segunda-feira, 19 de maio de 2014

Desconstruindo Preconceitos



Abaixo inserimos um artigo muito importante e do qual compartilhamos, uma vez que expressa uma visão atual sobre a necessidade das Instituições Espíritas (diretores) analisarem e realinharem seus programas e próprios pensamentos sobre a Importância do Jovem na Casa Espírita. 
Fonte do artigo: http://pensarespirita.wordpress.com/2012/03/17/importancia-da-mocidade-espirita/



Existem, atualmente, em alguns centros espíritas, uma reação entre os adultos para com os jovens que é a de que “eles não sabem das coisas”, “ é muito novo, não entende”, “ainda tem muito que aprender”.
Entendo isso como falta de respeito e passo a explicar meu ponto de vista.
O jovem é um ser pensante e tem direito a ter opiniões próprias mas, além disso, quando os adultos dizem tais coisas esquecem-se de um fator básico: a idade espiritual, pois, posto que somos espíritos temos a consciência de que dessa forma todos somos multimilenares.
Muitos dos que já passaram por esta fase, a meu ver, sentem emoções distorcidas, alguns não aceitam que a sua mocidade já passou, outros dizem que essa fase é apenas para curtir a vida explorando toda espécie de situações fúteis e prazeres sem nenhuma responsabilidade, outros ainda querem que sigamos o que eles faziam quando jovens em décadas tão diferentes da atual.
Dora Incontri, jornalista e escritora brasileira e um importante nome da Pedagogia Espírita, diz em sua obra “A Educação Segundo o Espiritismo”, livro que já se encontra em sua 8ª edição baseado em pesquisas, experiências pessoais e inspirações mediúnicas, que a grande maioria dos adultos ignora a real importância da fase juvenil para o Espírito.”
Quantos jovens demonstram muito mais sabedoria que aqueles que já se encontram na fase adulta?
Essa é uma fase onde eles buscam a autonomia, onde eles têm a necessidade de estabelecer seus próprios ideais. O pior que se pode fazer a um jovem é utilizar-se das frases que citamos no início do texto, pois, desta forma, estaremos afastando-o e lhe dando espaço para a rebeldia que, de certa forma, será justificada.
Mas para que isso não ocorra ou encontre dificuldades para ocorrer, temos que dar aos jovens o que cobramos. Temos que dar a eles o espaço para pensar, raciocinar e refletir sobre a vida nas suas mais diversas nuances, mas NUNCA tolhendo seu livre-arbítrio.

Cobramos responsabilidade, mas não damos espaço para que eles trabalhem, ou se damos espaço é o espaço que queremos, não perguntamos, na maioria das vezes, qual a área de interesse do jovem.
E aí criticamos, pois quando eles não se interessam eles simplesmente não fazem. Mas, um momento…
Nós, adultos, não somos assim? Se alguém tentar fazer você comer o que não gosta, você vai comer? Se alguém tentar fazer você vestir uma roupa que não gosta, você vai vestir? Não. Não faremos posto que somos “adultos” e podemos e sabemos escolher.
Os jovens também tem esse direito. A Casa espírita não deve ser um lugar de repressão. Existem sim normas e regras que devemos seguir pelo bem comum de todos os que lá frequentam e que são extremamente importantes para o bem do trabalho material e espiritual, mas como queremos que os jovens sejam o futuro da casa se não os ouvimos? Se não os observamos?
É imprescindível observar até que ponto alguns jovens se aproveitam dessa situação e, em percebendo isso, devemos intervir e incluir os pais e/ou os responsáveis pelos jovens, de forma firme e respeitosa sempre, lembrando que nossa posição não é de juízes mas de observadores.
Os encontros espíritas, as mocidades, tudo isso existe para e pelos jovens, mas o que vemos atualmente é que eles, nem sempre, são a prioridade.
Por exemplo, quando eu era jovem de mocidade, várias vezes ao fim do ano pediam para que a gente escrevesse sobre que assuntos gostaríamos de estudar. Tínhamos a expectativa de que no próximo ano esse assuntos fossem trabalhados sob a visão da Doutrina mas, o que acontecia não era isso. Trabalhávamos o mesmo de sempre.
Se pegarmos como exemplo o modelo de evangelização de Jesus, percebemos que os discípulos perguntavam sobre coisas do cotidiano e Jesus as respondia introduzindo o conceito cristão. Jesus as respondia sem ficar repetindo as mesmas coisas, era sobre aquela circunstância em questão.
Quantas vezes vemos as mocidades estudando as mesmas coisas anos a fio? Como fazer que o interesse se mantenha dessa forma? Dando sempre os mesmos exemplos? Falando sempre dos mesmos vultos que, quase sempre, são espíritas como se nenhuma outra pessoa de outra vertente religiosa ou até que não siga nenhuma vertente religiosa tivesse exemplos lindos a seguir?
E nisso cito Gandhi, Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá e tantos outros.
Deolindo Amorim, jornalista, escritor e conferecista espírita, nos dá no texto “Mocidades Espíritas e as Mudanças” publicado no Anuário Espírita de 1976informações extremamente importantes. Passo a citar alguns trechos:

Até 1940 a quarenta e tantos, por exemplo, era habitual, entre nós, a promoção de festas e programas artísticos para atrair os moços. Festas realmente sadias e programas inegavelmente bem inspirados. Dizia-se então que a Doutrina pura e simples era “muito seca” e, por isso mesmo, não seria possível trazer o moço para o meio espírita somente com ensino doutrinário. Dizia-se abertamente: ‘os moços querem alegria e movimento” “ainda é cedo para estudos sérios de Espiritismo’’. Programas artísticos por toda a parte, a bem dizer, números de poesia, às vezes violão, brincadeiras inofensivas, e assim passavam-se as “tardes fraternas’’ de mocidades e juventudes espíritas. Foi assim mesmo, por muito tempo. Mas as coisas mudaram, e temos que compreender a mudança.
Os jovens de 1975 têm outras motivações, outras experiências e, até certo ponto, têm outras necessidades. A mentalidade dos jovens de hoje não pode ser a mesma mentalidade da geração que participou do movimento espírita na década de quarenta. Houve grande transformação sócio-cultural de 1940 para cá. Não seria possível, hoje, atrair e segurar o elemento jovem no meio espírita somente com declamações, números de música, festinhas e por que não é possível? Exatamente porque o jovem quer o diálogo, o raciocínio mais objetivo. Convém notar, ainda mais, que há trinta anos, digamos assim, não havia tanto elemento universitário no meio espírita, como hoje. E a mentalidade universitária, por natureza, é diferente da mentalidade passiva. Havia, anteriormente, naqueles tempos, menos diálogo, porque a palavra do mentor captava muita confiança por si mesma. Quase não se falava em debate, a não ser em determinados movimentos, e pouco se discutia em ‘‘mesa-redonda’’.
Atualmente, como se vê, já é impressionante, nas fileiras espíritas, o contingente de jovens oriundos de Universidades, onde recebem informações de vários tipos e se defrontam com diversas direções de pensamento. Eles têm, por força do ambiente universitário, muito espírito de participação e crítica. Muitos deles levam o Espiritismo a sério e querem estudá-lo bem, muito mais do que se pensa, mas precisam encontrar condições adequadas. Esta situação está reclamando naturalmente novos hábitos no relacionamento com as alas jovens. Claro que ninguém iria admitir nem sequer imaginar que as organizações de juventudes e mocidades espíritas se transformassem em clubes de mera recreação ou em círculos de polemicas fora dos princípios espíritas. Não. Entretanto, não se pode deixar de considerar que cada época tem suas exigências, e o Espiritismo tem um corpo de doutrina capaz de nos dar a verdadeira dimensão deste fenômeno, desde que tenhamos a necessária cautela para evitar intromissões oportunistas, com segundas intenções, querendo forçar conexões que não existem. É outro problema. O estudo básico da Doutrina, porém, está necessitando de uma perspectiva nova, em certos aspectos, sem desmerecer a tradição e as grandes experiências do passado, que nunca deixará de ser uma lição para o presente.
Não há muito tempo, em artigo publicado no jornal Mundo Espírita, de 31.05.75, insistíamos nestes mesmos pontos e dizíamos, a certa altura: “A palavra de consolo e fé, nas horas mais criticas, é insubstituível, porque é a linguagem do sentimento, e não do raciocínio frio, que pode instruir, mas não alivia as dores da alma. Todavia, o Espiritismo precisa e deve acompanhar o espírito critico da época. Se quisermos fazer um tipo de espiritismo devocional ou conventual, ignorando os desafios da realidade presente, ficaremos à margem, não há dúvida Dentro deste novo quadro, finalmente, a cultura e a promoção de cursos são necessidades compatíveis com a posição do Espiritismo em face da crítica moderna”. Se pensamos assim, e já de algum tempo a esta parte, é porque a vivência no meio espírita, observando as reações dos elementos jovens, nos induz, cada vez mais, a compreender a necessidade de um sistema de comunicação doutrinária mais consentâneo com os problemas que estão surgindo.
Em lugar, finalmente, de querermos prender os jovens com recursos usados há mais de trinta anos, quando eram outras as condições ambientais, oferecendo-lhes apenas oportunidades festivas, devemos pensar, antes de tudo, que eles querem ir mais longe, porque estão vivendo uma época de desafios e, por mesmo, procuram no Espiritismo as respostas convincentes e as soluções compatíveis com o estado de espírito em que se encontram, justamente por causa das experiências de hoje. Devemos compreendê-los, com visão do momento. Indiscutivelmente os programas artísticos ou recreativos têm o seu lugar, a sua oportunidade, pois fazem parte das atividades espíritas e, portanto, são necessários; não devem, porém, ser a única razão de ser dos movimentos de juventudes e mocidades, como se fossem um chamariz, um ponto de atração, e nada mais. Não devemos continuar pensando como há trinta anos, pois o jovem espírita, vivendo o seu mundo de hoje, embora aprecie muito as artes e as expansões naturais, reclama outros instrumentos através do diálogos e da crítica. Mudança de mentalidade, mudança de hábitos, embora permaneçam inabaláveis os valores espirituais.”

É fato que queremos que os outros experimentem e gostem daquilo que gostamos e que sabemos ser bom mas será que acreditamos “convencer” os outros só pelas palavras?

Temos, sim, que orientá-los mediante à Doutrina mas nós não somos os pais. Somos os que facilitam o entendimento por estarmos, encarnados neste momento, há mais tempo ou até por estudarmos mais e há mais tempo mas é só. Regras, normas, conceitos e preceitos existem e sou totalmente a favor mas toda regra tem sua exceção, não esqueçamos que cada um caminha conforma sua possibilidade e que os jovens são sim o futuro do que está por vir e o que você, evangelizador, e o que você, jovem, está plantando hoje?

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Do médium, do meio, da moral

Assuntos antológicos sobre Mediunidade:

Papel do médium nas comunicações

“A mediunidade propriamente dita independe da inteligência, como das qualidades morais. Na falta de melhor instrumento o Espírito pode servir-se do que tem à mão. Mas é natural que, para as comunicações de certa ordem, prefira o médium que lhe oferece menos obstáculos materiais.”
 Mais adiante Allan Kardec comenta:
“Disso resulta que, salvo algumas poucas exceções, o médium transmite o pensamento dos Espíritos pelos meios mecânicos de que dispõe, e a expressão desse pensamento pode e deve, o mais frequentemente, ressentir-se da imperfeição desses meios. Assim, o homem inculto, o camponês, poderá dizer as mais belas coisas, exprimir os mais elevados pensamentos, os mais filosóficos, falando como camponês, pois, como se sabe, para os Espíritos o pensamento está acima de tudo.”
Os Espíritos Erasto e Timóteo resumem e concluem:
“Como já dissemos, os Espíritos não têm necessidades de vestir os seus pensamentos com palavras. Eles o percebem e os transmitem entre si. Os seres encarnados pelo contrário, só podem comunicar-se pelo pensamento traduzido em palavras. Enquanto a letra, a palavra, o substantivo, o verbo, a frase, enfim, vos são necessários para percepção, mesmo mental, nenhuma forma visível ou tangível é necessária para nós.”
Fonte: Papel do médium nas comunicações. O livro dos médiuns, Allan Kardec

Influência do meio
 “(…) toda vez que os homens se reúnem, há entre eles uma reunião oculta de simpatizantes de suas qualidades ou de suas imperfeições, e isso sem qualquer ideia de evocação.”

 Em resumo: as condições do meio serão tanto melhores, quanto maior homogeneidade houver para o bem, com mais sentimentos puros e elevados, mais desejo sincero de aprender, sem segundas intenções.”
Fonte: A influência do Meio. O livro dos médiuns, Allan Kardec

Influência moral do médium


Se o médium, quanto à execução, é apenas um instrumento, no tocante à moral exerce grande influência. Porque o Espírito comunicante identifica-se com o Espírito do médium, e para essa identificação é necessário haver simpatia entre eles, e se assim podemos dizer, afinidade.”
Suponhamos, primeiro, uma facilidade de execução suficientemente grande para permitir que os Espíritos se comuniquem livremente, sem o embaraço de qualquer dificuldade material. Isso posto, o que mais importa considerar é a natureza dos Espíritos que o assistem habitualmente, e para tanto o que mais nos deve interessar não são os nomes, mas a linguagem. Jamais ele deve esquecer-se de que a simpatia que conseguir entre os Espíritos bons estará na razão dos esforços para afastar os maus. Convicto de que a sua faculdade é um dom que lhe foi concedido, para o bem, não se prevalecerá dela de maneira alguma, nem se atribuirá qualquer mérito por possuí-la. Recebe como uma graça às boas comunicações, devendo esforçar-se por merecê-las através da sua bondade, da sua benevolência e da sua modéstia.”


Fonte: Influência moral do médium. O livro dos médiuns, Allan Kardec.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

OS MÉDIUNS MERCENÁRIOS

O SR. JOBARD E OS MÉDIUNS MERCENÁRIOS.

Exemplo notável de concordância.

Uma sonâmbula médium, que pretende ser adormecida pelo Espírito do Sr. Jobard, disse ter dele recebido uma comunicação dirigida a um outro médium, ao qual aconselhava fazer pagar suas consultas pelos ricos, e dá-las gratuitamente aos pobres e aos operários.
O Espírito lhe traçava o emprego de sua jornada, sem poupar os elogios sobre suas eminentes faculdades e sua alta missão. Tendo uma pessoa concebido dúvidas sobre a autenticidade dessa comunicação, e sabendo que o Espírito do Sr. Jobard se manifesta frequentemente na Sociedade, pediu-nos de fazê-la controlar.

Para maior segurança, dirigimos imediatamente, a seis médiuns, estas simples palavras:
"Quereis perguntar ao Espírito do Sr. Jobard se ele ditou à Sra. X..., em sonambulismo magnético, uma comunicação por um outro médium que convida a explorar a sua faculdade. Tenho necessidade desta resposta para amanhã." Tivemos o cuidado de não preveni-los dessa espécie de concurso, de sorte que cada um se acreditou chamado sozinho para resolver a questão.
Contávamos com a elevação do Espírito do Sr. Jobard para se prestar à circunstância, e não se melindrar ou se impacientar com esse pedido que deveria lhe ser dirigido, quase simultaneamente, sobre seis pontos diferentes. No dia seguinte recebemos as respostas adiante que faremos seguir de algumas reflexões.


(20 de outubro de 1864. - Médium, Sr. Leymarie.)

O quê! caros amigos, meu nome serve, pois, de alvo de motejo a todas as espécies de pessoas! Há muito tempo estou habituado a esses plagiários sem vergonha que me fazem alternativamente adotar, como um camaleão, todas as cores; toma-se-me por um pateta. No entanto, minha vida passada, meus trabalhos e as numerosas provas de identidade dadas na Sociedade de Paris, não podem fazer se enganar sobre meus sentimentos.
Tal eu era simples encarnado, tal eu sou no estado de Espírito livre, e a minha missão junto a vós, meus amigos, é a do devotamento, e sobretudo do desinteresse.
O Espiritismo é uma ciência positiva; os fatos sobre os quais repousa não estão ainda completados; mas tende paciência ainda, vós que sabeis esperar, e essa ciência, que não tem nada inventado, uma vez que ela é uma força da Natureza, provará aos menos clarividentes que o seu objetivo todo moral é a regeneração da Humanidade, e que, fora por hipótese. Proceder com análise, estabelecer fatos para remontar às causas, proclamar o elemento espiritual, depois de constatação, tal é a sua maneira limpa e sem evasivas; é a linha reta, a que deve ser o guia de todo Espírita convicto.
Rejeito, pois, o joio do bom grão, todos os interesses mesquinhos, os meiodevotamentos, os compromissos malsãos que são a praga de nossa fé.
Do dia em que vos dizeis Espíritas, tenho o direito de vos perguntar o que sois, o que quereis ser. Pois bem! se tendes a fé, se sois caridosos antes de tudo; todos os encarnados aos vossos olhos sofrem uma prova; assistis como espectadores a muitos des falecimentos, e nesse rude combate da vida, onde vossos irmãos procuram a luz, vosso dever, a vós privilegiados que vistes e sabeis, é de dar generosamente o que Deus vos distribuiu generosamente também. Médium, não deveis disso vos orgulhar, porque a mão que dispensa pode se retirar de vós', quando, por vosso intermédio, um Espírito vem consolar, encorajar, ensinar, deveis estar feliz e agradecer a Deus que vos permite ser a boa fonte onde aqueles que têm sede vêm se saciar. Mas essa água não vos pertence, é a provisão de todo o mundo, não podeis vendê-la, nem cedê-la, porque esse domínio não é desse mundo. Gostaríeis que vos expulsasse como os vendedores do templo?
Ricos ou pobres, acorrei e perguntai: cada um de vós tem seu sofrimento secreto; o farrapo de um tornar-se-á numa outra vida a púrpura de outro, e é por isso que a mediunidade não é a usura: diante dela todos os encarnados são iguais.
Olhai ao vosso redor: são ricos, são pobres, aqueles que fazem ofício de um dom providencial? Eles vendem a ciência dos Espíritos, e o óbolo que recolhem é a gangrena de seu espiritualismo. Fizeram bem dizer espiritualismo, porque os Espíritas reprovam, sabei-o, toda venda moral; a venalidade não é o seu fato. Rejeitamos de nosso seio todas essas escórias mentirosas que fazem rir os assistentes introduzidos em seu negócio.
Quanto a mim, caro mestre, respondei àquele ou àqueles que querem comerciar com o meu nome que por mais pateta que eu possa ser, não o serei jamais bastante para apor minha assinatura sobre traços falsificados, tirados sobre vosso devotamento.
JOBARD.


(Médium, senhora Costel.)

Venho reclamar e protestar contra o abuso que se faz em meu nome. Os pobres de espírito - e se encontram muitos deles entre os Espíritos - têm o deplorável hábito de se vestir de nomes que lhe servem de passaporte junto aos médiuns orgulhosos e crédulos.
Seguramente, eu teria a graça em defender a nobreza de meu pobre nome, sinônimo de simples; no entanto, espero tê-lo colocado bastante alto no julgamento daqueles que me conheceram, por medo de ser tornado solidário das pobrezas debitadas sob a minha assinatura. É, pois, somente por amor da verdade que protesto não ter adormecido nenhum sonâmbulo, nem exaltado nenhum médium. Eu me comunico muito raramente, tento eu mesmo muita coisa a aprender para servir de guia instrutor dos outros.
Reprovo em princípio a exploração da mediunidade, por esta razão muito simples de que o médium, não gozando de sua faculdade senão de um modo intermitente e incerto, não pode jamais nada prejulgar nem nada fundar sobre ela. Portanto, as pessoas pobres erraram em abandonar a sua profissão para exercer a mediunidade no sentido lucrativo da palavra. Sei que muitas dentre elas se abrigam sob o título de missão, ou abandono de seu lar, desertado por orgulhosas satisfações e a importância efêmera que lhes concede a curiosidade mundana. Esses médiuns se enganam de boa-fé, eu o espero, mas, enfim, se enganam; a mediunidade é um dom sagrado e íntimo do qual não se pode ter agência aberta. Os médiuns muito pobres para se consagrarem ao exercício de sua faculdade devem subordiná-la ao trabalho que os faz viver, o Espiritismo nisso nada perderá, ao contrário, e a sua dignidade com isso muito ganhará.
Não quero desencorajar ninguém, nem desanimar nenhuma boa vontade: mas importa que a nossa cara Doutrina esteja ao abrigo de toda acusação malsã; a mulher de César não deve ser suspeitada, nem os Espíritas tampouco.
Eis o que está dito, e desejo que não fique o menor equívoco sobre as palavras de vosso velho amigo
JOBARD.


(Médium, Sr. Rui.)
Como poder-se-ia crer que aquele que, em todas as suas comunicações, recomendou a caridade e o desinteresse, viesse hoje se contradizer?
É uma prova para a sonâmbula, e eu a convido a não se deixar seduzir pelos maus Espíritos que querem, por essa pequena especulação de além-túmulo, lançar o desfavor sobre os médiuns em geral, e sobre o médium sobre o qual é questão em particular. Não tenho necessidade, penso, de fazer de novo minha profissão de fé. Não é àquele que, encarnado, tão frequentemente perseguido, teve sempre por regra de conduta a equidade e a lealdade, que se possa atribuir semelhantes comunicações! Estaria feliz se, a exemplo do que se faz para certos comerciantes da Terra, se pudesse apor sobre as comunicações de além-túmulo a estampilha que constataria a identidade do autor.
Não sois ainda bastante avançados, mas na falta de estampilha, servi-vos de vossa razão, ela não pode vos enganar, e desafio todos os Espíritos, por numerosos que sejam, a me fazerem sem passar, aos olhos dos meus antigos confrades, por mais bobo que eu não o seja. Adeus.
JOBARD.


(Médium, Sr. Vézy.)

Por que tantas tolices ainda entre aqueles que crêem de boa-fé? E dizer que se se lhes colocar diante dos olhos os verdadeiros princípios da coisa, eles mudam de ou golpe e se tornam mais incrédulos do que São Tome!
Ide dizer a essa cara senhora que jamais me comuniquei com ela. Ela vos dirá: é possível, e diante de vós parecerá partilhar o vosso julgamento; mas, em seu foro íntimo, ela dirá que sois insensatos. Proibir a um louco de fazer loucuras, é ser mais louco do que ele, diz-se. No entanto, seria muito preciso encontrar um remédio para curar tantos pobres de espírito que se desviam sozinhos, persuadidos de que são seres guiados por maravilhas.
Verdadeiramente, meu caro presidente, me credes capaz de escrever as coisas vãs que lestes? Este seria, então, verdadeiramente, o caso de me aplicar o nome que tinha porter ousado escrever semelhantes bobagens. O Espiritismo não se ensina a tanto a lição ou o selo. Que aquele que não pode ir levar as nossas palavras aos seus irmãos senão em detrimento de seu próprio salário, fique em seu lar e peça à sua ferramenta ou à sua agulha para lhe continuar seu pão cotidiano; mas se assemelhar a um doador de representações é invadir o domínio do explorador ou do charlatão. Que aquele que é pobre e que sente a coragem de se tornar o apóstolo de nossa doutrina, se cubra-se com a sua fé e com a sua coragem, a Providência virá, em sua hora, lhe dar o pão que lhe falta; mas que não estenda a mão por todos os seus esforços, porque seríamos os primeiros a lhe gritar: Retira-te daqui, mendigo, e deixa o lugar àqueles que dele podem fazer o ofício.
Encontramos sempre bastantes homens de boa vontade para cumprirem a tarefa que lhes pedimos.
Mulheres ou homens que deixais a máquina de fiar ou a ferramenta para vos fazer pregador ou médium, e pedir um salário, não é senão o orgulho que vos guia. Quereis um pouco de glória em torno de vosso nome: o metal não tem senão feio reflexo que o tempo enferruja, ao passo que a verdadeira glória tem mais luz na abnegação. Gosto mais de Malfilatre, Gilbert e Moreau, cantando sua agonia sobre o leito de hospital do que o poeta mendigando o óbolo entregando seu coração para conservar alguns lambris dourados em torno de seu leito de morte. Os desinteressados serão os mais recompensados; uma felicidade durável os espera, e seus nomes serão tanto mais poderosos quanto terão derramado mais lágrimas, e que suas frontes tiverem se coberto de mais suor e de poeira.
Eis tudo o que posso vos dizer a este respeito, caro presidente, e aproveito a boa ocasião que a mim se apresenta para vos apertar a mão e vos reiterar todos os meus tarefa que vos impusestes, fazei calar os ciumentos e os tagarelas que vos rodeiam por essa firmeza e essa simplicidade que vos caem tão bem. Hoje é preciso ser positivo; não vos deixeis arrastar à procura da lua quando a Terra está aos vossos pés, e tendes aí de que completar vosso trabalho. Todos os materiais são abundantes ao vosso redor. Provai as vossas teorias por fatos, e que os vossos exemplos não se apoiem sobre teoremas
algébricos que todo o mundo não poderia compreender, mas sobre axiomas matemáticos.
Uma criança sabe que dois e dois são quatro. Deixai correr à frente aqueles que têm pernas muito grandes; eles romperão o pescoço, e é inútil que o sigais em sua queda. Apressemo-nos docemente; o mundo é jovem ainda, e os homens têm o tempo diante deles para se instruírem.
O sol se esconde à noite porque é preciso a obscuridade para fazer compreender sua luz; a verdade algumas vezes se cobre de trevas para não cegar aqueles que a olham muito à face.
Pergunta: . Então não vos comunicastes jamais a esta senhora; ela se diz, no entanto, magnetizada por vós?
Resposta: Pobre mulher! ela atribui aos seres inteligentes o que só a insensatez pode ditar, ou bem algumas palavras todas boas ou todas simples de grandes oráculos. É uma doença que não é preciso contrariar; ela tem sua sede nos nervos, e se cura pela prudência e as duchas frias.
JOBARD.


(Médium, senhora Delanne.)

Saudação fraternal avós todos, meus bons amigos, que trabalhais com ardor para enxertar a Humanidade. É preciso que redobreis a atenção, porque, neste momento, uma incrível revolução se opera entre os desencarnados. Tendes também entre eles adversários que se prendem a vos suscitar entraves, mas Deus vela sobre sua obra.
Ele colocou em vossa cabeça um chefe vigilante que possui o sangue-frio, a perspicácia e uma vontade enérgica para vos fazer triunfar dos obstáculos que os vossos inimigos visíveis e invisíveis levantam a cada instante sob vossos passos. Também não se enganou lendo essa comunicação; compreendeu que Jobard não poderia falar assim nem aprovar uma semelhante linguagem. Não, meus amigos, o Espiritismo não deve ser explorado por Espíritas sinceros e de boa-fé. Pregai contra os abusos desta natureza que desacreditam a religião, não podeis praticar o que condenais, porque afastaríeis aqueles que o vosso desinteresse poderia conduzir a vós.
Jamais refletistes seriamente nas conseqüências funestas das reuniões pagas?
Compreendei bem que se Allan Kardec autorizasse semelhantes ideias por seu silêncio ou sua aprovação tácita, dentro de dois anos o Espiritismo seria a vítima de uma multidão de exploradores, e que esta coisa santa e sagrada seria desacreditada pelo charlatanismo.
Eis a minha opinião. Rejeito, pois, hoje como sempre, toda idéia de especulação, qualquer que seja o pretexto, que entravasse a Doutrina, em lugar de ajudá-la.
Aplicai-vos, no instante antes de tudo, em reformar os homens por vossos ensinamentos e vosso exemplo. Que vosso desinteresse e vossa moderação falem tão alto que nenhum de vossos adversários possa vos fazer censuras. Estando cada um de vós colocado em posições diferentes, deveis trabalhar cada um segundo as vossas forças; Deus não pede o impossível. Tende confiança nele, e deixai cada coisa vir a seu tempo. Se ele quisesse que o Espiritismo caminhasse mais rapidamente ainda, teria enviado mais cedo os grandes Espíritos que estão encarnados e que surgirão, quase ao mesmo tempo, sobre todos os pontos do globo, quando chegar o tempo disso; à espera, preparai os caminhos com prudência e sabedoria. Coragem, caro presidente, cada dia as rédeas se tornam mais difíceis; mas estamos aqui para vos sustentar, e Deus vela sobre vós.



(Médium, Sr. d'Ambel.)

Pois bem! isto vos espanta! Mas há tantos bobos no mundo dos Espíritos, como entre vós, sem vos ofender, que um bobo pôde dar a um outro a comunicação sonambúlica em questão.
Quanto ao médium, há necessidade de se inquietar com ele demasiadamente?
Deixai passar o tempo; é um grande reformador. Aqueles que colocam a preço sua mediunidade fazem como essas pessoas que dizem aos interrogadores, expondo um jogo de carta sob seus olhos: "Eis um homem da cidade ou um homem do campo; há uma carta a caminho, eis o ás de ouros." Quem sabe se, entre alguns, esse não é um retorno ao passado, um resto de antigos hábitos? Pois bem, tanto pior para aqueles que caem na mesma rotina! Dela não tirarão seus gastos, e lamentarão um dia ter tomado o caminho de atalho.
Tudo o que posso vos dizer, é que não estando por nada neste pequeno comércio, vós bem o sabeis, lavo minhas as mãos, e lamento a pobre humanimalidade por ter ainda recorrido a semelhantes expedientes.
Adeus. JOBARD.


Observações. AK
A necessidade do desinteresse nos médiuns é hoje a tal ponto, que passada em princípio, que teria sido supérfluo publicar o fato acima, se não oferecesse, fora da questão principal, um notável exemplo de coincidência e uma prova manifesta de identidade, pela semelhança dos pensamentos e a marca de originalidade que levam em geral todas as comunicações do nosso antigo colega Jobard. É a tal ponto que quando se manifesta espontaneamente na Sociedade, é raro que, desde as primeiras linhas não se adivinhe o autor. Assim, não se levantou nenhuma dúvida sobre a autenticidade das que acabamos de narrar, ao passo que, naquelas que tínhamos pedido fazer controle, a fraude saltava aos olhos de qualquer que conhecesse a linguagem e o caráter do Sr. Jobard, assim como os princípios que havia constantemente processado como homem e como Espírito; teria sido irracional admitir que tivesse subitamente mudado em proveito dos interesses materiais de um indivíduo. A fraude era inábil.
Quanto à questão do desinteresse, seria inútil repetir tudo o que foi dito sobre esse ponto, e que se acha admiravelmente resumido nas respostas do Sr. Jobard. Acrescentar-lhe-emos somente uma consideração, que não é sem importância.
Certos médiuns exploradores crêem salvar as aparências em não se fazendo pagar senão pelos ricos, ou deles não aceitando senão uma retribuição voluntária. Em primeiro lugar, isso não é menos um ofício, a exploração de uma coisa santa, e um lucro tirado daquilo que se recebe gratuitamente.
Quando Jesus e seus apóstolos ensinavam e curavam, não punham preço nem às suas palavras nem aos seus cuidados, e, no entanto, não tinham rendas para viver. Por  outro lado, essa maneira . de operar não é uma garantia de sinceridade, e não coloca ao abrigo da suspeição de charlatanismo. Sabe-se no que se ter sobre a filantropia das consultas gratuitas de certos médicos, e que relacionam a certos comerciantes os artigos que dão em prejuízo e algumas vezes por nada. A gratuidade, em certas ocasiões, é um meio de atrair a clientela produtiva.
Mas há uma outra consideração mais poderosa ainda. A que sinal reconhecer aquele que pode ou não pagar? A colocação muitas vezes é enganosa, e, freqüentemente, uma vestimenta limpa esconde um sem dinheiro maior do que a blusa do obreiro. É preciso, pois, declinar sua pobreza, seus títulos à caridade, ou produzir um certificado de indi gência? Aliás, quem diz que o médium, mesmo admitindo de sua parte a mais inteira sinceridade, terá a mesma solicitude por aquele que não paga ou que paga menos, do que por aquele que paga largamente, e que não dará a cada um por seu dinheiro? Que, se um rico e um pobre se dirigem a ele ao mesmo tempo, não fará passar o rico primeiro, este tendo em vista satisfazer uma vã curiosidade, ao passo que o pobre, que talvez espera uma suprema consolação, será adiado? Involuntariamente sua consciência estará lutando com a tentação da preferência; será levado a ver com um olho melhor aquele que paga, ainda mesmo que lhe lançasse com desdém uma peça de ouro como a um mercenário, ao passo que olhará com indiferença os poucos centavos que lhe estenderá timidamente o pobre envergonhado. Estão aí sentimentos compatíveis com o Espiritismo? Não é entreter entre o rico e o pobre essa demarcação humilhante que já fez tanto mal, e que o Espiritismo deve fazer desaparecer, provando a igualdade do rico e do pobre diante de Deus, que não mede os raios de seu sol com a fortuna, e que não pode subordinar-lhe antes as consolações do coração que faz dar aos homens pelos bons Espíritos seus mensageiros.
Apesar de tudo, se houvesse uma escolha a fazer, preferiríamos ainda o médium que não se fizesse sempre pagar, porque pelo menos não há hipocrisia; sabe-se imediatamente a que se ater sobre a sua conta.
De resto, a multiplicidade sempre crescente dos médiuns em todas as classes da sociedade e no seio da maioria das famílias, tira à mediunidade retribuída toda utilidade e toda razão de ser.
Esta multiplicidade matará a exploração, quando mesmo não o fosse pelo sentimento de repulsa que a isso se liga.
Assinala-se-nos o fechamento, numa cidade da província, de um grupo antigo e numeroso, organizado com objetivos interessados. O chefe desse grupo tinha, assim como sua família, abandonado seu estado sob o especioso pretexto de devotamento à causa, à qual queria consagrar todo o seu tempo; havia substituído recursos que esperava retirar do Espiritismo. Infelizmente, a exploração da mediunidade está de tal modo desacreditada na província que, na maioria das cidades, aquele que dela fizesse ofício, tivesse as faculdades
mais transcendentes, não inspiraria nenhuma confiança; seria muito mal visto, e todos os grupos sérios lhe estariam fechados. A especulação não respondeu à espera, e o chefe desse grupo teria se lamentado aos seus freqüentadores, diz-se, de seu estado de pobreza, e teria reclamado recursos; ao que lhe foi respondido que estava pobre por sua falta; que fizera o erro de fechar suas oficinas para viver do Espiritismo, e fazer pagar as instruções que os Espíritos lhe davam por nada. Sobre isso ele declarou referir o assunto aos Espíritos. Sobre nove médiuns presentes a quem a pergunta foi posta, oito receberam
comunicações censurando sua maneira de agir, uma só a aprovou: era a de sua mulher. O chefe do grupo, submetendo-se de boa vontade ao conselho dos Espíritos, anunciou que, a partir desse momento, o grupo seria fechado. Sem dúvida, teria sido mais sábio a ele escutar mais cedo os conselhos que, há muito tempo, lhe eram dados pelos amigos sinceros do Espiritismo.
Um outro grupo, em condições quase idênticas, se viu sucessivamente desertado pelos seus frequentadores, e finalmente constrangido a se dissolver.

Assim, eis dois grupos que sucumbem sob a pressão da opinião. De resto, é impossível que todo Espírita sincero, compreendendo a essência e os verdadeiros interesses da Doutrina, se faça o defensor e o sustentáculo de um abuso que, inevitavelmente, tenderia a desacreditá-la. Convidamo-los a desconfiarem das armadilhas que os inimigos do Espiritismo tentam lhes estender sob esse aspecto. Sabe-se que, na falta de boas razões para o combate, uma de suas táticas é a de procurar arruiná-lo por si mesmo; assim vê-se com que ardor eles espiam a ocasião de encontrá-lo em falta ou em contradição consigo mesmo; é por isso que os Espíritos nos dizem sem cessar que velemos e de nos mantenhamos em guarda.
Quanto a nós, não ignoramos que nossa persistência em combater o abuso de que falamos não nos fez amigos daqueles que viram no Espiritismo uma matéria explorável, nem daqueles que o sustentam; mas que nos importa a oposição de alguns indivíduos!
Defendemos um princípio verdadeiro, e nenhuma consideração pessoal nos fará recuar diante do cumprimento de um dever. Nossos esforços tenderão sempre a preservar o Espiritismo da invasão da venalidade; o momento presente é o mais difícil, mas à medida que a Doutrina seja melhor compreendida, essa invasão será menos a temer; a oposição das massas lhe oporá uma barreira intransponível. O princípio do desinteresse, que satisfaz,
ao mesmo tempo, o coração e a razão, terá sempre as mais numerosas simpatias, e se imporá, pela força das coisas, sobre o princípio da especulação.