terça-feira, 1 de agosto de 2017

Educação e função dos médiuns: Falamos de responsabilidade. É necessário insistir sobre esse ponto. (Leon Denis)





Ponto de Partida:

Nada verdadeiramente importante se adquire sem trabalho. Uma lenta e laboriosa iniciação se impõe aos que buscam os bens superiores. Como todas as coisas, a formação e o exercício da mediunidade encontram dificuldades, bastantes vezes já assinaladas; convém insistirmos nisso, a fim de prevenir os médiuns contra as falsas interpretações, contra as causas de erro e de desânimo.

Desde que, por um trabalho preparatório, as faculdades do médium adquirem certa flexibilidade, os resultados que se começam a obter são quase sempre devidos às relações estabelecidas com os elementos inferiores do mundo invisível...

Primeiros perigos:

Esses perigos foram, desde os primórdios do Espiritismo, assinalados por Allan Kardec; todos os dias, estamos ainda vendo médiuns deixarem-se levar pelas sugestões de Espíritos embusteiros e serem vítimas de mistificações que os tornam ridículos e vêm a recair sobre a causa que eles julgam servir.

Decepções:

Muitas decepções e dissabores seriam evitados se compreendesse que a mediunidade percorre fases sucessivas, e que, no período inicial de desenvolvimento, o médium é sobretudo assistido por Espíritos de ordem inferior, cujos fluidos, ainda impregnados de matéria, se adaptam melhor aos seus e são apropriados a esse trabalho de bosquejo, mais ou menos prolongado, a que toda faculdade está sujeita.

O período de exercício, de trabalho preparatório, tão fértil muitas vezes em manifestações grosseiras e mistificações, é, pois, uma fase normal de desenvolvimento da mediunidade; é uma escola em que a nossa paciência e discernimento se exercitam, em que aprendemos a nos familiarizar com o modo de agir dos habitantes do Além.

Necessidade da Educação

Em Espiritismo, a questão de educação e adestramento dos médiuns é capital; os bons médiuns são raros – diz-se muitas vezes – e a ciência do invisível, privada de meios de ação, só com muita lentidão vem a progredir.

Quantas faculdades preciosas, todavia, não se perdem, à míngua de atenção e de cultura! Quantas mediunidades malbaratadas em frívolas experiências, ou que, utilizadas ao sabor do capricho, não atraem mais que perniciosas influências e só maus frutos produzem! Quantos médiuns, inconscientes de seu ministério e do valor do dom que lhes é outorgado, deixam inutilizadas forças capazes de contribuir para a obra de renovação!

Uma bela analogia


A mediunidade é uma delicada flor que, para desabrochar, necessita de acuradas precauções e assíduos cuidados. Exige o método, a paciência, as altas aspirações, os sentimentos nobres e, sobretudo, a terna solicitude do bom Espírito que a envolve em seu amor, em seus fluidos vivificantes. 

Quase sempre, porém, querem fazê-la produzir frutos prematuros, e desde logo ela se estiola e fana ao contato dos Espíritos atrasados.

A valorização e respeito quanto à Mediunidade no Passado

Na antiguidade, os jovens sensitivos que revelavam aptidões especiais eram retirados do mundo, segregados de toda influência degradante, em lugares consagrados ao culto, rodeados de tudo o que lhes pudesse elevar o sentido do belo. 

Tais eram as vestais, as druidesas, as sibilas, etc. O mesmo acontecia nas escolas de profetas e videntes da Judeia, situadas longe do ruído das cidades. No silêncio do deserto, na paz dos alterosos cimos, melhor podiam os iniciados atrair as influências superiores e interrogar o invisível. Graças a essa educação, obtinham-se resultados que a nós nos surpreendem.

Tais processos são hoje inaplicados. As exigências sociais nem sempre permitem ao médium dedicar-se, como conviria, ao cultivo de suas faculdades. Sua atenção é distraída pelas mil necessidades da vida de família, suas aspirações estorvadas pelo contato da sociedade mais ou menos corrompida ou frívola.

Muitas vezes é ele chamado a exercer suas aptidões em círculos impregnados de fluidos impuros, de inarmônicas vibrações, que reagem sobre o seu organismo tão impressionável e lhe produzem desordens e perturbações.


Uma tomada de consciência

É preciso que, ao menos, o médium, compenetrado da utilidade e grandeza de sua função, se aplique a aumentar seus conhecimentos e procure espiritualizar-se o mais possível, que se reserve horas de recolhimento e tente então, pela visão interior, alçar-se até às coisas divinas, à eterna e perfeita beleza. Quanto mais desenvolvidos forem nele o saber, a inteligência, a moralidade, mais apto se tornará para servir de intermediário às grandes almas do Espaço. 


Um sonho do autor

Uma organização prática do Espiritismo comportará, no futuro, a criação de locais, grupos especiais, onde os médiuns encontrarão reunidas, com os meios materiais de existência, as satisfações do coração e do espírito, as inspirações da Arte e da Natureza, tudo o que às suas faculdades pode imprimir um caráter de pureza e elevação, fazendo em torno deles reinar uma atmosfera de paz e confiança.

Em tais meios, poderiam os estudos experimentais produzir muito melhores resultados que os que até agora se têm muitas vezes obtido em condições defeituosas. A intrusão dos Espíritos levianos, as tendências à fraude, os pensamentos egoísticos e os malévolos sentimentos se atenuariam pouco a pouco e terminariam por desaparecer. A mediunidade se tornaria mais regular, mais segura em suas aplicações. Não mais se havia de, com tanta frequência, observar esse mal-estar que experimenta o sensitivo, nem ocorreriam esses períodos de suspensão das faculdades psíquicas, culminando mesmo em seu completo desaparecimento em seguida ao mau uso delas feito.
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O importante para o médium, dissemos mais acima, é assegurar-se uma proteção eficaz. O auxílio do Alto é sempre proporcionado para o fim a que nos propomos, aos esforços que empregamos para o merecer. Somos auxiliados, amparados, conforme a importância das missões que nos incumbem, tendo-se em vista o interesse geral. Essas missões são acompanhadas de provas, de dificuldades inevitáveis, mas sempre reguladas conforme as nossas forças e aptidões.

Desempenhadas com dedicação, com abnegação, as nossas tarefas nos elevam na hierarquia das almas. Negligenciadas, esquecidas, não realizadas, nos fazem retrotrair a escala de progresso. Todas acarretam responsabilidades. Desde o pai de família que incute em seus filhinhos as noções elementares do bem, o preceptor da mocidade, o escritor moralista, até o orador que procura arrebatar as multidões às culminâncias do pensamento, cada um tem sua missão a preencher.

Não há mais nobre, mais elevado cargo que ser chamado a propagar, sob a inspiração das potências invisíveis, a verdade pelo mundo, a fazer ouvir aos homens o atenuado eco dos divinos convites, incitando-os à luz e à perfeição. Tal é o papel da alta mediunidade.


Responsabilidade, responsabilidade

Falamos de responsabilidade. É necessário insistir sobre esse ponto. Muitos médiuns procuram, no exercício de suas faculdades, satisfações de amor-próprio ou de interesse. Descuram de fazer intervir em sua obra esse sentimento grave, refletido, quase religioso, que é uma das condições de êxito. Esquecem muitas vezes que a mediunidade é um dos meios de ação pelos quais se executa o plano divino, e que ele não tem o direito de utilizá-la ao sabor de sua fantasia.

Enquanto se não tiverem compenetrado os médiuns da importância de sua função e da extensão de seus deveres, haverá no exercício de suas faculdades uma fonte de abusos e de males. Os dons psíquicos, desviados de seu eminente objetivo, utilizados para fins de interesses medíocres, pessoais e fúteis, revertem contra os seus possuidores, atraindo-lhes, em lugar dos gênios tutelares, as potências malfazejas do Além.

Fora das condições de elevação de pensamento, de moralidade e desinteresse, pode a mediunidade constituir-se um perigo; ao passo que tendo por fim firme propósito no bem, por suas aspirações ao ideal divino, o médium se impregna de fluidos purificados; uma atmosfera protetora se forma em torno dele, o envolve, o preserva dos erros e das ciladas do invisível.


E se, por sua fé e comprovado zelo, pela pureza da alma em que nenhum cálculo interesseiro se insinue, obtém ele a assistência de um desses Espíritos de luz, depositários dos segredos do Espaço, que pairam acima de nós e projetam sobre a nossa fraqueza as suas irradiações; se esse Espírito se constitui seu protetor, seu guia, seu amigo, graças a ele sentirá o médium uma força desconhecida penetrar-lhe todo o ser, uma chama lhe iluminar a fronte. 

Todos quantos tomarem parte em seus trabalhos e colherem os seus resultados sentirão reanimar-se-lhes o coração e a inteligência às fulgurações dessa alma superior; um sopro de vida lhes transportará o pensamento às regiões sublimes do Infinito.

Fonte: No Invisível, Leon Denis

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