domingo, 27 de agosto de 2017

Fatores importantes a serem observados quando da Prática Mediunica

Psicologia, Mente, Pensamentos1- Teoria e Prática: 
Estudo teórico das questões pertinentes ao mediunato (quanto mais preparado o cérebro, melhor se torna o instrumento mediúnico) é de vital importância. Leitura indicada: Livro dos Médiuns e Livro dos Espíritos (ambos de Allan Kardec). Note-se que é recomendado o estudo aprofundado/ sistemático e não uma simples leitura.

2- Definições e Decisões: 
Mediunidade é uma faculdade natural, que se descobre, identifica e se aprende a utilizar para que dela se faça bom uso. Para tanto é fundamental a disponibilidade para a adoção de disciplina pessoal (mental e de comportamento), a qual possibilite a aproximação de verdadeiros amigos espirituais. Ela é um instrumento de trabalho e não de gozo pessoal; é para servir. O médium deve ter bem claro que se trata de uma responsabilidade e compromisso, a qual lhe exigirá dedicação, cultivo e sacrifício.

3- Reflexões sobre a Humildade: 
O médium deve ter humildade para realizar constante auto-exame a fim de identificar atitudes e pensamentos que deve mudar e os que deve manter e reforçar. Deve reconhecer também que é preciso haver disciplina, tempo e lugares certos para o exercício do trabalho mediúnico. Sua humildade também é necessária na aceitação de que sua tarefa não obedece a suas escolhas e preferências pessoais e que sua mediunidade, se esse for realmente o seu caminho, também não será aquela a que ele tiver mais simpatia; em suma, deve estar preparado para aceitar que tipo de contribuição efetivamente pode dar e sentir-se grato por ela.

4- Mediunidade como Trabalho de Equipe: 
A faculdade mediúnica não se destina ao uso pessoal e exclusivo, mas para servir ao próximo. Além disso, o trabalho em grupo também é ferramenta para se evitar mistificações, uma vez que o grupo viabiliza trocas, onde se debate o teor das comunicações bem como o comportamento mediúnico e, através do exercício ordenado da mediunidade, possibilita uma maior atenção, harmonização e vigilância.

5- Riscos e Desvios: 
O exercício inadequado da mediunidade é quando ela é canalizada para a promoção pessoal desse ou daquele médium, desta ou daquela instituição. Na prática, normalmente isso leva a cobranças pelos serviços que deveriam ser ofertados voluntariamente ou ao endeusamento de um ou mais médiuns, aviltando suas vaidades e promovendo, ao invés do bem estar dos irmãos necessitados, a fascinação e a realização de verdadeiros shows, desvirtuando dessa forma a real essência da mediunidade.

6- O Médium e a Crítica: 
A crítica é necessária ao aperfeiçoamento do nosso trabalho, das nossas faculdades e de nós mesmos como seres humanos. O médium deve ser receptivo ao seu grupo de trabalho, não só depositando confiança para entregar-se ao trabalho, como também para debater seus resultados a fim de realizar correções e ajustes que visem o aperfeiçoamento de sua mediunidade. É necessário, portanto, ser receptivo às críticas que lhe são feitas por pessoas mais experientes e de maior conhecimento, ao mesmo tempo em que deve precaver-se com relação a crítica exagerada e, principalmente, a injusta, para que não venha a sufocar suas faculdades nascentes ou criar inibições insuperáveis devido a insegurança e desconfiança. É preciso também atentar para o contrário, ou seja, tomar cuidado com elogios bajuladores que poderiam indevidamente levá-lo a crer-se na categoria dos semi-deuses.

7- Crítica e Autocrítica: 
O autor nos orienta sobre como identificar as críticas construtivas e fundamentadas, bem como distinguir entre as palavras de estímulo e elogios bajuladores. Informa-nos que, para tanto, é imprescindível o estudo para sermos capazes de discernir aquilo que está de acordo com a doutrina espírita. Além disso, deve-se avaliar a própria conduta, ou seja, se está havendo cumprimento dos compromissos profissionais e pessoais, se está cuidando para desenvolver uma moral mais elevada no seu comportamento diário, se não se está cultivando vícios, se tem se dedicado ao exercício da prece com regularidade, etc.

8- O Crivo da Razão: 
É o bom senso aliado ao espírito crítico, na verificação da autenticidade e da natureza das manifestações mediúnicas. O autor alerta para a sedução que alguns espíritos de natureza infeiror exercem sobre médiuns e outras pessoas; são espíritos que querem impressionar através de fenômenos de pequena monta, revelações e elogios, para assim conquistar a confiança e a partir daí começam a impor regras e rituais, criando uma situação de cumplicidade que melhor seria definida como de dependência.

9- Excessos da Autocritica: 
A atitude crítica deve ser reservada para os resultados somente e não para bloquear o processo em si. O médium deve manter a livre circulação de idéias para dar espaço ao fenômeno mediúnico. Somente se os resultados forem verdadeiramente insatisfatórios, deve-se repassar os fatores envolvidos na instrumentação mediúnica, identificar o ponto defeituoso e efetuar as devidas correções. Além disso, o médium deve manter uma postura saudável de auto-confiança, mantendo o equilíbrio entre os dois (confiança e crítica vigilantes).

10- O Trabalho Mediúnico no Centro Espírita: 
Selecionar um bom grupo que se possa frequentar com regularidade e no qual encontre apoio, orientação e espaço para trabalhar, além de pessoas bem preparadas (teoria e prática mediúnicas) e dispostas a auxiliar o médium em seu aperfeiçoamento com orientação segura e tratamento compreensivo. Kardec e outros autores também nos dizem que, para propiciar uma maior unidade e consequente uniformidade de ideias, o ideal é trabalhar-se com grupos pequenos de médiuns, onde a harmonia é mais facilmente conseguida.

11- Os Espíritos são Gente: 
"Os espíritos não são brinquedos infantis, mas indivíduos dotados de um claro propósito na vida e que escolhem seus médiuns como a melhor instrumentação para alcançarem os objetivos que têm em mente". Acrescente-se também que, embora alguns estejam degraus acima e outros abaixo de nós, todos são seres humanos, não havendo justificativa para tratá-los como deuses e nem para tratá-los como seres desprezíveis.

12- O Médium e o Grupo: Palavras Finais: 
Não é tão fácil encontrar o grupo ideal e nesse caso sempre se faz necessária uma certa dose de humildade e flexibilidade. Se no entanto, as concessões forem muitas a ponto de descaracterizarem as singularidades do trabalho que as partes realizam, o médium deve procurar um outro local onde possa exercer suas faculdades. Uma observação importante, nos agrupamentos espíritas, é que a presença de um dirigente de tarefas mediúnicas consciente (e não inconsciente) é mais favorecedora para a tarefa que ele tem a desempenhar.

Cubo Mágico, Paciência, Complicado13- Que é Concentração? 
Tanto no fenômeno anímico como no mediúnico, o esforço da chamada concentração é uma das principais causas inibidoras do fenômeno. O relaxamento físico e mental é fator de primária importância para o desenvolvimento da mediunidade. Na verdade, a concentração é justamente esvaziar a mente de pensamentos e essa receptividade abre espaço para que o fenômeno, seja ele anímico ou mediúnico, se produza. Evidentemente, isso diz respeito basicamente ao fenômeno da incorporação, onde a mente tem que estar livre para deixar penetrar os pensamentos do espírito da maneira mais fiel possível.


14- De Novo a Passividade: 
A passividade é resultante do estado de relaxamento, entretanto, embora o médium deva ser um instrumento passivo, isso não significa inércia ou ausência de participação. A mediunidade deve, nesse sentido, ser o resultado de uma equação equilibrada entre permitir e vigiar, coibindo abusos não somente durante as manifestações em si como no discernimento do momento adequado para elas ocorrerem.

Hermínio Miranda capítulo 2 - extrato - Livro: Diversidade dos Carismas.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

O ATO MEDIÚNICO e seus desdobramentos
Herculano Pires
(Reuniões mediúnicas em suas diversas fases e o trabalho de equipe de desencarnados e encarnados)


O ato mediúnico é o momento em que o espírito comunicante e o médium se fundem na unidade psicoafetiva da comunicação.

O espírito aproxima-se do médium e o envolve nas suas vibrações espirituais. Essas vibrações irradiam-se do seu corpo espiritual atingindo o corpo espiritual do médium.

A esse toque vibratório, semelhante ao de um brando choque elétrico, reage o perispírito do médium. Realiza-se a fusão fluídica. 

Há uma simultânea alteração no psiquismo de ambos. Cada um assimila um pouco do outro. 

Uma percepção visual desse momento comove o vidente que tem a ventura de captá-la. As irradiações perispirituais projetam sobre o rosto do médium a máscara transparente do espírito.

Compreende-se então o sentido profundo da palavra intermúndio.

Ali estão, fundidos e ao mesmo tempo distintos, o semblante radioso do espírito e o semblante humano do médium, iluminado pelo suave clarão da realidade espiritual. 

Essa superposição de planos dá aos videntes a impressão de que o espírito comunicante se incorpora no médium.

Daí a errônea denominação de incorporação para as manifestações orais. O que se dá não é uma incorporação, mas uma interpenetração psíquica, como a da luz atravessando uma vidraça.

Ligados os centros vitais de ambos, o espírito se manifesta emocionado, reintegrando-se nas sensações da vida terrena, sem sentir o peso da carne. 

O médium, por sua vez, experimenta a leveza do espírito, sem perder a consciência de sua natureza carnal, e fala ao sopro do espírito, como um intérprete que não se dá ao trabalho da tradução.

O ato mediúnico natural é esse momento de síntese afetiva em que os dois planos da vida revelam o segredo da morte: apenas um desvestir do pesado escafandro da matéria densa.

Quando o ato mediúnico é assim perfeito e claro, iluminado por uma mediunidade esclarecida e devotada ao bem, não há gigante — como no caso de Lombroso — que não se curve reverente ante o mistério da vida imortal. O médium se torna o instrumento da ressurreição impossível, provando aos homens que a morte não é mais do que lapso no intermúndio que separa os vivos na carne dos vivos no espírito. Compreende-se então o fenômeno da Ressurreição de Jesus, que não foi o ato divino de um Deus, mas o ato mediúnico de um espírito que dominava, pelo saber e a pureza, os mistérios da imortalidade.

Quando o ato mediúnico não tem a pureza e a beleza de uma comunicação amorosa, tem o calor da solidariedade humana e é iluminado pela caridade cristã.

Numa sessão comum de socorro espiritual, os médiuns sentados ao redor da mesa, os doutrinadores a postos, espíritos sofredores e espíritos maldosos e vingativos, sob controle dos orientadores espirituais, são aproximados de médiuns que desejam servi-los.

O quadro é bem diferente dos que apresentamos acima. Não há beleza nem serenidade nos espíritos comunicantes, nem resplendor ou transparência em suas faces. Há desespero, dor, expressões de rebeldia ou ímpetos de vingança. Os médiuns sentem-se inquietos, não raro temerosos. 

A aproximação dos comunicantes é incômoda, desagradável. As vibrações perispirituais são ásperas e sombrias O vidente se aturde com aquelas figuras pesadas e escuras que transtornam a fisionomia dos médiuns.

Mas, na proporção em que os doutrinadores encarnados dão o socorro de suas vibrações e de seus argumentos fraternos aos necessitados, o quadro se modifica com as luzes vacilantes que se acendem nas mentes conturbadas. 

Os guias espirituais manifestam-se em socorro dos doutrinadores e suas vibrações acalmam a inquietação do ambiente.

O trabalho é penoso. Criaturas recalcitrantes no mal recusam-se a compreender a realidade negativa em que se encontram. Espíritos vencidos pelas dores de encarnações penosas mostram-se revoltados. Os que trazem o coração esmagado por injustiças e traições exigem vingança e fazem ameaças terríveis. Mas a palavra fraterna, carregada de bondade e amor, iluminada pelas citações evangélicas, vai aos poucos amortecendo as explosões de ódio.

 Às vezes a autoridade do dirigente ou de um espírito elevado se faz sentir, para que os mais rebeldes compreendam que estão sob um poder persuasivo, mas enérgico. Uma pessoa que desconheça o problema dirá que se encontra numa sala de hospício sem controle ou assiste a um psicodrama de histéricos em desespero.

Psicólogos sistemáticos ririam com desdém. O dirigente dos trabalhos parece um leigo a brincar com explosivos perigosos. Fanáticos de seitas dogmáticas julgam assistir a uma cena de possessão diabólica.

Mas a sessão chega ao fim com a tranquilização total do ambiente. Um espírito amigo comunica-se com palavras de agradecimento. Em silêncio, todos ouvem a prece final de gratidão aos espíritos bondosos que ajudaram a socorrer as sombras sofredoras.
Face, Cabeça, Empatia, Conheça

Numa sessão de desobsessão para casos graves, com poucos elementos, sem a assistência numerosa do socorro geral, as comunicações são violentas os médiuns sofrem, gemem, gritam e choram. 
O dirigente e os doutrinadores permanecem tranquilos, aparentemente impassíveis, e os doutrinadores usam de palavras persuasivas, de atitudes benignas.

Nada de ameaças e exprobrações violentas, como nas práticas antiquadas do exorcismo arcaico, vindo das profundezas do Egito, da Mesopotâmia, da Palestina. 

Nada de velas acesas, de símbolos sacramentais, de expulsão de entidades diabólicas. 

A técnica é de persuasão, de esclarecimento racional...

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Um pouco sobre Lombroso.

Cesare Lombroso, 1835-1909, Itália, Psiquiatra, Cirurgião, Higienista, Criminologista, Antropólogo e Cientista.
Lombroso é creditado como sendo o criador da antropologia criminal e suas ideias inovadoras deram nascimento à Escola Positiva de Direito Penal, mais precisamente a que se refere ao positivismo evolucionista, que baseava sua interpretação em fatos e investigações científicas.

Ao entrar no campo da mediunidade, Lombroso primeiramente ridicularizava pesquisas e textos sobre o assunto, como em seu opúsculo Studi sull'ipnotismo (Turim, 1882). Já em julho de 1888, publicava no jornal Fanfulla della Domenica (n°. 29) um artigo intitulado L'inflenza della civilta e dell ocasione, em que assumia seus erros quanto ao que dissera acerca do espiritismo. Torna-se então um defensor do Espiritismo na Itália de seu tempo.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Os grupos espíritas são frequentemente joguete de uma ilusão



Transe e Incorporação (psicofonia)

Hudson Tuttle, médium ele próprio, o faz notar em seu livro “Arcana of Spiritualism”:
“Os grupos espíritas são frequentemente joguete de uma ilusão, enganados por suas próprias forças positivas. Afastam os ditados espíritas, substituindo-os pelo reflexo de seus próprios pensamentos; e então observam contradições e confusões que ingenuamente atribuem à intervenção de Espíritos malévolos. ”

O estado de transe é esse grau de sono magnético que permite ao corpo fluídico exteriorizar-se, desprender-se do corpo carnal, e à alma tornar a viver por um instante sua vida livre e independente. 

A separação, todavia, nunca é completa; a separação absoluta seria a morte. Um laço invisível continua a prender a alma ao seu invólucro terrestre. Semelhante ao fio telefônico que assegura a transmissão entre dois pontos, esse laço fluídico permite à alma desprendida transmitir suas impressões pelos órgãos do corpo adormecido. No transe, o médium fala, move-se, escreve automaticamente; desses atos, porém, nenhuma lembrança conserva ao despertar.

O estado de transe pode ser provocado, quer pela ação de um magnetizador, quer pela de um Espírito. Sob o influxo magnético, os laços que unem os dois corpos se afrouxam. A alma, com seu corpo sutil, vai-se emancipando pouco a pouco; recobra o uso de seus poderes ocultos, comprimidos pela matéria. Quanto mais profundo é o sono, mais completo vem a ser o desprendimento. 

As radiações da psique aumentam e se dilatam; um estado diferente de consciência, faculdades novas se revelam. Um mundo de recordações e conhecimentos, sepultados nas profundezas do “eu”, se patenteia. O médium pode, sob o império de uma vontade superior, reconstituir-se numa de suas passadas existências, revivê-la em todas as suas particularidades, com as atitudes, a linguagem e os atributos que caracterizam essa existência. Entram ao mesmo tempo em ação os sentidos psíquicos. A visão e audição à distância se produzem tanto mais claras e fiéis quanto mais completa é a exteriorização da alma.


No corpo do médium, momentaneamente abandonado, pode dar-se uma substituição de Espírito. É o fenômeno das incorporações. A alma de um desencarnado, mesmo a alma de um vivo adormecido, pode tomar o lugar do médium e servir-se de seu organismo material, para se comunicar pela palavra e pelo gesto com as pessoas presentes.

Sábios eminentes dão testemunho da realidade desses fatos. O Dr. Oliver Lodge, em seu discurso na Royal Society, de Londres, em 31 de janeiro de 1902,[i] assim se exprime:
“Uma máquina, elaborada como o são os nossos corpos, pode ser empregada, no caso de transe, não só pela Inteligência que, por assim dizer, a fabricou, mas também por outras Inteligências a que dela se permite fazer uso. Isso naturalmente não se realizaria senão por um certo tempo e com bastante dificuldade.

Em sua comunicação transmitida ao Congresso Oficial de Psicologia, de Paris, em 1900,[ii] o professor Myers, de Cambridge, era ainda mais afirmativo. Depois de haver enumerado os fenômenos obtidos no estado de transe pelas Sras. Piper e Thompson, fenômenos que ele estuda há 25 anos, assim concluía o professor:
“Em sua maioria, os fatos enunciados lembram o caráter e a memória de certas pessoas mortas...

Estou convencido de que essa substituição de personalidade, ou mudança de Espírito, ou possessão, é um sensível progresso na evolução da nossa raça. ”
Durante o transe, o Espírito do médium pouco se afasta; permanece quase sempre confundido no grupo espiritual que cerca o seu invólucro terrestre. Sua influência às vezes se faz ainda sentir sobre o corpo, ao qual seus próprios hábitos o atraem. Sua ação se torna em tal caso um incômodo, um estorvo para os Espíritos que se comunicam.

Quando a força oculta é insuficiente e o transe pouco profundo, o desprendimento é incompleto; as personalidades se confundem. O médium resiste à ação exterior do Espírito, que se esforça por tomar posse de seus órgãos.

Suas radiações psíquicas se mesclam às do manifestante. Daí, em variadas proporções, conforme os casos, duas partes se distinguem na manifestação: a do médium e a do Espírito, operação delicada, que exige profundo conhecimento das personalidades que se apresentam e das condições do fenômeno.

O estado de transe facilita a sugestão. Nos fenômenos de escrita e da mesa o médium se conserva na plena posse do seu “eu”, de sua vontade, e poderia repelir as inspirações que recebe. No desprendimento já se não dá o mesmo. A alma se tem retirado e o cérebro material fica exposto a todas as influências. 
Quando está suficientemente protegido, o médium torna-se receptivo, tanto às sugestões de um magnetizador como às dos assistentes ou de um Espírito. É o que muitas vezes lança uma certa confusão na interpretação dos fatos e exige, da parte dos experimentadores, extrema prudência.

  Face, Alma, Cabeça, Fumo, Luz, Triste                                                                      Em tal caso é difícil distinguir a natureza real das influências atuantes. Hudson Tuttle, médium ele próprio, o faz notar em seu livro “Arcana of Spiritualism”:
“Os grupos espíritas são frequentemente joguete de uma ilusão, enganados por suas próprias forças positivas. Afastam os ditados espíritas, substituindo-os pelo reflexo de seus próprios pensamentos; e então observam contradições e confusões que ingenuamente atribuem à intervenção de Espíritos malévolos. ”

É preferível, por isso, deixar agirem sozinhos os Espíritos sobre o médium, abstendo-se de toda intervenção magnética humana. Foi sempre o que fizemos, no curso de nossos estudos experimentais. Em raras circunstancia, quando, faltando-lhes de repente a força psíquica, as Inteligências nos pediam que atuássemos sobre o médium por meio de passes; bastava essa passageira intervenção para fazer crer aos assistentes numa ação sugestiva de nossa parte.

Na maioria das vezes, os fluídos de um magnetizador, por seu estado vibratório particular, contrariam os dos Espíritos, em lugar de auxiliá-los. Têm estes que se entregar a um trabalho de adaptação, ou purificação, que esgota as forças indispensáveis à manutenção. Um magnetizador, cujos fluidos não sejam puros, que não possua um caráter reto, nem irrepreensível moralidade, pode, mesmo sem o querer, influenciar o sensitivo num sentido muito desfavorável.

Mesmo quando a ação oculta é poderosa e bem determinada, é preciso ter ainda em conta o embaraço do Espírito que se deve comunicar com o auxílio de um organismo estranho, mediante recursos muitas vezes restritos. O estado de harmonia entre as faculdades do Espírito e as do médium raramente existe; o desenvolvimento dos cérebros não é idêntico e as manifestações são por isso contrariadas.

 É o que nos diziam certos Espíritos, no curso de nossas experiências de incorporação:
“Estamos acanhadamente encerrados; faltam-nos meios suficientes para exprimir os nossos pensamentos. As partículas físicas deste cérebro são muito grosseiras para poderem vibrar sob nossa ação e as nossas comunicações se tornam por isso consideravelmente enfraquecidas. ”

O Espírito Robert Hyslop o repete a seu filho, o professor Hyslop. Quando penetra na atmosfera terrestre e no organismo do médium, as coisas, diz ele, se lhe amesquinham: “Todas as coisas se me apresentam tão nitidamente, e quando aqui venho para exprimi-las, James, não o posso. ” [iii]

Entretanto, quando se pode dispor de um médium de real valor, quando a possessão é completa e a força é suficiente para afastar as influências contrárias, deparam-se fenômenos imponentes. 

O Espírito se manifesta na plenitude do seu “eu”, em toda a sua originalidade. O fenômeno das incorporações se mostra então superior a todos os outros.

Indagam certos experimentadores: o Espírito do manifestante se incorpora efetivamente no organismo do médium? Ou opera ele antes, a distância, pela sugestão mental e pela transmissão de pensamento, como o pode fazer um espírito exteriorizado do sensitivo?


Um exame atento dos fatos nos leva a crer que essas duas explicações são igualmente admissíveis, conforme os casos. As citações que acabamos de fazer provam que a incorporação pode ser real e completa. É mesmo algumas vezes inconsciente, quando, por exemplo, certos Espíritos pouco adiantados são conduzidos por uma vontade superior ao corpo de um médium e postos em comunicação conosco, a fim de serem esclarecidos sobre sua verdadeira situação.

Esses Espíritos, perturbados pela morte, acreditam ainda, muito tempo depois, pertencerem à vida terrestre. Não lhes permitindo seus fluidos grosseiros entrarem em relação com Espíritos mais adiantados, são levados aos grupos de estudo, para serem instruídos acerca de sua nova condição. É difícil às vezes fazer-lhes compreender que abandonaram a vida carnal e sua estupefação atinge o cômico, quando, convidados a comparar o organismo que momentaneamente animam com o que possuíam na Terra, são obrigados a reconhecer o seu engano. Não se poderia duvidar, em tal caso, na incorporação completa do Espírito.

Noutras circunstâncias, a teoria da transmissão à distância parece melhor explicar os fatos. As impressões oriundas de fora são mais ou menos fielmente percebidas e transmitidas pelos órgãos. Ao lado de provas de identidade, que nenhumas hesitações permitem sobre a autenticidade do fenômeno e intervenção dos Espíritos, verificam-se, na linguagem do sensitivo em transe, expressões, construções de frases, um modo de pronunciar que lhe são habituais. 

O Espírito parece projetar o pensamento no cérebro do médium, onde adquire, de passagem, formas de linguagem familiares a este. A transmissão se efetua, em tal caso, no limite dos conhecimentos e aptidões do sensitivo, em termos vulgares ou escolhidos, conforme o seu grau de instrução. Daí também certas incoerências que se devem atribuir à imperfeição do instrumento.

Ao despertar, o Espírito do médium perde toda consciência das impressões recebidas no sentido de liberdade, do mesmo modo que não guardará o menor conhecimento do papel que seu corpo tenha desempenhado durante o transe. Os sentidos psíquicos, de que por um momento havia readquirido a posse, se extinguem de novo; a matéria estende o seu manto; a noite se produz; toda recordação se desvanece. O médium desperta num estado de perturbação, que lentamente se dissipa.

Às vezes o regresso à carne origina cenas pungitivas, quando o médium, durante a exteriorização, tornou a ver, no Espaço, entes amados, e no instante que precede o despertar ainda conserva essa impressão. O contraste entre a vida livre e luminosa, que acaba de fruir, e o cárcere sombrio a que é obrigado novamente a descer, provoca cenas de lágrimas e lamentos, repugnâncias de reintegrar-se na carne, que se traduzem por lamentos e comovedoras súplicas. Temos sido muitas vezes testemunhas de tais cenas.



[i]    “Revue des Études Psychiques”, pág. 71.
[ii]   “Revue Scientifique et Morale du Spiritisme”, outubro de 1900, pág. 213. Ver também o excelente livro de Myers, “La Personnalité Humaine”, cap. 57.
[iii]   M. Sage – “Madame Piper et la Société dez Recherches Psychiques”, pág. 244.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Educação e função dos médiuns: Falamos de responsabilidade. É necessário insistir sobre esse ponto. (Leon Denis)





Ponto de Partida:

Nada verdadeiramente importante se adquire sem trabalho. Uma lenta e laboriosa iniciação se impõe aos que buscam os bens superiores. Como todas as coisas, a formação e o exercício da mediunidade encontram dificuldades, bastantes vezes já assinaladas; convém insistirmos nisso, a fim de prevenir os médiuns contra as falsas interpretações, contra as causas de erro e de desânimo.

Desde que, por um trabalho preparatório, as faculdades do médium adquirem certa flexibilidade, os resultados que se começam a obter são quase sempre devidos às relações estabelecidas com os elementos inferiores do mundo invisível...

Primeiros perigos:

Esses perigos foram, desde os primórdios do Espiritismo, assinalados por Allan Kardec; todos os dias, estamos ainda vendo médiuns deixarem-se levar pelas sugestões de Espíritos embusteiros e serem vítimas de mistificações que os tornam ridículos e vêm a recair sobre a causa que eles julgam servir.

Decepções:

Muitas decepções e dissabores seriam evitados se compreendesse que a mediunidade percorre fases sucessivas, e que, no período inicial de desenvolvimento, o médium é sobretudo assistido por Espíritos de ordem inferior, cujos fluidos, ainda impregnados de matéria, se adaptam melhor aos seus e são apropriados a esse trabalho de bosquejo, mais ou menos prolongado, a que toda faculdade está sujeita.

O período de exercício, de trabalho preparatório, tão fértil muitas vezes em manifestações grosseiras e mistificações, é, pois, uma fase normal de desenvolvimento da mediunidade; é uma escola em que a nossa paciência e discernimento se exercitam, em que aprendemos a nos familiarizar com o modo de agir dos habitantes do Além.

Necessidade da Educação

Em Espiritismo, a questão de educação e adestramento dos médiuns é capital; os bons médiuns são raros – diz-se muitas vezes – e a ciência do invisível, privada de meios de ação, só com muita lentidão vem a progredir.

Quantas faculdades preciosas, todavia, não se perdem, à míngua de atenção e de cultura! Quantas mediunidades malbaratadas em frívolas experiências, ou que, utilizadas ao sabor do capricho, não atraem mais que perniciosas influências e só maus frutos produzem! Quantos médiuns, inconscientes de seu ministério e do valor do dom que lhes é outorgado, deixam inutilizadas forças capazes de contribuir para a obra de renovação!

Uma bela analogia


A mediunidade é uma delicada flor que, para desabrochar, necessita de acuradas precauções e assíduos cuidados. Exige o método, a paciência, as altas aspirações, os sentimentos nobres e, sobretudo, a terna solicitude do bom Espírito que a envolve em seu amor, em seus fluidos vivificantes. 

Quase sempre, porém, querem fazê-la produzir frutos prematuros, e desde logo ela se estiola e fana ao contato dos Espíritos atrasados.

A valorização e respeito quanto à Mediunidade no Passado

Na antiguidade, os jovens sensitivos que revelavam aptidões especiais eram retirados do mundo, segregados de toda influência degradante, em lugares consagrados ao culto, rodeados de tudo o que lhes pudesse elevar o sentido do belo. 

Tais eram as vestais, as druidesas, as sibilas, etc. O mesmo acontecia nas escolas de profetas e videntes da Judeia, situadas longe do ruído das cidades. No silêncio do deserto, na paz dos alterosos cimos, melhor podiam os iniciados atrair as influências superiores e interrogar o invisível. Graças a essa educação, obtinham-se resultados que a nós nos surpreendem.

Tais processos são hoje inaplicados. As exigências sociais nem sempre permitem ao médium dedicar-se, como conviria, ao cultivo de suas faculdades. Sua atenção é distraída pelas mil necessidades da vida de família, suas aspirações estorvadas pelo contato da sociedade mais ou menos corrompida ou frívola.

Muitas vezes é ele chamado a exercer suas aptidões em círculos impregnados de fluidos impuros, de inarmônicas vibrações, que reagem sobre o seu organismo tão impressionável e lhe produzem desordens e perturbações.


Uma tomada de consciência

É preciso que, ao menos, o médium, compenetrado da utilidade e grandeza de sua função, se aplique a aumentar seus conhecimentos e procure espiritualizar-se o mais possível, que se reserve horas de recolhimento e tente então, pela visão interior, alçar-se até às coisas divinas, à eterna e perfeita beleza. Quanto mais desenvolvidos forem nele o saber, a inteligência, a moralidade, mais apto se tornará para servir de intermediário às grandes almas do Espaço. 


Um sonho do autor

Uma organização prática do Espiritismo comportará, no futuro, a criação de locais, grupos especiais, onde os médiuns encontrarão reunidas, com os meios materiais de existência, as satisfações do coração e do espírito, as inspirações da Arte e da Natureza, tudo o que às suas faculdades pode imprimir um caráter de pureza e elevação, fazendo em torno deles reinar uma atmosfera de paz e confiança.

Em tais meios, poderiam os estudos experimentais produzir muito melhores resultados que os que até agora se têm muitas vezes obtido em condições defeituosas. A intrusão dos Espíritos levianos, as tendências à fraude, os pensamentos egoísticos e os malévolos sentimentos se atenuariam pouco a pouco e terminariam por desaparecer. A mediunidade se tornaria mais regular, mais segura em suas aplicações. Não mais se havia de, com tanta frequência, observar esse mal-estar que experimenta o sensitivo, nem ocorreriam esses períodos de suspensão das faculdades psíquicas, culminando mesmo em seu completo desaparecimento em seguida ao mau uso delas feito.
*
O importante para o médium, dissemos mais acima, é assegurar-se uma proteção eficaz. O auxílio do Alto é sempre proporcionado para o fim a que nos propomos, aos esforços que empregamos para o merecer. Somos auxiliados, amparados, conforme a importância das missões que nos incumbem, tendo-se em vista o interesse geral. Essas missões são acompanhadas de provas, de dificuldades inevitáveis, mas sempre reguladas conforme as nossas forças e aptidões.

Desempenhadas com dedicação, com abnegação, as nossas tarefas nos elevam na hierarquia das almas. Negligenciadas, esquecidas, não realizadas, nos fazem retrotrair a escala de progresso. Todas acarretam responsabilidades. Desde o pai de família que incute em seus filhinhos as noções elementares do bem, o preceptor da mocidade, o escritor moralista, até o orador que procura arrebatar as multidões às culminâncias do pensamento, cada um tem sua missão a preencher.

Não há mais nobre, mais elevado cargo que ser chamado a propagar, sob a inspiração das potências invisíveis, a verdade pelo mundo, a fazer ouvir aos homens o atenuado eco dos divinos convites, incitando-os à luz e à perfeição. Tal é o papel da alta mediunidade.


Responsabilidade, responsabilidade

Falamos de responsabilidade. É necessário insistir sobre esse ponto. Muitos médiuns procuram, no exercício de suas faculdades, satisfações de amor-próprio ou de interesse. Descuram de fazer intervir em sua obra esse sentimento grave, refletido, quase religioso, que é uma das condições de êxito. Esquecem muitas vezes que a mediunidade é um dos meios de ação pelos quais se executa o plano divino, e que ele não tem o direito de utilizá-la ao sabor de sua fantasia.

Enquanto se não tiverem compenetrado os médiuns da importância de sua função e da extensão de seus deveres, haverá no exercício de suas faculdades uma fonte de abusos e de males. Os dons psíquicos, desviados de seu eminente objetivo, utilizados para fins de interesses medíocres, pessoais e fúteis, revertem contra os seus possuidores, atraindo-lhes, em lugar dos gênios tutelares, as potências malfazejas do Além.

Fora das condições de elevação de pensamento, de moralidade e desinteresse, pode a mediunidade constituir-se um perigo; ao passo que tendo por fim firme propósito no bem, por suas aspirações ao ideal divino, o médium se impregna de fluidos purificados; uma atmosfera protetora se forma em torno dele, o envolve, o preserva dos erros e das ciladas do invisível.


E se, por sua fé e comprovado zelo, pela pureza da alma em que nenhum cálculo interesseiro se insinue, obtém ele a assistência de um desses Espíritos de luz, depositários dos segredos do Espaço, que pairam acima de nós e projetam sobre a nossa fraqueza as suas irradiações; se esse Espírito se constitui seu protetor, seu guia, seu amigo, graças a ele sentirá o médium uma força desconhecida penetrar-lhe todo o ser, uma chama lhe iluminar a fronte. 

Todos quantos tomarem parte em seus trabalhos e colherem os seus resultados sentirão reanimar-se-lhes o coração e a inteligência às fulgurações dessa alma superior; um sopro de vida lhes transportará o pensamento às regiões sublimes do Infinito.

Fonte: No Invisível, Leon Denis