobrir um método de investigação experimental dos fenômenos espíritas. Era claro que esse método não podia ser o mesmo aplicado à pesquisa dos fenômenos materiais, considerados como os únicos naturais. Mas porque os únicos? Porque as manifestações do espírito eram consideradas como sobrenaturais, regidas por leis divinas.

Já Descartes, no Século XVII, lutando contra o dogmatismo escolástico, mostrara a unidade de alma e corpo na manifestação do ser humano e advertira contra o perigo de confusão entre esses dois elementos constitutivos do homem. Kardec se sentia bem esteiado na tradição metodológica e conseguiu provar que os fenômenos espíritas eram tão naturais como os fenômenos materiais. Ambos estavam na Natureza, espírito e matéria correspondiam a força e ma­téria, os dois elementos fundamentais de tudo quanto existe.

Daí sua conclusão, até hoje inabalada, e confirmada na época pelas manifestações dos próprios Espíritos que o assistiam: a Ciência do Espírito correspondia às exigências da época. Mas era necessário desenvolvê-la segundo a orientação metodológica da Ciência da Matéria, pois essa orientação provara a sua eficiência. A questão era simples: na investigação dos problemas espirituais o método dedutivo teria de ser substituído pelo método indutivo. Mas essa questão se tornava complexa porque a tradição espiritualista, cristalizada nos dogmas das igrejas, repelia como herética e profanadora a aplicação da pesquisa científica aos problemas espirituais.

Kardec enfrentou a questão com extraordinária cora­gem. Enfrentou sozinho, sem o apoio de nenhum poder terreno, todo o poderio religioso da época. Teve então de co­locar-se entre os fogos cruzados da Religião, da Filosofia e da Ciência. Os teólogos o atacavam na defesa de seus dogmas, a Filosofia o considerava um intruso e a Ciência o con­denava como um reativador de superstições que ela já havia praticamente destruído. A vitória de Kardec definiu-se bem cedo. A Ciência Psíquica Inglesa, a Parapsicologia Alemã e a Metapsíquica Francesa nasceram da sua coragem e das suas pesquisas. Mais de cem anos depois, Rhine e Mac Dougal fundariam nos Estados Unidos a Parapsicologia moderna, seguindo a mesma orientação metodológica de Kardec. E a sua vitória se confirmou plenamente em nossos dias, quando as pesquisas parapsicológicas endossaram as conclusões de Kardec e logo mais a própria Física e a Biologia fizeram o mesmo. A palavra paranormal, criada por Frederic Myers e hoje adotada na Parapsicologia, substituiu em definitivo, no campo científico, a classificação errônea de sobrenatural dada aos fenômenos espirituais.

O espírito como objeto


Kardec transformou o espírito, entidade metafísica, em objeto específico da pesquisa científica. Nem mesmo a reação kantiana, nos séculos XVIII e XIX, com a crítica da razão, estabelecendo os supostos limites do conhecimento em termos do Empirismo inglês, impediu essa transformação. Na própria Alemanha o Prof. Frederico Zollner, da Universidade de Leipzig, submeteu o espírito à investigação kardeciana e Schrenck Von Notzing, em Berlim, instalou o primeiro la­boratório de pesquisa espírita do mundo. Hoje os cientistas soviéticos, na maior fortaleza ideológica do materialismo no mundo, provaram sem querer a existência do espírito e de seu corpo espiritual, a que passaram a chamar de corpo bioplasmático. As pesquisas realizadas com o fenômeno da morte mostrou-lhes que o corpo material é vitalizado por ele e por ele mantido em função. A última novidade da Biologia soviética é essa descoberta que atenta contra o ma­terialismo de Estado.

O  espírito convertido em objeto de investigações físicas e biológicas é hoje a prova inegável da vitória de Kardec. Mas Kardec avançou além dessa posição atual. Ele não se limitou a pesquisar o espírito como objeto acessível à percepção sensorial. Da mesma maneira por que o pensamento, na Lógica, é um objeto não-físico - e hoje na Parapsicologia um objeto extrafísico - Kardec submeteu o espírito a pesquisas psicológicas e provou a sua realidade energética, a sua natureza dupla, de energia espiritual pura manifestada no corpo espiritual, de natureza semimaterial. Os instrumentos de que se serviu para essa audaciosa pesquisa constituem hoje os campos de força da percepção extra-sensorial, cuja realidade palpável foi demonstrada pelas experiências de laboratório dos mais eminentes parapsicólogos. A aparelhagem mediúnica das pesquisas de Kardec, ridicularizadas pelos sabichões do tempo, como Richet os classificou, é hoje cientificamente reconhecida, tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra, na Alemanha quanto na URSS.

Kardec desenvolveu o seu método de pesquisa tendo por base o processo de comunicação. Hoje estamos na época da comunicação e essa palavra adquiriu um valor científico de importância básica. Mas a palavra comunicação já era, no tempo de Kardec, uma categoria da Filosofia Es­pírita e designava um elemento fundamental da pesquisa espírita. A comunicação mediúnica abriu para o homem uma nova dimensão na sua concepção do mundo e da vida. E Kardec dedicou-lhe todo um tratado, com O Livro dos Médiuns, estabelecendo as regras metodológicas da comunicação entre os vivos da Terra e os supostos mortos do Além. Nenhum tratado atual de Parapsicologia conseguiu superar o que Kardec descobriu e expôs nesse volume.

Com essa descoberta Kardec revolucionou o campo central das estruturas religiosas. O problema da Revelação, que representava uma fortaleza aparentemente inexpugnável da Religião, o seu mistério essencial e fundamental, foi cruamente esclarecido. E a posição metodológica de Kardec enriqueceu-se com a possibilidade de investigar as próprias bases da Religião. Mostrando que a fonte da Revelação é a comunicação mediúnica, Kardec pôde estabelecer a relação entre Ciência e Religião de maneira definitiva. Existe, explicou ele, a Revelação Espiritual, que consiste no ensino de leis do mundo espiritual através da comunicação mediúnica, e existe a Revelação Científica, que consiste na explicação de leis do mundo material através da comunicação científica, feita pelos pesquisadores. A Ciência Espírita utilizou-se dessas duas formas de revelação e estabeleceu a conjugação de ambas para o controle do conhecimen­to da realidade, que é o objetivo direto da Ciência.

Foi assim que Kardec, adotando uma orientação metodológica segura e nunca dela se afastando, conseguiu, finalmente, desdobrar a moderna concepção do mundo, reve­lando a face oculta da própria Terra em que vivemos e aniquilando o último reduto do maravilhoso ou sobrenatural. Graças a ele, ao seu trabalho gigantesco e ao sacrifício total da sua existência, os cientistas atuais poderão prosseguir no desenvolvimento das Ciências, sem tropeçar nas barreiras supersticiosas, mitológicas, mágicas e teológicas do passado. Kardec completou a Ciência com a sua contribuição espantosa. Fez, praticamente sozinho, no campo do espírito, e em apenas quinze anos de trabalho, o que milhares de equipes de cientistas, no campo da matéria, realizaram através de pelo menos três séculos.

E a precisão do seu método se confirma nas conclusões inabaladas e inabaláveis a que chegou sozinho, muitas vezes criticado pelos seus próprios companheiros, que o acusavam de personalismo centralizador. Faltava aos próprios companheiros o espírito científico que o sustentou na batalha sem tréguas. Os que hoje desejam confundir as coisas, ignorando o problema metodológico em Kardec, aceitando mistificações grosseiras de espíritos pseudo-sábios, ser­vem apenas para provar, ainda em nossos dias, como e quan­to Kardec avançou no futuro, superando de muito o seu tempo e o nosso tempo.

Só a ignorância orgulhosa ou a inteligência vaidosa e interesseira podem hoje querer superar Kardec, quando a própria Ciência e a própria Filosofia atuais estão ainda rastreando as conquistas de Kardec, nos rumos de futuras descobertas. O Espiritismo evolui, como tudo evolui no Universo. Esse é um axioma espírita. Mas a obra de superação de Kardec pertence às gerações do amanhã, pois a geração atual não revelou ainda condições sequer para compreender Kardec. Por outro lado, é bom lembrar que a superação de Kardec não será mais do que o prosseguimento do seu trabalho, o desdobramento da sua obra, na medida em que o homem se torne mais apto a compreender o que Kardec ensinou. O atraso atual do movimento espírita nos sugere, mesmo, que talvez o próprio Kardec tenha de voltar à Terra, como os Espíritos lhe disseram na ocasião em que esteve entre nós, para completar a sua obra, que homem nenhum foi capaz até o momento de ampliar em qualquer sentido.

Os leitores que desejarem verificar as comprovações parapsicológicas atuais das pesquisas de Kardec poderão fazê-lo em duas fontes: a nossa tradução anotada de O Livro dos Médiuns e o nosso livro Parapsicologia Hoje e Amanhã, em sua quarta edição. Neste último encontrarão um capitulo especial sobre a descoberta do corpo bioplasmático pelos físicos e biólogos soviéticos.

Fotografias da aura das coisas e dos seres têm sido apre­sentadas como fotografias da alma e justamente rejeitadas pelas pessoas de bom senso. Essas fotos pertencem à fase da efluviografia nas experiências com as câmaras Kyrillian. As fotografias do corpo bioplasmático são as que realmente correspondem à alma.