Ponto de Partida:
Nada verdadeiramente
importante se adquire sem trabalho. Uma lenta e laboriosa iniciação se impõe
aos que buscam os bens superiores. Como todas as coisas, a formação e o
exercício da mediunidade encontram dificuldades, bastantes vezes já
assinaladas; convém insistirmos nisso, a fim de prevenir os médiuns contra as
falsas interpretações, contra as causas de erro e de desânimo.
Desde que, por um
trabalho preparatório, as faculdades do médium adquirem certa flexibilidade, os
resultados que se começam a obter são quase sempre devidos às relações
estabelecidas com os elementos inferiores do mundo invisível...
Primeiros perigos:
Esses perigos foram,
desde os primórdios do Espiritismo, assinalados por Allan Kardec; todos os
dias, estamos ainda vendo médiuns deixarem-se levar pelas sugestões de
Espíritos embusteiros e serem vítimas de mistificações que os tornam ridículos
e vêm a recair sobre a causa que eles julgam servir.
Decepções:
Muitas decepções e
dissabores seriam evitados se compreendesse que a mediunidade percorre fases
sucessivas, e que, no período inicial de desenvolvimento, o médium é sobretudo
assistido por Espíritos de ordem inferior, cujos fluidos, ainda impregnados de
matéria, se adaptam melhor aos seus e são apropriados a esse trabalho de bosquejo,
mais ou menos prolongado, a que toda faculdade está sujeita.
O período de exercício,
de trabalho preparatório, tão fértil muitas vezes em manifestações grosseiras e
mistificações, é, pois, uma fase normal de desenvolvimento da mediunidade; é
uma escola em que a nossa paciência e discernimento se exercitam, em que aprendemos
a nos familiarizar com o modo de agir dos habitantes do Além.
Necessidade da Educação
Em Espiritismo, a
questão de educação e adestramento dos médiuns é capital; os bons médiuns são raros – diz-se
muitas vezes – e a ciência do invisível, privada de meios de ação, só
com muita lentidão vem a progredir.
Quantas faculdades
preciosas, todavia, não se perdem, à míngua de atenção e de cultura! Quantas
mediunidades malbaratadas em frívolas experiências, ou que, utilizadas ao sabor
do capricho, não atraem mais que perniciosas influências e só maus frutos
produzem! Quantos médiuns, inconscientes de seu ministério e do valor do dom
que lhes é outorgado, deixam inutilizadas forças capazes de contribuir para a
obra de renovação!
Uma bela analogia
A mediunidade é uma
delicada flor que, para desabrochar, necessita de acuradas precauções e
assíduos cuidados. Exige o método, a paciência, as altas aspirações, os
sentimentos nobres e, sobretudo, a terna solicitude do bom Espírito que a
envolve em seu amor, em seus fluidos vivificantes.
Quase sempre, porém, querem
fazê-la produzir frutos prematuros, e desde logo ela se estiola e fana ao contato
dos Espíritos atrasados.
A valorização e respeito quanto à Mediunidade no Passado
Na antiguidade, os
jovens sensitivos que revelavam aptidões especiais eram retirados do mundo,
segregados de toda influência degradante, em lugares consagrados ao culto,
rodeados de tudo o que lhes pudesse elevar o sentido do belo.
Tais eram as
vestais, as druidesas, as sibilas, etc. O mesmo acontecia nas escolas de profetas
e videntes da Judeia, situadas longe do ruído das cidades. No silêncio do
deserto, na paz dos alterosos cimos, melhor podiam os iniciados atrair as
influências superiores e interrogar o invisível. Graças a essa educação,
obtinham-se resultados que a nós nos surpreendem.
Tais processos são hoje
inaplicados. As exigências sociais nem sempre permitem ao médium dedicar-se,
como conviria, ao cultivo de suas faculdades. Sua atenção é distraída pelas mil
necessidades da vida de família, suas aspirações estorvadas pelo contato da
sociedade mais ou menos corrompida ou frívola.
Muitas vezes é ele
chamado a exercer suas aptidões em círculos impregnados de fluidos impuros, de
inarmônicas vibrações, que reagem sobre o seu organismo tão impressionável e lhe
produzem desordens e perturbações.
Uma tomada de consciência
É preciso que, ao menos,
o médium, compenetrado da utilidade e grandeza de sua função, se aplique a
aumentar seus conhecimentos e procure espiritualizar-se o mais possível, que se
reserve horas de recolhimento e tente então, pela visão interior, alçar-se até
às coisas divinas, à eterna e perfeita beleza. Quanto mais desenvolvidos forem
nele o saber, a inteligência, a moralidade, mais apto se tornará para servir de
intermediário às grandes almas do Espaço.
Um sonho do autor
Uma organização prática do Espiritismo
comportará, no futuro, a criação de locais, grupos especiais, onde os médiuns
encontrarão reunidas, com os meios materiais de existência, as satisfações do
coração e do espírito, as inspirações da Arte e da Natureza, tudo o que às suas
faculdades pode imprimir um caráter de pureza e elevação, fazendo em torno
deles reinar uma atmosfera de paz e confiança.
Em tais meios, poderiam
os estudos experimentais produzir muito melhores resultados que os que até
agora se têm muitas vezes obtido em condições defeituosas. A intrusão dos
Espíritos levianos, as tendências à fraude, os pensamentos egoísticos e os
malévolos sentimentos se atenuariam pouco a pouco e terminariam por desaparecer.
A mediunidade se tornaria mais regular, mais segura em suas aplicações. Não
mais se havia de, com tanta frequência, observar esse mal-estar que experimenta
o sensitivo, nem ocorreriam esses períodos de suspensão das faculdades
psíquicas, culminando mesmo em seu completo desaparecimento em seguida ao mau
uso delas feito.
*
O importante para o
médium, dissemos mais acima, é assegurar-se uma proteção eficaz. O auxílio do
Alto é sempre proporcionado para o fim a que nos propomos, aos esforços que
empregamos para o merecer. Somos auxiliados, amparados, conforme a importância
das missões que nos incumbem, tendo-se em vista o interesse geral. Essas
missões são acompanhadas de provas, de dificuldades inevitáveis, mas sempre
reguladas conforme as nossas forças e aptidões.
Desempenhadas com
dedicação, com abnegação, as nossas tarefas nos elevam na hierarquia das almas.
Negligenciadas, esquecidas, não realizadas, nos fazem retrotrair a escala de
progresso. Todas acarretam responsabilidades. Desde o pai de família que incute
em seus filhinhos as noções elementares do bem, o preceptor da mocidade, o
escritor moralista, até o orador que procura arrebatar as multidões às culminâncias
do pensamento, cada um tem sua missão a preencher.
Não há mais nobre, mais
elevado cargo que ser chamado a propagar, sob a inspiração das potências
invisíveis, a verdade pelo mundo, a fazer ouvir aos homens o atenuado eco dos
divinos convites, incitando-os à luz e à perfeição. Tal é o papel da alta
mediunidade.
Responsabilidade, responsabilidade
Falamos de
responsabilidade. É necessário insistir sobre esse ponto. Muitos médiuns
procuram, no exercício de suas faculdades, satisfações de amor-próprio ou de
interesse. Descuram de fazer intervir em sua obra esse sentimento grave,
refletido, quase religioso, que é uma das condições de êxito. Esquecem muitas
vezes que a mediunidade é um dos meios de ação pelos quais se executa o plano
divino, e que ele não tem o direito de utilizá-la ao sabor de sua fantasia.
Enquanto se não tiverem
compenetrado os médiuns da importância de sua função e da extensão de seus
deveres, haverá no exercício de suas faculdades uma fonte de abusos e de males.
Os dons psíquicos, desviados de seu eminente objetivo, utilizados para fins de
interesses medíocres, pessoais e fúteis, revertem contra os seus possuidores,
atraindo-lhes, em lugar dos gênios tutelares, as potências malfazejas do Além.
Fora das condições de
elevação de pensamento, de moralidade e desinteresse, pode a mediunidade
constituir-se um perigo; ao passo que tendo por fim firme propósito no bem, por
suas aspirações ao ideal divino, o médium se impregna de fluidos purificados;
uma atmosfera protetora se forma em torno dele, o envolve, o preserva dos erros
e das ciladas do invisível.
E se, por sua fé e
comprovado zelo, pela pureza da alma em que nenhum cálculo interesseiro se
insinue, obtém ele a assistência de um desses Espíritos de luz, depositários
dos segredos do Espaço, que pairam acima de nós e projetam sobre a nossa
fraqueza as suas irradiações; se esse Espírito se constitui seu protetor, seu
guia, seu amigo, graças a ele sentirá o médium uma força desconhecida
penetrar-lhe todo o ser, uma chama lhe iluminar a fronte.
Todos quantos tomarem
parte em seus trabalhos e colherem os seus resultados sentirão reanimar-se-lhes
o coração e a inteligência às fulgurações dessa alma superior; um sopro de vida
lhes transportará o pensamento às regiões sublimes do Infinito.
Fonte: No Invisível, Leon Denis
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