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Um tempo se acaba; novos
tempos se anunciam.
A hora em que estamos é uma
hora de transição e de parto doloroso.
As formas esgotadas do passado
empalidecem-se e se desfazem para dar lugar a outras, a princípio vagas e
confusas, mas que se precisam cada vez mais.
Nelas se esboça o pensamento
crescente da Humanidade.
O espírito humano está em
trabalho, por toda parte, sob a aparente decomposição das ideias e dos
princípios; por toda parte, na Ciência, na Arte, na Filosofia e até no seio das
religiões, o observador atento pode verificar que uma lenta e laboriosa
gestação se produz...
A hora presente é ainda uma
hora de lutas; luta das nações para a conquista do Globo, luta das classes para
a conquista do bem-estar e do poder.
Em redor de nós agitam-se forças
cegas e profundas, forças que, ontem, não se conheciam e que, hoje, se
organizam e entram em ação. Uma sociedade agoniza; outra nasce.
O ideal do passado vem à
Terra. Qual será o de amanhã? Abriu-se
um período de transição; uma fase diferente de evolução humana, fase obscura,
cheia, ao mesmo tempo, de promessas e ameaças, começou. Na alma das gerações
que sobem, jazem os germens de novas florescências.
Flores do mal ou flores do
bem?
Muitos se alarmam, muitos se
espantam. Não duvidamos do futuro da Humanidade, de sua ascensão para a luz e
derramamos em volta de nós, com a coragem e perseverança incansáveis, as
verdades que asseguram o dia de amanhã e fazem as sociedades fortes e felizes.
Os defeitos de nossa
organização social provêm principalmente de que nossos legisladores, em suas
acanhadas concepções, abrangem somente o horizonte de uma vida material.
Não
compreendendo o fim evolutivo da existência e o encadeamento de nossas vidas
terrenas, estabeleceram um estado de coisas incompatível com os fins reais do
homem e da sociedade.
A conquista do poder pelo
maior número não é própria para ampliar este ponto de vista.
O povo segue o instinto surdo que o impele. Incapaz de
aquilatar o mérito e o valor de seus representantes, leva muitas vezes ao poder
os que desposam suas paixões e participam de sua cegueira.
A
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educação
popular precisa ser completamente reformada; porque só o homem ilustrado pode
colaborar com inteligência, coragem e consciência na renovação social.
Nas reivindicações atuais, a
noção de direito é objeto de excessivas especulações, sobre-excitam-se os
apetites, exaltam-se os espíritos. Esquece-se de que o direito é inseparável do
dever e até que é simplesmente sua resultante.
Daí uma ruptura de equilíbrio,
uma inversão das relações de causa para efeito, isto é, do dever para o direito
na repartição das vantagens sociais, o que constitui uma causa permanente de
divisão e ódio entre os homens.
O
indivíduo que encara somente seu interesse próprio e seu direito pessoal, ocupa
lugar inferior, ainda, na escala da evolução...
Numa sociedade bem organizada,
cada cidadão classificar-se-á de acordo com seu valor pessoal e grau de sua
evolução e em proporção com sua cota social. O indivíduo só deve ocupar a
situação merecida; seu direito está, em proporção equivalente à sua capacidade
para o bem.
Tal é a regra, tal é a base da
ordem universal, e a ordem social, enquanto não for sua contraprova, sua imagem
fiel, será precária e instável.
Cada membro de uma
coletividade deve, por força desta regra, em vez de reivindicar direitos
fictícios, torna-se digno deles, aumentando o próprio valor e sua participação
na obra comum.
O ideal social transforma-se,
o sentido da harmonia desenvolve-se, o campo do altruísmo dilata-se; mas, no
estado atual das coisas, no seio de uma sociedade onde fermentam tantas
paixões, onde se agitam tantas forças brutais, no meio de uma civilização feita
de egoísmo e cobiça, de incoerência e má vontade, de sensualidade e
sofrimentos, são de temer muitas convulsões.
Levanta-se, porém, uma
nova fé, iluminada por um raio do Alto e assente em fatos, em provas sensíveis.
Diz a todos: "Sede
unidos, porque sois irmãos, irmãos neste mundo, irmãos na imortalidade.
Trabalhai em comum para tornardes mais suaves as condições da vida social, mais
fácil o desempenho de vossas tarefas futuras.
Trabalhai para aumentar os
tesouros de saber, de sabedoria, de poder, que são a herança da Humanidade.
A felicidade não está na luta,
na vingança; está na união dos corações e das vontades!"
Fonte: livro de Leon Denis - O Problema do Ser, do Destino e da Dor